Potencial de parasitismo de Trichogramma pretiosum Riley (Hym.: Trichogrammatidae) em diferentes temperaturas sobre Diaphania nitidalis

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1 BESTETE LR; LIMA VLS; PRATISSOLI D; CELESTINO FN; CARVALHO JR; TUFIK CBA Potencial de parasitismo de Trichogramma pretiosum Riley (Hym.: Trichogrammatidae) em diferentes temperaturas sobre Diaphania nitidalis (Cramer, 1781) (Lepidoptera: Crambidae) Horticultura Brasileira 28: S580-S585. Potencial de parasitismo de Trichogramma pretiosum Riley (Hym.: Trichogrammatidae) em diferentes temperaturas sobre Diaphania nitidalis (Cramer, 1781) (Lepidoptera: Crambidae). Luziani Rezende Bestete 1 ; Vitor Luiz de Souza Lima 2 ; Dirceu Pratissoli 2 ; Flávio Neves Celestino 2 ; José Romário de Carvalho 2 ; Camila Borges A. Tufik 2 1 Universidade Federal Rural de Pernambuco - Departamento de Agronomia - Entomologia, Av. Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife-PE; 2 Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias - Departamento de Produção Vegetal - NUDEMAFI, Alto Universitário, s/n, Alegre-ES. luziani004@hotmail.com; tidyn@yahoo.com.br; pratissoli@cca.ufes.br; fncelestino@hotmail.com; jromario_carvalho@hotmail.com; camila_btufik@hotmail.com RESUMO O potencial de parasitismo de Trichogramma pretiosum foi avaliado para o manejo de Diaphania nitidalis em seis temperaturas: 18, 21, 24, 27, 30 e 33 C. Os ovos de D. nitidalis foram coletados e destes foram preparadas cartelas com 20 ovos. Para cada temperatura utilizou-se 48 fêmeas com no máximo 24 horas de idade, colocando-se 4 fêmeas por tubo de vidro. Nestes tubos foram feitas trocas das cartelas com ovos de D. nitidalis, a cada 48 horas até a morte das fêmeas. O maior número de ovos parasitados foi obtido na faixa de 21 a 27 C, variando de 1,2 a 1,3 ovos parasitados por fêmea, sem diferenças significativas para esses valores nessa faixa térmica. A maior capacidade de parasitismo de T. pretiosum sobre ovos de D. nitidalis ocorre entre as temperaturas de 21 a 27 C e nas primeiras 48 horas de vida da fêmea deste parasitóide. Palavras-chave: cucurbita spp., Broca-dascucurbitáceas, controle biológico, parasitóide. ABSTRACT Parasitism potential of Trichogramma pretiosum (Hym.: Trichogrammatidae) at different temperatures on Diaphania nitidalis (Cramer, 1781) (Lep.: Crambidae). The potential for parasitism by Trichogramma pretiosum was evaluated for the management of Diaphania nitidalis at six temperatures: 18, 21, 24, 27, 30 and 33 C. The eggs of D. nitidalis were collected and these cards were prepared with 20 eggs. For each temperature, we used 48 females with a maximum of 24 hours of age, placing four females per glass tube. These tubes were made of cards trading with eggs of D. nitidalis every 48 hours until the death of females. The largest number of parasitized eggs was obtained in the range C, ranging from 1.2 to 1.3 parasitized eggs per female, with no significant differences for these values in this temperature range. The higher parasitism capacity of T.pretiosum on eggs of D. nitidalis occurs between the temperatures C and within 48 hours of life female parasitoid. Keywords: Cucurbita spp., Drill-of-cucurbits, biological control, parasitoid. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 580

2 A Broca Diaphania nitidalis (Cramer, 1781) (Lepidoptera: Crambidae), devido elevado potencial de causar danos em espécies de Cucurbitáceas, se destaca como uma das principais pragas limitantes para essa família. Suas lagartas atacam todas as partes da planta, tendo como preferência os botões florais, flores e frutos, ocorrendo neste último perdas maiores, pois as perfurações deixadas pela broca servem de entrada para agentes patogênicos (Picanço et al., 2000). O uso de inseticidas sintéticos é prática comum no controle desta praga, porém o uso contínuo pode acarretar vários malefícios ao meio ambiente, ao homem e principalmente aos consumidores (Brito et al., 2004). Em face disso, o Controle Biológico através de parasitóides do gênero Trichogramma ganha destaque, pois esse não causa impacto ambiental e é seguro à saúde humana, além de apresentar ótima eficiência e facilidade de criação em laboratório (Parra et al., 2002). O desempenho de Trichogramma spp. expresso em condições ótimas pode ser afetado sob determinadas situações ambientais. Mudanças climáticas, principalmente na temperatura, têm sido relatadas como capazes de exercer efeitos sobre a resposta funcional deste parasitóide, ocorrendo diferenças na resposta entre as espécies/linhagens em diferentes regimes térmicos, afetando a habilidade de parasitismo (Kaleybi et al. 2005). Assim, o estudo da capacidade de parasitismo de T. pretiosum em função da temperatura pode fornecer informações importantes para a implantação de programas de manejo fitossanitário de D. nitidalis, visto que, cada espécie possui comportamento diferenciado e que pode variar de acordo com suas características intrínsecas, podendo se adaptar ou não a um determinado ambiente (Pratissoli & Parra, 2000). Deste modo, esta pesquisa teve como objetivo obter informações básicas sobre aspectos biológicos de T. pretiosum parasitando ovos de D. nitidalis em diferentes temperaturas. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Núcleo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Manejo Fitossanitário (NUDEMAFI), do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo. As Lagartas de D. nitidalis foram coletadas em plantações de abóbora no distrito de São Paulinho, município de Domingos Martins-ES, e transferidas em laboratório para caixas de acrílico forradas com papel de filtro, onde foram alimentadas com abóbora até a fase de pupa. Estas então eram transferidas para gaiolas de cano PVC cobertas com tecido tipo filó e circundados com papel (para oviposição), onde emergiam os adultos que foram alimentados com solução de mel a 10%. Dada a oviposição, retiraram-se as folhas contendo os ovos necessários para a criação. A criação foi realizada em sala com temperatura de º C, umidade relativa de % e fotofase de 14 h. As fêmeas de T. pretiosum utilizadas no experimento foram provenientes da criação estoque do NUDEMAFI, onde a manutenção é feita oferecendo ovos do hospedeiro alternativo A. kuehniella inviabilizados pela exposição à lâmpada germicida, por um período de 50 minutos. O potencial de parasitismo de T. pretiosum foi avaliado em câmaras climatizadas reguladas com fotofase de 14 horas e temperaturas de 18, 21, 24, 27, 30 e o C. Ovos Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 581

3 de até 48 horas de idade de D. nitidalis foram fixados em cartelas de cartolina azul (8,0 x 2,0 cm) em número de 20 de ovos. Para cada temperatura, 4 fêmeas de T. pretiosum com no máximo 24 horas de idade, foram colocadas em tubos de vidro, contendo na parede interna gotículas de mel para alimentação das fêmeas. Foram realizados trocas das cartelas com ovos de D. nitidalis, a cada 48 horas até a morte das fêmeas. As cartelas submetidas ao parasitismo foram transferidas para sacos plásticos de 23,0 x 4,0 cm, fechados e mantidos nas respectivas temperaturas até a emergência dos descendentes. O parâmetro avaliado foi o número de ovos parasitados por fêmea. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com 6 tratamentos e 12 repetições, e os dados obtidos submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO A temperatura influenciou o ritmo de parasitismo de T. pretiosum que variou entre 0,1 (33 ºC) e 1,1 (21 ºC) ovos parasitados por fêmea, durante as primeiras 48 horas (Figura 1). Foi observada uma maior concentração de parasitismo nos primeiros dias de avaliação, obtendo-se nos primeiros 4 dias: 0,3; 1,3; 1,1; 1,2; 0,2 e 0,1 ovos parasitados nas temperaturas de 18, 21, 24, 27, 30 e 33 C, respectivamente, com período de parasitismo variando de 2 a 14 dias (Figura 1). O parasitismo acumulado de T. pretiosum atingiu 80% no período de 2 dias para as temperaturas de 21, 24 e 33 C, e no período de 4 dias para as temperaturas de 18, 27 e 30 C em ovos de D. nitidalis (Figura 1). Vários autores relatam essa variação do parasitismo em função da temperatura (Pratissoli & Parra, 2000; Pastori et al., 2007; Zago et al., 2007). O maior número de ovos de D. nitidalis parasitados por fêmea de T. pretiosum foi na faixa de 21 a 27 C, variando de 1,22 a 1,35 ovos por fêmea, sem diferenças significativas nessa faixa térmica (Figura 2). Além da temperatura, outras variações podem interferir no parasitismo, como a espécie e/ou linhagem do parasitóide, hospedeiro utilizado e densidade do hospedeiro (Zago et al., 2007). O número total de ovos parasitados foi baixo para todas as temperaturas (Figura 2). Tal fato pode ter ocorrido devido principalmente ao hospedeiro utilizado, uma vez que as características como espessura do córion, volume do ovo, idade e forma de postura podem afetar a percentagem de parasitismo (Roriz, et al., 2006; Rukmowati-Brotodjojo & Walter, 2006). Ovos de D. nitidalis são amorfos e a forma de postura desta espécie pode variar de ovóide a desuniformemente convexos (Mendes & Berti Filho, 1981), o que pode explicar este resultado. Além desses fatores, o baixo número de ovos parasitados pode ter ocorrido devido às características químicas do ovo do hospedeiro, relacionadas aos recursos nutricionais disponíveis para o desenvolvimento do parasitóide, e a capacidade da espécie e/ou linhagem do parasitóide de reconhecer o ovo de D. nitidalis (Roriz et al., 2006; Facknath & Wright, 2007), pois a espécie e a linhagem avaliada eram mantidas em laboratório por sucessivas gerações em ovos de A. kuehniella. O sucesso no uso destes parasitóides depende, entre outros fatores, da escolha da espécie e/ou linhagem a ser utilizada, pois se deve priorizar o emprego de parasitóides mais eficientes, melhor adaptados à cultura e/ou hospedeiro e a diferentes condições climáticas Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 582

4 (Pratissoli et al., 2004). Diante dos dados apresentados é necessário realizar novos estudos com outras espécies e/ou linhagens, e realizar coletas em campo para se obter espécies e/ ou linhagens eficientes no controle de D. nitidalis, visto que esta é uma praga de importância econômica. REFERÊNCIAS BRITO GG; COSTA EC; MAZIERO H; BRITO AB; DÖRR FA Preferência da brocadas-cucurbitáceas Diaphania nitidalis Cramer, 1781 (Lepidoptera: Pyralidae) por cultivares de pepineiro em ambiente protegido. Ciência Rural 34: FACKNATH S; WRIGHT DJ Is host selection in leafminer adults influenced by preimaginal or early adult experience? Journal of Applied Entomology 131: KALYEBI A; OVERHOLTB WA; SCHULTHESSA F; MUEKEC JM; HASSAND SA; SITHANANTHAMA S Functional response of six indigenous trichogrammatid egg parasitoids (Hymenoptera: Trichogrammatidae) in Kenya: influence of temperature and relative humidity. Biological Control 32: MENDES ACB; BERTI FILHO E Biologia da broca das cucurbitáceas Diaphania nitidalis (Cramer, 1781) (Lepidoptera: Pyralidae). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil 10: PARRA, JRP; BOTELHO, PSM; CORRÊA-FERREIRA, BS; BENTO, JMS Controle biológico uma visão inter e multidisciplinar. In: Parra, JRP; Botelho, PSM; Corrêa-Ferreira, BS; Bento, JMS (Ed). Controle biológico no Brasil: parasitóides e predadores. São Paulo: Manole.p PASTORI PL; MONTEIRO LB; BOTTON M; PRATISSOLI D Capacidade de Parasitismo de Trichogramma pretiosum Riley (Hymenoptera: Trichogrammatidae) em Ovos de Bonagota salubricola (Meyrick) (Lepidoptera: Tortricidae) sob Diferentes Temperaturas. Neotropical Entomology 36: PICANÇO M; GUSMÃO MR; GALVAN TL Manejo integrado de pragas de hortaliças, p In L. Zambolim (ed). Manejo integrado: Doenças, pragas e plantas daninhas. UFV, Viçosa, 405p. PRATISSOLI D; PARRA JRP Desenvolvimento e exigências térmicas de Trichogramma pretiosum RILEY, criados em duas traças do tomateiro. Pesquisa agropecuária brasileira 35: PRATISSOLI D; PARRA JRP Seleção de linhagens de Trichogramma pretiosum Riley, 1879, para o controle das traças, Tuta absoluta (Meyrick) e Phthorimaea operculella (Zeller). Neotropical Entomology 30: PRATISSOLI D; PEREIRA FF; BARROS R; PARRA JRP; PEREIRA CLT Parasitismo de Trichogramma pretiosum em ovos da traça-das-crucíferas sob diferentes temperaturas. Horticultura Brasileira 22: RORIZ V; OLIVEIRA L; GARCIA P Host suitability and preference studies of Trichogramma cordubensis (Hymenoptera: Trichogrammatidae). Biological Control 36: Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 583

5 RUKMOWATI-BROTODJOJO RR; WALTER GH Oviposition and reproductive performance of a generalist parasitoid (Trichogramma pretiosum) exposed to host species that differ in their physical characteristics. Biological Control 39: ZAGO HB; PRATISSOLI D; BARROS R; GONDIM JR MGC; SANTOS JR HJG Capacidade de Parasitismo de Trichogramma pratissolii Querino & Zucchi (Hymenoptera: Trichogrammatidae) em Hospedeiros Alternativos, Sob Diferentes Temperaturas. Neotropical Entomology 36: Figura 1. Parasitismo a cada 48h e acumulado de T. pretiosum sobre D. nitidalis, sob seis temperaturas. Fotofase: 14 horas. As setas indicam 80% de parasitismo. (Parasitism every 48 hours and accumulated of T. pretiosum on D. nitidalis under six different temperatures Photoperiod: 14 hours. Arrows indicate 80% parasitism). NUDEMAFI, Alegre, Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 584

6 1,8 1,6 A A A 1,4 Parasitismo total 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 B B C 0, Temperatura C Figura 2. Parasitismo total de T. pretiosum sobre D. nitidalis, sob diferentes temperaturas. (Parasitism of T. pretiosum on D. nitidalis under different temperatures). NUDEMAFI, Alegre, Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 585