Adesão de candidatos a compromissos da sociedade civil ainda é baixa Qui, 30 de Setembro de :09

Transcrição

1 Nestas eleições, quatro iniciativas da sociedade civil pressionaram os candidatos a assinarem compromissos com a educação, a juventude e o acesso às informações públicas. A adesão, porém, foi baixa: entre os candidatos a cargos executivos e legislativos, apenas cerca de cem deles (menos de 1%) se comprometeram a pelo menos uma dessas cartas vinculadas à educação e ao controle social. Para o cientista político Gustavo Venturi, professor da Universidade de São Paulo (USP), isso ocorre porque ainda não se criou um relacionamento sistemático entre a sociedade civil organizada e a classe política. Os políticos são pouco habituados a dar satisfação, por isso a resposta é tão rara, afirma (leia a entrevista completa aqui). A iniciativa que obteve maior número de assinaturas é o Pacto pela Juventude, articulado por 67 entidades que participam do Conjuve (Conselho Nacional da Juventude). Mais de 60 candidatos de vários cargos se comprometeram com as propostas do Pacto, apesar de nenhum dos presidenciáveis fazer parte dessa lista (conheça o site do pacto aqui e o docu mento aqui ). Entre outros pontos, o documento defende a criação de um sistema nacional de juventude que fortaleça o controle social e a articulação entre as políticas públicas para a área. Também há o compromisso com a aprovação do Plano Nacional de Juventude, que estabelece diretrizes e metas para serem alcançadas pelo Brasil até / 5

2 No campo da educação, as principais metas são: a erradicação do analfabetismo; desenvolver políticas de permanência na escola e promover uma profunda reformulação pedagógica do ensino médio, aproximando seus conteúdos às realidades vivenciadas pelos jovens; expandir a universidade pública e promover uma política de permanência; e reestruturar os currículos da educação básica e superior. Educação Vinte e sete organizações que atuam com educação criaram a carta-compromisso Pela Garantia do Direito à Educação de Qualidade. O documento ( clique aqui para conhecê-lo ) contém propostas baseadas nas diretrizes aprovadas na Conferência Nacional de Educação (Conae), realizada no início deste ano. Uma delas é o investimento de 10% do PIB para a educação. Segundo Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação umas das articulações propositoras, todos os candidatos a qualquer cargo, de deputado estadual a presidente, podem assinar o compromisso com a educação de qualidade. Agora, as entidades pretendem fazer um trabalho de mobilização para que os candidatos eleitos assinem a carta. Se o político assina após a eleição, o compromisso pode ser ainda maior, diz Daniel. A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), que também faz parte do movimento, sugeriu que seja feito um site onde será possível comparar as 2 / 5

3 metas da carta-compromisso com a atuação dos políticos que assinarem o documento. Educafro Outra carta-compromisso vinculada à educação é a da Educafro, uma articulação de cursinhos pré-vestibulares voltados para negros, indígenas e brancos pobres. O documento da entidade ( clique aqui )possui mais de 30 pontos que tratam de temas como a educação e a inserção do negro na sociedade brasileira. Para discutir as propostas, o movimento realizou encontros com boa parte dos presidenciáveis e com os dois principais candidatos ao governo paulista, Geraldo Alckmin (PSDB) e Aloizio Mercadante (PT). Centenas de estudantes, professores e militantes do movimento negro participaram dos eventos. Para o diretor da Educafro, Frei David, a iniciativa do coletivo surpreendeu os candidatos. Percebemos que eles ficaram confusos a princípio, porque, mesmo sabendo que o drama do negro é muito grave no cenário brasileiro, eles [os candidatos] não sabiam que havia uma demanda organizada da comunidade negra. O documento da Educafro propõe, entre outros pontos: a implantação da lei e , que tornaram obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena nas escolas brasileiras; o cumprimento do piso salarial para professores; a transformação do terceiro ano do ensino médio em um pré-vestibular, de tempo integral; implantar programas de ações 3 / 5

4 afirmativas em todas as instituições federais de ensino superior; destinação de 50% dos recursos do pré-sal para a educação, sendo 15% para a ensino fundamental, 20% para o nível médio e 15% para o ensino superior, com recorte étnico. Segundo Frei Davi, as candidaturas Marina Silva (PV), Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e José Maria (PSTU) assinaram o documento integralmente. José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) não assinaram, mas, segundo Davi, se comprometeram informalmente a implantar algumas das propostas do documento. A chapa tucana, porém, afirmou que negociaria os pontos depois de eleito. No caso dos candidatos ao governo paulista, Mercadante propôs algumas alterações ao documento, e, depois de uma negociação, acabou por assiná-lo. Geraldo Alckmin preferiu discutir os pontos da carta-compromisso se vier a ganhar as eleições. Acesso à informação pública A Transparência Brasil, com o apoio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e da Artigo 19 (ONG que defende a liberdade de expressão em diversos países), fez uma consulta a candidatos ao Senado para saber qual seria a posição de cada um sobre o projeto de lei (PLC 41/2010) que regulamenta o acesso à informação pública no país (conheço o documento sobre a consulta aqui ). 4 / 5

5 O texto foi aprovado no primeiro semestre deste ano, mas tramita lentamente no Senado. O projeto diminui os prazos de sigilo de documentos e informações guardadas pelo poder público nos três poderes e em todos os níveis (prefeituras, estados e União), e estabelece procedimentos para acesso a esses dados. As entidades perguntaram a 91 candidatos a senador optou-se por contatar aqueles que apresentavam ao menos 10% de intenções de voto se aprovariam o projeto. Apenas 27 deles, cerca de 30%, se comprometeram. Segundo o coordenador de projetos da Transparência Brasil, Fabiano Angélico, a maioria, uns 40 ou 50, tiveram uma boa receptividade, ficaram de responder, mas não retornaram. Em três casos, ele conta que o candidato chegou a dizer abertamente que não se interessava em responder à consulta. Para Fabiano Angélico, a principal razão para essa baixa adesão dos candidatos à consulta é porque eles não possuem a exata dimensão do tema, além do fato de que a demanda da sociedade por as informações públicas ainda é baixo. Tem aqueles que preferem correr o risco de perder alguma reputação junto a certos setores da sociedade do que assumir o compromisso de apoiar o texto. Eles fazem um cálculo: se eu não falar nada, qual o prejuízo? A maior parte dos eleitores vai ficar incomodada com isso ou não? Infelizmente, não. 5 / 5