CREMESP DIVULGA LEVANTAMENTO INÉDITO SOBRE CIRURGIA PLÁSTICA E PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS

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1 CREMESP DIVULGA LEVANTAMENTO INÉDITO SOBRE CIRURGIA PLÁSTICA E PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS 97% DOS MÉDICOS PROCESSADOS NÃO TÊM TÍTULO DE ESPECIALISTA NA ÁREA PUBLICIDADE ENGANOSA E MÁ PRÁTICA SÃO OS PRINCIPAIS MOTIVOS DOS PROCESSOS LIPOASPIRAÇÃO E IMPLANTES DE SILICONE SÃO OS PROCEDIMENTOS MAIS FREQUENTES NOS PROCESSOS QUE ENVOLVEM MÉDICOS NÃO-ESPECIALISTAS EM SETE ANOS, 140 MÉDICOS FORAM CONDENADOS; NOVE TIVERAM O REGISTRO CASSADO. Cerca de 97% dos médicos que respondem a processos ético-profissionais no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), relacionados a cirurgias plásticas e procedimentos estéticos, não possuem título de especialista na área. A publicidade irregular ou enganosa é responsável por cerca de 67% dos processos, enquanto as denúncias de má prática profissional respondem por cerca de 28% dos processos éticos. Em levantamento inédito O Cremesp analisou processos éticos que tramitam no órgão de janeiro de 2001 a julho de 2008 e que envolvem 289 médicos. Destes, 139 médicos (48,1%) não têm título em nenhuma especialidade médica. Já 143 médicos (49,5%) possuem título em especialidades não relacionadas a cirurgia plástica e procedimentos estéticos. Dentre os médicos processados, figuram apenas seis cirurgiões plásticos (2,1% do total) que é a especialidade mais habilitada para a realização de cirurgias plásticas e apenas um dermatologista (0,3% do total), especialista que, em seu campo de atuação, executa procedimentos estéticos. Dentre os médicos com título de especialista, os mais freqüentes nos processos são os ginecologistas, os cirurgiões gerais e os ortopedistas (Quadro 1). O título de especialista, que não é obrigatório por lei para o exercício da Medicina, pode ser obtido após a conclusão de Residência Médica reconhecida pelo MEC ou por meio de concurso de título de uma sociedade de especialidade médica oficialmente reconhecida. O direito legal de atuar sem título de especialista não exime de culpa o profissional que pratica atos médicos para os quais não está habilitado do ponto de vista técnico e científico. Os médicos podem responder a processos ético-profissionais perante o Conselho de Medicina, caso exerçam especialidades para as quais não tenham formação e habilidade, 1

2 chegando a causar prejuízo ao paciente. O Código de Ética Médica exige que o profissional só atue na área que domine e prevê punição a atos caracterizados como negligência, imperícia e imprudência. A maioria dos empregadores (SUS, planos de saúde e hospitais) exige dos médicos a comprovação da qualificação técnica e científica necessária para a prática de atos profissionais especializados. No caso da cirurgia plástica e dos procedimentos estéticos, em que os pacientes geralmente contratam diretamente os serviços médicos, a própria população precisa ser mais informada e conscientizada dos riscos do tratamento ou da realização de procedimentos por profissionais não habilitados. São 53 as especialidades médicas oficialmente reconhecidas conjuntamente pela Associação Médica Brasileira (AMB), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM). Em agosto de 2008 o CFM e a AMB alertaram que a medicina estética não existe como especialidade médica. O médico que anuncia ser especialista em medicina estética comete infração ética. A mobilização foi uma resposta à criação irregular de entidades e de cursos de especialização em medicina estética. QUADRO 1 Títulos de especialistas citados nos processos ético-profissionais relacionados à cirurgia plástica e procedimentos estéticos em tramitação no Cremesp de janeiro/2001 a julho/2008 Nº DE TÍTULOS DE % ESPECIALIDADE ESPECIALISTAS SEM TÍTULO DE ESPECIALISTA ,42% GINECOLOGIA E OBSTETRICIA 37 12,09% CIRURGIA GERAL 19 6,21% ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA 18 5,88% CARDIOLOGIA 10 3,27% MEDICINA DO TRABALHO 10 3,27% CLINICA MÉDICA 9 2,94% OFTALMOLOGIA 8 2,61% PEDIATRIA 8 2,61% UROLOGIA 8 2,61% ANESTESIOLOGIA 6 1,96% CIRURGIA PLÁSTICA 6 1,96% CIRURGIA PEDIÁTRICA 3 0,98% MEDICINA DO TRAFEGO 3 0,98% CANCEROLOGIA 2 0,65% GASTROENTEROLOGIA 2 0,65% MEDICINA LEGAL 2 0,65% NEUROCIRURGIA 2 0,65% PSIQUIATRIA 2 0,65% CIRURGIA CARDIOVASCULAR 1 0,33% CIRURGIA DO APARELHO DIGESTIVO 1 0,33% CIRURGIA TORÁCICA 1 0,33% DERMATOLOGIA 1 0,33% ENDOSCOPIA 1 0,33% MASTOLOGIA 1 0,33% MEDICINA INTENSIVA 1 0,33% MEDICINA PREVENTIVA E SOCIAL 1 0,33% NEFROLOGIA 1 0,33% NEUROLOGIA 1 0,33% PATOLOGIA 1 0,33% RADIOLOGIA 1 0,33% TOTAL % *Obs. o médico pode ter mais de um título de especialista; pode exercer mais de uma especialidade 2

3 Publicidade irregular e denúncia de má prática são os principais motivos dos processos ético-profissionais A publicidade médica irregular é o tipo de infração mais recorrente nos processos analisados pelo Cremesp nas áreas de plástica e procedimentos estéticos, com 66,87% de menções. Isso inclui autopromoção de médicos em revistas e programas de televisão, exposição de imagens de pacientes ( antes e depois ), divulgação de técnicas não reconhecidas e de procedimentos sem comprovação científica, mercantilização do ato médico (por exemplo, promoções, quiosques em shoppings, consórcios e crediário para realização de cirurgias plásticas), dentre outras infrações. O segundo tipo de infração mais recorrente, que figura em 28,39% dos processos, é a suposta má prática (negligência, imperícia ou imprudência). São condutas profissionais ligadas, por exemplo, a erro de diagnóstico, métodos inadequados de tratamento, má assistência no período pós-operatório, prescrição errada de medicamentos, complicações anestésicas, erro em cirurgias, alta precoce, dentre outros problemas. Algumas das denúncias de má prática estão relacionadas a resultado insatisfatório de cirurgias plásticas, mas também a prejuízos à saúde do paciente e até mesmo a danos estéticos irreversíveis. Em duas das denúncias que geraram processos éticos no Cremesp as pacientes foram a óbito. Em menor proporção aparecem os processos ligados à relação entre médico e paciente (realização de procedimentos sem conhecimento do paciente, desentendimentos sobre cobrança de honorários, assédio, dentre outros); ligados a condições inadequadas de funcionamento de clínicas de estética ou unidade de saúde; e problemas na relação entre médicos. (Quadro2) Quadro 2 - Tipos de infração citados nos processos ético-profissionais relacionados a cirurgia plástica e procedimentos estéticos em tramitação no Cremesp de janeiro/2001 à julho/2008 TIPO DE INFRAÇÃO Nº DE PROCESSOS % PUBLICIDADE ,87 MÁ PRÁTICA 90 28,39 RELAÇÃO MÉDICO X PACIENTE 8 2,83 CONDIÇÕES INADEQUADAS DE FUNCIONAMENTO DE 5 1,57 CLÍNICAS DE ESTÉTICA E UNIDADES DE SAÚDE RELAÇÃO ENTRE MÉDICOS 1 0,31 TOTAL % OBS: Um mesmo processo ético-profissional pode conter mais de um tipo de infração 3

4 Lipoaspiração e colocação de próteses de silicone são os procedimentos mais freqüentes nos processos A lipoaspiração é o procedimento médico que mais aparece nos processos éticoprofissionais analisados pelo Cremesp, com 70 menções ou 33,50 % do universo analisado. Em seguida vem a colocação de prótese de silicone (42 menções), rejuvenescimento facial (12), bioplastia (9), botox (8), rinoescultura (8), dentre outros procedimentos. Os procedimentos (Quadro 3) são mencionados tanto em processos que envolvem publicidade irregular quanto em processos por suposta má prática. Quadro 3 - Procedimentos médicos citados nos processos ético-profissionais relacionados à cirurgia plástica e procedimentos estéticos que tramitam no Cremesp de janeiro/2001 a julho/2008 PROCEDIMENTO Nº de menções nos % processos LIPOAPIRAÇÃO/LIPOESCULTURA 70 33,50 PRÓTESE DE SILICONE 42 20,10 REJUVENESCIMENTO FACIAL 12 5,74 BIOPLASTIA 9 4,31 BOTOX 8 3,83 RINOESCULTURA 8 3,83 RINOPLASTIA 7 3,35 CIRURGIA CORRETIVA DE ABDOMEN 7 3,35 LIFTING 6 2,87 DEMAIS PROCEDIMENTOS* 40 19,14 TOTAL % *Outros procedimentos citados: prótese glútea, fio-russo, fio-búlgaro, peeling, emagrecimento, celulite, reconstituição de orelha, preenchimento de lábios, cosmetologia, desvio de septo, eliminação de pelos, prótese areolar, indermoterapia, orelha de abano, cirurgia de varizes, cirurgia de queixo e cirurgia de órgão genital feminino. Obs: Em diversos processos ético-profissionais não são especificados a procedimentos médicos. Em outros, figuram mais de um procedimento. Dentre os médicos processados, 38% são reincidentes. No universo de médicos processados, 59 (20,4%) são mulheres e 230 ( 79,6%) são homens. A maioria (265 ou 91,7%) tem mais de 15 anos de formado. Apenas 10 médicos processados tem menos de dez anos de profissão. Dentre os processados, 38% dos médicos são reincidentes, respondem a mais de um processo ético-profissional. Respondem a dois processos 65 médicos enquanto 24 médicos figuram em três processos diferentes; nove médicos têm quatro processos; cinco médicos respondem a cinco processos cada um e cinco médicos têm seis processos éticos. Há o caso de um único médico que figura em 16 processos éticos. Mais de 70% dos médicos julgados foram condenados; nove tiveram o registro cassado. Ao analisar os julgamentos realizados pelo Cremesp, dentre 193 médicos julgados de 2000 a 2007, envolvidos em processos ético-profissionais relacionados a cirurgia plástica e procedimentos estéticos, 140 médicos (ou 72,5%) foram considerados culpados e receberam as penalidades previstas em lei. 4

5 O Cremesp cassou o exercício profissional de nove médicos. Além disso, 16 médicos tiveram suspensos o exercício profissional por 30 dias. A pena mais aplicada, em 74 médicos, foi a censura pública em publicação oficial (divulgada em jornal de grande circulação no Estado, publicada no Diário Oficial do Estado e no Jornal do Cremesp). Foram aplicadas penas confidenciais, - advertência e censura - respectivamente em 47 e em 25 médicos por problemas relacionados a cirurgia plástica ou procedimentos estéticos. O mesmo médico pode receber mais de uma penalidade, pelo fato de responder a mais de um processo ético-profissional. É o que aconteceu com 24 médicos, condenados mais de uma vez após julgamento do Cremesp. Sempre que o médico representar grave risco para a população, há a possibilidade de o Cremesp decidir pela interdição cautelar (Resolução CFM 1789/ 2006), medida excepcional em que o profissional é impedido temporariamente do exercício da medicina até o final do processo ético-profissional. No período analisado, o Cremesp aplicou uma decisão cautelar devido à má prática em cirurgia plástica. Em todas as decisões do Cremesp, cabe recurso do médico acusado junto ao Conselho Federal de Medicina (CFM). Por vezes, os médicos também decidem recorrer à Justiça para tentar reverter à decisão. Cremesp adotou medidas educativas Divulgado em 2007, levantamento do Cremesp havia apontado a cirurgia plástica como a área de atuação médica com a maior Taxa de Processos, em comparação com outras especialidades. Essa unidade de medida considera a freqüência da especialidade nos processos ético-profissionais, mas também o número de especialistas e o tempo de formado dos médicos. Ao longo dos últimos anos houve um crescimento das denúncias relacionadas a plástica e procedimentos estéticos, que passaram de 72 denúncias em 2003 para 417 denúncias em 2006, um aumento de mais de 500% em três anos. No ano de 2007, no entanto, o número de denúncias (212) foi reduzido quase à metade se comparado ao ano anterior. O número ainda é elevado, mas o Cremesp considera que podem estar surtindo efeito algumas medidas educativas adotadas. Destaca-se implantação do Programa de Educação Continuada do Cremesp, que oferece cursos gratuitos sobre especialidades médicas dirigidos principalmente a médicos generalistas e sem título de especialista. Foram realizados pelo Cremesp 55 módulos de educação continuada nos últimos 18 meses, em diversas cidades do Estado. Além disso, foi intensificado o trabalho da Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos (Codame) do Cremesp, que mantém serviço permanente de esclarecimento de dúvidas e campanhas educativas, como a realização dos Fóruns Regulamentadores de Publicidade Médica, que visam prevenir as infrações éticas relacionadas sobretudo a cirurgia plástica e procedimentos estéticos. Em 2007 e 2008 foram realizados 20 Fóruns no Estado, com a presença de cerca de mil médicos. Mais informações: Assessoria de Imprensa do Cremesp (11) e