01/12/15 AULA 1: AS PARÁBOLAS José de Souza Almeida

Transcrição

1 PARÁBOLA DOS TALENTOS E DAS MINAS 1 VIII.1. Parábola dos Talentos (Mt 25:14-30) Pois será como um homem que, ausentando-se do país, chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada um segundo a sua própria capacidade; e então partiu. O que recebera cinco talentos saiu imediatamente a negociar com eles e ganhou outros cinco. Do mesmo modo o que recebera dois, ganhou outros dois. Mas o que recebera um, saindo, abriu uma cova e escondeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles. Então, aproximando-se o que recebera cinco talentos, entregou outros cinco, dizendo: Senhor, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que ganhei. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei: entra no gozo do teu senhor. E, aproximando-se também o que recebera dois talentos, disse: Senhor, dois talentos me confiaste; aqui tens outros dois que ganhei. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei: entra no gozo do teu senhor. Chegando, por fim, o que recebera um talento, disse: Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste, e ajuntas onde não espalhaste, receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei. Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez. Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. E o servo inútil lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes. A Parábola dos Talentos poderia chamar-se também a Parábola dos Frutos do Trabalho, ou Parábola do Esforço, ou ainda, Parábola da Diligência. Conforme já visto anteriormente, nos tempos da pregação de Jesus, um talento de prata equivalia a 6000 dracmas (moeda grega) ou a 6000 denários (moeda romana) ambas também de prata. Conforme se vê em Mt 20:2, um denário correspondia ao salário de um dia de trabalho. Com uma dracma podia-se comprar uma ovelha; e com cinco dracmas, um boi.

2 PARÁBOLA DOS TALENTOS E DAS MINAS 2 Consequentemente, vê-se que as quantias entregues aos servos não eram pequenas: o que menos recebeu (o servo que recebeu apenas um talento) poderia ter adquirido um rebanho de 6000 ovelhas, ou de 1200 bois. O grande ensinamento desta parábola é fazer ver aos homens que cada qual só subirá na escala evolutiva, rumo aos Planos Espirituais elevados, através do esforço individual. Quatro são os personagens da parábola: o senhor (o proprietário) e três servos. O senhor dos servos é Deus, senhor dos mundos, de todos os seres, de toda a criação; tudo lhe pertence; mas, para nós, pode significar também Jesus, Governador da Terra, preposto de Deus para a Terra. Os servos, ou seja, os trabalhadores, os cooperadores do Senhor são os homens, componentes da humanidade; são os Espíritos encarnados, e também desencarnados, nos seus diferentes graus de evolução, nos seus diferentes estágios de colaboradores de Deus na obra da criação. Aliás, é a própria parábola que diz, no versículo quinze, que os talentos foram distribuídos segundo a capacidade de cada um. Os talentos são os bens, os recursos materiais e espirituais que o Plano Espiritual outorga aos homens, para serem empregados em benefício próprio e do próximo; é tudo o que é necessário às experiências evolutivas do homem; são, assim, os bens materiais, os dons espirituais, os conhecimentos, a posição social etc. Ao encarnar, cada Espírito traz tarefas a realizar em prol do próprio adiantamento e do de seus semelhantes e sempre em conformidade com o progresso que já realizou. Mas, cada um recebe o que precisa e jamais lhe é exigido esforço maior do que pode suportar. Porém, todos trazem responsabilidades definidas; uns, tarefa de repercussão ampla; outros, tarefas que não têm alarde, no seu trabalho profissional, ou no seio da família. Todavia, todas as tarefas, por menores e modestas que sejam, são igualmente grandiosas, úteis e valiosas. A parábola diz que passado muito tempo, o Senhor voltou e pediu contas aos servos. Significa todo o tempo que é concedido ao homem para que, pelo seu esforço e diligência, e fidelidade a Jesus (e, consequentemente a Deus) produza os frutos que dele o Plano Espiritual espera; pois, conforme está no Evangelho a árvore boa produz bons frutos e "pelo fruto se conhece a árvore (Mt 12:33); e, além disso, é necessário que os homens vejam as boas obras dos discípulos de Jesus, para glorificar o Pai que está nos céus (Mt 5:16). Portanto, o tempo concedido para a movimentação dos bens recebidos, são as reencarnações. Os servos possuem capacidades diferentes, o que significa aproveitaram com diferentes eficiências a jornada evolutiva. Os Espíritos encarnados utilizam diferentemente os bens recebidos, os talentos, segundo a respectiva maturidade espiritual. Uns mais diligentes, fraternos, caridosos, esforçam-se em aumentar os bens", os dons do espírito, beneficiando-se a si e ao próximo, indistintamente. Esses, dividem-se em duas categorias: os que cooperam muito bem (são os de cinco talentos), e os que cooperam bem (são os que receberam, dois talentos). Ambas as categorias não desmereceram a confiança

3 PARÁBOLA DOS TALENTOS E DAS MINAS 3 que o Senhor neles depositou; aumentaram os bens recebidos; por isso, em recompensa pelos frutos que produziram, receberam mais méritos, ser-lhes-ão confiadas maiores responsabilidades; e foram chamados a alegrar-se no Senhor. Mas há, ainda, uma terceira categoria: a do servo mau e preguiçoso; não se esforça; não quis aproveitar a oportunidade que o Senhor lhe concedeu, para produzir, o que significa progredir; é a questão do livre-arbítrio, no caso sob a pressão do atraso espiritual. Atrasado que era, raciocinou mal, buscou desculpa para ser indolente e enterrou o talento, isto é, nada produziu, não aproveitou a oportunidade que lhe foi dada para progredir. Daí, a admoestação que lhe foi feita. A parábola mostra que mesmo que ele pessoalmente nada produzisse, o Senhor se contentaria com os frutos que outrem produzisse com o talento dele. Disse o senhor que o servo negligente deveria ter posto o talento nas mãos dos banqueiros, a fim de render juros. Evidente que o Senhor não está incentivando a usura; é uma linguagem alegórica para significar que o servo deveria ter procurado os que têm mais capacidade do que ele, os quais saberiam dar uso benéfico, produtivo, ao pouco talento daquele servo; e, assim, ele progrediria um pouco mais, pela experiência que adquiriria. Ainda: no plano material, esse servo simboliza os avarentos, em cujas mãos a fortuna se torna improdutiva. Há outro aspecto a se considerar nesta terceira categoria de servo: além de preguiçoso, negligente, ele também era mau, porque não procurou tornar-se amigo do Senhor, não quis estimá-lo, não quis compreendê-lo; cristalizou-se na falsa ideia que fazia do Senhor, acusando-o de injusto e arbitrário. E, em consequência, teve medo, porque a consciência advertia-o de que trilhava caminho errado; e que, persistindo na posição tomada, de estagnação, viria a punição, por se ter desviado da Lei (porque o caminho da perfeição deve ser trilhado pela boa vontade, pelo esforço próprio, ou, então, pelo aguilhão da dor, pelo fogo do sofrimento). E a punição veio, conforme se lê no final da parábola. Outro aspecto interessante a notar é que, embora não fossem pequenas as quantias entregues aos servos, conforme vimos no início, acima, o Senhor ao elogiar os servos bons e esforçados diz que já que foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei. Isso porque como a escala evolutiva é infinita, o caminho da perfeição é infinito, o que para nós, neste Plano em que estamos, representa muita coisa, é quase nada diante da grandeza das tarefas realizadas pelos Espíritos que já atingiram os elevados graus da perfeição. A parábola transmite ainda o ensinamento de que ao que tem, mais ainda lhe será dado, e ao que não tem até o que não tem lhe será tirado, ensinamento que se encontra também em Mt 13:12. Tal afirmativa vale tanto para as coisas materiais, quanto para as espirituais. No plano material, em que estamos encarnados, existe um dito popular: Dinheiro traz dinheiro, porque é da observação diária que aquele que tem dinheiro faz transações vantajosas, aplicações extraordinariamente lucrativas e, assim, multiplica-o, ficando cada vez mais rico; ao passo que o pobre, que é o que não tem dinheiro, fica cada vez mais pobre, por causa da exagerada alta nos preços dos bens, da carestia da vida, e da desvalorização do poder aquisitivo da moeda.

4 PARÁBOLA DOS TALENTOS E DAS MINAS 4 Com referência aos bens espirituais, aquele que é diligente, esforçado, que providencia para corresponder ao amparo divino, ao amparo do Plano Espiritual, que persevera em ser fiel seguidor de Jesus, receberá auxilio e proteção dos Bons Espíritos para que possa aumentar suas virtudes, sua capacidade espiritual; suas boas qualidades se multiplicam. Todavia, aquele que não tem virtudes morais, e que não se esforça em adquiri-las, ou em aumentá-las, que não diligencia para aumentar sua capacidade espiritual, sofrerá encarnações expiatórias, por força da Lei de Causa e Efeito; e, por isso, fica desprovido até daquilo que o Senhor lhe emprestara, ao reencarnar-se; o que significa que lhe é tirado aquilo que realmente não era seu. E nas existências duras de expiação e provas pelo estímulo da dor, do sofrimento, acordará para o progresso; e o que significa as trevas exteriores, onde há choro e ranger de dentes. A cada um, segundo suas obras." Finalmente, não podemos deixar de observar que a palavra talento significa também, nas línguas atuais, engenho, gênio, intelectualidade, ilustração, capacidade, merecimento, préstimo, habilidade, força física ; e, daí, a atualidade da parábola; pois que podemos entendê-la como um ensinamento para o homem desenvolver cada vez mais seus recursos e aptidões intelectuais, morais, espirituais; é um convite para nos aprimorarmos; para produzirmos os frutos que se esperam de um cristão, de um servo do Senhor; porque ao que tem, mais se dará e terá em quantidade cada vez maior. Não se deve fazer como o servo mau que escondeu o talento na terra, o que significa que permaneceu na esfera material, em vez de caminhar em direção ao Senhor (ou seja, em vez de procurar alcançar as coisas do céu); porque a consequência é que a estes lhes será tirado até o que julgam ter. Não se deve, pois, guardar egoisticamente para si o dom que se recebeu, ou seja, não se deve enterrar o talento", porque, assim fazendo, não se beneficia nem a si próprio, nem ao próximo. Não se deve negar cooperação, quando surge a oportunidade de se prestar um favor, por menor que seja. Não devemos e não podemos enterrar o talento que já conquistamos. Existem mil pequeninos serviços de bondade e de delicadeza; mil pequeninas tarefas de caridade e fraternidade. Quando se cumpre o dever de trabalhar no bem, nas pequeninas coisas, a Parábola se realizará na vida do obreiro, e o Plano Espiritual lhe confiará tarefas cada vez maiores e de mais fecundos resultados.

5 PARÁBOLA DOS TALENTOS E DAS MINAS 5 VIII.2. Parábola das Dez Minas (Lc 19:11-27) Ouvindo eles estas coisas, Jesus propôs uma parábola, visto estar perto de Jerusalém e lhes parecer que o reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente. Então disse: Certo homem nobre partiu para uma terra distante, com o fim de tomar posse de um reino, e voltar. Chamou dez servos seus, confiou-lhes dez minas e disse- lhes: Negociai até que eu volte. Mas os seus concidadãos o odiavam, e enviaram após ele uma embaixada, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós. Quando ele voltou, depois de haver tomado posse do reino, mandou chamar os servos a quem dera o dinheiro, a fim de saber que negócio cada um teria conseguido. Compareceu o primeiro e disse: Senhor, a tua mina rendeu dez. Respondeu-lhe o senhor: Muito bem, servo bom, porque foste fiel no pouco, terás autoridade sobre dez cidades. Veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco. A este disse: Terás autoridade sobre cinco cidades. Veio então outro, dizendo: Eis aqui, Senhor, a tua mina, que eu guardei embrulhada num lenço. Pois tive medo de ti, que és homem rigoroso: tiras o que não puseste e ceifas o que não semeaste. Respondeu-lhe: Servo mau, por tua própria boca te condenarei. Sabias que eu sou homem rigoroso, que tiro o que não pus e ceifo o que não semeei; por que não puseste o meu dinheiro no banco? E então, na minha vinda, o receberia com juros. E disse aos que o assistiam: Tirai-lhe a mina, e dai-a ao que tem dez. Eles ponderaram: Senhor, ela já tem dez. Pois eu vos declaro: A todo o que tem dar-se-lhe-á; mas ao que não tem, o que tem lhe será tirado. Quanto, porém, a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e executai-os na minha presença. Mina era uma moeda grega, porém de origem hebraica; valia a sexagésima parte do talento. Lucas nos dá uma versão um pouco diferente da Parábola dos Talentos de Mateus. Todavia, a significação é a mesma.

6 PARÁBOLA DOS TALENTOS E DAS MINAS 6 Na parábola de Lucas aparece também aquelas três categorias de servos já vistas: a) os que cooperam muito bem; b) os que cooperam bem; c) os que não cooperam por preguiça e ignorância. Mas, além desses, aparece uma quarta categoria: os que se opõem ao Senhor; sobre estes diz a parábola: Quanto, porém, a esses meus inimigos, que não quiseram que eu os governasse, trazei-os aqui e matai-os diante de mim o que é, evidentemente um absurdo e uma heresia ter colocado tais palavras na boca de Jesus. A ser verdade que Jesus tivesse proferido tais palavras, Ele estaria pregando a ironicamente chamada guerra santa em que os fiéis de determinada religião matam os outros, somente porque não são da religião deles. Isto está totalmente contrário à doutrina de paz, de amor, de tolerância, de confraternização trazida por Jesus. Será que já se esqueceram que foi Ele quem pediu para os seus algozes Pai! Perdoai-os pois não sabem o que fazem? Portanto, as palavras finais da parábola ou são palavras de Jesus mal ouvidas e mal registradas, ou são um acréscimo feito por quem tem interesses escusos.