Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

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1 Acórdãos STA Processo: 01244/09 Data do Acordão: Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Tribunal: Relator: Descritores: Sumário: 2 SECÇÃO ISABEL MARQUES DA SILVA EXECUÇÃO FISCAL ANULAÇÃO DA VENDA I - Se a recorrente, nas suas alegações de recurso e respectivas conclusões, não ataca os concretos fundamentos invocados na sentença para desatender o conhecimento das alegadas nulidades (in casu, o facto de tais fundamentos já terem sido objecto de apreciação e o facto de ser extemporânea a sua invocação como fundamento para anulação da venda, porquanto já teria sido ultrapassado largamente o prazo (de 15 dias) de que dispunha para o invocar (ex vi do disposto no artigo 257.º, n.º 1, alínea c) e n.º 2 do CPPT), e não se descortinando que o assim decidido mereça censura, improcedem necessariamente as suas alegações. II - Não há lugar à citação do cônjuge do executado para requerer a separação de bens quando, falecido o executado, o seu cônjuge é já parte na execução, aí intervindo como cabeça-de-casal. III - O incumprimento do disposto no artigo 155.º do CPPT, quando a omissão das formalidades aí previstas não tenha tido como efeito que o processo executivo tenha corrido à revelia dos sucessores do falecido, não determina a anulação da venda, pois que o processo executivo não correu à sua revelia. Nº Convencional: JSTA000P11807 Nº do Documento: SA Recorrente: A... Recorrido 1: FAZENDA PÚBLICA E G... Votação: UNANIMIDADE Aditamento:

2 Texto Integral Texto Integral: Acordam na Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo: - Relatório - 1 A, com os sinais dos autos, recorre para este Supremo Tribunal da sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Loulé, de 3 de Outubro de 2009, que julgou improcedente o incidente de anulação da venda realizada no processo de execução fiscal n.º , do Serviço de Finanças de Lagos, apresentando as seguintes conclusões: 1. O executado B faleceu em 10 de Setembro de 2004; 2. O despacho a ordenar a notificação e a própria notificação para audiência prévia, efectuada em 14 de Abril de 2005 a B é de conteúdo ou objecto impossível porquanto o falecido nunca poderia comparecer na diligência, sendo nulo, por natureza; 3. Verificou-se a falta de citação do executado, efectuada em 9 de Junho de 2005, nos termos do art. 195, n.º 1, alínea d) do CPC; 4. O despacho a ordenar a notificação e a própria notificação para audiência prévia, efectuada em 24 de Outubro de 2005 a B é de conteúdo ou objecto impossível porquanto o falecido nunca poderia comparecer na diligência, sendo nulo, por natureza; 5. Verificou-se a falta de citação do executado, efectuada em 23 de Novembro de 2005, nos termos do art. 195, n.º 1, alínea d) do CPC; 6. Verificou-se a falta de citação da recorrente na qualidade de cônjuge do executado, nos termos do artigo 220º do CPPT e do art. 195.º, n.º 1, alínea a) do CPC. 7. Verificou-se a falta de citação da herança de B, nos termos do art. 155.º do CPPT e do art. 195º, nº 1, alínea a) do CPC Nestes termos e nos melhores de Direito, deve ser anulada a venda judicial do prédio urbano, descrito na Conservatória do Registo Predial de Portimão sob o n.º 4869/ e inscrito na matriz predial sob o art º da freguesia e concelho de Portimão, bem como a própria execução fiscal. 2 Não foram apresentadas contra-alegações.

3 3 O Excelentíssimo Procurador-Geral Adjunto junto deste Tribunal emitiu parecer nos seguintes termos: Objecto: Decisão que julgou improcedente o incidente de anulação da venda. FUNDAMENTAÇÃO A primeira questão apreciada na decisão recorrida tem a ver com a alegada falta de notificação para o exercício do direito de audiência prévia de B, dado a mesma ter sido ordenada e efectuada depois da sua morte. O n.º 4 do artigo 23.º da LGT preceitua que A reversão, mesmo nos casos de presunção legal de culpa, é precedida de audição do responsável subsidiário nos termos da presente lei e da declaração fundamentada dos seus pressupostos e extensão, a incluir na citação. O exercício do direito de audiência prévia constitui uma importante manifestação do princípio do contraditório e uma sólida garantia de defesa dos direitos do administrado, sendo reconhecido pela doutrina e pela jurisprudência como um princípio estruturante da actividade administrativa cuja violação ou incorrecta realização se traduz numa violação de uma formalidade essencial que, é determinante da ilegalidade do próprio acto. (acórdão do STA de 25/06/2008, processo nº 392/08). É indubitável que, no caso sub judice, aquela formalidade essencial foi preterida. Porém, na decisão em crise entendeu-se que, apesar da omissão desta formalidade o mesmo não aconteceu com a citação da reversão que foi efectuada com menção de «cabeça de casal» e foi recebida pela recorrente. E, a falta de citação, foi arguida em requerimento de 4 de Maio de 2006, tendo sido objecto de despacho de indeferimento do qual houve reclamação em 14 de Junho de 2006, para o TAF de Loulé. Conclui-se, por fim, que a falta de citação do executado, como fundamento desta acção, para além de ter sido objecto de apreciação, sempre teria de improceder aquela, porquanto já teria sido ultrapassado largamente o prazo (de 15 dias), uma vez que a A. a arguiu pelo menos em 04/05/2006, por requerimento junto do serviço de finanças.

4 Além disso, a preterição daquela formalidade não faz parte do elenco dos motivos de anulação da venda previstos no artigo 909.º do CPC, para que remete a alínea c) do n.º 1, do artigo 257.º do CPPT. Cinge-se, assim, a decisão recorrida à apreciação da invocada nulidade por falta de citação da Recorrente enquanto cônjuge do executado, dado essa não ter sido de facto efectuada. Entendeu-se que, tendo a Recorrente sido citada na reversão, enquanto cabeça de casal da herança aberta por morte do seu cônjuge (executado nos autos de reversão) e, na mesma condição, ter assinado o mandado de penhora, aceite a nomeação como fiel depositário do bem penhorado, arguido a nulidade do despacho de reversão em relação ao executado revertido e à falta de audição deste, interveio no processo na posição de executada, não podendo, por isso, ser citada como cônjuge do executado, na medida em que ela própria já ocupava a posição daquele no processo como sua sucessora, inexistindo a arguida falta de citação. Na verdade, resulta do disposto no artigo 239.º do CPPT que só o cônjuge do executado, quando não é ele mesmo executado, é que é citado, nos termos daquele preceito legal. Mas, mesmo não se verificando tal circunstância, resulta do artigo 909.º, n.º 1, alínea b) do CPC, aplicável por força da alínea c) do n.º 1 do artigo 257.º do CPPT, que a venda só fica sem efeito se toda a execução for anulada por falta ou nulidade da citação do executado, que tenha sido revel, salvo o disposto no artigo 921.º, n.º 3 do mesmo diploma legal. Da conjugação deste preceito legal com o disposto no n.º 1 do artigo 921.º e 483.º do mesmo compêndio resulta que a nulidade da venda judicial pode ser arguida pelo executado quando este não tiver sido executado para a execução e o processo tiver corrido à sua revelia. Por tudo quanto já foi referido ressalta evidente que o processo não correu à revelia da Recorrente, que teve intervenção qualificada em todo o processo. CONCLUSÃO O recurso não merece provimento.

5 Notificadas as partes do Parecer do Ministério Público (fls. 202 a 204 dos autos), estas nada vieram dizer. Colhidos os vistos legais, cumpre decidir. - Fundamentação - 4 Questão a decidir É a de saber se há fundamento legal para a anulação da venda executiva efectuada. 5 Matéria de facto Na sentença objecto do presente recurso foram dados como provados os seguintes factos: 1) Em faleceu B, no estado de casado com A (fls. 35, do PA); 2) Em foi elaborado mandado de penhora para penhora de bens da sociedade C, assinado por chancela (fls. 9, dos autos); 3) Em foi penhorado o imóvel registado em nome da sociedade C fracção autónoma, designada pela V, piso menos um, destinada a arrumos, com área coberta de 106,5 m2 e descoberta de 7,55 m2, do prédio urbano cito na Urb, freguesia de São Sebastião, concelho de Lagos e descrito na Conservatória do Registo Predial de Lagos sob o nº 00090/140185, para garantia da dívida no montante total de ,28, conforme auto de penhora assinado por chancela (fls 10 a 13, do PA); 4) No Registo do imóvel referido em 3) encontra-se registada a favor do Banif Banco Internacional do Funchal hipoteca voluntária (fls. 7, do PA); 5) Em foi elaborado mandado para penhora dos bens da sociedade C, para pagamento da quantia de ,28 e acrescido (fls 24, do PA); 6) Em foi elaborado o auto de diligências de fls. 25, do PA, dando conta de que em nome da sociedade executada não existem bens móveis ou imóveis penhoráveis e de que no período a que respeitam as dívidas eram sócios gerentes, D e B, consignando-se o falecimento deste e a indicação de A, sua esposa, como Cabeça de Casal (fls. 25 do PA); 7) Em foi proferido despacho para audição (reversão) do sócio gerente B, que se dá por reproduzido para todos os efeitos legais e onde

6 é referido estando concretizada a audição do(s) responsável (eis) Subsidiário (s), prossiga-se com a reversão e enviada notificação (fls 29 a 31, do PA); 8) Em foi proferido despacho de citação reversão B, nos termos seguintes (fls. 50, do PA): Objecto e função do mandado de citação Pela presente fica citado(a) de que é executado por reversão nos termos do art.º 160.º, do CPPT, na qualidade de responsável subsidiário, para no prazo de 30 (trinta) dias a contar desta citação, pagar a quantia exequenda de ,28 EUR de que era devedor (a) o(a) executado (a) infra indicado, ficando ciente de que se o pagamento se verificar no prazo acima referido, não lhe serão exigidos juros de mora nem custas. Mais fica citado de que no mesmo prazo poderá requerer o pagamento em regime prestacional nos termos do art. 196.º, do CPPT, e/ou a dação em pagamento nos termos do art. 201º, do mesmo código ou então deduzir oposição judicial com base nos fundamentos prescritos no art.º 204.º, do CPPT. Informa-se ainda que, nos termos do n.º 4, do artigo 22º, da Lei Geral Tributária, s contar da citação, poderá apresentar reclamação graciosa ou deduzir impugnação judicial, com base nos fundamentos previstos no art.º 99.º e prazos estabelecidos nos artºs 70.º e 102º, do CPPT. ( ) Decorrido aquele prazo sem que tenha sido efectuado o pagamento da dívida exequenda, para além de perder o benefício da dispensa de pagamento dos juros de mora e acrescido e, sem que exista nos termos do art.º 169.º, do CPPT, motivo para suspender a execução, a mesma prosseguirá a tramitação legal, designadamente para efeitos de penhora e demais diligências previstas no CPPT. 9) Na citação (reversão), referida em 8) a designação Cabeça de Casal da Herança de, encontra-se manuscrita (fls. 50, do PA); 10) Em foi ordenada a citação (reversão) de D, como responsável subsidiário (fls. 49 e 49-A, dos autos); 11) O aviso de recepção para a citação da reversão

7 referida em 8) e 9), foi assinado pela ora A. onde consta no A/R A (fls. 51, do PA); 12) Para pagamento da quantia exequenda e acrescido nos processos de execução fiscal, no montante de ,29, em foi penhorado o lote de terreno para construção urbana, sito no -Malata, identificado pelo nº 21, inscrito na matriz predial sob o artº 11992, da freguesia e concelho de Portimão, tendo sido nomeada fiel depositária A, na qualidade de Cabeça de Casal da Herança de B, conforme autos de penhora de fls. 62, por ela assinado e se dá por reproduzido para todos os efeitos legais (fls. 62, do PA); 13) O lote de terreno referido em 11) estava registado a favor de B casado com A, no regime de comunhão de adquiridos, pela Ap 27/ (fls. 75, do PA); 14) Em foi proferido despacho pelo Chefe do Serviço de Finanças de Lagos a ordenar a venda do bem penhorado por meio de propostas em carta fechada, designado o dia para a venda e fixado o valor base do bem (fls. 79, do PA) 15) Foi elaborado o Edital-Anúncio, publicitada a venda no site das finanças e correio da manhã (fls 80 a 89 e 94 a 95, do PA); 16) Em a A. informou o Serviço de Finanças do falecimento do executado (fls. 111, do PA); 17) Em a A. foi notificada do despacho que ordena a venda judicial e do edital-anúncio, por carta registada com A/R, enviada em seu nome próprio (fls. 87 e 88, do PA); 18) Em a A, enquanto fiel depositária foi notificada do despacho que ordena a venda judicial e do edital-anúncio (fls 89 e 90, do PA); 19) Os A/Rs das cartas referidas em 17) e 18) foram assinadas pela A. A (fls. 88 e 90, do PA); 20) Em deu-se a abertura de propostas e adjudicação e verificou-se a existência de uma única proposta, pela quantia de ,00 (fls. 115, do PA); 21) Em a A. apresentou o requerimento de fls 128 a 130, subscrito por advogado, que se dá por reproduzido para todos os efeitos legais e, com interesse para a decisão da causa, se reproduz, na

8 parte que interessa: ( ) 5. Inicia-se, em ,o processo de reversão contra o sócio gerente já nessa data falecido, como aliás era do conhecimento do Serviço de Finanças, com uma notificação para Audição-Prévia, repita-se de um executado já falecido!!! 6.Posteriormente, em , consta do processo a fls. 36, o Despacho de Reversão que confirma a audição do falecido ( ) apesar deste não ter sido citado, e determina o prosseguimento da reversão da execução fiscal contra o falecido B ; 7. Dando cumprimento ao Despacho é expedida Citação (Reversão) novamente para B, falecido em 10 de Setembro de 2004; 8.O registo de correio da referida Citação de B parece que não foi assinado pela ora recorrente (sublinhado nosso) mas que nunca tomou verdadeiro conhecimento do processo, pois não era a ela formalmente dirigido; 9. Até à data não foi citado B, falecido em 10 de Setembro de 2004, nem foram citados os herdeiros nomeadamente a ora recorrente e os seus filhos, conforme dispõe expressamente o art.º 155.º, n.º 3, al b) e nº 4, do Código do Procedimento e Processo Tributário; 10. A única notificação que é feita à ora requerente e à qual esta reagiu, foi efectuada em , na qualidade de depositária do bem penhorado e onde se comunicava a venda judicial do bem penhorado; ( ). 22) Por despacho datado de foi indeferido o requerimento da A. referido em 21) (fls. 131 a 134, do PA); 23) Em o despacho de indeferimento referido em 21) foi notificado ao mandatário da A.(fls. 135/136, do PA); 24) Em o Chefe de Finanças Adjunto prestou informações de fls. 137 a 139, do PA, que se dão por reproduzidas, para todos os efeitos legais, que foram notificadas ao mandatário da A, em (fls. 142/143, do PA); 25) Em a ora A. deu entrada, no Tribunal Administrativo e Fiscal de Loulé, com o Processo de Reclamação, contra o despacho de indeferimento

9 proferido em e , a que coube o nº 414/06.2BELLE,fundamentando a sua pretensão em: falta de citação de B para audiência prévia, falta de citação regular da reclamante na qualidade de cabeça de casal (sublinhado nosso), benefício de excussão e em consequência pedindo a anulação da venda (processo de reclamação apenso); 26) Em foi proferida decisão da reclamação referida em 25) com fundamento em erro na forma de processo (fls. 68 a 72, do processo de reclamação apenso); 27) O recurso interposto da decisão referida em 25) foi rejeitado por falta de alegações (fls. 118, da reclamação apensa); 28) Em foi requerida a emissão de certidão dos processos executivos e do processo de reclamação que correu termos no Tribunal Administrativo e Fiscal de Loulé (fls. 149, do PA); 29) Em participou a transmissão gratuita de bens (fls. 123/124, dos autos e inquirição da testemunha F ); 30) Contra a C foi interposto o requerimento executivo para pagamento de quantia certa, em , conforme fls 121 e 122, dos autos que se dá por reproduzido; 31) A presente acção deu entrada em (carimbo aposto no rosto de fls 4, dos autos). A convicção do tribunal dos factos provados fundouse nos documentos juntos em cada ponto e na audição das testemunhas reproduzido em audiência. Da prova testemunhal extrai-se, designadamente, o seguinte: E, foi Chefe do Serviço de Finanças de Lagos até a partir de dia 31 Chefe do serviço de Finanças de Portimão. Viu, antes de vir à audiência, no sistema informático que o processo foi instaurado em 2004 e a reversão ocorreu em Em 2004 só ocorreu a citação pessoal e postal da sociedade. Os mandados de penhora podem ou não ser assinados pelo chefe e podem ser assinados por chancela. A partir de desconheço o que foi feito no processo. Em 2004 não foi houve nenhuma reversão. A reversão ocorreu em No ano de 2004 foram feitos alguns pagamentos pela

10 sociedade. Desconheço se a sociedade tinha bens. A fls 9, do PA a assinatura foi por chancela e confirmo que é minha. Desconheço se foram vendidos os bens penhorados a fls. 10. Desconheço se os bens foram vendidos. A citação da devedora originária foi por chancela, conforme fls 3, do PA. João Valadares foi escrivão do processo. F, chefe do Serviço de Finanças de Lagos desde até ao presente. Esteve em regime de substituição com competência delegada. O despacho de competência não foi publicado. Eu estivemos em regime de substituição. No que se refere aos bens móveis em nome da sociedade não existiam. Tinham sido vendidos em 2004 antes do falecimento de B. A D. A compareceu à audiência prévia e dentro do prazo para audição. Depois de ouvir a D. A ordenei a reversão contra a cabeça de casal que está manuscrito. Está no documento que ouviu o revertido na pessoa da D. A. Toda a informação recolhida foi no sentido de que o revertido tinha responsabilidade na condução da sociedade. O cabeça-de-casal tem toda a responsabilidade. Houve reversão contra o outro sócio e não tinha bens. A cabeça-de-casal da herança só entregou em de que o revertido tinha morrido e havia bens da herança. Tentou resolver o problema do pagamento das dívidas com a D. A. Como a D. A fazia parte da execução não fez citação formal para requerer a separação de bens. Ela é parte activa, representa todos os interessados, em seu entender. No momento da reversão não havia documentos oficiais para suportar a informação de que o revertido estivesse morto. A requerente apareceu dentro do prazo para a audiência prévia e disse que o marido tinha falecido. Pôs a D. A a par da situação e nesse momento informei-a de que era parte na execução. Devo-lhe ter dito que havia responsabilidade do património. A expressão cabeça de casal está manuscrita porque o sistema informático não permite integrar outros devedores. Fui eu que mandei escrever. Aqui os revertidos foram identificados os dois gerentes da C. A partir de a D. A veio aos autos na qualidade de cabeça de casal. A D. A é

11 formalmente a partir daí, parte na execução. A D. A assinou o auto de penhora e foi nomeada fiel depositária. A D. A não reclamou da penhora do imóvel. Foi citada como cabeça de casal. Foi notificada da venda como cabeça de casal e como fiel depositária. Deveria ou poderia ter sido notificada uma delas como cabeça de casal, mas por causa dos correios mandou-a em nome da própria D. A. Não apresentou oposição. Só depois da venda, em 2006 a D. A reclamou. Factos não provados Inexistem outros factos com relevo para a decisão da causa. 6 Apreciando. 6.1 Da anulação da venda executiva Entendeu na sentença recorrida (a fls. 160 dos autos), que de todas as causas de pedir invocadas pela requerente, a única com virtualidade para provocar os efeitos previstos no artigo 909.º do CPC é a falta de citação de B e a falta de citação da requerente na qualidade de cônjuge do executado, verificando-se, contudo, que a primeira para além de ter sido objecto de apreciação, sempre seria de improceder, porquanto já teria sido ultrapassado largamente o prazo (de 15 dias), uma vez que a A. a arguiu pelo menos em , por requerimento junto do serviço de finanças (fls. 161 dos autos) e julgando a segunda julgada improcedente, por ter entendido não haver lugar à citação do cônjuge do executado quando ele próprio é executado, na qualidade de sucessor do revertido, inexistindo pois a arguida falta de citação (cfr. sentença recorrida, a fls. 163 dos autos). Atento ao teor das alegações de recurso apresentadas pela recorrente (a fls. 182 a 189 dos autos), cujas conclusões se encontram supra transcritas, alega a recorrente como motivo para a anulação da venda a falta de citação do executado (conclusões 1 a 5 das suas alegações de recurso), a falta de citação da recorrente como cônjuge do executado (conclusão 6 das suas alegações de recurso), bem como a falta de citação da herança do executado (conclusão 7 das suas alegações), pedindo a anulação da venda e da própria execução fiscal.

12 Vejamos, pois. A recorrente, nas suas alegações de recurso e respectivas conclusões 1 a 5 supra transcritas, insiste na tese que sustenta desde a petição inicial (ou melhor, desde a reclamação que deduziu do acto de indeferimento do requerimento de arguição de nulidade oportunamente apresentado no Serviço de Finanças e a cujo processo foi atribuído o número 414/06.2 BELLE, com sentença transitada em julgado e apensa aos presentes autos), sem atender aos concretos fundamentos da sentença recorrida para desatender o conhecimento das alegadas nulidades, in casu, o facto de tais fundamentos já terem sido objecto de apreciação e o facto de ser extemporânea a sua invocação como fundamento para anulação da venda, porquanto já teria sido ultrapassado largamente o prazo (de 15 dias) de que dispunha para o invocar (ex vi do disposto no artigo 257.º, n.º 1, alínea c) e n.º 2 do CPPT), uma vez que a A. a arguiu pelo menos em , por requerimento junto do serviço de finanças (fls. 161 dos autos). Ora, atendendo a que não se descortina que o assim decidido mereça qualquer censura em face dos elementos constantes do processo e das normas legais aplicáveis e que, além do mais, a recorrente também não ataca estes fundamentos da decisão, há-de conclui-se necessariamente improcederem as conclusões 1 a 5 das suas alegações de recurso. No que concerne à falta de citação da recorrente como cônjuge do executado, entendeu a sentença recorrida, e bem, não ter havido preterição dessa notificação, alegadamente geradora de nulidade da execução, pois que a lei não impõe tal notificação quando a própria recorrente é já parte na execução, aí intervindo como cabeça-de-casal pelo menos desde a data da citação da reversão, sendo que nessa qualidade sempre foi tomando conhecimento do processo (cfr. os números 9, 10 e 11 do probatório supra transcrito). É verdade que não se terá cumprido o disposto no artigo 155.º do CPPT. Contudo, a omissão dessas formalidades não terá tido por efeito, atento ao probatório fixado, que o processo executivo tenha corrido à revelia dos sucessores do falecido, pois

13 que, nos termos do artigo 154.º do CPPT, o cabeçade-casal tem legitimidade para a prática de actos na execução se no decurso desta falecer o executado. Ora, como bem diz o Excelentíssimo Procurador- Geral adjunto junto deste Tribunal, resulta do artigo 909.º, n.º 1, alínea b) do CPC, aplicável por força da alínea c) do n.º 1 do artigo 257.º do CPPT, que a venda só fica sem efeito se toda a execução for anulada por falta ou nulidade da citação do executado, que tenha sido revel, resulta do artigo 909.º, n.º 1, alínea b) do CPC, aplicável por força da alínea c) do n.º 1 do artigo 257.º do CPPT, que a venda só fica sem efeito se toda a execução for anulada por falta ou nulidade da citação do executado, que tenha sido revel, salvo o disposto no artigo 921.º, n.º 3 do mesmo diploma legal, resultando da conjugação deste preceito legal com o disposto no n.º 1 do artigo 921.º e 483.º do Código de Processo Civil que a nulidade da venda judicial pode ser arguida pelo executado quando este não tiver sido executado para a execução e o processo tiver corrido à sua revelia, o que não sucedeu no caso dos autos, em que a recorrente teve intervenção qualificada ao longo do processo. Improcedem, pois, as alegações da recorrente. O recurso não merece provimento - Decisão Termos em que, face ao exposto, acordam os juízes da Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo em negar provimento ao recurso, confirmando a sentença recorrida. Custas pela recorrente, fixando-se a procuradoria em 1/6. Lisboa, 12 de Maio de Isabel Marques da Silva (relatora) - Brandão de Pinho - António Calhau.