ANAIS da XV SEMANA DE HISTÓRIA: HISTORIA REGIONAL COMO RECORTE DE ENSINO E PESQUISA ISSN

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1 ANAIS da XV SEMANA DE HISTÓRIA: HISTORIA REGIONAL COMO RECORTE DE ENSINO E PESQUISA ISSN O COTIDIANO DAS ASSOCIAÇÕES RELIGIOSAS LAICAS EM RIBEIRÃO PRETO. Miria Aparecida da SILVA*. Nainôra Maria Barbosa de FREITAS**. Palavras-chave: Associações laicas, Igreja Católica, Ribeirão Preto. As associações religiosas laicas na primeira metade do século XX funcionaram como auxiliares na construção de uma Igreja romanizada e mais próxima da hierarquia eclesiástica. Elas faziam parte dos movimentos idealizados pela Igreja Católica no intuito de propagar a fé católica e ao mesmo tempo incentivar a pratica de uma religião tradicional, individualista, de conversão pessoal, baseada no binômio confissão comunhão. Esta comunicação tem o objetivo de refletir a respeito das associações religiosas laicas que pertenceram a catedral de São Sebastião na cidade de Ribeirão Preto na primeira metade do século XX e de como seus membros no cotidiano seguiam as propostas ditadas por estes movimentos. De acordo com a Pastoral Coletiva dos bispos das Províncias Eclesiásticas do Rio de Janeiro, Mariana, São Paulo e Cuiabá, em seu Canon 1165, os párocos deveriam ter as associações como suas auxiliares nas obras: 1º. O Catecismo parochial para meninos e meninas nas matrizes, capellas, nas fazendas ou sítios; 2º. Promover os baptizamentos dos adultos, deixados sem Baptismo por descuido de seus Paes; 3º. A preparação dos meninos para a 1ª comunhão e chrisma; 4º. A legitimação das uniões civis, e o casamento dos concubinários; 5º. A obra das vocações ecclesiasticas (CARTA PASTORAL, 1915). O funcionamento das festas e outras atividades paroquiais, tiveram ajuda dos membros das associações religiosas leigas, sob a direção dos padres. O papel exercido por essas associações contribuiu para o processo de evangelização das comunidades, pois através delas os padres exerceram um domínio e encetaram um controle indireto sobre as famílias. A fundação e a instalação de associações leigas, dirigidas pelos padres, para moças, senhoras, homens e crianças, consistia num dos meios através do qual a Igreja buscava direcionar seus fiéis para o seio da igreja, controlando a vida cotidiana e principalmente a

2 moral das pessoas. Em substituição ao modelo de catolicismo da cristandade colonial, a romanização entrava lentamente no Brasil à partir de finais do século XIX. A criação da Província Eclesiástica de São Paulo, em 1908, contribuiu para que o modelo de cristandade romanizada fosse inserido pelo interior através da presença dos bispos no estado de São Paulo. Em outras partes do Brasil, os estudos revelam que a criação de novas paróquias, bispados, atendeu após a proclamação da republica ao apelo de uma igreja centralizada com Roma. Numa roupagem diferente, do apelo das associações do período colonial, sob a orientação dos padres, que exerciam o papel de diretores espirituais, as associações exerceram um catolicismo diferenciado do colonial e imperial. A prática do binômio, confissão/comunhão, por parte dos fiéis, evidencia uma mudança mas, a mesma, não provocou uma profunda e concreta evangelização dos católicos. Tudo indica que o incentivo a uma leitura específica aos católicos, funcionou na diocese de Ribeirão Preto no período estudado, pelo menos entre as Filhas de Maria, uma vez que encontramos indícios de pequenas bibliotecas nas associações das paróquias da diocese. Listas de livros, eram organizadas pelos padres, editoras e sugeridas como aquisição para as bibliotecas organizadas paras as moças e senhoras ou para os homens. A divulgação destas obras, era parte do projeto da igreja para a Boa Imprensa, o que incluiu o incentivo para a assinatura dos boletins, revistas e jornais católicos. Todas as associações laicas, participavam e contribuíam para divulgar a política da boa imprensa, desenvolvendo um trabalho de incentivo a leitura de obras católicas e edificantes, contrapondo as obras contrárias a doutrina da igreja. Lembrando que o número de pessoas alfabetizadas e com condições financeiras de adquirir livros no Brasil, era pequeno, pode-se afirmar que a existência destas bibliotecas especializadas era um luxo. Algumas peculiaridades permitiam identificar as Filhas de Maria na sociedade, o uso das fitas com medalhas e o uniforme. Com esta indumentária, as moças deveriam comparecer as inúmeras atividades oficiais da igreja e outras festas, como a mudança de estado, ou seja o casamento de alguma companheira. O número de agremiadas permitiu em maior ou menor escala a participação nas diferentes atividades atribuídas a uma Filha de Maria. Em qualquer das associações, o objetivo, estava centrado em fazer valer a disciplina e uma ampla participação dos leigos sob a égide dos padres.

3 Ao filiar a uma das associações, os confrades seguiam regras de conduta, estabelecidas a partir dos manuais, que direcionavam as ações cotidianas do levantar ao deitar-se com exercícios e orações, recomendações de práticas cotidianas aconselhadas, tais como: ao passar de frente a uma igreja deveria ser feita uma saudação ao Santíssimo Sacramento e se possível uma pequena visita. As recomendações representavam o ideal da Igreja, mas havia um distanciamento entre os que estavam agremiados que tentavam seguir as instruções e o restante da população que continuava praticando um catolicismo de fachada, consistindo na prática de alguns sacramentos como o batismo das crianças. O matrimônio na igreja, lentamente perdia forças para os adeptos do divórcio ou ainda para aqueles que passaram a professar outras crenças. A força dos costumes da igreja católica prevalecia principalmente nas cidades menores do interior do país. Na catedral de São Sebastião, em Ribeirão Preto, poucas décadas depois de oficializado o culto católico em 16 de julho de 1870, teve início a organização das associações religiosas laicas com o objetivo de formar grupos para atuar nas áreas de assistência religiosa e social, seguindo os preceitos da romanização. A presença das associações leigas na antiga matriz de São Sebastião do Ribeirão Preto, depois catedral, pôde ser constatada ao identificar os livros de Atas das associações no Arquivo da catedral de São Sebastião: Associação do Rosário Perpétuo, Pia União das Filhas de Maria, Irmandade do Santíssimo Sacramento, Apostolado da Oração, Obra das Vocações Sacerdotais, Cruzada Eucarística e Cruzada Eucarística Infantil. A fundação das diferentes associações precisava da aprovação do Bispo e estavam ligadas à Cúria Diocesana e sob a direção dos padres, que sempre buscavam incentivar a participação dos fiéis para se engajarem nelas. Inúmeras atividades faziam parte das obrigações dos membros das associações, tais como, reuniões festivas, missas, terços, participação em lugar de destaque nas procissões, retiros, práticas de caridade. Além disso, deveriam dar bom exemplo de católico, cumprir as práticas diárias de oração, não participar de bailes ou outras reuniões festivas mundanas como o carnaval. As atividades de organização de festas do santo padroeiro e outras cerimônias religiosas, construção e cuidado com o adorno dos altares, exercício de caridade fraterna e a atuação nas diferentes atividades da Igreja acompanharam a trajetória das associações e seus membros.

4 A Associação do Rosário Perpétuo foi instalada na catedral de Ribeirão Preto durante a segunda missão Dominicana em princípios de Formada por homens e mulheres casados encarregavam-se de promover a caridade aos pobres e aos enfermos. O mês de outubro era solene para os rosaristas, pois era o mês dedicado ao Rosário, sendo celebrado com a realização de festas na paróquia. Essa associação permaneceu ativa até meados de 1970, data do último assento do livro de atas (SILVA, 2007). O ingresso da Filha de Maria numa Pia União era algo livre e espontâneo e supunha obedecer aos rigorosos estatutos da Pia União, que eram conhecidos, estudados e debatidos pelas mestras de aspirantes nos círculos mensais, depois publicados na forma de um Boletim Mensal Diocesano como órgão da Federação Mariana Feminina. A associada deveria contribuir com seu trabalho ou seu auxílio para todas as obras de caridade, zelo e de apostolado, de acordo com o espírito da Associação. Há algum tempo temas como família, sexualidade, gênero e moda, por exemplo, deixaram de ser considerados assuntos frívolos e distantes do universo dos historiadores. A cultura do cotidiano é dotada ao mesmo tempo de um conteúdo em constante transformação e distintivo, satisfazendo a necessidade de aprovação social, bem como a de diferenciação individual e a tendência à mudança. Na maioria das vezes, a escolha da roupa era destinada ao seu uso em um espaço público. Esta escolha, ora expressava suas identidades, ora fazia declarações subversivas. No entanto, em alguns espaços públicos as pessoas deviam apresentar-se de acordo com regras pré-estabelecidas, como era o caso das Igrejas. Havia um esforço contínuo do episcopado para colocar normas nas manifestações religiosas, buscando zelar por uma moderação e recato, encontrados na sociedade elitista. Também, preocupavam-se com relação à modéstia das roupas e dos modos, quando se tratava das manifestações populares do culto e dos controles da moralidade, como um meio eficaz para a manutenção da ordem, já que qualquer liberalidade sexual provocaria uma perturbação social. (SILVA; CARVALHO, 2009.) Fica clara, neste sentido, a existência de relações entre cotidiano, cultura e religião. A cultura do cotidiano não estabelece somente diferenciações simbólicas, pois é por intermédio dessas que são definidas distinções sociais efetivas no caso das Associações Religiosas em que a mulher não só desempenhava seu papel religioso - como também representava por si só a chegada da modernidade. FONTES MANUSCRITAS:

5 LIVRO DE CHAMADAS DAS ASSOCIAÇÕES RELIGIOSAS LAICAS DA CATEDRAL DE RIBEIRÃO PRETO. Arquivo da Catedral Metropolitana de São Sebastião - Ribeirão Preto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORREIA, Pe. Francisco de Assis. História da Arquidiocese de Ribeirão Preto Brodowski: Ed. Autor, FREITAS, N. M. B. de. A Igreja Católica em Ribeirão Preto na primeira metade do século XX. In: FREITAS, N.M.B. de & MANOEL, I.A.(org). História das Religiões. Desafios, problemas e avanços teóricos, metodológicos e historiográficos. São Paulo: Paulinas, PASTORAL COLLECTIVA dos senhores Arcebispos e Bispos das províncias eclesiásticas de S. Sebastião do Rio de Janeiro, Marianna, S. Paulo, Cuyabá e porto Alegre. Rio de Janeiro: Martins Araujo, SILVA, M. A. As associações religiosas laicas da Catedral de Ribeirão Preto na primeira metade do século XX: as Filhas de Maria e o Rosário Perpétuo. Centro Universitário Barão de Mauá, TCC. SILVA, Míria A. CARVALHO, Letícia R. A. Rezar e vestir: as influências da moda no cotidiano das associações religiosas laicas da igreja católica na primeira metade do século XX. Comunicação apresentada na XIII Semana de História e Geografia do Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto: 2009.