CURCEP PROFª Drª CAMILA M PASQUAL ALUNO(A)

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1 CURCEP PROFª Drª CAMILA M PASQUAL ALUNO(A) OS DOIS OU INGLÊS MAQUINISTA Sobre o autor Martins Pena é considerado um dos pais do teatro brasileiro, especialmente do gênero comédia, do qual é precursor no país. Pela importante atuação na dramaturgia e na literatura, foi escolhido como patrono da Academia Brasileira de Letras. A escolha foi de Artur Azevedo e o escritor ficou com a cadeira número 29. A IMPORTÂNCIA DO LIVRO Os Dois ou o Inglês Maquinista traça um interessante retrato da sociedade brasileira durante o império, sua abordagem do tema da escravidão faz com que a obra mereça destaque entre a produção teatral da época. Período histórico A peça teatral de Martins Pena foi publicada em 1871, mas escrita nos anos 40, época em que a questão da escravidão estava muito presente na literatura. ANÁLISE DA OBRA Pertence ao gênero dramático. É uma peça teatral (comédia) de ato único e se passa no ano de 1842 no Rio de Janeiro e retrata o cotidiano de uma família de classe média alta no final da primeira metade do século XIX. Apesar da apresentação de uma Folia de Reis, o aspecto religioso não é explorado pelo autor na peça como determinante para a construção da trama. O principal objetivo da obra é criticar os aspectos econômicos, políticos e sociais da elite do Rio de Janeiro: o tráfico de influência, o suborno de agentes públicos, o tráfico negreiro, e o casamento por interesse econômico. A questão do tráfico negreiro era a mais espinhosa do momento. De forma provocativa Martins Pena não só exibe todo o trâmite da contravenção, que envolvia deputados, desembargadores e ministros, como também transforma em vilões,figuras respeitadas na sociedade. Concentrada embora na corte, o teatro de Pena faz alusão à maioria das regiões brasileiras, mas também a outras terras, Portugal, França (denúncia da cultura mal assimilada), Itália (a mania da ópera) e Inglaterra (a exploração econômica), que serve ao comediógrafo para a defesa dos interesses nacionais. Nota-se que, com essa aparentemente despretensiosa comédia, Martins Pena pretende criticar a futilidade dessa classe social e sua falta de honestidade. O humor é, de fato, uma ferramenta poderosa nesse sentido. Personagens como Cecília, uma jovem que se diz capaz de se apaixonar por muitos homens ao mesmo tempo ou Gainer, o inglês que pretende enriquecer às custas de brasileiros que acreditem em suas invenções mirabolantes são cômicos em todas as suas falas. A frivolidade parece ser peça-chave para a compreensão desses personagens. As mulheres, Eufrásia e Clemência, têm roupas e escravos como único assunto, a filha mais nova de Clemência, Júlia, ainda criança é incentivada a aprender francês apenas como sinal de status, entre muitas outras situações que deixam clara a deficiência de valores apresentada por vários dos personagens. Apenas os personagens identificados com sentimentos nobres, como Alberto, Mariquinha e Felício, estão isentos desse tom de caricatura, uma estratégia de composição de personagens bastante frequente no romantismo. ENREDO 1

2 Todo o enredo de Os Dois ou o Inglês Maquinista se passa na sala de estar de Clemência, local no qual ela e suas filhas recebem como visitantes todos os outros personagens. Na cena inicial estão presentes as moças da família, Negreiro e Felício, que conversam sobre os acontecimentos que leem no Jornal. Na cena seguinte descobre-se que Felício e Mariquinha estão apaixonados, mas que a existência de pretendentes mais ricos impede o casamento dos dois. Felício promete então colocar em prática um plano para que o matrimônio seja possível. Chega então à sala de estar o Inglês, Sr. Gainer, o outro pretendente de Mariquinha, que comenta sua mais nova invenção: uma máquina que faz açúcar a partir de ossos. Em seguida, chegam os amigos da família, Eufrásia, o marido e seus dois filhos, que comentam todo tipo de coisa sem importância, como o preço de vestidos, com as donas da casa. Ainda nessa cena, uma das escravas de Clemência quebra algo e leva uma grande surra da patroa. Quando essas visitas vão embora, tem início o plano de Felício, primeiro ele fala ao Inglês que Negreiro o havia chamado de especulador, depois, vai até Negreiro e o convence que o Sr. Gainer vai denunciá-lo às autoridades inglesas. Com a briga dos dois descobre-se que na realidade Clemência queria ela mesma se casar com o inglês e não dar a mão da filha. Ela resolve então escrever uma carta ao Sr. Gainer para propor casamento a ele. No momento em que realiza o pedido, no entanto, volta seu marido, que todos acreditavam estar morto. Escondido em um canto, o marido ouve toda a conversa entre o inglês e a esposa, assim como a troca de confidências entre Mariquinha e Felício. O desfecho da história acontece quando Alberto sai de seu esconderijo e proíbe a mulher de se casar novamente, ao mesmo tempo em que consente o casamento de Marquinha e Felício. PERSONAGENS: CLEMÊNCIA A viúva de Alberto, mãe de Mariquinha e de Júlia, acreditava que Gainer a pretendia. Clemência, uma mulher de posses, consegue um escravo contrabandeado, utilizandose de uma rede de relações que envolve amizades e, sobretudo, pessoas que ocupam importantes cargos públicos. Empenhei-me com minha comadre, minha comadre empenhou-se com a mulher do desembargador, a mulher do desembargador pediu ao marido, este pediu a um deputado, o deputado ao ministro e fui servida. (PENA, 2007a, p.148). MARIQUINHA Filha de Clemência e Alberto. Ela ama Felício, mas tem dois outros pretendentes interessados em seu dote. JÚLIA A irmã de Mariquinha. FELÍCIO Sobrinho de Clemência, apaixonado por Mariquinha. Ele é pobre e vai armar para desmascarar os dois pretendentes de Mariquinha. Representa o rapaz brasileiro bom caráter e de fato sinceramente apaixonado pela moça, que percebe o intento de Gainer, que pretende, desposando-a, apossar-se do dote da família. GAINER 2

3 Pretendente ao dote e a golpes. É o inglês responsável por arquitetar atos mirabolantes. O personagem, logo de saída se revela um refinado finório, buscando conseguir do governo imperial privilégios para a realização de empreendimentos mirabolantes: produzir açúcar a partir de ossos e construir uma máquina de beneficiar bovinos. Procura ainda, ao mesmo tempo, obter da família que o recepciona, a mão de Mariquinha, a brasileira virtuosa, ocultando suas verdadeiras intenções a respeito da jovem. Os propósitos nada nobres do estrangeiro, e sua pouca consideração pelos brasileiros, são também expressos de modo direto, por ele próprio. Como quando confessa, no seu português estropiado que acaba por acentuar seu alheamento em relação ao universo brasileiro e que o torna ridículo aos olhos dos espectadores e leitores; "Destes tolas eu quero muito. NEGREIRO Pretendente ao dote. Negociante de negros novos, os chamados meia-cara: O escravo que, depois de proibido o tráfico, era importado por contrabando, sem se pagarem os direitos aduaneiros. ALBERTO Marido de Clemência, que volta depois de dois anos, pois não estava morto e sim prisioneiro. Ele representa o triunfo do bem, da virtude e da moral. DEMAIS PERSONAGENS Moços e moças (escravos) e por fim as pessoas que compõem a Folia de Reis. Eufrásia, Cecília (a filha de Eufrásia), Juca (irmão de Cecília), João do Amaral (marido de Eufrásia) são personagens que fazem uma visita à casa de Clemência e conversam sobre banalidades (como vestidos). A INTRIGA Felício promove uma intriga entre os dois homens. Diz a Gainer que Negreiro o chamou de velhaco. Cena VII FELÍCIO - Mas veja como os homens são maus. Chamarem ao Senhor, que é o homem mais filantrópico e desinteressado e amicíssimo do Brasil, especulador de dinheiros alheios e outros nomes mais. Mais tarde, Felício fala com Negreiro que Gainer ameaçou entregá-lo ao comandante do brigue Wizart. Cena VII GAINER Não precisa dize; basta chama velhaca a mim pra eu mata ele. Oh, que patifa de meia-cara! Eu vai dize a commander do brigue Wizart que este patifa é meia-cara; pra segura nos navios dele. Velhaa! Velchaca! Goddam! Eu vai mata ele! Oh! (sai desesperado). Cena XIII FELÍCIO, à parte Espera, que eu te ensino, grosseirão. (Para Negreiro:) O Sr. Gainer, que há pouco saiu, disse-me que ia ao juiz de paz denunciar os meias-caras que o senhor tem em casa e ao comandante do brigue inglês Wizart os seus navios que espera todos os dias. 3

4 NEGREIRO Quê? Denunciar-me, aquele patife? Velhaco-mor! Denunciar-me? Oh, não que eu me importe com a denúncia ao juiz de paz,; com este eu cá me entendo; mas é patifaria, desaforo! TESTES 1) A respeito de Martins Pena podemos afirmar: a) Foi o primeiro autor de teatro no Brasil; b) destacou-se principalmente na criação de tipos interioranos; c) é um dos criadores do teatro genuinamente nacional; d) sua obra insere-se no período colonial da literatura; e) sua obra pouca coisa tem a dizer para os dias atuais. 2) assinale a alternativa incorreta sobre Martins Pena e sua obra: a) Mesmo não sendo o pioneiro da arte dramática brasileira, Martins Pena é considerado o verdadeiro fundador do teatro nacional. b) Diferentemente dos outros autores da época, poetas e romancistas românticos, que escreviam peças mais por diletantismo, Martins Pena dedicou-se quase exclusivamente à criação de obras de teatro. c) Num período de 14 anos ( ) o autor escreveu mais de vinte peças, a maioria comédias, boa parte das quais nunca foi publicada nem representada. d) apesar de apresentar em sua vida pessoal características de jovem poeta romântico tuberculoso, morto prematuramente com 33 anos, Martins Pena faz um teatro realístico e picaresco. e) em sua obra ele debruçou-se sobre a via de São Paulo no início do século XX e explorou os tipos do povo comum das fábricas e das ruas. 3) A respeito de Martins Pena é correto afirmar: a) construiu uma galeria de tipos que constitui um retrato realista do Brasil da época e que compreende funcionários públicos, meirinho, juízes, malandros, matutos estrangeiros, falsos e cultos profissionais da intriga social; b) apesar de algumas insinuações maliciosas, não chega a fazer críticas contundentes na sociedade brasileira da época; c) com a ajuda de sua singular veia cômica, encontrou um ambiente receptivo que favoreceu a sua popularidade; d) suas histórias giram em torno de casos de família, casamentos, heranças, dotes, dívidas e festas da roça e da cidade. 4) Dos temas apontados, assinale o que não é objeto das críticas de Martins Pena: a) a ditadura de GETÚLIO Vargas e o nepotismo; b) o casamento por interesse e a carestia; c) a exploração do sentimento religioso e a desonestidade dos comerciantes; d) a corrupção das autoridades públicas e o contrabando de escravos. 5) Sobre o teatrólogo Martins Pena, são feitas várias afirmações. Analise-as com atenção. I- Nada em sua obra foi tratado do ponto de vista trágico e nunca um desfecho era funesto; pelo contrário, dada a finalidade destas comédias, que era a de opor-se aos dramas, a trama comum consistia na apresentação dos problemas, na resolução cômica dos empecilhos e no surgimento, muitas vezes com casamento ou namoro sério, de um final feliz. 4

5 II- Sua maior contribuição à literatura brasileira foi como teatrólogo, cuja história coloca-o como fundador da comédia de costumes, na qual satiriza a sociedade brasileira de então. Ao mostrar como funcionavam as relações sociais, contribuiu para a compreensão histórico-sociológica do seu tempo, bem como com a linguística, visto que escrevia as falas das personagens, utilizando a linguagem coloquial da época. III- Dotado de singular veia cômica, Martins Pena soube aproveitar o momento em que se intensificava a criação do teatro romântico brasileiro, que possibilitava tratar das situações e personagens do cotidiano, e mostrou a realidade de um país atrasado e, predominantemente, rural, fazendo a plateia rir de si mesma. Seus textos envolvem, sobretudo, flagrantes da vida brasileira, do campo à cidade. IV- O autor apresenta como temas principais, os problemas familiares, casamentos, heranças, dotes, dívidas, corrupção, injustiças e festas populares. Sua galeria de tipos compreende funcionários públicos, padres, meirinhos, juízes, malandros, matutos, moças namoradeiras ou sonsas, guardas nacionais, mexeriqueiros, viúvas etc. Estão corretas: a) todas as afirmações; b) apenas as afirmações I,II e III; c) apenas as afirmações II e III; d) apenas as afirmações I, e IV. 6) Em relação à peça O inglês maquinista, é correto afirmar : a) é um drama em que se discute a impossibilidade de a mulher escolher com quem se casar; b) consiste numa peça composta de três atos, com apenas cinco personagens de uma família burguesa do século XIX; c) o título da obra se refere à função do personagem principal, grande empresário britânico da área de ferrovias; d) Consiste numa comédia de costumes envolvendo uma família da burguesia carioca do século XIX. 7) A respeito dos personagens centrais da peça Os dois ou O inglês maquinista, podemos afirmar: a) presenteando Clemência com um negrinho meia-cara, Negreiro, noivo de Mariquinha, traz já em seu nome a profissão que exerce de traficante de escravos; b) A mãe de família, Dona Clemência recebe esse nome como uma forma de ironia do autor, porque ela maltrata seus escravos cruelmente, sem nenhuma clemência ; c) O jovem Felício traz em seu nome a principal característica do personagem que, durante toda a peça, extravasa sua felicidade; d) O inglês Gainer, desde o início interessado em se casar apenas com D. Clemência, traz no nome sua real intenção ganhar, lucrar alguma coisa de qualquer jeito. 8) Leia o texto a seguir, extraído da obra Os dois ou O inglês maquinista, de Martins Pena. CLEMÊNCIA Deixe-o falar. A propósito, já lhe mostrei o meu meia-cara 1, que recebi ontem na Casa da Correção? NEGREIRO Pois recebeu um? CLEMÊNCIA Recebi, sim. Empenhei-me com minha comadre, minha comadre empenhou-se com a mulher do desembargador, a mulher do desembargador pediu ao marido, este pediu a um deputado, o deputado ao ministro e fui servida. NEGREIRO Oh, oh, chama-se isto transação! Oh, oh! No texto só Não há referência a uma crítica explícita e a uma ironia mordaz contra: a) O tráfico de influências e a troca de favores entre as pessoas da alta sociedade; 1 Escravo trazido clandestinamente depois de proibido o tráfico. 5

6 b) a amoralidade social baseada na crença e na ideia de que quem tem dinheiro pode tudo; c) a falta do sentimento religioso que leva as pessoas a serem íntegras no casamento; d) o envolvimento de autoridades públicas em transações ilegais. 9) Leia com atenção o excerto a seguir, extraído da comédia Os dois ou O inglês maquinista, de Martins Pena, para responder às questões 09 e 10. FELÍCIO Então a máquina supre todos estes ofícios? GAINER Oh, sim! Eu bota a máquina aqui no meio da sala, manda vir um boi, bota a boi na buraco da maquine e depois de meia hora sai por outra banda da maquine tudo já feita. FELÍCIO Mas explique-me bem isto. GAINER Olha. A carne do boi sai feita em beef, em roast-beef, em fricandó e outras muitas; do couro sai sapatas, botas... FELÍCIO, com muita seriedade Envernizadas? GAINER Sim, também pode ser. Das chifres sai bocetas, pentes e cabo de faca; das ossas sai marcas... FELÍCIO, no mesmo Boa ocasião para aproveitar os ossos para o seu açúcar. GAINER Sim, sim, também sai açúcar, balas da Porto e amêndoas. FELÍCIO Que prodígio! Estou maravilhado! Quando pretende fazer trabalhar a máquina? GAINER Conforme; falta ainda alguma dinheira. Eu queria fazer uma empréstima. Se o senhor quer fazer seu capital render cinquenta por cento dá a mim para acabar a maquina, que trabalha depois por ossa conta. FELÍCIO, à parte Assim era eu tolo... (Para [Gainer:]) Não sabe quanto sinto não ter dinheiro disponível. Que bela ocasião de triplicar, quadruplicar, quintuplicar, que digo, centuplicar o meu capital em pouco! Ah! GAINER, à parte Destes tolas eu quero muito. Da leitura do texto pode-se concluir que: a) os investimentos estrangeiros em tecnologia ajudaram o Brasil a se desenvolver mais rapidamente; b) o inglês Gainer representa a confiança que os estrangeiros tinham no espírito progressista dos brasileiros; c) o jovem Felício encanta-se com as novas ideias e sonha com a possibilidade de enriquecimento com a industrialização do país; d) Felício, prova ao inglês ser muito criativo ao sugerir uma ampliação das utilidades da máquina utilizando-a também para fabricar açúcar; e) o inglês demonstra acreditar que os brasileiros são ingênuos e idiotas a ponto de acreditarem e investirem em suas invenções estapafúrdias. 10) Ainda com base no texto acima, podemos afirmar: a) a reação admirada de Fabrício foi sincera e convenceu Gainer de que havia conquistado o moço; b) o inglês percebeu que o rapaz não era tão tolo como os outros e retirou sua proposta; c) a ganância do brasileiro em multiplicar seus investimentos animou o estrangeiro; d) o brasileiro, com suas ironias e fingida credulidade, é quem debocha do inglês e o faz de bobo; e) o acordo se fecha em pouco tempo e, quando descobre a verdade, Felício percebe que já é tarde demais para recuperar o dinheiro. 6

7 GABARITO 01- C 02 E 03 B 04 A 05 A 06 D 07 B 08 C 09 E 10 D 7