Análise Institucional do Banco de Leite Humano. do Hospital Universitário Antônio Pedro
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- Ágatha Teresa di Azevedo Godoi
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1 Análise Institucional do Banco de Leite Humano do Hospital Universitário Antônio Pedro Alunos: Aisha, Alice, Cícero, Wésley e Wil Disciplina de Planejamento e Gerência em Saúde 2 Medicina UFF 5 Período 2011 Introdução O leite humano é essencial para os recém-nascidos. Além de alimentar, também protege o bebê contra diversas doenças, como diarréia, infecções respiratórias, diabetes e até mesmo alergias. O Banco de Leite Humano (BLH) do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) tem por objetivo promover a saúde da mulher e da criança por meio de iniciativas de integração, com um trabalho diferenciado, de modo que reforce tanto a auto-estima da mãe quanto a garantia de uma boa alimentação para o bebê. A disciplina "Planejamento e Gerência em Saúde II" (PGS II) possibilita aos alunos conhecer e discutir alguns conceitos do Planejamento Estratégico, Análise institucional e da Clínica Médica, tendo por referência as práticas e tecnologias de cuidado. Por isto a disciplina tem uma forte diretriz de trazer a realidade vivida pelos alunos no estágio prático, para a análise, através do "estudo de casos" do ponto de vista clínico e situacional. Este trabalho abordará como estudo de caso o Banco de Leite Humano do HUAP. A Bioética entra subsidiariamente nas discussões, por estar intrinsecamente relacionada às práticas em saúde. A Análise Institucional faz referência ao movimento institucionalista que se propõe a apoiar e deflagrar nas comunidades os processos de auto-análise e os processos de autogestão. A auto-análise consiste em que as próprias comunidades, como protagonistas de seus problemas, de suas necessidades e de suas demandas, possam enunciar, compreender e adquirir um vocabulário próprio que lhes permita saber acerca de sua própria vida, enquanto a autogestão, ocorrendo simultaneamente, representa uma autoorganização, em que a comunidade se articula, se institucionaliza e se organiza para construir os dispositivos necessários para produzir, ela mesma, ou para conseguir os recursos de que precisa para o melhoramento de sua vida. As ferramentas teóricas oferecidas pela Análise Institucional permitem analisar os processos de trabalho em saúde, observando-se em que medida processos de autoanálise dos sujeitos envolvidos profissionais e usuários e de auto-gestão deste trabalho estão presente. As ferramentas teóricas oferecidas pela bioética, por outro lado, permitem a avaliação ética dos processos de trabalhos em saúde, enfatizando-se a capacidade autônoma dos indivíduos de analisar racionalmente os problemas morais presentes nestes processos. Objetivo A Análise Institucional e a Bioética, aplicadas à Gestão da Clínica, é este o sentido deste relatório. Serão trabalhados os conceitos de instituição, instituído, instituinte, auto-análise,
2 autogestão e a clínica enquanto conceito e prática cotidiana do Banco de Leite Humano do Hospital Universitário Antônio Pedro, localizado em Niterói, RJ. Reconhecimento do Cenário O banco de leite humano está localizado no andar térreo do HUAP, próximo aos ambulatórios. Como missão institucional eles promovem, protegem e apóiam o aleitamento materno, através de diversos serviços como: orientação sobre aleitamento, resolução de problemas de mama, coleta domiciliar de leite, correção de posicionamento e de pega, pasteurização do leite, fracionamento e distribuição para os leitos da UTI neonatal do HUAP. Como clientela predominante o BLH possui mulheres lactentes e os bebês da UTI neonatal do HUAP. Qualquer mulher pode procurar os serviços do BLH, independente de estar com o filho internado no hospital. A demanda é espontânea, e é devida principalmente á divulgação do trabalho do BLH por diferentes mídias. O sistema funciona da seguinte maneira: as interessadas em doar entram em contato com o BLH do hospital, solicitam uma visita dos profissionais de Enfermagem na residência, onde é feito um cadastro, composto por entrevista e orientações, a fim de avaliar as condições para doação e recomendar exames. Ao verificar o bom estado de saúde da mãe doadora, as visitas para doação já podem ter início. Durante as visitas domiciliares, além da equipe de enfermagem do HUAP auxiliar as doadoras na coleta do leite, também há um entrosamento e monitoramento para ter certeza de que essas mães estão satisfeitas com o trabalho do hospital. Dessa forma, é possível manter o comprometimento com essa atitude solidária. Dentre as categorias profissionais que trabalham no BLH podemos destacar os enfermeiros, nutricionistas, auxiliar de enfermagem, técnico de enfermagem, técnico de nutrição, recepcionista. Todos realizam são capacitados a realizar todas as atividades da micro-unidade, como: realizar a rota para coleta domiciliar, pasteurizar, distribuir, orientar as lactentes, entre outros. As coletas domiciliares são conhecidas como rota, e ocorrem de segunda a sexta feiras pela manhã e a tarde, cada dia em um local diferente. A quantidade de leite recolhida é variável, mas possui uma média de 70 litros semanais. O BLH possui carro próprio, e a equipe de saúde além de recolher o leite em excesso das mães, também realiza orientação e acompanhamento do crescimento do bebê. As mães são orientadas com diversas técnicas higiênicas para recolher o leite, e posteriormente congelá-lo em potes de vidro até que a rota passe. Enquanto não chega ao BLH, o leite recolhido fica armazenado em gelo artificial, em caixas com termômetro, para evitar que ele degrade. Chegando ao BLH é pasteurizado, analisado e distribuído. Além das doações realizadas em domicílios, também são recebidas doadoras do próprio hospital. Funcionárias e mães com bebês internados na unidade também participam desse ato de solidariedade e se dirigem até o térreo do HUAP, próximo ao prédio anexo, para fazer as doações. No mesmo setor são recebidas também as mães com dificuldade de amamentação.
3 Quanto à estrutura física do BLH podemos citar a presença de recepção com televisão, computador, cadeiras, telefone; sala de paramentação, onde os funcionários vestem toucas, luvas e jalecos; sala de coleta e de atendimento; sala de processamento (contendo diversos equipamentos como freezer, geladeira, aquecedor, pasteurizador, estufa, centrífuga, miscroscópio, acidímetro, deionizador, agitador, entre outros). A limpeza do local é realizada por uma firma terceirizada, diariamente. Valdecyr Herdy Alves, enfermeiro e professor, é diretor do BLH e além da gerência local realiza diversas palestras por todo o país sobre a importância do aleitamento materno e da prática do BLH do HUAP. Os meios de contato com o BLH é o telefone (21) e também é possível enviar um para bancodeleite@huap.uff.br. Análise Institucional A equipe do BLH é composta por profissionais de várias áreas o que possibilita uma visão mais ampla do serviço pela própria equipe através da auto-reflexão da auto-avaliação e, juntamente, tem a possibilidade de fornecer um atendimento diferenciado quando comparado a outros bancos de leite. Além do serviço de banco de leite propriamente dito, este realiza um trabalho de aconselhamento materno e ensina as boas práticas para uma amamentação e coleta do excedente de leite mais eficaz. Neste ponto de vista, o local pode ser visto como um estabelecimento que emprega diversos tipos de tecnologias no desenvolvimento de suas atividades. Tecnologias duras, no que diz respeito ao processamento, classificação e controle de qualidade do leite e tecnologias leves e leveduras, que incluem as ações focadas em técnicas que facilitam a amamentação e mesmo as que propiciam um melhor rendimento entre o leite que é coletado e o que resulta do processo de pasteurização após passagem pelo rigoroso controle de qualidade estima-se que 50% do leite não seja aprovado nesse controle - através do ensino de técnicas às mães que evitam a contaminação do produto coletado, realizado em grupos de apoio e visitas domiciliares. Além de ser multidisciplinar quando se analisa a estrutura interna, o BLH interage com a maternidade do hospital atendendo as mães que tiveram seus filhos nesta unidade. Faz-se um trabalho que incentiva a amamentação discutindo sua importância e ensinando técnicas apropriadas, além de incentivar essas mães a tornarem doadoras do seu excedente de leite, mesmo que não sejam exclusivamente vinculadas à maternidade em questão. Cabe salientar que para se fazer um trabalho como esse, que envolve questões que interferem em hábitos dos usuários do serviço é fundamental uma relação bem estruturada entre usuários e a equipe do serviço. Atualmente o banco tem um cadastro de 100 mulheres que semanalmente algum funcionário do banco faz visitas, visando tanto a coleta do excedente de leite quanto o reforço dos conceitos ensinados. Resolvem também as dúvidas das mães referentes à amamentação e à coleta, sendo, portanto, um processo
4 contínuo de interação equipe-usuário que faz com que as ações do BLH tornem-se eficazes. Instituição, instituído e instituinte Esses conceitos estão intimamente relacionados e podem ser facilmente identificados no BLH do HUAP. Como instituição encontramos as normas e diretrizes já consolidadas e ditadas pelo Ministério da Saúde, que é representada pela RDC 177, a qual rege o funcionamento de todos os bancos de leite do país; como instituído, o Aleitamento Materno e a Bioética; para finalizar, temos a instituinte, que podemos assimilar ao próprio grupo de funcionários e às suas ações, que muitas vezes fogem às normas instituídas, mas que sempre buscam o bem-estar das mães e de seus bebês. O Banco de Leite propriamento dito seria uma organização, e sendo de pequeno porte, também poderia ser considerado um estabelecimento. Auto-análise e autogestão Os funcionários do BLH periodicamente se reúnem para discutir assuntos relacionados à prática diária dentro e fora do banco. Discussão de metas e dificuldades encontradas em campo são resolvidas nessas reuniões de modo que ações possam ser tomadas em grupo para corrigir eventuais falhas e otimizar processos relacionados ao funcionamento e a logística do serviço em questão. O BLH segue a RDC 177, que regulamenta o serviço no que diz respeito principalmente ao processo de pasteurização, estrutura física da sala de coleta e o atendimento em si. Também para a elaboração de protocolos internos é utilizado como referência o banco de leite do Instituto Fernandes Figueira. Ademais disso, o próprio banco tem a liberdade de adaptar esses protocolos à situação local e à missão do serviço. Como exemplo, pode ser citada a participação de uma enfermeira nas rotas que orientam as mães, o que é característico deste banco e está intimamente relacionado ao serviço diferenciado prestado. Práticas Clínicas e de Cuidado em Saúde Para quem entra em contato com o BLH, é facilmente observável a relação estreita dos profissionais com os usuários. Pelo tipo de serviço prestado, torna-se fundamental uma proximidade e uma relação continua com o usuário e que se baseia em uma via de mão dupla, pois com as orientações fornecidas pelos profissionais a mãe consegue amamentar melhor seu filho e coletar da melhor forma possível seu leite, de modo que o banco possa atingir seus objetivos de fornecer leite para os bebês da UTI do HUAP e promover ações que incentivem o aleitamento materno. Ao entrar em contato com a equipe do serviço observa-se um grande comprometimento desta em alcançar tais objetivos. Quanto à utilização das tecnologias médicas pode-se dizer que estas são utilizadas de maneira totalmente adequada. Pela característica do próprio serviço não há uma tendência
5 em se utilizar de forma excessiva um tipo de tecnologia em detrimento de outra ou que possa gerar custos desnecessários à população de um modo geral. Tecnologias duras são utilizadas principalmente para o tratamento do leite e as ditas tecnologias leves são mais comumente empregadas - no caso são as orientações passadas para as mães. Conclusão Como conclusão, devemos citar a importância de um processo de auto-análise e de autogestão, presentes no dia-a-dia do BLH, para o bom desenvolvimento das atividades às quais esta unidade de saúde se propõe a executar. Isso pode ser apreciado facilmente em nossa observação do BLH, onde esses elementos influenciam de forma constante o processo de aperfeiçoamento e de desenvolvimento de suas atividades, de modo que o banco de leite em questão é uma referência nacional no que diz respeito ao acompanhamento feito com as mães, promovendo uma série de condutas que visam o bem estar das mães e de seus filhos, de uma forma integral e continua, que se encontram além do objetivo inicial de um banco de leite. É fundamental para a formação de qualquer profissional de saúde ter conhecimentos de como se dá um processo de auto-análise e de autogestão durante sua formação para que este seja capaz de implementar tal processo ou ao menos participar deste de forma mais consciente e ativa, contribuindo para a melhoria constante do serviço no qual trabalha e, deste modo, atender a população de uma maneira integral.
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