Especialistas apontam obstáculos e soluções para o Brasil avançar
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- Manuela Porto Figueiredo
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1 AGENDA BAHIA Especialistas apontam obstáculos e soluções para o Brasil avançar Além das reformas tributária e trabalhista, país precisa investir em infraestrutura eficaz, na redução do custo da energia e na melhoria dos gastos do governo Flávio Oliveira (flavio.oliveira@redebahia.com.br) 25/11/ :45:00Atualizado em 25/11/ :24:29 Todas as conquistas alcançadas pelo Brasil estão por um fio. A cada dia que passa, a economia do país perde um pouco a sua capacidade de competir em pé de igualdade com a de outros países. Uma economia sem competitividade significa empregos em risco, retração de investimentos, menor arrecadação (menos dinheiro para educação, saúde, segurança e infraestrutura). Pior, sem educação, saúde, segurança e infraestrutura, começa uma fase de ciclo vicioso, pois o país vai perder ainda mais competitividade. O ranking mundial de competitividade, divulgado anualmente pelo International Institute for Management Development (IMD) e pela Fundação Dom Cabral (FDC), mostra o Brasil em 54º lugar em uma lista de 60 países.
2 Em 2010, o país estava na 38ª colocação. Ou seja, perdeu 16 posições em quatro anos. O professor Carlos Arruda, da FDC, é o responsável pelo levantamento de dados brasileiros utilizados na construção do ranking. E ele está pessimista. Arruda destaca que o país já vive em um ciclo vicioso em termos de competitividade. Entre os fatores, a ausência de reformas legislativas somada a uma infraestrutura precária e, a partir deste ano, a uma preocupação sobre a segurança e o custo da energia. Sem reformas e investimentos básicos, a tendência é só piorar, observa. O professor da Fundação Dom Cabral, contudo, reconhece que há setores da economia brasileira que são bastante competitivos. Porém, diz, também acabam afetados pelo que não vai bem. A competitividade tem de ser vista de maneira sistêmica, explica. A Embraer é uma empresa que exporta produtos de alta tecnologia, mas precisa de mão de obra qualificada e o Brasil tem deficiência educacional. A empresa terá de enfrentar um gargalo na área de recursos humanos, exemplifica. Contaminação Do mesmo modo, os ganhos de competitividade da agricultura não servem para nada se a soja, para ser exportada, encontra estradas, ferrovias e portos ruins. A infraestrutura reduz a competitividade adquirida dentro da fazenda, complementa. O economista Cláudio Frishtack, da Inter B. Consultoria, acredita que a situação chegou ao ponto atual devido à ausência de rigor na análise de custo e benefício de investimentos públicos. Por exemplo, a Transposição do Rio São Francisco. Alguém fez a análise custo versus benefício desse investimento? Fez a conta do que se poderia ganhar com a obra em gastos e se isso geraria prejuízos?, questiona.
3 Sem reformas e investimentos básicos, a tendência é só piorar Carlos Arruda, professor da FDC Para Frishtack, o quadro brasileiro piorou muito a partir de 2006, quando o governo federal abandonou a agenda de reformas legislativas e institucionais iniciadas na década de Naquela década, diz, o país avançou na modernização das agendas macro e microeconômica. Ocorreram as privatizações, que foram boas. Tudo bem que talvez poderiam ter sido feitas com maior exigência regulatória, mas foram boas, diz. Esse processo seguiu até o primeiro mandato do presidente Lula, quando a responsabilidade fiscal não foi rompida e a lei das Parcerias Público-Privadas (PPP) foi aprovada. Foram 12 anos de avanços interrompidos a partir do segundo governo Lula. Acho que Dilma tentou dar um choque, mas recuou, avalia.
4 Soluções Com o diagnóstico feito, Frishtack aponta uma série de medidas que podem ser tomadas para fazer o país avançar e voltar a ostentar condições de competitividade econômica, pois acredita que nem tudo está perdido. Não é nenhum bicho de sete cabeças, atesta. Carlos Arruda, da FDC, concorda. O Brasil possui vantagens em relação a outros países. O tamanho da economia é um deles, o potencial de consumo é outro, ainda mais com uma ótima taxa de emprego. É uma economia saudável, mas sensível. E ainda atrai investimentos, afirma Arruda. Concorrentes A análise de Carlos Arruda, tendo por base o ranking das economias mais competitivas do mundo, leva em conta que a queda de posições do Brasil não se deu por causa da perda dessas vantagens, mas sim pelo fato de que os outros países ganharam mais competitividade ao avançar em reformas que se refletiram em um melhor ambiente para negócios. Um dos temas avaliados é a eficiência empresarial que, de acordo com a FDC, foi a principal responsável pela perda de posições do Brasil no ranking deste ano. Em 2014, o país ocupa a penúltima posição (59ª) em relação à produtividade. Diferentemente dos últimos anos, em que os demais subfatores de competitividade relacionados à atividade empresarial sustentavam condições competitivas, em 2014 todos os subfatores e a maioria das variáveis relacionadas indicam perda de competitividade e otimismo, relata a FDC no texto em que apresenta a pesquisa. As principais mudanças legislativas, segundo Carlos Arruda, devem ocorrer nas áreas trabalhista e tributária para diminuir os elevados custos de produção no Brasil. Frishtack concorda: Na nossa legislação trabalhista falta flexibilidade e sobram incertezas quanto a regras. Segundo o consultor internacional, a falta de clareza das regras de contratação e gestão de mão de obra deixa o empresário exposto a uma justiça desequilibrada, que tende ao trabalhador.
5 Podemos estar em um beco sem saída. Mas é possível fazer e é possível avançar Carlos Frishtack, economista Em relação ao sistema tributário, o economista acredita que pior que taxas e impostos altos é a complexidade do sistema. Gera dúvidas. As empresas nunca sabem se estão fazendo certo ou errado. Enquanto isso, o governo gasta mais e, por isso, tem de tributar mais. Além dessas duas reformas, a receita de Frishtack para que o Brasil seja mais competitivo inclui ainda o aumento de investimentos na infraestrutura do país e melhoria na gestão pública, com a adoção de metas-alvo na educação e maior transparência em relação ao gasto público como forma a garantir explicações claras e rigorosas à sociedade da relação custo-benefício desses investimentos. O Brasil precisa encarar de frente seus problemas. Podemos estar em um beco sem saída. Mas é possível fazer e é possível avançar, pontua. Economia baiana precisa de infraestrutura de logística e educação A economia baiana sofre dos mesmos problemas de competitividade que a brasileira. Com dois agravantes: baixa escolaridade do trabalhador e infraestrutura ainda mais deficiente que a do Sul e Sudeste do país.
6 O Nordeste como um todo está em grande desvantagem em relação a São Paulo, por exemplo, por causa da infraestrutura e dos indicadores educacionais, diz Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral (FDC), de Minas Gerais, considerada a melhor escola de negócios da América Latina. Arruda, que irá abrir o seminário Competitividade e Capital Humano, do Fórum Agenda Bahia, explica que não há como fazer um ranking de competitividade econômica por estados aos moldes da listagem feita mundialmente pela FDC em parceria com o International Institute of Management Development (IMD). Muitos dos fatores que formam o ambiente de negócios de um estado dependem de decisões do governo central, explica. No entanto, revela, é possível fazer reflexões sobre os problemas e as soluções para o ganho de competitividade dos estados. No caso da Bahia, Arruda acredita que há ainda um terceiro fator a ser vencido: a extensão territorial, o que dá ainda mais importância aos investimentos em infraestrutura. Falo, essencialmente, de infraestrutura básica, que é a de logística, diz. Carlos Arruda acrescenta ainda a necessidade de investimentos na educação e em ciência e tecnologia. Nenhuma economia é sustentável sem educação e sem infraestrutura, ensina. Para Cláudio Frishtack da Inter B. Consultoria o calcanhar de aquiles da economia baiana é mesmo a falta de integração logística. O segundo maior problema seria o da educação. Em terceiro lugar ele aponta a necessidade de modernização administrativa do estado. É preciso melhorar a qualidade dos serviços públicos de educação, saúde e segurança, prega. Não é um desafio impossível. O baiano tem mil qualidades. É um estado rico, tem o agronegócio no Oeste e a economia florestal no Sul. E é forte também no turismo, complementa Frishtack, em tom otimista. Ranking mundial de competitividade analisa trezentas variáveis O ranking mundial de competitividade do International Institute for Management Development é publicado anualmente desde Ele avalia as condições de competitividade de 60 países a partir da análise de dados estatísticos nacionais e internacionais e de uma pesquisa de opinião realizada com quatro mil executivos. No Brasil, a pesquisa e a coleta de dados são coordenadas e conduzidas pela Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais. A posição na lista, a cada ano, é feita com base na diferença em relação a economia mais competitiva de acordo com os critérios da pesquisa. Os Estados Unidos figuram como a economia mais competitiva do mundo por causa, entre outros motivos, dos números de empregos e do alto desempenho em tecnologia e infraestrutura. Segundo o economista Cláudio Frishtack, da Inter B. Consultoria, uma economia é competitiva quando os custos ajustados à produção são baixos. Na Alemanha, o trabalhador tem custo baixo e alta produtividade, cita.
7 No ranking IMD/FDC 2014, a Alemanha ocupa a 6ª posição. O Brasil, a 54ª, à frente apenas de Eslovênia, Bulgária, Grécia, Argentina, Croácia e Venezuela. A colocação do Brasil e, claro, dos outros países - se deve à análise de cerca de 300 variáveis agrupadas em três categorias: desempenho da economia, eficiência do governo e eficiência das empresas. No desempenho da economia, a FDC destaca que o ambiente de negócios encontrado aqui está sendo impactado pela inflação (54º lugar) e pela baixa participação do país no mercado internacional (59º), que para o professor Carlos Arruda, um dos responsáveis pelo estudo, é fruto do declínio das exportações para mercados tradicionais, como a Argentina, a União Europeia e os EUA, além do aumento de importações de produtos industriais, principalmente da China. Favoravelmente, o Brasil tem uma economia entre as maiores do mundo (7º PIB), o tamanho da economia doméstica (7º em consumo das famílias) e emprego (6º). Já no item eficiência do governo, o Brasil perde pontos por causa do ambiente institucional e regulatório, historicamente o ponto mais crítico da competitividade do país, segundo a FDC. Isso se dá porque o país não apresenta sequer sinais de uma reforma que simplifique as legislações trabalhista e tributária. Por outro lado, a atuação do BNDES levou a uma pontuação positiva no quesito incentivo público às empresas (3º lugar). Outro ponto de destaque é a reserva em moeda estrangeira (6ª posição).
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