Em busca da luz perfeita

Transcrição

1 PORTFOLIO RAFAEL CALSINSKI Em busca da luz perfeita Fotógrafo profissional de surfe e santista de carterinha, Rafael Calsinski, ou apenas Rafaski, é um dos expoentes da nova geração de fotógrafos de surfe do Brasil. Nas próximas páginas, viaje nas técnicas e visão única desse talento que vem se destacando nas mídias nacionais e estrangeiras. Fotos e legendas por Rafaski Esse dia a previsão de ondas era de 4 a 5 pés em Pipeline até as 13:00hs, subindo rapidamente após esse horário e chegando a 15 pés até o final de tarde. Cheguei na praia um pouco antes do mar começar a subir, e entrei com uma lente com maior alcance, pois sabia que em pouco tempo não seria possível chegar tão próximo onde a onda quebra. Cada série vinha maior e mais ao fundo, e os surfistas eram arrastados a toda hora. Em uma dessas séries o australiano Julian Wilson achou essa onda, que foi uma das melhores do dia. Nunca foi tão fácil entrar em Pipeline, o complicado foi sair com as séries varrendo o canal toda hora.

2 42 43 Esse é mais um exemplo da diferença de perspectiva que a fotografia aquática pode proporcionar. Com a textura das árvores de fundo e uma pequena área da onda visível, a leitura dessa foto deixa de ser intuitiva. Fiz essa foto, próximo ao meio-dia, gosto da forma que a luz separa o surfista do plano de fundo e do brilho na água que esta voando. Na onda, Casey Brown em Rocky Point no Havaí. Essa foto eu fiz no intervalo entre as séries, o contra luz no fim de tarde em Pipeline é mágico. Registrei esse momento no estilo bastidores, com o objetivo de mostrar o crowd havaiano. Olhando a foto ampliada durante o tratamento, reconheci a maioria dessas cabeças, esse é um dos motivos que tornam esse lugar o paraíso dos fotógrafos de surfe.

3 Acima, Ricardo dos Santos em Pipeline, Havaí. Cada ano fica mais difícil fotografar dentro d água e pegar onda devido a quantidade de novos adeptos no Havaí. No meu caso, preciso estar posicionado pra onda que o surfista brasileiro vai pegar, e isso não garante que outros fotógrafos não saiam na sua foto. Fazer uma foto sem nenhum fotógrafo na sua frente, de um surfista não havaiano em uma onda boa em Pipeline é um troféu. Essa foto rendeu minha primeira capa de temporada havaiana. Abaixo, John John Florence em Pipeline. Conseguir um ângulo inédito fotografando Pipeline da areia, é uma tarefa muito difícil, em um dia bom você encontra uma quantidade absurda de fotógrafos. Na busca por uma foto que se destaque das outras, é preciso se movimentar constantemente, e sempre fugir do crowd. Nessa foto, estava caminhando por Ehukai Beach Park procurando uma composição diferente quando vi essa série se aproximando, parei onde eu estava e comecei a alinhar o tripé na areia. Quando notei o galho com folhas que estava fazendo parte do enquadramento, minha única preocupação era não cobrir o surfista. A imagem acima, é o que considero, neste momento, a minha melhor foto dentro d água. Esse dia o mar estava realmente grande e essa foi uma das imagens mais bonitas que eu vi ao vivo na minha vida. É impossível estar bem posicionado para todas as ondas, e eu fiquei muito feliz em estar no lugar certo em uma das ondas mais comentadas da temporada. O surfista Tyler Newton ganhou até um prêmio por ter surfado essa onda. Eu estava posicionado um pouco mais para o fundo, praticamente sobre a junção enquanto vários fotógrafos nadavam para não tomar essa onda na cabeça, o resultado foi esse ângulo mais alto. Já me perguntaram se eu estava em cima de um jet ski, ou se a câmera estava em um desses drones (risos). Abaixo, Bruce Irons em Pipeline. Fotografar Pipeline da areia, no final de tarde, é uma luz bem difícil, pois o sol ilumina a parte de trás da onda e o surfista dentro do tubo fica na sombra. Tenho feito muitas fotos em baixa velocidade ultimamente, o rendimento da sessão é pequeno, mas o resultado é único.

4 46 47 Não é comum ver surfistas em Off the Wall surfando de monoquilha, sem cordinha, e principalmente com esse estilo. Nessa eu tenho que admitir que o Alex Knost facilitou muito o meu trabalho. Bela textura, cor da água e o posicionamento dele na prancha com a mão na parede da onda. Nesse mesmo dia, pouco antes de escurecer, vi os surfistas Ellis Ericson e Alex Knost chegando com uma monoquilha. Não hesitei em focar nesses dois surfistas e com pouca luz no fim do dia ajustei minha câmera para fazer fotos em baixa velocidade. Gosto da sensação de velocidade que esse efeito causa.

5 À esquerda, essa viagem ao Chile foi muito especial, e esse foi um daqueles momentos que você parece prever o que vai acontecer. No meio da copa das árvores, à medida que o sol foi descendo, apareceu um feixe de luz que iluminava uma trilha de terra. Lembro-me de olhar para a cena e pensar: só falta um assunto sendo iluminado por esse feixe. Segundos depois vi os dois surfistas caminhando pela trilha. Foi só esperar o momento exato. Acima, os fins de tarde são conhecidos por proporcionar luzes especiais. Pouco tempo antes de fazer essa foto do surfista Yago Dora, no Chile, o clima estava bem frio e uma névoa cobria toda a paisagem, impossível de prever que esse registro seria possível. Gosto muito dos planos provocados pela onda sobrepondo as pedras e o brilho na água que está saindo da manobra. Abaixo, durante a viagem que fiz para Fiji, Dane Ward era o responsável por auxiliar os surfistas hospedados no resort da ilha de Tavarua. Essa foto foi feita durante a manhã, quando a luz fica bem na frente da onda de Cloudbreak, logo após o sol nascer. É impressionante o azul do mar, e preenchendo todo o quadro fica bem visível o peso dessa onda

6 50 Acima, Junior Faria, em Santos. Sempre que tenho a opção, gosto de incluir elementos que identificam ou caracterizam o ambiente que estou fotografando. Essa estátua da Tomie Ohtake tem formas bem orgânicas, me agrada o movimento dos braços do Junior sobrepondo a obra. Abaixo, esse é meu amigo Alexandre Wolthers no Guarujá. O curioso dessa foto é o longboard estar totalmente coberto pela água, dando a impressão que ele está flutuando na onda. À direita, acima, essa foto foi feita logo após o show. É muito legal receber dois ídolos no local onde eu passei grande parte da minha infância e iniciei meu contato com o surfe. Donavon é uma pessoa muito carismática e gosto da sensação de backstage que esse retrato passa. À direita, abaixo, Donavon depois do show no Quebra Mar de Santos. O interessante dessa foto é visualizar o ângulo inverso, onde a fotografia aquática possibilita mostrar a sensação do surfista sendo observado e fotografado por várias pessoas na arquibancada. 51

7 52 53 Em um mercado cada vez mais competitivo, Rafaski faz sua busca para se diferenciar da mesmice, e usar seu olhar peculiar para apresentar sempre a luz perfeita. Essa união de qualidade e profissionalismo vem elevando seu trabalho e cada vez mais externando o constante aprendizado, que vem lhe rendendo tantos frutos. Rafael sempre se recorda da frase que escutou em uma palestra do filósofo brasileiro Mario Sérgio Cortella: Emprego é fonte de renda e trabalho... é fonte de vida. Unindo os dois, Rafael tem fotos publicadas nas melhores revistas de surfe do mundo, além de trabalhar como cinegrafista para alguns programas do Canal OFF. Nessa onda do Tyler Warren eu fotografei toda a sequência, mas esse momento foi o que me chamou mais a atenção. Acredito que o objetivo da fotografia é provocar, e achei interessante não revelar todo o conteúdo da imagem. O engraçado dessa foto é que no meio de tanta água, uma prancha consideravelmente grande vira um detalhe.