ENSINO E PESQUISA, UMA PRÁTICA INDISSOCIÁVEL NO ENSINO DE GEOGRAFIA NA ESCOLA SANTA CLARA DE ASSIS, ARAPIRACA-AL

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1 ENSINO E PESQUISA, UMA PRÁTICA INDISSOCIÁVEL NO ENSINO DE GEOGRAFIA NA ESCOLA SANTA CLARA DE ASSIS, ARAPIRACA-AL Rafael Vieira da Silva 1 Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL rafaelgeouneal@hotmail.com INTRODUÇÃO A pesquisa como o ato de procurar, indagar, fazer questionamentos e a partir destes, reflexões de fatos, objetos, dados, conceitos em diferentes campos do conhecimento tem gerado uma sociedade crítica e reflexiva, entretanto na educação básica, sobretudo no Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) essa prática tem deixado a desejar. Desenvolver-se pela pesquisa tornou-se um mecanismo de suma importância para o desenvolvimento do professor na atualidade e uma necessidade fundamental para o aluno. Sendo assim, a relação entre ambos fundamenta-se na parceria, onde o professor é o mediador e o aluno um parceiro desse processo. O propósito dessa pesquisa surgiu partindo da necessidade de desenvolver no aluno da Escola de Ensino Fundamental Santa Clara de Assis Arapiraca/AL, o senso investigativo, necessário para ampliar a educação pela pesquisa e a contextualização, intertextualidade e reflexão argumentativa exigidas nos processos atuais de avaliação. Por conseguinte, construir essa prática partindo do questionamento reconstrutivo deve ser uma ação diária exercitada por professores e alunos. A partir deste princípio, vale lembrar à problemática e a hipótese que deu origem ao presente trabalho. Nesse sentido, teve-se como problema a prática então realizada pelos alunos para consumar a pesquisa na escola (copiar/colar), muito comum em pesquisas atuais, inclusive em alguns cursos de graduação. Como hipótese, o professor 1 Graduado de Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual de Alagoas, Professor da Rede Particular de Arapiraca e da Rede Pública Estadual de Alagoas.

2 sem o hábito de usar a pesquisa fica limitado à rotina imposta pelo sistema, reproduzindo pessoais pouco criativas, críticas e argumentativas. Assim sendo, o objetivo geral do trabalho se pautou em fomentar nos alunos da escola citada o desenvolvimento de pesquisas, sensibilizando-os para que se tornem transformadores de opinião com consciência crítica para a construção de novos conhecimentos e o repasse desses com segurança e amplo desenvolvimento. Assim, espera-se que a prática da educação pela pesquisa torne-se mais presente na Educação Básica, sobretudo porque é nesta fase que a criança começa a desenvolver seu intelecto. Quando, esta não é questionada e/ou é ignorada em seus questionamentos, passa a desinteressar-se por esta prática. MATERIAL E MÉTODOS A metodologia utilizada constituiu-se de revisão bibliográfica, criação e organização de um grupo de estudos, divulgação, exposição nas turmas de 6º ao 9º ano sobre a importância da pesquisa, inscrição dos alunos, reuniões duas horas por semana, orientação planejada sobre a pesquisa, orientações para a produção própria, bem como análise e interpretação dos resultados obtidos. O Grupo de Estudos e Pesquisa em Geografia foi desenvolvido com a participação de alunos do 6º ano 9º ano da Escola Santa Clara de Assis e teve início em Março de O critério de participação no Grupo se deu a partir de inscrição, seguida de entrevista, onde os alunos foram avaliados levando em consideração os itens: interesse, curiosidade e disponibilidade para participar. Com o Grupo formado, foram apresentados os principais projetos a serem desenvolvidos, entre eles: O Projeto Curiosidade Geográfica A Pesquisa no Ensino Fundamental II, projeto este que deu origem a Revista GEPGEO. Nessa etapa, os discentes escolheram temas a serem pesquisados, para que posteriormente criassem seus textos. Todos os temas partiram de questionamentos reconstrutivos, uma das principais propostas desse trabalho.

3 Destarte, com os textos revisados, a revista começou a ser produzida e, por conseguinte distribuída em Arapiraca e cidades circunvizinhas. O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM COM O QUESTIONAMENTO RECONSTRUTIVO A pesquisa como meio científico sempre ficou mais voltada para o âmbito do ensino superior, sendo assim, a educação básica se conformava com o ensinar por ensinar. A reprodução de conteúdos era a regra principal. O aluno para ser bom, não podia questionar, mas sim, reproduzir o conteúdo tal como foi apresentado. Já o professor assumia um papel autoritário de dono do saber. Em uma frente contrária, Demo (2007) expõe a necessidade da educação pela pesquisa, onde o professor ganha o papel de mediador e o aluno o de parceiro de trabalho. Neste contexto, Lima (2012, p. 51) expõe seu posicionamento a respeito do tema Aqui precisamos da pesquisa como eixo para considerar o movimento que acontece no trânsito entre a cultura universitária e a cultura escolar, mediados pelas relações desenvolvidas pelos sujeitos inseridos nesse processo. Sendo assim, o questionamento reconstrutivo faz-se extremamente necessário e relevante no processo ensino aprendizagem da atualidade. Por questionamento, compreende-se a referência à formação do sujeito competente, no sentido de ser capaz de, tomando consciência crítica, formular e executar projeto próprio de vida no contexto histórico. Demo (1996, p.10). O mesmo autor utiliza a referência de Grossi & Bordin (1993) para definir o termo reconstrução, sendo assim colocado como o ato de compreender-se a instrumentação mais competente da cidadania, que é o conhecimento inovador e sempre renovado. Oferece,

4 ao mesmo tempo, a base da consciência crítica e a alavanca da intervenção inovadora, desde que não seja, mera reprodução, cópia, imitação. Quando se trabalham estes dois termos juntos, faz-se necessária uma interação maior na relação professor-aluno, isso porque para que o discente utilize essa prática de forma ativa, ele precisa se espelhar naquela que a apresentou, neste caso o docente. Nesse processo cabe ao professor apresentar de forma clara as etapas e objetivos da pesquisa, sempre partindo do questionamento reconstrutivo. O aluno até então, pode não conhece essa possibilidade de investigação. A mediação entre os dados ou informações coletadas na primeira fase da pesquisa precisa ser conciliada com sua interpretação e compreensão. Segunda fase desse processo. Numa última etapa o professor como mediador incentivará o aluno a fazer suas próprias conclusões, chegando assim a um texto final. Educar pela pesquisa não é uma tarefa fácil, entretanto é essencial. O professor tem como função social formar a visão crítica e intermediar as informações distribuídas e percebidas pelos alunos com suas devidas conclusões, sempre incentivando a reflexão. Destarte, vivemos hoje em uma sociedade de transformações constantes e que precisam ser interpretadas e questionadas sempre. A PESQUISA NA DISCIPLINA GEOGRAFIA Quando se fala em pesquisa nas áreas sociais, em particular na Geografia nos deparamos com inúmeras possibilidades. Esse recurso de compreensão de concepções, ideias, conceitos e imagens nos possibilita relacionar e compreender os fatos do cotidiano. Sendo assim, a pesquisa se apresenta como ferramenta indispensável para Geografia. Segundo as concepções de Demo (2007) pesquisa é a atividade científica pela qual descobrimos a realidade", realidade esta que pode ser alterada ou relativizada mediante ao tipo de pesquisa a ser realizado e o método adotado. As ciências são responsáveis por promover um hibridismo de ideias, formas, conteúdos e

5 principalmente reflexões das relações sociais, principalmente a Geografia como a ciência responsável pelo seu estudo ao lado a sociologia. Por muito tempo a Geografia, de forma tradicional, visava apenas apresentar o espaço geográfico no sentido de memorização. Saber conteúdos pré-estabelecidos nos currículos era o principal objetivo, dando uma característica reprodutora, em outras palavras, decorar conteúdos e expressá-los sem nenhum suporte crítico era uma prática comum e até certo ponto obrigatória. Sendo assim, o professor era mero instrutor. Em uma direção contrária surge uma Geografia reflexiva, onde o discente é o ator principal do processo e o professor um mediador. Nesta condição o aluno deixa de ser objeto de ensino, para tornar-se parceiro de trabalho e a pesquisa torna-se o fio condutor dessa relação. A PESQUISA GEOGRÁFICA NA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL SANTA CLARA DE ASSIS, ARAPIRACA - AL O incremento de projetos na escola é de extrema importante para o desenvolvimento crítico e cognitivo dos alunos. Sabendo disso, no decorrer de 2013 foi desenvolvida uma série de projetos na disciplina Geografia, com o a finalidade de despertar no aluno a criticidade necessária para ele poder opinar e tirar suas próprias conclusões sobre as relações sociais, ambientais, econômicas ou políticas de seu bairro, cidade, estado, região, país, ou até mesmo do planeta. Para tanto, foi montado na escola um grupo de estudo destinado aos alunos do Ensino Fundamental II. Onde partindo dele, surgiram os principais projetos geográficos do ano de O GEPGEO: Grupo de Estudos e Pesquisas em Geografia.

6 O GEPGEO nasceu nas férias entre 2012 e 2013 e teve seu início com o fim do recesso, mais precisamente no final de fevereiro. O grupo nasceu com o objetivo de incrementar o desenvolvimento de projetos de pesquisa, produção intelectual e permitir aos estudantes estarem alcançando dois objetivos: a construção da solidariedade pela participação comunicativa e a expansão da inteligência pessoal pela participação no grupo. No dia 14 de março, ocorreu a primeira reunião do grupo (imagem 1). Nesse momento formam apresentados alguns dos possíveis projetos a serem desenvolvidos. As reuniões aconteceram de uma a duas vezes por semana com média de tempo de duas horas. Esse período era dedicado para que, os alunos desenvolvessem as atividades dos projetos partindo de uma coletividade. Vale lembrar que, os projetos eram pesados e executados para atender a todos os discentes do Ensino Fundamental II e algumas vezes, também aos alunos do 4º e 5º ano. Imagem 1: membros do Grupo de Estudos e Pesquisa em Geografia Fonte: Rafael Vieira Educação pela pesquisa na Escola Santa Clara de Assis - O Projeto Curiosidade Geográfica: a Pesquisa no Ensino Fundamental II. Como já foi exposta anteriormente a educação pela pesquisa na Escola Santa Clara, durante o ano de 2013 foi intensa. Contudo, no segundo semestre ela ganhou um amadurecimento real. Quando foi incrementado o Projeto Curiosidade Geográfica: a Pesquisa no Ensino Fundamental II, onde a investigação seguiu as três fases de

7 desenvolvimento da produção do conhecimento apresentadas por Demo (1996), que são: procurar materiais, interpretar e formular. O Projeto surgiu com a finalidade de incentivar os alunos da ESCA para o desenvolvimento de pesquisas, a fim de que estes se tornem transformadores de opinião com consciência crítica e construtores de conhecimento. Para tanto, no mês de agosto foi apresentado nas reuniões do grupo as principais fases da pesquisa, bem como o passo a passo para seu desenvolvimento. Neste momento, o novo projeto foi recebido com entusiasmo pelos membros do grupo e por outros alunos que solicitaram a participação no projeto. Destarte, partimos para o segundo momento. Definir os questionamentos que seriam pesquisados por cada aluno. Essa definição partiu de indicações e escolhas próprias. Com os questionamentos definidos, tem início então, a orientação para as pesquisas com a fundamentação teórica em livros, internet, revistas, etc. Como as reuniões aconteceram na sala de informática, o principal referencial teórico foi encontrado na internet. Neste caso, a mediação se faz extremamente importante, pois a receita pronta está logo ali. Está fase em sua função inicial de coletar matérias sobre o tema, durou aproximadamente um mês, sendo que ela precisou ser executada constantemente durante a elaboração própria dos alunos. Logo em seguida, dava-se o momento de reflexão sobre o questionamento e os dados coletados. Nesta etapa, a discussão entre professor e aluno é fundamental, para que não aconteça uma confusão de informações. A preguiça pode surgir e o trabalho pode não sair como o esperado. Por fim, chegou o momento chave na educação pela pesquisa. O exercício da elaboração textual. Momento este, onde as informações coletadas se relacionam com as reflexões do aluno. Faz-se importante nessa ocasião elaborar um roteiro de pensamentos, para que o discente tenha maior propriedade na hora de escrever, Principalmente o do 6º ano. Após algumas correções e novas buscas por informações, os textos ficaram prontos. Foram 15 as produções textuais destinadas à produção da Revista GEPGEO.

8 Ainda durante, as etapas finais da pesquisa, foi lançado um edital para que os alunos da Escola produzissem a capa da revista. Com uma grande quantidade de inscritas, foi necessária votação para sua escolha. Imagem 2: Capa de Revista GEPGEO Fonte: Rafael Vieira Muitas vezes, uma das justificativas dada pelos professores para não produzir um recurso didático é a impossibilidade financeira, dos alunos ou da escola, contudo no projeto realizado na Escola Santa Clara de Assis, mesmo sendo privada, os recursos financeiros destinados a produção da revista foram gerados por uma rifa. Prática esta que pode ser realizada em qualquer instituição de ensino seja ela pública ou privada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Educar pela pesquisa, tem como objetivo principal a formação de uma sociedade reflexiva sobre os fatos da contemporaneidade, bem como a mudança na posição do aluno nas relações estabelecidas pelo ensino-aprendizagem. Neste sentido, o discente deixa de ser o objeto do ensino para se tornar o sujeito desse processo. Destarte, esta prática mostrou-se de fundamental importância no desenvolvimento de técnicas educativas na Escola de Ensino Fundamental Santa Clara de Assis, com enfoque na Geografia, tendo também reflexos em várias outras áreas do conhecimento.

9 Vale lembrar que, educar pela pesquisa partindo do questionamento reconstrutivo não deve ser uma tarefa isolada a uma disciplina. Ela deve estar presente nos diferentes níveis da educação, obedecendo às habilidades pertinentes a cada faixa etária. Neste contexto, os resultados que culminaram nessa pesquisa tratam da realidade vivida por professores e alunos da Escola Santa Clara de Assis na disciplina Geografia. As implicações obtidas com o projeto confirmaram a hipótese inicialmente estabelecida. Vale lembrar que a hipótese dessa investigação perpassa pelo professor que muitas vezes sem o hábito de usar a pesquisa fica limitado à rotina imposta pelo sistema, e transforma seu aluno em objeto do ensino. No que se refere à pesquisa, se percebeu também uma maior motivação dos alunos pelos estudos geográficos. Chegando eles muitas vezes a fazer pesquisas sem a solicitação do professor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARLOS, Ana Fani A. (Org.). A Geografia na sala de aula. 3.ed. São Paulo: Contexto, (Coleção Repensando o Ensino). DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. São Paulo: Editores Associados, 8ª edição, 2007., Pedro. Professor do futuro e reconstrução do conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, ESCOLA SANTA CLARA DE ASSIS, PPP Projeto Político Pedagógico / FREITAS, Inalda Maria Duarte. Avaliação como prática reflexiva do estágio curricular supervisionado nos cursos de licenciatura / Inalda Maria Duarte Freitas. Maceió: Q Gráfica, 2011.

10 GROSSI, Esther & BORDIN, Jussara. Paixão de Aprender. 5. Ed. Petrópolis: Vozes, LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e aprendizagem da profissão docente. Brasilia: Liber Livro, (Coleção Formar). PONTUSCHKA, N. N.; PAGANELLI, T. I. CACETE, N. H. Para Ensinar e Aprender Geografia. São Paulo: ed. Cortez, (Coleção docência em formação. Série Ensino Fundamental). SILVA, Rafael Vieira da. A pesquisa geográfica no ensino básico: experiência vivida na Escola de Ensino Fundamental Santa Clara de Assis, Arapiraca-AL f. (Monografia de graduação em Geografia). Universidade Estadual de Alagoas UNEAL, Arapiraca, SACRISTÀN, J. Gimeno; PÉREZ GOMES, A. I. Compreender e transformar o ensino. 4. ed. Porto Alegre: Armad, 1998.