Sobre a questão cultural e a reprodução da obra de arte, destaca a seguinte passagem do livro de Freitag, na páginas 75 e 76:

Transcrição

1 Reunião: Escola de Frankfurt. Essas informações referem-se à reunião do grupo de estudos da Escola de Frankfurt, realizado no dia 8 de novembro de Esse trabalho foi realizado por Belarmino Cesar (transcrição das fitas) e por Antonio A.S. Zuin (tranposição para o computador). Dia 8/11/1991. Livros: "A teoria crítica, ontem e hoje", Barbara Freitag, e "Humanismo de Marx e o Industrialismo de Gramsci", de Mario Manacorda, in Educação e Prática Social, organizado por Tomaz T. Silva. Cláudia observa que o livro " A teoria crítica: Ontem e Hoje", trata de introduzir a Escola de Frankfurt numa linguagem clara, acrescentando ser difícil colocar todos os teóricos no mesmo plano. Ela critica Freitag no que se refere ao "pessimismo de Adorno" ou de colocar Habermas como o salvador, no sentido dele tirar a teoria crítica do "beco sem saída. Obs: o estigma da melancolia, do pessimismo da Escola de Frankfurt precisa ser melhor debatido. Sobre a questão cultural e a reprodução da obra de arte, destaca a seguinte passagem do livro de Freitag, na páginas 75 e 76: "A obra adquire uma nova qualidade: ela se torna acessível a todos, seu consumo generalizado se torna possível, ela adquire um novo valor: um valor de consumo. Ao contrário do que afirmava Adorno, a reprodução de um quadro de Mona Lisa como cartaz, de romance de Balzac em paper-back ou de uma sinfonia de Beethoven em disco não disvirtua a obra de arte. Apenas ela abondona os gabinetes e salões para ser divulgada e apreciada por todos" Cláudia observa que o fato de colocar Beethoven no rádio ou fazer uma edição de bolso de um filósofo não significa que se está caindo de nível. Adorno não ataca isso. Ele ataca o seguinte: não existe uma correspondência mecânica, ou seja, não é pelo fato da música de Beethoven estar sendo tocada na rádio que automaticamente as pessoas irão assimilar. As pessoas precisariam de pressupostos, isto é, de formação cultural". Sobre o texto reproduzido acima, deve-se complementar: "A reprodutibilidade técnica não somente assegura o consumo generalizado como transforma o caráter, a natureza intrínseca da obra de arte, modificando ainda a própria percepção do consumidor. Benjamin vê na foto e no filme exemplos privilegiados dessa mudança radical na concepção e percepção da obra de arte desauratizada. Por isso mesmo Benjamin não faz a mesma leitura que Adorno do processo de massificação e democratização do consumo"

2 Para Cláudia, o fato da música ser tocada no rádio pode representar uma falsa democracia, simplesmente se considerar o fato de atingir mais pessoas, já que elas precisariam de pressupostos. Adorno critíca " essa forma de democratização do conhecimento". Bruno acrescenta que o grupo teria que discutir mais a questão da arte, aprofundar a questão da estética e dos meios de comunicação no capitalismo. Antonio vê diferenças qualitativas entre Benjamin e Adorno quanto à questão da indústria cultural. Benjamin argumenta que a possibilidade de maior massificação dos produtos culturais possibilita alterações no próprio consumidor, implicando em alterações qualitativas no sentido de formar consciências críticas. Quanto aos escritos de Adorno, Antonio observa que este é mais descrente quanto à essa possibilidade de formação de consciências críticas. Ele observa que a questão da música é analisada por Adorno na "Teoria Estética". Quanto ao potencial crítico da obra de arte, Antonio recomenda a leitura de Marcuse. Segundo Antonio, atualmente perde-se cada vez mais o potencial crítico da obra de arte, no sentido de poder através desta remeter-se para outras alternativas de realidade. Este ponto é central. A obra de arte, no século passado, remetia a promessa de felicidade e a realização de seus desejos para uma realidade posterior, para uma realidade diferente. Enquanto que a obra de arte, hoje, através da indústria cultural, remete essa promessa para uma realidade presente, porém, sem possibilidades reais de cumpri-la. Essa constatação pode remeter para o conceito de dessublimação repressiva. Por ex., o sexo tão presente na sociedade, na TV, nos meios de comunicação nunca é realizado, contudo ao se comprar determinado produto associado, tem-se a ilusão de possuidor dos atributos vinculados, tais como o mais bonito, o mais gostoso, o mais charmoso etc. O conceito de sublimação nos remete à questão instintual, ou seja, os instintos são canalizados para outras atividades culturalmente aceitas. Marcuse chama dessublimação por que atualmente não há tanta repressão instintual quanto no século passado. Contudo, apesar dessa aparente liberdade, a repressão é mais violenta ainda. pois "Você tem oportunidade de ver sexo em todos os meios culturais, mas não consegue realiza-lo, alías, a promessa de realização encontra-se sim na compra determinado produto, dando a impressão de ser o portador dos atributos associados." Bruno atenta para a outra dimensão da questão, já que Benjamin vê também a dimensão positiva, os aspectos educativos da chamada democratização dos meios de comunicação. Ele propõe aprofundar essa questão (no contexto de 1947) da presença da televisão e buscar novos elementos. Antonio sugere a leitura do texto "A Obra de

3 Arte na era da reprodutibilidade técnica" de Benjamin, no qual é discutida a dupla face da indústria cultural. Para Bruno, o livro de Freitag dá uma visão do conjunto, histórica, da Escola de Frankfurt, dos diferentes interlocutores, do idealismo ao positivismo, no contexto em que ela surge e se desenvolve: capitalismo desenvolvido sob a forma do nazismo, macartismo nos EUA e o próprio estalinismo. Ele também observa que depois de Horkheimer e Adorno e Marcuse a perspectiva da Escola também se volta para questões como a pesonalidade autoritária, novo eixo de indicações metodológicas importantes. No artigo "O humanismo de Marx e o Industrialismo de Gramsci", Bruno observa que Manacorda questiona a Escola de Frankfurt, mas a coloca dentro do "tronco marxista", página 97: "Pessoalmente, considero o conjunto das pesquisas dos autores citados e de outros, uma contribuição determinante para o enriquecimento da tradição marxista, um feliz florescimento do pensamento contemporâneo. E não é de pouco mérito a sensibilidade pelos temas superestruturais da política, da cultura, da literatura, das artes, da educação, em uma palavra, da consciência e o coenvolvimento de nossos campos de saber como a antropologia cultural, a sociologia, a psicologia da pessaoa e da sociedade, a psicanálise, etc. e em geral os campos que permanecem marginais ou ainda ignorados na muita determinada investigação de Marx. Sem dúvida, todas essas observações sobre Marx, e mais ainda, sobre o Marxismo ortodoxo podem ser legítimas e dignas de serem tomadas em consideração. Todavia, por convergirem todas na denúncia do exclusivo economicismo e insensibilidade de Marx aos problemas da pessoa, confirmam no senso comum não só uma imagem de Marx que a mim me parece muito redutiva, mas uma consideração esquemática daquilo que pode ser a economia política humanamente concebida. Isolando-se de todos os outros interesses humanos acabam reduzindo-a justamente, àquela imagem materialista e mecanicista que acreditam poder atribuir a Marx, o que queriam, talvez exorcizar" Bruno, sobre Freitag, observa que ela admite o potencial inovador, crítico e moderno da Escola de Frankfurt dentro da tradição Marxista, mas, por outro lado, ela questiona o fato dos autores de Frankfurt não levarem muito em consideração a dimensão estrutural de Marx e por avançarem mais nas questões superestruturais. A mesma acusação é feita a Gramsci, rotulado como teórico da superestrutura. Manacorda tenta mostrar que é o senso comum enviezado. Bruno propõe ao grupo refletir sobre a questão e ultrapassar esse senso comum, que vê em Gramsci e em Frankfurt apenas os aspectos superestruturais. Será que essa acusação a Marx dele não ter tido condições de analisar essas ciências modernas e os novos campos de saber, ou os novos agentes sociais e espaços políticos não deveria se vista mais em conexão com a potencialidade crítica presente no marxismo, que vai se historicizando do que contra o marxismo? Nesse contexto, deve-se resaltar a

4 interrelação entre o estrutural e o superestrutural, o moral e o técnico, o cultural e o econômico. Com base em Marcuse, "A Ideologia da sociedade industrial", Antonio levanta a questão da lógica da mercadoria, da racionalidade técnica, da razão instrumental que vai permeando todas as relações sociais de produção, familiar, escolar de emprego, etc., no sentido de se desenvolver relações cada vez mais padronizadas e burocratizadas. As pessoas vão cada vez mais assimilando as informações sem que reflitam sobre estas. Neste ponto, impera o reino do pensamento unidimensional. Marcuse faz inclusive análises a respeito dos padrões morais que vão sendo desenvolvidos durante o decorrer da sociedade industrial, preocupação esta desenvolvida de forma semelhante por Gramsci no texto "Americanismo e Fordismo". Nesse texto, o pensador italiano relaciona a implantação da indústria nos EUA e a necessidade de um tipo de padrão moral vinculado à exaltação da família monogâmica, dado o fato de que o trabalhador tinha que necessariamente recuperar o afeto na sua família e não em bares e prostíbulos, pois tinha que estar em condições de poder trabalhar no dia seguinte. Dessa forma, Antonio levanta a possibilidade de que podeia haver aproximações entre questões analisadas por Gramsci e Marcuse. A própria Freitag afirma que tanto Gramsci como Horkheimer, apesar de nunca se terem conhecido, partem de concepções semelhantes. Nilton observa que a Escola de Frankfurt não está rejeitando ou esquecendo Marx, mas sim acrescentando novas contribuições. Sartre diz que o Marxismo ficou petrificado, porque o mundo começou a reproduzir o que Marx falou, sem acrescentar mais nada. Antonio complementa dizendo que as relações alienadas e ideológicas extrapolam as relações de produção, estando presentes em todas as situações. Por isso, justifica-se a análise da cultura, dos meios de comunicação,etc. Nilton diz que a infra estrutura cria tudo na super estrutura, menos a super estrutura. Nilton diz que Adorno não aceita que se encontre no operário industrial o germe da solução do sistema social.ele propõe discutir sobre esse raciocínio. Para Antonio, a questão central é a análise da cultura, e procura abrir a discussão a partir de Reich, ou seja, do porquê dos operários participarem da própria opressão. Esse autor fez uma análise da estruturade personalidade do povo alemão e desenvolveu conceitos tais como o de caráter neurótico, por ex. Reich no livro "Psicopatologia de massas do fascismo analisa justamente essa questão. Rouanet em "Teoria crítica e psicanálise" analisa quais são os fundamentos da psicanálise nos frankfurtianos. Claúdia oberva que a simples transposição mecânica da natureza para a história dos homens, no sentido de que do próprio capitalismo iria surgir a sua destruição, dentro do pensamento ortodoxo, não dava importância a ação do homem, enquanto produtor daquilo que faz. Costumava-se falar tanto

5 em revolução, por achar que naturalmente iria acontecer. Faltou um pouco mais de ajuste para acontecer. Era muito forte o pensamento de que o socialismo viria normalmente. Nilton observa que abandonaram a dialética de Marx pelo evolucionismo de Darwin. Toda a mudança só ocorre em função do homem, diz Claúdia. Nilton chama a atenção sobre o aspecto: dizer que Frakfurt teria deformado o marxismo é silenciar a deformação do marxismo que os ortodoxos fizeram. Antonio volta à questão da "Personalidade Autoritária" e sobre os tipos pseudo conservador e pseudo liberal. Antonio, citando Adordo diz que dentro do clima cultural da época nos EUA, havia um potencial fascista encoberto, apesar da aparente democracia. As pessoas se mostravam fascistas pela escala F. Desse modo, pessoas que aparentemente se mostravam liberais, poderiam manifestar o potencial fascista mediante condições favoráveis, tal como a URSS no período Stalinista. O aparente pessimismo atribuído à Escola de Frankfurt encontra algumas justificativas históricas, na opinião de Antonio, relacionadas ao fato da revolução ter ficado restrita ao leste europeu, devido principalmente às pressões imperialistas, além do tipo de marxismo vigente no período de Stalin.