The American Heritage Dictionary The New Merriam-Webster Dictionary
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- Manoel di Castro Benevides
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1 1 Cena, luz e design? Ainda que não seja possível desenvolver uma discussão acerca das relações cena/luz/design na instância de um texto tão fortuito, podemos sublinhar alguns detalhes do tema, com o intuito de chamar a atenção para os prováveis benefícios dessa discussão. Destacarei, sem o aprofundamento possível, portanto, um momento da pesquisa na qual invisto presentemente. Em primeiro lugar, se poderia sublinhar o aparecimento de um vocábulo originado em uma língua estrangeira, nesse caso, inglês. Teríamos muito a estudar acerca da cena e da luz, parece óbvio. O vocábulo design, contudo, poderia gerar dúvidas de natureza particular, uma vez que pertence a um universo desconhecido para muitos. Traduções superficiais ou até equivocadas, podem obstruir o entendimento da função do design no nosso trabalho, a contribuição da luz para a cena. E, se observamos com maior cuidado, notamos que, na verdade, design transforma-se numa expressão ligada diretamente ao nosso ambiente quando aparece na bibliografia especializada, inclusive, acompanhado de outros dois termos, sublinhando a especificidade da profissão. Surge, daí, a expressão theatre lighting design. Deixa, portanto, de ser invocado isoladamente; trata-se, a partir de então, de um design que se relaciona com a luz e depois com a atividade teatral (considerando toda a sua complexidade). O que entendemos por design? Algumas traduções encaminham para uma idéia de desenho? O que o substantivo desenho teria a ver o nosso trabalho? De que desenho estamos falando efetivamente? Será que o invocamos pensando num conceito abstrato? Conhecemos expressões como desenho artístico, desenho técnico, como exemplos e apenas para citar algumas. E podemos citar, também, o desenho de luz. De qualquer modo, não parece proveitoso estabelecer um enfoque etimológico, de nomenclatura, de semântica, isoladamente, o que poderia gerar uma discussão estéril. O que nos interessa é aprofundar o entendimento da nossa área de trabalho, acentuando questões de habilidade e competência, trilhando um caminho na direção da excelência no desempenho das nossas atividades, incluindo a disponibilidade para refletir, investigar. Parece, por outro lado, inevitável o contato com a cultura anglo-saxônica, como introdução ao estudo desses termos, para evitar conclusões apressadas e/ou equivocadas. Consultar um dicionário da língua inglesa pode contribuir para o estabelecimento de uma posição preliminar acerca da questão:
2 2 design v. 1.a. Conceber ou criar; inventar. b. Formular um plano para; Planejar de forma sistemática, usualmente gráfica; projetar um edifício, criar um programa para computadores. 3. Criar ou projetar, para um propósito ou efeito particular Criar ou executar de forma artística ou de modo a exigir grande habilidade. Fazer ou executar plantas, planejamentos. 2. Ter em mente um objetivo ou propósito. design n. 1. a. Um desenho ou perspectiva. b. Uma representação gráfica, especialmente uma planta com detalhes para construção ou manufatura O arranjo inventivo a partir de determinada proposta, de partes ou detalhes: o projeto aerodinâmico de um automóvel; A arte ou prática de projetar ou fazer projetos Algo projetado, especialmente um trabalho artístico ou decorativo Um plano; um projeto. (The American Heritage Dictionary, 2003, tradução nossa). Podem ser citadas, ainda, algumas variações: design: v conceber e planejar na mente e mais: design n 7: o arranjo de elementos ou detalhes num produto ou trabalho de arte. (The New Merriam-Webster Dictionary, 1989, tradução nossa). Para definir uma estratégia metodológica, pode-se propor o enfoque a seguir: Que elos tais definições teriam com o nosso trabalho? Observando-se o termo design, tanto no que se refere à ação quanto ao nome, invocam-se atitudes de conceber e planejar, ligadas a um processo de criação que se encaminha, inclusive, para afirmações de estilo, podendo incorporar alto grau de inventividade. Isso pode caracterizar um princípio, um modo particular de encarar a tarefa. Nesse sentido, portanto, a expressão lighting design se mostra apropriada como referência ao trabalho daquele que atua no discurso visual da cena, se esse discurso for considerado um procedimento composto de passos diversificados, cada um deles com objetivos específicos. Tais procedimentos e objetivos podem representar outro angulo de pesquisa, referindo-se especificamente a um Projeto de Luz para Espetáculos, o que demandaria tempo e espaço não disponíveis no presente texto. É imprescindível dizer que, em outras atividades ou abordagens, essa discussão já apresenta sinais de desgaste, como se pode notar no texto abaixo: Não faltam no meio profissional definições para o design, e essa preocupação definidora tem suscitado debates infindáveis e geralmente maçantes. Eles se
3 3 reportam, com freqüência, à etimologia da palavra, principalmente no Brasil, onde design é um vocábulo de importação relativamente recente e sujeito a confusões e desconfianças. A origem imediata da palavra está na língua inglesa, na qual o substantivo design se refere tanto à idéia de plano, desígnio, intenção, quanto à de configuração, arranjo, estrutura (e não apenas de objetos de fabricação humana, pois é perfeitamente aceitável, em inglês, falar do design do universo ou de uma molécula). A origem mais remota da palavra está no latim designare, verbo que abrange ambos os sentidos, o de designar e o de desenhar. Percebe-se que, do ponto de vista etimológico, o termo já contém nas suas origens uma ambigüidade, uma tensão dinâmica, entre um aspecto abstrato de conceber/projetar/atribuir e outro concreto de registrar/configurar/formar. (Denis, 2000, 16). Será que estamos impregnados de certo atraso? O que sugere um tema maçante, esgotado, em outras áreas, ainda é observado superficialmente na nossa atividade? Ou essa preocupação é irrelevante? De qualquer modo não podemos esquecer que mais de uma década antes da publicação desse trabalho do professor Rafael Cardoso Denis, um importante estudioso da nossa profissão, tangenciou o tema: O saudoso Prof. Dr. Hamilton Saraiva, falecido em 2005, apresenta uma introdução do conceito em discussão na sua exemplar pesquisa, representando uma das principais e primeiras publicações, em nível nacional, a lidar com a questão: O iluminador é, no teatro contemporâneo, o mais novo membro que veio se juntar ao time que compõe o design total da produção teatral. A sua presença vai se consolidando timidamente como componente da produção de arte, com a mesma importância dada aos outros componentes do espetáculo. (Saraiva, 1989, 455). Diversificadas gerações, o que pode ser visto como sintoma de que a questão merece atenção, se referem ao problema; desde o nosso grande mestre Peter Gasper, passando por Gerald Thomas, e até um dos mais importantes profissionais do país, o artista piauiense radicado no Rio de Janeiro, Maneco Quinderé. Numa entrevista publicada no jornal O Globo, em 17 de junho de 2006 e assinada por Alessandra Duarte, o premiadíssimo profissional, declarou: Detesto essa história de lightning
4 4 designer, porque é ridículo. Eu não sou lightning designer. Eu sou iluminador. Mesmo que se possa sublinhar o evidente equívoco registrado pela matéria, na grafia da expressão, detalhe de revisão, domínio do qual nem sempre se tem controle, e ainda que essa assertiva pareça uma resposta emocional, ela representa elemento importante para a discussão. Tal importância se efetiva, quando menos, se consideramos que se trata de uma das maiores personalidades do país, na área, com experiência internacional e vastíssimo conhecimento na mesma, revelando intimidade com as artes visuais, incluindo o cinema, como demonstra o material em questão. Esse é um tema, afinal, que exigiria um espaço muito maior do que se dispõe aqui, para o início de uma reflexão que pode ser muito produtiva. Alguns podem estranhar, o que é compreensível, já que se trata de um universo um tanto desconhecido. Outros podem considerar um tratamento excessivamente teórico. No que se refere à queixa acerca do enfoque teórico vale a pena dizer que nem sempre a abordagem prática será, necessariamente, positiva. Uma prática equivocada pode causar inúmeros prejuízos. Não esqueçamos o perigo que certos colegas correm ao usar um instrumento, acessório ou estrutura sem atender às normas de segurança. Ou, como exemplo, quando tratamos de uma questão usando a experiência que acumulamos na prática para, depois, em algum momento no futuro, aprendermos que estávamos cometendo um engano. Ouvi, certa vez, o relato que descrevo a seguir, procurando a maior fidelidade que a memória permita: alguém discordara de um colega quando o mesmo afirmava que o instrumento PAR recebia essa denominação porque era instalado dois a dois. Aquele que havia lançado a dúvida, um músico que gosta de luz, jurou que, viajando com uma banda aos EUA, viu pares plugados diretos na linha, sozinhos, e falando normalmente! O resto da história, já se sabe. Urge considerar que os níveis de familiaridade com diversificados aspectos da nossa atividade são heterogêneos, o que parece justificado, uma vez que o processo de formação/educação do profissional ainda é frágil. Cabe reconhecer, todavia, que há colegas trabalhando para divulgar conhecimento, juntando forças, o que é, especialmente, muito positivo. Aprender, na prática a epopéia do dois a dois pode ter gerado alguma dúvida para o nosso colega que não teve a sorte de testemunhar a montagem acompanhada pelo amigo músico. Bom, conversar sobre cena, luz e design pode sugerir que design Theatre Lighting Design incluiria conhecimento aprofundado de instrumentos, acessórios, assim como dos sistemas de alimentação e controle da luz aplicada a cena.
5 5 Sem mencionar as nuances apresentadas pelos dicionários destacados acima. Conceber, criar suportes via idéias fundamentadas, projetar e desenhar, integram ações conjuntas, no trabalho do designer que atua no espetáculo, aplicando a luz. Podemos, naturalmente, ignorar tudo isso e propor novos caminhos. Uma nuance pode ser considerada, entretanto: não seria recomendável, nesse momento, inventar o lighting design, melhor, o theatre lighting design, sob o risco de tentar inventar, a esse ponto, a roda, a pólvora, a penicilina, o elipsoidal, e assim por diante. Registre-se que a interação cena/luz/design já vem sendo desenvolvida, desde a primeira metade do século passado, em outra cultura. Caberia, talvez, uma atitude crítica. Para tanto, seria recomendável a investigação desse processo. Prof. Ms. Eduardo Tudella REFERÊNCIA American Heritage Dictionary, Third Edition, Version 3.6a SoftKey International Inc., 1994, 1 CD-ROM. DENIS, Rafael Cardoso. Uma Introdução à História do Design. São Paulo: Edgar Blücher, p. SARAIVA, Hamilton. Iluminação teatral: História, Estética e Técnica p. Dissertação (Mestrado em Artes), Universidade de São Paulo, São Paulo. The New Merriam-Webster Dictionary, Massachusetts: MERRIAM-WEBSTER INC., Publishers, 1989.
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