TRIBUNAL D JUSTIÇA Estado da Bahia
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- Martim Neiva Carvalhal
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1 FLS. TRIBUNAL D JUSTIÇA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL N /2004 Apelante: REGINALDO DOS SANTOS ANDRADE Advogado: RAIMUNDO DANTAS CERQUEIRA E SILVA Apelado: BAITINGA MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO LTDA Advogado: HUMBERTO AUGUSTO PINTO NETO E OUTROS Relatora: Desa. Vera Lúcia Freire de Carvalho EMENTA; AÇÁO DE EMBARGOS DE TERCEIRO - PRESUNÇÃO LEGAL DE QUE A CONSTRUÇÃO REALIZADA NO TERRENO PERTENCE AO PROPRIETÁRIO DESTE - INEXISTÊNCIA DE PROVA DA PROPRIEDADE ALEGADA - Apelante sustenta ser o real proprietário de uma casa construída em um terreno alienado por meio de um contrato de compra e venda firmado com Valdomiro dos Santos, executado em uma ação contra ele movida pela Apelada - Não merece prosperar a alegação do Apelante de que a venda foi simulada, já que o Direito não pode compactuar com negócios fraudulentos Presunção júris tantum de que a construção realizada em um terreno pertence ao proprietário deste, o que pode ser ilidida por prova em contrário, o que não aconteceu - Julgamento antecipado da lide sem a realização de prova testemunhal - Sentença que julgou improcedente os Embargos de Terceiro, reconhecendo Valdomiro dos Santos Souza como legítimo proprietário do imóvel - Preliminar de nulidade da sentença por cerceamento de defesa e violação ao princípio do contraditório em razão da não oitiva das testemunhas arroladas na exordial - Apelante sustenta que titularidade da residência construída em terreno de outrem é sua - Preliminar de nulidade rejeitada - Reconhecimento do executado como real proprietário do imóvel - Recurso de Apelação ao qual se nega provimento. \ > ^ ' V_3
2 LIVRO N*J/(/ ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n /2004, da Comarca de Amargosa, em que figura como Apelante Reginaldo dos Santos Andrade e como Apelado Baitinga Materiais de Construção LTDA. Acordam os Senhores Desembargadores integrantes da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do, à unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, e assim o fazem pelas razões seguintes: Trata-se de recurso de Apelação interposto por Reginaldo dos Santos Andrade contra a sentença em que o Juízo de Direito da Comarca de Amargosa julgou improcedente a Ação de Embargos de Terceiro por ele movida contra o Apelado. Inconformado com a decisum que reconheceu Valdomiro dos Santos Souza como legítimo proprietário do imóvel situado na Avenida Lomanto Júnior, na Cidade de Amargosa, o Recorrente sustenta que, em verdade, é ele o verdadeiro proprietário do imóvel, sendo assim, descabida a penhora realizada pela Apelada no bem. Preliminarmente, aduz o Apelante a nulidade da sentença por cerceamento de defesa e violação ao princípio do contraditório, já que a Magistrada a quo prolatou a sentença sem que ouvisse as testemunhas arroladas na exordial. Informa a seguir que pretendendo construir um imóvel residencial, e sem possuir recursos financeiros, celebrou um contrato de compra e venda de um terreno com Valdomiro dos Santos Souza transferindo-lhe o bem e acertando com este a construção da residência, sem receber nenhum valor como contraprestação. A casa seria construída como sendo de Valdomiro dos Santos e assim que concluída a obra, seria feita uma simulação de venda ao Apelante. Objetivava com este negócio obter um empréstimo na Caixa Económica Federal. Salienta que para sua segurança, caso o empréstimo não lhe fosse concedido, pediu ao construtor uma declaração em que este se comprometeu a distratar a venda do terreno se não fosse obtido o financiamento, documento que consta às fls. 54.
3 LIVRO N* SM-Z Relata que Valdomiro dos Santos, durante a realização da obra, desapareceu da Cidade de Amargosa para lugar ignorado, deixando uma série de dividas, tendo como credor de uma delas a Apelada que assim lhe moveu uma Ação de Execução, acostada aos Autos, que terminou por penhorar o imóvel que diz ser de sua propriedade, mas que está registrado em nome de Valdomiro dos Santos Souza. v_^ Ressalta que a avaliadora judicial, por equívoco, procedeu a penhora do terreno e da construção, o que lhe motivou a ingressar em Juízo com a Ação de Embargos de Terceiro, já que é inequívoco que a construção lhe pertence, fazendo referência a um contrato de empreitada (fls. 55) firmado com Valdomiro dos Santos para a construção de uma residência no terreno em tela. Sustenta, assim, que ninguém celebraria um contrato de empreitada, como contratado, para realização de uma obra em terreno de sua propriedade. Logo em seguida, em contrariedade ao anteriormente defendido, sustenta que reconhece a legalidade da transação efetuada por ele com Valdomiro dos Santos Souza e que, de fato, o terreno pertence a este, mas a construção que no terreno foi erguida é de sua propriedade. v> Ao final, pugna pelo reconhecimento da nulidade da sentença, ou em caso de entendimento diverso, pelo provimento do recurso com a consequente reforma da decisão. Em contra-razões de fls. 105/108, a Apelada refuta os argumentos do Recorrente, sustentando a existência de um conluio fraudulento entre o Apelante e Valdomiro dos Santos Souza no intuito de lesarem particulares e, principalmente, a Caixa Económica Federal, agente financeiro do Governo Federal. Ressalta que o imóvel construído no terreno em questão foi erguido com material adquirido em sua loja por Valdomiro dos Santos, em crediário, não sendo pago, já que ele se mudou clandestinamente da cidade, o que motivou a propositura da Ação de Execução que acabou por penhorar o bem em apreço. Defende que não pode prosperar a tese do Apelante da desassociação entre o terreno e a edificação, visto que há presunção legal de que aquilo que se encontra no terreno pertence ao proprietário deste. E que como a construção foi feita por conta e risco de Valdomiro dos Santos, inclusive com a compra de material de construção no nome dele em sua loja, se presume ser ele também o proprietário da construção. W )
4 LIVRO WJM - Aduz que não merece prosperar a alegação do Recorrente de cerceamento de defesa, já que a prova testemunhal foi desnecessária para formar o convencimento do Juízo, em razão da farta prova documental acostada. Por fim, manífestou-se pela manutenção da sentença. Ks O Juízo a quo recebeu o recurso mantendo a sentença hostilizada e determinando a remessa dos Autos a este Tribunal de Justiça, onde foram distribuídos, cabendo-me, por sorteio, a função de relatora. É o Relatório. Próprio e tempestivo, está o recurso apto a merecer conhecimento, porquanto ainda, respaldado pelos demais requisitos de admissibilidade. Inicialmente cumpre analisar a preliminar de nulidade da sentença por cerceamento de defesa e ofensa ao princípio do contraditório arguida pelo Recorrente. Sustenta o Apelante que a decisão é nula, pois a Magistrada a quo não realizou a oitiva das testemunhas arroladas na inicial. Todavia, não merece prosperar a preliminar aventada. V> Com efeito, analisando os Autos, depreende-se que, assim como exposto pelo Juízo prolator da decisão, a causa é nitidamente de direito, e foram carreados documentos suficientes para o convencimento da Magistrada, sendo desnecessário, in casu, a produção de prova testemunhal. Ademais, foi oportunizado ao Apelante se manifestar após a apresentação da contestação pelo Recorrido, não havendo, assim, que se falar em cerceamento de defesa nem em violação ao princípio do contraditório. O próprio Apelante, na réplica, embora contraditório, reconheceu a desnecessidade da oitiva de testemunhas: "o contestado considera imprescindível o depoimento das testemunhas arroladas que dissiparão dúvidas, se ainda existirem, o que não se espera em vista da farta documentação acostada aos autos que fazem prova de toda matéria exposta na inicial..."
5 LIVRO Ny3/rt/- PI <; _. $6 - Logo, não há que se falar em nulidade da sentença pelo fato de a lide ter sido julgada antecipadamente se a Magistrada, utilizando-se do princípio da persuasão racional, concluiu pela desnecessidade da realização de provas além daquelas que instruíram a inicial dos Embargos e, ainda, a parte interessada não demonstrou efetivo prejuízo com a supressão da instrução processual. Nesse sentido é o entendimento jurisprudencial a seguir colacionado: V^ Ementa: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE USUCAPIÃO - AÇÃO REIVINDICATÓRIA - OPOSIÇÃO - CERCEAMENTO DE DEFESA - IMÓVEL PERTENCENTE AO ESTADO DE MINAS GERAIS - IMÓVEL QUE INTEGRA O PATRIMÓNIO PÚBLICO ESTADUAL - IMÓVEL NÃO PASSÍVEL DE USUCAPIÃO - VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL - ARTIGO 183, 3, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88 - IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO DE USUCAPIÃO - PROCEDÊNCIA DA AÇÃO REIVINDICATÓRIA - SENTENÇA MANTIDA. 1 - Inexistindo necessidade de dilação probatória para aferição de aspectos relevantes da causa, o julgamento antecipado da lide não importa \^- em violação ao princípio do contraditório, constitucionalmente assegurado às partes e um dos pilares do devido processo legal. 2 - Conforme disposto no artigo 130, do Código de Processo Civil, caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias. 3 - À inteligência do artigo 183, da Constituição da República/88, 3, os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. 4 - De acordo com a Súmula 340, do Supremo Tribunal Federal, desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião. 5 - Preliminar rejeitada. Recursos a que se nega provimento (Número do processo: /001 - Relator: BATISTA FRANCO - Data do Julgamento: 26/04/2005).
6 yvro H*M LÁ PI s Desse modo, rejeito a preliminar de nulidade da sentença. As razões do presente recurso se fundam, essencialmente, no fato do Apelante asseverar que é proprietário e possuidor do imóvel penhorado, construído no terreno altercado, sendo que a decisão a quo reconheceu como proprietário deste, Valdomiro dos Santos Souza, julgando improcedente os Embargos de Terceiro aforados. Assim, pretende o Recorrente a reforma da decisão, argumentando que deve haver uma desassociação entre a propriedade do terreno e a construção nele edificada, tendo em vista que esta última lhe pertence. Na Ação de Embargos de Terceiro, bem como em algumas passagens da Apelação, questionou-se a titularidade também do terreno, fazendo referência a documentos que comprovariam que a venda realizada a Valdomiro dos Santos foi uma simulação no intuito de conseguir um empréstimo junto a Caixa Económica Federal para construção do imóvel. Contudo, ao longo do recurso, em relatos contraditórios com os iniciais, o Apelante reconhece que a propriedade do terreno é de Valdomiro dos Santos, como se constata pelas passagens a seguir transcritas: "ao contrario do entendimento da julgadora, em momento algum o recorrente tenta desmistificar o fato sob alegação de tratar-se de ato emulativo, muito menos da própria alegação da torpeza em proveito próprio, o que ocorreria se o recorrente não reconhecesse como válida a venda do tenreno feita ao executado devedor da embargada. Não há nos autos qualquer alegação do recorrente pretendendo o reconhecimento da nulidade da referida transação, mas, ao contrário, submete-se plenamente às suas consequências". E mais: "O lote onde se situa a construção pertence de direito ao executado devedor da recorrida e é suficiente para liquidar o débito". Desse modo, é inconteste que o terreno em questão pertence a Valdomiro dos Santos Souza, consoante relatos do Apelante e escritura pública de compra e venda de fls. 11. Ademais, como exposto pela Magistrada a quo, não poderia o Direito compactuar com um ato simulatório praticado pelo Apelante e por
7 LIVRO M«J// -!*_. Valdomiro dos Santos objetivando a obtenção de financiamento junto a Caixa Económica Federal. O Código Civil, no art. 167, dispõe que a simulação é causa ensejadora de nulidade do negócio jurídico, a evidenciar, assim, a não aceitação pelo Direito de negócios jurídicos celebrados de foram fraudulenta. ^ Consoante dispõe o art. 1253, do Código Civil: "Toda a construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove em contrário". Neste dispositivo estão embutidos a aplicação de dois princípios de direito: a coisa acessória segue a principal e a propriedade do solo compreende a da superfície. Nesse sentido, acrescenta Orlando Gomes: "A acessão artificial verifica-se por três formas que os romanos designam: satio, implantado e inaedifícatio, isto é, semeadura, plantação e edificação. As três figuras passaram ao direito moderno. Aplica-se-lhe o princípio de que o acessório segue o principal. Sendo o solo coisa principal, o que se lhe incorpora, passa a pertencer ao seu dono. E, assim, toda construção ou plantação existente em um terreno se presume feita pelo proprietário, e à sua custa" (Direitos Reais, 19 a ed, 2007). ^ Contudo, a presunção de que a construção pertence ao proprietário do solo é júris tantum, competindo ao interessado elidi-la, o que não foi feito pelo Apelante. Ao contrário, a Ação de Execução promovida pelo Apelado contra Valdomiro dos Santos foi motivada pela falta do pagamento de materiais de construção adquiridos em sua loja, muitos dos quais empregados na edificação da residência em questão. A construção, como se viu, é acessão e esta é a união entre duas coisas, que embora possam ser reconhecidas separadamente, formam um conjunto indissolúvel, e a coisa acessória subordinada e dependente do todo segue seu destino jurídico. Assim, em virtude do afirmado pelo Apelante de que o terreno pertence a Valdomiro dos Santos Souza e em razão da escritura pública de compra e venda acostada aos Autos, entendo que agiu acertadamente a Juíza a quo ao sentenciar.
8 LIVRO N'_3 Id-S. ti Com base nas razões expendidas, conhece-se do recurso interposto pelo Apelante, contudo para lhe negar provimento, mantendo-se incólume a sentença hostilizada, por estes e pelos seus próprios fundamentos. Sala das Sessões, -v* -^" z.o&% \~s PRESIDENTE t 4-~^\~-^A^^ -> NT RELATORA PROCURADORIA) V^
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