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1 Diário da Justiça de 03/03/ /02/2006 TRIBUNAL PLENO AÇÃO RESCISÓRIA SÃO PAULO RELATOR REVISOR AUTOR ADVOGADOS RÉU ADVOGADA : MIN. GILMAR MENDES : MIN. CEZAR PELUSO : : LUIZ ANTONIO SALZANO : EZEQUIEL JOSÉ DO NASCIMENTO E OUTRO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS : PAOLA AIRES CORRÊA LIMA EMENTA: Ação Rescisória. 2. Cálculo de benefício previdenciário. 3. Não auto-aplicabilidade do art. 202 da Carta Magna de Ausência das causas de rescisão. 5. Matéria pacificada na jurisprudência desta Corte. 6. Ação que se julga improcedente. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a presidência do senhor Ministro Nelson Jobim, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, julgar improcedente a ação, nos termos do voto do relator e do revisor. Brasília, 02 de fevereiro de MINISTRO GILMAR MENDES - RELATOR

2 02/02/2006 TRIBUNAL PLENO AÇÃO RESCISÓRIA SÃO PAULO RELATOR REVISOR AUTOR ADVOGADOS RÉU ADVOGADA : MIN. GILMAR MENDES : MIN. CEZAR PELUSO : : LUIZ ANTONIO SALZANO : EZEQUIEL JOSÉ DO NASCIMENTO E OUTRO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS : PAOLA AIRES CORRÊA LIMA R E L A T Ó R I O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (Relator): - A Procuradoria-Geral da República, oficiando nos autos em parecer do Dr Geraldo Brindeiro, assim sumariou a espécie, opinando, ao final, pela improcedência do pedido (fls.106/109): Cuida-se de ação, fundada no art. 485, incisos III e V, do Código de Processo Civil e proposta contra o Instituto Nacional do Seguro Social, cujo objeto é rescindir o acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 3. Região no julgamento da Apelação Cível n.º /SP. 2. Segundo o autor, haveria erro de fato, induzido pelo ora réu, e infração aos arts. 264 e 460, do Código de Processo Civil, naquela decisão, porquanto o Tribunal Regional Federal, ao analisar a causa, pressupôs fato inexistente, qual seja que o apelo versava sobre a eficácia da norma contida no caput do art. 202, da Constituição da República, assim concluindo pela auto-aplicabilidade daquele dispositivo e negando provimento ao recurso da

3 autarquia, quando, na verdade, o cerne da questão era a constitucionalidade do art. 29, 2.º, da Lei n.º 8.213, de 24 de julho de 1991, que determina a limitação da renda mensal inicial dos benefícios ao valor-teto do salário-de-contribuição vigente na data de início da percepção do beneficio. Pede, pois, rescisão do aresto proferido pelo Tribunal Regional Federal da 3.º Região, bem como o novo julgamento da causa, "analisando-se a questão dentro dos limites da causa de pedir e do pedido, quais sejam, a inconstitucionalidade da limitação da renda mensal inicial ao valor teto do salário-de-contribuição (art. 29, parágrafo segundo, da lei 8.213/91) em face ao art. 194, IV e 202 da C.R. determinando-se a revisão do beneficio para que a renda mensal inicial não sofra a citada limitação (item I e II da petição inicial) e o pagamento da correção monetária do período de 11 meses de atraso no primeiro pagamento do beneficio (item III da inicial), consoante devidamente explicitado na inicial e nos docs. que a instruíram que se encontram em anexo, bem como a condenação do Instituto em litigância de má-fé por ter manifestado recurso contra fato incontroverso, nos termos do art. 17 do CPC." 3. A fls. 76, o eminente juiz relator do processo, no âmbito do Tribunal Regional Federal, declinou a competência daquela corte, determinando a remessa dos autos ao Supremo Tribunal Federal, "uma vez que o objeto do recurso extraordinário, apreciado pelo E. STF aos 17/09/96, não diverge do pedido

4 rescisório, qual seja a auto-aplicabilidade ou não do art. 202, da CF (Súmula n.º515, do STF)." 4. Por despacho de V. Exa. (fls.79), deferiu-se ao autor o beneficio da gratuidade. 5. Citado, o Instituto Nacional do Seguro Social ofereceu contestação, onde refuta a pertinência, na espécie, dos arts. 264 e 460, do Código de Processo, acrescentando que em momento algum se afastou o acórdão rescindendo da causa de pedir, dado não ser auto-aplicável o art. 202, da Constituição, dependente dos critérios estabelecidos em lei - nas Leis n.º e 8.213, de Assim, a imposição de um teto para o salário-de-contribuição pelo art. 29, da Lei n.º 8.213, em nada afrontaria aquela norma constitucional, servindo, antes, para desenvolver-lhe a eficácia, permitir sua completa aplicabilidade. Requer, portanto, a declaração de improcedência do pedido. 6. Sobre as alegações do réu, não se manifestou o autor, embora para tanto intimado (fls. 98). 7. Instadas as partes a indicar novas provas e, depois, a apresentar razões finais, nada aduziram. 8. Nesse estágio, os autos são encaminhados à Procuradoria-Geral da República.

5 9. O acórdão proferido em apelação encontrase assim ementado(fls. 50): "DIREITO CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. Plena eficácia do artigo 202 da Constituição da República. 1. O disposto no artigo 202 da Constituição da República expressa enunciado dotado de eficácia plena. 2. Recurso a que se nega provimento." 10. Tal deliberação foi impugnada pelo INSS, mediante recurso extraordinário, o qual, uma vez provido, ensejou aresto nesses termos sintetizado: "- Previdência Social. - Esta Primeira Turma, ao julgar os embargos de declaração no RE , Relator o Ministro SYDNEY SANCHES, e o RE , de que fui relator, decidiu que o disposto no artigo 202 da Carta Magna sobre o cálculo do beneficio da aposentadoria não é autoaplicável, por depender de legislação que posteriormente entrou em vigor (Leis e 8.213, ambas de ). Portanto, a esse propósito e até a entrada em vigor da legislação acima referida, continuaram vigentes as normas editadas anteriormente a

6 atual Carta Magna, razão por que foi correto o cálculo feito pelo recorrente, quanto ao valor do benefício, que também levou em conta a atualização monetária das contribuições consideradas para esse cálculo, segundo aquelas normas, não se desrespeitando assim o princípio - reafirmado no artigo 201, 3º, da atual Constituição - de que todos os salários de contribuição considerados no cálculo de beneficio serão corrigidos monetariamente. Recurso extraordinário conhecido e provido. 11. Como se vê, não há como satisfazer a pretensão do autor. Em sede de recurso extraordinário, a atuação do Excelso Pretório está cingida ao que debatido e decidido na via ordinária, isto é, às teses de índole constitucional efetivamente prequestionadas. E, aqui, resta evidenciado que o tribunal de origem dirimiu a controvérsia tão-só a partir da suposta autoaplicabilidade do art. 202, da Carta Magna tese há muito repelida pelo Supremo Tribunal Federal. 12. Note-se, ainda a propósito, que a constitucionalidade do art. 29 da Lei n.º 8.213/1991 ali não foi sequer aventada. Pelo contrário: invocou-se, até, o dispositivo como reforço da fundamentação do voto condutor do acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal (fls. 46).

7 13. Desse modo, não é dado ao autor, a esta altura, desejar rescindir acórdão, o qual, de resto, em tudo lhe favoreceu - aquele que julgou a apelação, em última análise -, sob o argumento de que incorreram seus prolatores em erro de fato, "induzido pela parte vencedora. Afora a circunstância de não haver sido alvitrada em nenhum momento, no processo primitivo, a tese agora desenvolvida, a decisão em que verificado o vício ensejador da presente ação rescisória já foi substituída por outra, do Supremo Tribunal Federal, que, reitere-se, não contém defeito algum. Diante do exposto, opino seja julgado improcedente o pedido formulado neste processo. É o relatório, que submeto ao ilustre Ministro Revisor, devendo a secretaria adotar as providências constantes dos artigos 87, II e 262, parte final, do RISTF.

8 02/02/2006 TRIBUNAL PLENO AÇÃO RESCISÓRIA SÃO PAULO V O T O O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (Relator): O acórdão proferido em sede de apelação encontra-se assim ementado (fl. 50): DIREITO CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. Plena eficácia do art. 202 da Constituição da República. 1. O disposto no art. 202 da Constituição da República expresa enunciado dotado de eficácia plena. 2. recurso a que se nega provimento. O INSS interpôs recurso extraordinário impugnando a decisão supracitada, o qual foi provido, ensejando acórdão assim ementado (fl. 66): EMENTA Previdência Social. - Esta Primeira Turma, ao julgar os embargos de declaração no RE , Relator Min. Sydney Sanches, e o RE , de que fui relator, decidiu que o disposto no artigo 202 da Carta Magna sobre o cálculo do benefício da aposentadoria não é autoaplicável, por depender de legislação que posteriormente entrou em vigor (Leis e 8.213, ambas de ). Portanto, a esse propósito e até a entrada em vigor da legislação acima referida, continuaram vigentes as normas editadas anteriormente a atual Carta Magna, razão por que foi correto o

9 cálculo feito pelo recorrente, quanto ao valor do benefício, que também levou em conta a atualização monetária das contribuições consideradas para esse cálculo, segundo aquelas normas, não se desrespeitando assim o princípio reafirmado no artigo 201, 3º, da atual Constituição de que todos os salários de contribuição considerados no cálculo de benefício serão corrigidos monetariamente. Recurso extraordinário conhecido e provido. Assim caracterizados os fatos, fica fora de dúvida inexistir o erro de fato apontado na petição inicial da presente ação rescisória. O questionamento apresentado na ação principal dizia a respeito à constitucionalidade do art. 29, 2º da Lei n o 8.213/91, isto diretamente face do art. 202 da Constituição Federal. Ocorre que nos casos dos benefícios previdenciários concedidos posteriormente à Constituição Federal de 1988 esta Corte firmou entendimento, perfeitamente aplicado ao caso em tela na forma do acórdão supra transcrito, segundo o qual os artigos 201, 2º ( 4º na redação da EC n.º 20, de 16 de dezembro de 1998) e 3º; e 202, da Carta Magna, não são normas auto-aplicáveis, pois necessitam de integração legislativa, que só foi implementada com a edição das Leis e 8.213, ambas de 1991, as quais aprovaram, respectivamente, os Planos de Custeio e Benefícios da Previdência Social (v.g., o RE , Pleno, redator para o acórdão Maurício Corrêa, DJ ; o RE , 1ª T., redator p/ acórdão Ilmar Galvão, DJ ; e o RE , 2ª T., Rel. Néri da Silveira, DJ ).

10 Pelas mesmas razões é descabida a argüição de violação a literal dispositivo de lei, porque no caso o dispositivo em questão seria o próprio art. 202 da Constituição Federal. Com efeito, verifica-se que não há qualquer motivo capaz de justificar a rescisão do acórdão proferido no RE SP, visto que apenas reiterou a jurisprudência pacífica desta Corte sobre o cálculo de benefícios previdenciários posteriores à promulgação da atual Carta Magna. ação. Nesses termos, meu voto é pela improcedência da presente

11 TRIBUNAL PLENO EXTRATO DE ATA AÇÃO RESCISÓRIA SÃO PAULO RELATOR REVISOR AUTOR ADVOGADOS RÉU ADVOGADA : MIN. GILMAR MENDES : MIN. CEZAR PELUSO : : LUIZ ANTONIO SALZANO : EZEQUIEL JOSÉ DO NASCIMENTO E OUTRO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS : PAOLA AIRES CORRÊA LIMA Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente a ação, nos termos do voto do relator e do revisor. Ausentes, justificadamente, o Senhor Ministro Joaquim Barbosa e, neste julgamento, o Senhor Ministro Celso de Mello. Presidiu o julgamento o Senhor Ministro Nelson Jobim. Plenário, Presidência do Senhor Ministro Nelson Jobim. Presentes à sessão os Senhores Ministros Sepúlveda Pertence, Celso de Mello, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Procurador-Geral da República, Dr. Antônio Fernando Barros e Silva de Souza. Luiz Tomimatsu Secretário

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