guido pela PIDE e pela GNR, desde o início dos anos

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Yan Monteiro
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1 Prefácio O núcleo de Montemor-o-Novo da U.R.A.P. (União de Resistentes Antifascistas Portugueses) inaugurou em 28 de Junho de 1986 um monumento memorial de homenagem a José Adelino dos Santos, próximo do local onde este trabalhador rural foi assassinado na tarde de 23 de Junho de 1958, na sequência de uma paralisação e manifestação de protesto contra a fraude nas eleições presidenciais de 8 de Junho e de reivindicação por melhores salários. Os cerca de 300 manifestantes concentrados em frente da câmara municipal de Montemor-o-Novo clamavam Queremos trabalho e pão!, quando um dos tiros disparados da varanda do edifício atingiu com precisão, na nuca, José Adelino dos Santos que, no momento se tinha voltado para falar com alguns companheiros. Um tiro que não foi obra do acaso, mas dirigido para aquele trabalhador, vigiado e perse- 13

2 CARLOS ANDRÉ guido pela PIDE e pela GNR, desde o início dos anos 40, e que as forças repressivas sabiam ser um dos principais organizadores do protesto. José Adelino dos Santos, nascido em Santiago do Escoural, em 1912, fora preso pela primeira vez em 1945, tendo cumprido três meses de cadeia em Caxias. Regressado a Montemor, este corajoso militante comunista voltou à luta e tornou a ser detido em 1949 (3 de Julho) e depois de passar por Caxias e pelo Aljube foi julgado 7 meses depois (25 Fevereiro 1950), sendo condenado a 20 meses de prisão em Peniche, terminando a pena em 25 de Novembro de Foram-lhe aplicadas medidas de segurança e ficou em liberdade condicional até 2 de Agosto de Do que foi a sua vida de lutador e das circunstâncias do seu assassinato nos dá conta este trabalho de Carlos André, numa oportuna evocação dos acontecimentos de 23 de Junho de 1958, tendo para o efeito recolhido valiosos testemunhos presenciais ou de que acompanhou de perto a luta e resistência ao fascismo dos trabalhadores rurais de Montemor. O autor entrevistou e recolheu depoimentos do próprio filho (que herdou o nome de seu pai) Adelino dos Santos (n. 1936), de António Gervásio (n. 1928), 14

3 MEMÓRIAS DE UM ASSASSINATO António Bernardino Farrica (n. 1923) e de José António Salgueiro (n. 1919), dos quais apresenta breves biografias, bem como se socorreu de memórias pessoais dos relatos de seu tio Agostinho Tangarrinhas e da consulta do processo de José Adelino na Torre do Tombo e do Avante! clandestino. A obra de Carlos André constitui assim mais um contributo para o conhecimento de um dos episódios mais marcantes da luta e da resistência antifascista em Montemor e no Alentejo, em que o assassinato de José Adelino dos Santos se junta aos de Germano Vidigal (1945), em Montemor-o-Novo; António José Patuleia (1947), de Vila Viçosa, na sede da PIDE; Alfredo Lima (1950), em Alpiarça; Catarina Eufémia (1954), em Baleizão; António Adângio e Francisco Madeira (1968), em Aljustrel. Quando, em 1986, a URAP através do seu núcleo de Montemor fez erigir o monumento a José Adelino, iniciativa em que, entre outros, teve papel destacado João Joaquim Machado, o Machadinho ( ), logo surgiu a ideia de erguer outro monumento, de sentido colectivo, aos Resistentes Antifascistas do Alentejo. A ideia viria a concretizar-se, com a sua inauguração em 1 de Junho de 1996, no Largo Dr. 15

4 CARLOS ANDRÉ António José de Almeida junto ao jardim público em pleno centro da cidade. A importância da resistência antifascista e das lutas do operariado agrícola de Montemor foi justamente assinalada por José Saramago que dedicou o seu livro Levantado do Chão (1980) a Germano Vidigal e José Adelino dos Santos, assassinados. Os incidentes da tarde 23 de Junho de 1958 muito contribuíram para alastrar a onda de indignação que então varria o País, desde a burla eleitoral de 8 de Junho. No Escoural, ao tomar conhecimento do assassinato, uma centena de trabalhadores largou de imediato o trabalho. E, com início nos dias 25 e 27 de Junho, sucederam-se de Norte a Sul, greves, paralisações, manifestações e comícios, com maior incidência no Ribatejo, Margem Sul e Alentejo (Sacavém, Alhandra, Vila Franca, Beja, Pias, Serpa, Ferreira, Avis, Benavila, Aljustrel, Grândola, entre outras), mas também Matosinhos, fábricas dos arredores do Porto, Vila do Conde, Castelo Branco, Coimbra, Figueira da Foz, Aveiro. Nos anos seguintes, prosseguiram, com intensidade, as jornadas de luta pelo direito ao trabalho, contra a fome e a miséria e, em particular, pela jornada das 16

5 MEMÓRIAS DE UM ASSASSINATO oito horas de trabalho nos campos do Sul. Luta heróica que, tendo começado em 1957, só depois de muitas batalhas, se tornaria vitoriosa a partir de Maio de 1962, com os agrários e o fascismo numa dura ofensiva repressiva de alguns meses que não resultou, sendo obrigados a aceitar as 8 horas como facto consumado. Num tempo em que assistimos a diversas tentativas de reescrita da história, branqueamento do fascismo e desvalorização ou apagamento dos que protagonizaram a resistência e luta pela conquista da liberdade, a evocação do revolucionário José Adelino dos Santos contribui para avivar a memória do que foi e representou a luta do proletariado rural do Alentejo pela liberdade e pelo progresso social, alcançados em 25 de Abril e que continua a ser necessário defender e consolidar. A Direcção da URAP 17

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