UM ESTUDO DA COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA PARA A CIDADE DE CAMPINA GRANDE PB.
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- Milena Azevedo Cerveira
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1 UM ESTUDO DA COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA PARA A CIDADE DE CAMPINA GRANDE PB. Elton Silva Cruz, Engenheiro Civil; Djalena M. de Melo, Engenheira Civil; Melissa F. da Silveira, Graduanda da UFCG. Departamento de Engenharia Civil. End.: Abdon Napy, 61 - Pres. Médici, Campina Grande, Paraíba, Brasil. eltonwcruz@yahoo.com RESUMO - A cobrança pelo uso da água está presente na legislação brasileira desde o Código das Águas, de 1934, que era, até 1997, com a instituição da Política Nacional de Recursos Hídricos, o único instrumento legal, abrangente e específico sobre recursos hídricos em nível nacional. Para tanto, o presente trabalho apresenta uma explanação sobre a cobrança pelo uso da água no estado de São Paulo, a qual serviu de ferramenta na elaboração de uma simulação para a cobrança no estado da Paraíba, em especial, na cidade de Campina Grande. Utilizou-se, para tal simulação, os coeficientes aplicados para o Estado de São Paulo pela CETESB, aplicando para a cidade de Campina Grande sua real situação. Os estudos da cobrança foram feitos para a Companhia de Água e Esgoto da Paraíba CAGEPA, para uma empresa local e para irrigação, onde foram encontrados seus referentes valores. PALAVRAS-CHAVE: Cobrança, Campina Grande, preço de água. INTRODUÇÃO Cobrança no Estado de São Paulo No Estado de São Paulo, os debates começaram com a criação do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, em novembro de 1987, que definiu como seus objetivos: a formulação da Política Estadual de Recursos Hídricos, a elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos e a proposta de lei de instituição do sistema estadual de gerenciamento de recursos hídricos. Estes objetivos básicos constam especificamente na Seção II, dos Recursos Hídricos, da Constituição Paulista de 1989, incluindo a cobrança pelo uso da água, no artigo 211. (GARRIDO, 2001). A partir daí, o Departamento de Águas e Energia Elétrica - DAEE, principalmente por meio de sua Diretoria de Recursos Hídricos, elaborou diretamente ou por consultoria
2 contratada, uma série de estudos, incluindo as simulações, que estão sucintamente descritas a seguir. O primeiro estudo de simulação de cobrança, no DAEE, foi executado por equipe interna com colaboração do consultor Prof. Eduardo R. Yassuda, em 1991, para a Bacia do Rio Piracicaba, bacia declarada crítica e modelo básico para fins de gestão por decreto do Governador do Estado, em Cobrança no Estado da Paraíba A cobrança do uso da água é um instrumento gerencial a ser aplicado pela sua utilização, e obedecerá aos seguintes critérios, entre outros, que o Conselho Estadual de Recursos Hídricos vier a estabelecer: I - Considerar as peculiaridades das Bacias Hidrográficas, inclusive o excesso ou déficit da disponibilidade hídrica; II - Considerar a classe de uso preponderante, em que se enquadra o corpo de água onde se localiza o uso ou derivação, o consumo efetivo e a finalidade a que se destina; III - Estabelecer a cobrança pela diluição, transporte e assimilação de efluentes de sistemas de esgotos ou outros contaminantes de qualquer natureza, considerando a classe de uso em que se enquadra o corpo de água receptor, a proporção da carga lançada em relação à vazão natural ou regularizada, ponderando-se, dentre outros, os parâmetros orgânicos físicoquímicos e bacteriológicos dos efluentes. No caso do critério III, os responsáveis pelos lançamentos de poluentes são ainda obrigados a cumprir as normas e padrões legalmente estabelecidos, relativos ao controle de poluição das águas. No caso de usos específicos de água, sujeitos à legislação federal, os usuários deverão cumpri-la integralmente. As tarifas de cobrança e isenções do uso da água serão fixadas anualmente pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos, observadas as normas legais aplicáveis à espécie. MATERIAL E MÉTODOS Valores a serem cobrados no Estado de São Paulo: Proposta de Preços Unitários Básicos e Coeficientes Multiplicadores
3 O Quadro a seguir é uma proposta de Preços Unitários Básicos - PUB como ponto de partida para discussão. Quadro 1 - Proposta de Preços Unitários Básicos Ítem Unidade Símbolo PUB (Preço Unitário Básico) em R$ 1. Captação m 3 PUB Cap 0,01 2. Consumo m 3 PUB Cons 0,02 3. Lançamentos - de DBO kg DBO PUB DBO 0,10 - de DQO kg DQO PUB DQO 0,05 - de RS litro PUB RS 0,01 - de CI kg PUB CI 1,00 Limites superiores dos Preços Unitários Finais de cada parâmetro Os Preços Unitários Finais calculados deverão ser limitados superiormente visando evitar que se alcancem cifras demasiadamente elevadas. Assim sendo, embora os Comitês tenham liberdade de estabelecer os coeficientes multiplicadores de acordo com os seus interesses regionais ou locais, os Preços Unitários Finais para cada parâmetro não deverão ser superiores aos do quadro seguinte (MOTTA, 1998):
4 Quadro 2 Proposta de Preços Unitários Finais. Item Unidade Preço Unitário Máximo(R$) 1. Captação m 3 0,05 2. Consumo m 3 0,10 3. Lançamentos - de DBO kg DBO 1,00 - de DQO kg DQO 0,50 - de RS litro 0,10 - de CI kg 10,00 RESULTADOS OBTIDOS Adotando-se Preços Unitários Básicos sugeridos, conforme descrição dos ítens precedentes, são apresentados, a seguir, alguns casos considerados típicos para fins de cobrança, com o objetivo de se obter os primeiros números para reflexão, para a cidade de Campina Grande PB. O caso de Cobrança sobre Serviços de Água e Esgoto - CAGEPA Considerou-se, para a cidade de Campina Grande, com uma população de aproximadamente habitantes, cota per capita de 200l/hab/dia, captando, portanto, x 200 x 30 = m 3 /mês e produzindo: x 54 gdbo/hab/dia x 30 = kg DBO/mês x 108 gdqo/hab/dia x 30 = kg DQO/mês x 0,7 x 6 ml/l = litros de RS por mês Carga inorgânica = não avaliada. Admitiu-se duas situações: Sem tratamento dos efluentes e com tratamento a nível secundário(n=60%). a) Para a situação em que não há tratamento de esgotos, a cobrança resultaria nos seguintes valores, considerando-se os preços unitários básicos. Sobre esses preços deveriam ser
5 aplicados os coeficientes multiplicadores, que, no presente caso, por simplicidade, foram admitidos como sendo iguais a 1,00: Pela Captação: x 0,01 = R$ ,00 Pelo Consumo: 30% = x 0,02 = R$ ,00 Pelo lançamento de DBO = x 0,10 = R$ ,00 Pelo lançamento de DQO = x 0,05 = R$ ,00 Pelo lançamento de Resíduos sedimentáveis. = x 0,01= R$ ,00 Pelo lançamento de Carga inorgânica Cobrança total, caso (a) não avaliada R$ ,00 p/mês. b) Supondo que essa mesma cidade (de hab.) já efetua o tratamento de esgotos com remoção de 60%, pois o sistema funciona como uma lagoa anaeróbica, onde já é sabido que a quantidade da carga orgânica removida é da ordem de 50% a 60%, logo usando a sua máxima eficiência a cobrança resultaria em: Pela Captação: x 0,01 = R$ ,00 Pelo Consumo 30% = x 0,02 = R$ ,00 Pelo lançamento de DBO = x 0,40 x 0,10 = R$ ,00 Pelo lançamento de DQO = x 0,40 x 0,05 = R$ ,00 Pelo lançamento de Resíduos sedimentáveis = remoção de 100 % = 0,00 Pelo lançamento de Carga inorgânica Cobrança total, caso (b) não avaliada R$ ,00 por mês Cobrança das indústrias localizadas dentro da rede de distribuição/coleta DBO: É apresentado, a seguir, o exemplo de uma indústria com predominância de cargas de a) O exemplo a seguir é de uma indústria A do ramo de Bebidas, com base nos seguintes dados: Vazão captada = l/h x 10 h/d = 100 m 3 /dia Vazão lançada = l/h x 10 h/d = 80 m 3 /dia
6 DBO = 4,9 ton DBO/ano/12 = 400 kg DBO/mês DQO adotado= 2 x DBO; RS adotado= 1 ml/l e Carga inorgânica desprezível. Resulta-se nos seguintes valores para a cobrança: Captação = 100 x 30 x 0,01 = R$ 30,00 Consumo = (100-80) x 30 x 0,02 = R$ 30,00 DBO = 400 x 0,10 = R$ 40,00 DQO = 800 x 0,05 = R$ 40,00 RS = 80 x 30 x 1ml/l x 0,01 = R$ 24,00 Cobrança total mensal R$ 164,00 Os reflexos na Irrigação Apresenta-se, a seguir, um caso de irrigação: a) Irrigação por Pivô Central - cultura de feijão, no período de estiagem: Os valores vistos a seguir foram obtidos com valores referenciados do sítio Várzea, no município de Lagoa Seca, cidade situada a 5 km de Campina Grande. Quadro 3 - Irrigação do feijão carioquinha por pivô-central no período de estiagem. Item Unidade Mínimo Médio Máximo Volume de água m3/ha Produtividade kg/ha Custo de produção (*) R$/ha Receita Bruta R$/ha Cobrança (Preço Unitário Básico) R$/ha 24,00 57,00 83,00 Cobrança/Custo de Produção % 5,0 10,9 17,6 Cobrança/Receita Bruta % 1,9 5,6 8,5 (*) Excluída a remuneração do produtor RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a Companhia de Água, o faturamento estimado do serviço de água e esgoto, para essa cidade, considerando-se uma tarifa média para a água de R$ 0,70/m 3 e cobrança da tarifa
7 de esgotos no mesmo valor da água, é de cerca de ( m 3 /mês x 0,7)x2 = R$ ,00 por mês. Os reflexos da cobrança, baseados no preço unitário básico, são os seguintes: Para a cidade sem tratamento, a cobrança representa cerca de 6,5% do faturamento e, portanto, a conta de água e esgoto do consumidor residencial seria majorada em aproximadamente 6,5%; Se a cidade possuir tratamento de esgoto em nível secundário, a cobrança cairia bastante e representaria apenas 1,6% do faturamento. Com esses valores para os serviços de abastecimento público, podemos representar para o usuário da cidade em estudo (Campina Grande) o valor aproximado de R$ 0,15, o que representa 0,075% do valor de um salário mínimo, tendo como média um consumo de 15 m 3 por residência. Já para a indústria A equivale a uma população de cerca de habitantes (300 m 3 /dia/0,2m 3 /hab/dia = hab). Considerando-se 5 habitantes por apartamento, a indústria é equivalente a um edifício de 300 apartamentos, o que resultaria teoricamente numa cobrança de R$1,00 por apartamento por mês, valores estes considerados razoáveis e suportáveis desde que se admita a validade dessa comparação. Na irrigação, a média dos casos avaliados, a cobrança representaria 5,6% da receita bruta no período mais seco. Percebe-se que a diferença nos preços é substancial, dependendo dos enfoques utilizados ao estabelecer os valores da cobrança. Caso o limite fosse 1% sobre a receita bruta, a cobrança seria em média de R$ 12,36/ha. CONCLUSÃO No Brasil, a cobrança ainda não é um instrumento regularizado em todos os Estados. Muito pelo contrário, apenas o Estado do Ceará exerce esse instrumento, para a cobrança pelo uso d água. Analisando um exemplo de cobrança elaborado pela CETESB, usou-se tal modelo para fazer uma simulação da cobrança do uso d água para a cidade de Campina Grande PB, verificando os preços referentes à captação, abastecimento, despejo (humano e
8 industrial) e irrigação, todos os cenários foram simulados referentes aos coeficientes estabelecidos pela CETESB e visto o comportamento para a realidade de Campina Grande. É válido salientar que esse exemplo é apenas uma maneira simples de avaliar o custo da cobrança pelo uso d água aos usuários da cidade, para termos uma pequena idéia de quanto representaria no bolso de cada usuário. No nosso estudo, obtivemos um valor de R$ 0,15, o que representa 0,075% do valor de um salário mínimo, para o abastecimento público. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, LEI N o 6.308, de 02 de Julho de Institui a Política de Recursos Hídricos do Estado da Paraíba. BRASIL, LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal e altera o art. 1.º da Lei 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei 7.990, de 28 de dezembro de GARRIDO, Raimundo, Programa Nacional de Recursos Hídricos, São Paulo MOTTA, R. S. Utilização de critérios econômicos para a valorização da água no Brasil. Texto para Discussão N.º 556. Brasília: IPEA, 1998.
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