SEMIÓTICA IMAGÉTICA: A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM NA APRENDIZAGEM

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Transcrição:

SEMIÓTICA IMAGÉTICA: A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM NA APRENDIZAGEM Emiliana Faria ROSA Marcos LUCHI 1 ABSTRACT: This article aims to show the reflections about the semiotic imagery and the need for its use, practice in the classroom. Some of those references in this work are applied to the field of education and acquisition of concepts by students in their interaction through language. We will introduce this concept of semiotic imagery together, not only as a means of working with deaf people, but to anyone in the acquisition of concepts. CAMPELLO (2008) shows that not only the use of pictures and drawings to teach, but facial expressions and body in the construction of the referent. It arises in this work a problem in education that occurs due to a lack of methodology and didactic elements that sustain imaginative; aim in this work are also some real possibilities for the development of deaf students for their learning. KEYWORDS: semiotic imagery; sign language; visual experience. 1. Introdução A imagem permite as pessoas viajarem com sua imaginação, conhecerem lugares que nunca fora antes e coisas nunca vistas. Entretanto na educação o uso de subsídios imagéticos se torna imprescindível para aquisição de conhecimentos. Pensemos agora a aquisição de linguagem de uma criança em seu lar, ela aprende a falar com base em apontamentos das coisas vistas a sua volta, portanto sua aquisição de linguagem está estritamente relacionada à visualidade. Essa palavra que a criança usa para identificar talvez a figura paterna e materna é chamada por Saussure de signo lingüístico e desta forma ela aumenta seus signos com o aprendizado de novas palavras. Agora para uma pessoa que não utiliza o meio sonoro para expressar essas palavras terá um campo de identificação semiótica muito mais aguçada pelo meio visual, isto é, por imagens. Surgindo assim a semiótica imagética Articular sobre semiótica imagética, é referir-nos à possibilidade de uma metodologia na qual a estrutura visual é utilizada por todo e qualquer aluno vidente. Mesmo contendo uma gama de usos, a semiótica na educação ainda é algo com muitos campos a serem explorados. Neste artigo iremos discorrer sobre a semiótica imagética no contexto do desenvolvimento educacional do aluno surdo. Para isso devemos ressaltar a importância do aspecto visuoespacial e da língua de sinais ao desenvolvimento deste aluno, isto porque além da construção de saberes através dos conteúdos curriculares, tem-se a aquisição da língua, de conhecimento de mundo e do que rodeia o aluno surdo. A língua brasileira de sinais (LIBRAS) surgiu pela língua de sinais francesa e foi modificada através do tempo pela comunidade surda do Brasil. É a língua natural da comunidade surda, um língua visuoespacial. Reconhecida, cientificamente, como um sistema lingüístico de comunicação gestual-visual, com estrutura gramatical própria, oriunda das comunidades surdas brasileiras, a LIBRAS, é uma língua natural, formada por regras 1 Emiliana Faria Rosa: Mestra em Educação pela UFBA. Doutoranda em Linguística pela UFSC. Professora da UNIPAMPA-RS. Email: emilianarosa@gmail.com. Marcos Luchi: Acadêmico do Curso Letras/Libras - Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: marcosluchi@bol.com.br. 1

morfológicas, sintáticas, semânticas e pragmáticas próprias. É uma língua completa, com estrutura independente da língua portuguesa. Além disso, possibilita o desenvolvimento cognitivo dos surdos, favorecendo o acesso destes aos conceitos e conhecimentos existentes. Os usuários da LIBRAS são os surdos, familiares, profissionais da área e todas as pessoas que convivem ou trabalham com surdos ou tenham interesse por utilizar, pesquisar e aprender esta língua. As comunidades surdas do Brasil vêm lutando para serem respeitadas enquanto minorias lingüísticas e a FENEIS tem apoiado essa causa desde sua fundação. Temos vários registros da nossa luta pelo reconhecimento da LIBRAS até a conquista de sua regulamentação (FENEIS, 2008). 2 Observando a visualidade da língua de sinais e do cotidiano vivido pelo surdo, tem-se a possibilidade do uso das imagens. Sendo assim, diferentemente da imagética, que é o modo de ver o mundo através das imagens, a semiótica é o estudo dos signos linguísticos. Para não delimitar um conceito tão amplo, que faz interface em várias outras ciências analisemos Santaella: A semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e sentido. (SANTAELLA, 2003, p.13) Dentre vários autores que Santaella cita em seu livro está C. S. Peirce, que conceitua o que é a semiótica divergindo apenas na questão de não ver a linguagem como uma ciência: A Semiótica ou Lógica, por outro lado, tem por função classificar e descrever todos os tipos de signos logicamente possíveis. Isso parece dotá-la de um caráter ascendente sobre todas as ciências especiais, dado que essas ciências são linguagens. Não era assim, contudo, que Peirce a concebia. Para ele, as ciências têm de ser deixadas a cargo de seus praticantes, o que o conduz, como lógico, apenas à elucidação dos métodos e tipos de pensamento utilizados pelas diversas ciências (SANTAELLA, 2003, p.29). A semiótica é um campo muito amplo, que estuda a linguagem e suas formas variadas. A língua é uma forma de linguagem com signos dividida, segundo Saussure, em significado e significante. Esses signos nas línguas de sinais ocorrem de maneira visuoespacial através de convenções entre o povo surdo, havendo também o surgimento de novos sinais em muitas áreas, denominados neologismos. Portanto, na língua de sinais podemos concluir que a semiótica imagética é o estudo dos signos linguísticos por representações de imagens: [...] semiótica imagética. [...] é um estudo novo, um novo campo visual onde se insere a cultura surda, a imagem visual dos surdos, os olhares surdos, os recursos visuais e didáticos também. Quero esclarecer que isto não é um gesto ou mímica, e sim signo [...] podem usar os braços, os corpos, os traços visuais ótica como expressões corporais e faciais, as mãos, os dedos, os pés, as pernas em semiótica imagética. (CAMPELLO, 2007: 106). Campello resumidamente dá um panorama do que é a semiótica imagética. Uma área nova estudada, porém já muito praticada na língua de sinais. Permitindo ao sinalizante utilizar todo o corpo para caracterizar o objeto na narração, estudo ou descrição. 2 Fonte: FENEIS Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. Disponível em: http://www.feneis.com.br/page/libras.asp. Acesso em 12 de junho de 2008. 2

A semiótica tem o poder de aprofundar e expandir a capacidade de conhecimento, de descoberta e interação com o outro, com o mundo e com o conteúdo a ser aprendido. Focalizando a língua de sinais e o desenvolvimento educacional do surdo a semiótica é imprescindível. O visual para o surdo é extremamente necessário. A língua de sinais é rica e capaz de expandir todo e qualquer conhecimento. Diferente do que alguns leigos e não leigos muitas vezes acreditam, ela não é uma língua que se resume a um vocabulário de sinais onde cada coisa vista tem um sinal. Essa língua permite a cada sinalizante ser o objeto em perspectiva e não só o objeto, mas delimitar em sua volta sujeitos que serão em um dado discurso representações de objetos. Língua na modalidade visual espacial, a língua de sinais, é extremamente rica em informações conceituais complexas, como Campello mencionou acima, não é um gesto ou mímica, e sim signo linguístico, com capacidade de produzir e receber conhecimento de forma altamente complexa como ocorre em qualquer língua natural. A Língua Brasileira de Sinais ainda é perseguida; algumas pessoas ainda possuem a idéia de que o surdo usa uma linguagem gestualizada que não se foca, não tem uma amplitude, um conceito lingüístico. Para muitos, a LIBRAS é uma mímica sem base conceitual, gramatical, sem o pilar em que se baseiam as outras línguas de outras culturas. LIBRAS, seguindo este ponto de vista, serviria apenas para uma comunicação rudimentar e primitiva. Língua de sinais como fator de exclusão dentro da sociedade. Mesmo que a língua de sinais e a língua oral não sejam opostas, mas sim são só diferentes canais para transmissão da linguagem. A língua dos ouvintes não é a língua dos surdos, por isso surgem muitos problemas em relação às duas línguas e suas relações cotidianas, opondo-as. As crianças surdas devem possuir o acesso à língua de sinais: [...] ao direito que têm as crianças q utilizam uma língua diferente da língua oficial de serem educados na sua língua (UNESCO, 1954) (SKLIAR, 2005: 25). Segundo Rosa (2009, p.56) a língua de sinais é ponto de referência para a instrução, interação, educação e o mais importante de tudo: é um direito do surdo. Impossível de ser desprezada, inegavelmente indispensável, a língua de sinais, pode-se dizer, é a alma da cultura surda. Assim como qualquer língua, a língua de sinais tem papel de articulador entre conhecimento, aprendizado e desenvolvimento. Visto que se acredita fortemente que o EU e a sociedade nasceram juntos e que isto revela que toda a construção de uma subjetividade se dá a partir do processo de socialização e consequentemente na mediação pedagógica (Stobäus in Enricone, 2008, p. 114). Portanto, na língua de sinais podemos concluir que a semiótica imagética é o estudo dos signos linguísticos por representações de imagens. Na Língua de Sinais o sinalizador constrói essas imagens através do que observa e vivencia em si mesmo. Esse não é um conhecimento que muitos possuam ou, se o possuem, não o praticam. Citamos as palavras de Campello: eles não possuem uma cultura visual 3. Parecem tão simples essas palavras, mas muitos não entendem o que vem a ser uma cultura visual por estarem presos à cultura em que os grafemas e fonemas imperam. O que vem a ser então essa cultura visual? Strobel em seu livro nos relata: Os sujeitos surdos, com a sua ausência de audição e do som, percebem o mundo através de seus olhos, tudo o que ocorre ao redor dele: deste os latidos de um 3 Campello em uma conversa informal comentou sobre seu trabalho, semiótica imagética e o desenvolvimento do aluno surdo. O eles dito por Campello refere-se aos que não conhecem ou não possuem uma cultura visual; que não compreendam a importância do visual, da imagem, da língua de sinais ao surdo. 3

cachorro que é demonstrado por meio dos movimentos de sua boca e da sua expressão corpóreo-facial bruta até de uma bomba estourando, que é obvia aos olhos de um sujeito surdo pelas alterações ocorridas no ambiente, como os objetos que caem abruptamente e a fumaça que surge (STROBEL, 2008, p.39). Também Perlin e Miranda (2003, p. 18) afirmam que a experiência visual significa a utilização da visão em (substituição total à audição) como meio de comunicação. É comum falarem que, quando se perde um sentido, essa perda fará os outros sentidos se desenvolverem mais. Para os ouvintes os órgãos responsáveis pela expressão e recepção linguística são respectivamente a boca e os ouvidos. Já para os surdos, são as mãos e o corpo as formas de se expressar e os olhos os receptores da língua. Quando perdem o sentido da audição, o sentido da visão fica mais apurado, vertendo ainda mais para o lado linguístico. É preciso considerar e entender que a língua de sinais é uma língua natural com altas complexidades estruturais e deve ser vista como tal. Entendimento que para certos profissionais, que se dizem sabidos de tal conhecimento, ainda não o têm. As línguas de sinais não são línguas que se resumem a um vocábulo de sinais onde cada coisa vista tem um sinal. Sobre as estruturas das línguas de sinas no artigo intitulado Organização Neural da Língua de Sinais, Karen Emmorey, Ursula Bellugi e Edward Klima nos dizem o seguinte: American Sign Language (ASL), assim como outras línguas de sinais, apresentam as mesmas propriedades e seguem os mesmos princípios universais das línguas faladas. As propriedades visuoespaciais singulares das línguas de sinais fornecem nova compreensão sobre a natureza da própria linguagem e também fornece uma janela para o interior da mente e do cérebro que não está disponível no estudo da língua falada. (EMMOREY; BELLUGI; KLIMA, 2005, p. 20). Muitos linguístas após analisarem as línguas de sinais começam a ter outra visão sobre o que eles mesmos pensavam em relação às línguas numa perspectiva oral, especialmente depois de após constatar que as línguas de sinais se encontram no cérebro humano na mesma área que as línguas de sinais, o que fez com que aceitassem que ela também é uma língua natural. Em relação à semiótica imagética, no uso da LIBRAS, o corpo humano permite a cada sinalizante ser o objeto em perspectiva e não só o objeto, mas também pode delimitar em sua volta sujeitos que serão em um dado momento do discurso representações de objetos e sujeitos. O espaço discursivo é literalmente usado nas línguas de sinais, e podem-se encontrar estruturas fonológicas, morfológicas, sintáticas entre outras nas frases sinalizadas. Não se faz necessário aqui uma analogia entre essas estruturas nas línguas orais e de sinais, apenas se destaca que assim como em qualquer língua existe a presença dos parâmetros linguísticos. Em se tratando dos demais alunos videntes, a imagem é uma das formas mais acessíveis de recepção do conhecimento. 2. Praticando a Semiótica Imagética Se inserindo no espaço de uso da língua de sinais é imprescindível percebemos a necessidade de usar toda a estrutura desta língua e o que ela poderia me oferecer. Mas como temos um sistema a obedecer onde as disciplinas propostas estão expostas por meio de uma pedagogia oral, que não contempla a especificidade da língua de sinais, priorizam-se didaticamente matérias, textos, livros escritos em uma segunda língua para os surdos, os quais se encontravam ainda monolíngües. 4

Todos nós somos capazes de reconhecer essas estruturas fonológicas, morfológicas e sintáticas já citadas em nossa língua materna, ou até em outras línguas que falamos com fluência. Para um professor lecionar ele não necessariamente tem que saber como ocorre de forma sistemática cada um desses processos, mas sim saber que eles existem e seu conjunto constitui as normas de uma língua. Conhecimento este que não é encontrado entre muitos dos profissionais ouvintes que lecionam em língua de sinais, acarretando numa defasagem do conhecimento dos alunos surdos com graves consequências cognitivas. Para entendermos essa defasagem do aprendizado desses alunos surdos, pensemos em um aluno de séries inicias aprendendo a ler e escrever português com um professor que está há pouco tempo no Brasil vindo de um país que fala outra língua. Esse professor está em processo de aquisição do português e, mesmo que já tenha adquirido o português como segunda língua, ele não está ciente de todo um processo histórico sócio-cultural do português. Desta forma os alunos não entenderiam coisas elementares em sua língua por falta de proficiência linguística do docente. Quando entrevistada sobre professores de surdos, a doutora em Linguística e coordenadora do CAS (Centro de Apoio aos Profissionais de Educação de Surdos do Paraná) Sueli Fernandes responde que: [...] a diferença dos surdos hoje é de ordem linguística. Esse professor terá de pensar em adequações curriculares, na sua forma de pensar a prática pedagógica em termos linguísticos, passando, primeiramente, pela comunicação, o que demanda uma língua comum. O professor que trabalha com um aluno surdo precisa conhecer a língua de sinais. É o ponto de partida para ele estabelecer uma relação pedagógica. No entanto, a maioria dos professores, dos alunos, enfim, dos atores que compõem a comunidade escolar desconhece a língua de sinais e tem preconceito em relação a ela (FERNANDES, 2009). Pouco difundida essa visão de Fernandes posta acima, pois primeiramente veem o surdo com um sujeito que não consegue se comunicar, e que a língua de sinais apenas auxiliará na comunicação. Entretanto, como já bem dito acima e já oficializado no Brasil, a língua de sinais brasileira (LIBRAS) é uma língua natural, portanto é suficientemente comunicativa como outra língua qualquer. Porém, como em muitos outros casos na educação de surdos, onde pessoas não habilitadas trabalham pela falta de profissionais, acabei aceitando como um desafio o trabalho. Contudo, o sistema político educacional muitas vezes não nos permite buscar outros meios didáticos que não os já pré-estabelecidos, pois as disciplinas propostas são desenvolvidas por meio de uma pedagogia que contempla mais a oralidade. Já nos aspectos visuais, a especificidade da língua de sinais não é pautada, pois se priorizam didaticamente materiais, textos, livros escritos em uma segunda língua para os surdos, os quais se encontravam ainda monolíngues na língua de sinais. Não apenas falo de materiais didáticos que tragam a visualidade única e exclusivamente para os surdos, mas qualquer sujeito dotado de visão terá a capacidade de conceituar tanto quanto ao que é dito oralmente. Diante dessas ponderações quanto aos parâmetros linguísticos das línguas de sinais e também sobre uma das inúmeras facetas desta língua que é a semiótica imagética, faço algumas constatações: Um professor será capaz de lecionar qualquer disciplina para alunos surdos quando este for praticante efetivo da língua dos surdos e assim reconhecer as facetas culturais e sociais envolvidas nessa língua e na comunidade dos surdos em que ela está inserida. Também nessa experiência como professor, pode-se perceber que professores de surdos mais qualificados para atuação docente devem ser os próprios surdos ou ouvintes 5

muito bem inseridos na comunidade surda para compreenderem as diversas interfaces visuais dessa língua. Vê-se um despreparo pela má formação dos professores ouvintes pedagogos, por sua origem educacional estar voltada para a homogeneidade e não ao diferente, uma contradição do processo de inclusão no contexto escolar e acadêmico, mas não vou desenvolver aqui essa questão. Temos também um histórico de não formação para surdos em sua língua materna, por não reconhecimento desse povo como ser dotado de capacidade. Em decorrência disso, existem: [...] propostas pedagógicas que, além de descuidar das questões da visualidade e seu significado na educação de sujeitos Surdos-Mudos, pautam-se em paradigmas que relacionam a Surdez com o conceito da deficiência, vendo o sujeito Surdo-Mudo como ser incapaz e medicável (CAMPELLO, 2008, p. 13). Somente quem compartilha dos mesmos processos culturais e da mesma formação social é capaz de ter a empatia para fazer saber de forma simples e clara coisas complexas. Faço aqui uma observação sobre a complexidade dos saberes numa visão de evolução do saber, sendo a etapa que aqui chamei de complexa uma etapa até então desconhecida e não exercitada pelo sujeito. Fica evidente então que sujeitos surdos dotados de saberes educacionais são os mais capacitados para exercer a função de professores de seus pares. Quanto à formação dos sujeitos surdos, a Universidade Federal de Santa Catarina tem um programa de graduação pioneira nesta área. Iniciou-se em 2006 o curso de Letras LIBRAS a distancia com nove polos que formará aproximadamente 450 alunos surdos. E, em 2008, com quinze pólos, em torno 900 alunos serão graduados. Entre esses também estão cursando bacharéis ouvintes com foco na tradução/interpretação e pesquisas na área da língua de sinais. O curso de letras obviamente possui em sua grande curricular disciplinas como: fonologia, morfologia e sintaxe já citadas acima, o que mostra que aqueles que se formarem estarão assim capazes de, na prática de seu ensino, dar à LIBRAS o status linguístico adequado, contemplando a visualidade. A pedagogia visual neste trabalho não é tida como o único e exclusivo método de ensino para surdos, mas também pode ser utilizada para qualquer sujeito com o sentido da visão, pois muitos pronunciam palavras e desconhecem o que significam. Entretanto, a maioria dos surdos sinaliza coisas que, além de saber o que expressam e terem experiências visuais, são eles capazes de conceitualizar efetivamente. 3. Considerações finais Neste relato pudemos constatar que professores de surdos mais qualificados para atuação docente devem ser surdos ou ouvintes muito bem inseridos na comunidade para compreenderem as diversas interfaces visuais desta língua. O estudo dos signos através da imagem vem ganhado mais atenção dos educadores nesses últimos tempos pelo grande avanço de tecnologias que nos encharcam o cérebro com milhares de imagens por meio dos aparelhos eletrônicos de meio de comunicação em massa. A leitura critica da imagem vem sendo vista pelos educadores da atualidade como importante para a educação de crianças, entretanto isso já era dito há décadas pela Educação de Surdos, por isso diz-se nesse trabalho que a Semiótica Imagética cabe tanto aos alunos surdos quanto aos ouvintes numa metodologia visual, isto é, uma Pedagogia Visual. Antes não mencionado nesse trabalho, mas fica visivelmente indissociável discutir educação de surdos sem discutir-mos também a aquisição de língua materna, fazendo 6

interface entre a área da Educação e a Lingüística. É indissociável pelo fato de o surdo chegar à escola num estágio quase pré-linguistico, assim os professores podem explorar a prática visual especializada do surdo para fornecerem a ele um aprender ou apreender dos sinais que os mesmo lhe apresentam como insumo lingüístico primário. Além do despreparo por má formação dos professores ouvintes pedagogos, temos também um histórico de não formação para surdos em sua língua materna, por não reconhecimento desse povo como ser dotado de capacidade. Em decorrência disso temos: [...] propostas pedagógicas que, além de descuidar das questões da visualidade e seu significado na educação de sujeitos Surdos-Mudos, pautam-se em paradigmas que relacionam a Surdez com o conceito da deficiência, vendo o sujeito Surdo- Mudo como ser incapaz e medicável. (CAMPELLO, 2008, p. 13). Apesar da proibição da língua de sinais por um longo tempo na educação formal de surdos ela continuou sendo usada como língua natural da comunidade surda em meios não formais de educação como associações de surdos, casas dos surdos, em fim, em todo encontro surdo x surdo. Mencionado por CAMPELLO acima se vê propostas pedagógicas que não tratam das questão da visualidade, por uma visão fonocêntrica da área da educação, como se o conhecimento fosse passado apenas pelo canal auditivo. Também em seu artigo sobre semiótica ao relatar sua experiência LUCHI (2009) nos panoramiza com o ideal de professor para surdos. Somente quem compartilha dos mesmos processos culturais, e da mesma formação é capaz de ter a empatia para fazer saber de forma simples as coisas mais complexas. Sujeitos surdos dotados de saber são os mais capacitados para exercer a função de professores de seus pares. (LUCHI, 2009) Não falamos da pedagogia visual como único e exclusivamente método de ensino para surdos, mas para qualquer sujeito com o sentido da visão, pois muitos pronunciam palavras e desconhecem o que significam; entretanto a maioria dos surdos sinaliza coisas que além de saber o que expressam e terem experiências visuais, são capazes de conceitualizar efetivamente. A falta de profissionais habilitados nessa área educacional e a não aceitação da atuação dos profissionais surdos habilitados, pois há uma mitificação do saber nos pares ouvintes, gerando uma perda do aproveitamento da semiótica imagética e pregando uma pedagogia auditiva que distancia o saber através de experiências visuais tanto dos surdos quanto dos ouvintes. Referências CAMPELLO, A. R. Pedagogia Visual / Sinal na Educação de Surdos. In: Estudos Surdos II. QUADROS, R. M. e PERLIN, G. (Orgs.), Petrópolis: Editora Arara Azul, 2007.. Pedagogia Visual na Educação dos Surdos-Mudos, Tese de Doutorado apresentada na Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis: UFSC, fevereiro de 2008. EMMOREY, K; BELLUGI, U; KLIMA, E. Organização Neural da Língua de Sinais. In: Estudos de Tradução. BASSNETT, S. (Org.) Porto Alegre; Editora UFRGS, 2005. ENRICONE, Délcia (org.). A docência na educação superior: sete olhares. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. 7

FERNANDES, Sueli. Surdo, um estrangeiro na escola. In: Aprende Brasil. Paraná, 2009. Disponível em: http://www.educacional.com.br/entrevistas/ent_educ_texto.asp?id=264366. Acesso em: 15 de junho de 2010. LUCHI, Marcos. A Semiótica Imagética na Prática Docente e sua Relevância na Língua de Sinais. Anais do VI Congresso Internacional de Educação. São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2009. PERLIN, G.; MIRANDA, W. Surdos: o Narrar e a Política. In: Estudos Surdos Ponto de Vista: Revista de Educação e Processos Inclusivos n. 5, UFSC/NUP/CED, Florianópolis, 2003. ROSA, Emiliana Faria. Olhares sobre si: a busca pelo fortalecimento das identidades surdas. Dissertação de Mestrado em Educação. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2009. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/pesquisaobraform.do?select_action=&co_autor =82777. Acesso em: 10 de junho de 2010. SANTAELLA, L. O que é semiótica. São Paulo: Editora Brasiliense, 2003. SKLIAR, Carlos (Org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 2005. STROBEL, K. As imagens dos outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Editora da UFSC, 2008. 8