O Sentido da Vida na Obra de Viktor Emil Frankl
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1 914 O Sentido da Vida na Obra de Viktor Emil Frankl RESUMO Cristian Ericksson Colovini 1 Marlene Machado de Ávila 2 Viktor Emil Frankl a partir de seus estudos e formações, somados à experiencia que teve durante a II Guerra Mundial nos campos de concentração como prisioneiro, desenvolveu a Logoterapia, uma abordagem psicológica que objetiva auxiliar o ser humano a questionar-se e buscar o sentido para sua vida. O presente artigo apresenta uma breve revisão bibliográfica da obra deste autor, que têm muito a contribuir com as ciências humanas e sociais, no que diz respeito ao questionamento mais intrínseco do homem: qual o sentido da vida? Palavras-chave: Sentido da Vida; Logoterapia; Viktor Emil Frankl. ABSTRACT Viktor Emil Frankl from his studies and training, plus the experience you had during the World War II concentration camps as a prisoner, developed Logotherapy, a psychological approach that aims to help the human being in question and search for meaning in life. This article presents a brief literature review of the work of this author who have much to contribute to the humanities and social sciences, with regard to the questioning of the innermost man, what is the meaning of life? Keywords: Meaning of Life, Logotherapy, Viktor Emil Frankl. RESUMEN Viktor Emil Frankl en sus estudios y formación, además de la experiencia que tuvo durante la Segunda Guerra Mundial los campos de concentración como prisionero, Logoterapia desarrollados, un enfoque psicológico que tiene como objetivo ayudar al ser humano en cuestión y la búsqueda de sentido en la vida. Este artículo presenta una breve revisión bibliográfica de la obra de este autor que tienen mucho que aportar a las ciencias humanas y sociales, en relación con el cuestionamiento del hombre interior, cuál es el significado de la vida? INTRODUÇÃO Palabras clave: Sentido de la Vida, Logoterapia, Viktor Emil Frankl. 1 Acadêmico do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil. Estagiário do Serviço de Assessoria e Pesquisa em Psicologia Escolar. cecolovini@yahoo.com.br 2 Graduada em Psicologia e Pedagogia, Especialista em Educação. Mestre em Psicologia Social e da Personalidade. Docente da Universidade Luterana do Brasil e orientadora deste trabalho.
2 915 Viktor Emil Frankl, nascido em Viena, na Áustria em 26 de março de 1905 e falecido em 2 de setembro de 1997, foi médico e psiquiatra, e fundador da escola denominada Logoterapia. O termo "logos" é um termo grego que deriva de logos, que significa sentido, e o termo terapia (θεραπεia), cura ou cuidado. Sendo assim, a cura efetivada através do sentido da existência humana bem como da busca de significado pelo próprio homem à sua vida. (Xausa, 1986; Frankl, 2005). Assim, a Logoterapia concentra-se no sentido da existência humana, bem como na busca da pessoa por este sentido. Para esta escola teórica, a busca de sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora do ser humano. A Logoterapia é considerada e desenhada como terapia centrada no sentido, vê o homem como um ser orientado para o sentido, no qual a motivação básica do comportamento é uma busca pelo sentido para sua vida, e a finalidade da terapia psicológica deve ser ajudá-lo a encontrar esse significado particular. Enquanto Freud desenvolveu sua teoria sobre a vontade de prazer, e Adler a vontade de poder, para Frankl o ser humano possui uma vontade de sentido. A principal preocupação do homem é estabelecer e perseguir um objetivo, e é esta busca que é capaz de dar sentido à sua vida (Frankl, 2003b). A EXPERIÊNCIA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO No início da II Guerra Mundial, por serem judeus, Frankl sua esposa grávida, assim como os demais familiares, foram deportados para diferentes campos de concentração. Frankl foi o prisioneiro nº , embora tenha sobrevivido aos anos no campo, perdeu sua esposa, seus pais e seu irmão no Holocausto nazista. Esta indelével experiência pessoal foi marcante no desenvolvimento de sua obra terapêutica e em seus escritos (Frankl, 2003c). Frankl nos campos de extermínio, foi um prisioneiro comum, que graças a uma sucessão de conhecimentos, ou milagres, conseguiu sobreviver às diversas formas de seleção que o campo impõe. Em seu livo Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração (Frankl, 2003c) relata sua experiencia a partir da visão de um prisioneiro comum, sem buscar os recursos da escrita científica, Frankl relata os fatos da forma que os
3 916 pode perceber e vivenciar. O titulo original do livro, em alemão...trotzdem Ja zum Leben sagen, significa...apesar de tudo, dizer sim à vida. Entre os anos de 1942 e 1945, Frankl passou por quatro campos de concentração, inclusive pelos piores deles, o de Therezin ( ) e o de Auschwitz (1944). Depois foi transferido para Kaufering und Tuerkheim, extensão dos campos de Dachau (Frankl, 2003a). Frankl sempre teve grande interesse pelo comportamento humano, e durante os anos de nos campos de concentração, sempre sustentou tal interesse. Com o passar do tempo, observou que entre seus companheiros de prisão, aqueles que tinham uma esperança e davam um significado a suas vidas predominavam entre os sobreviventes da selvageria e da fome a que eram submetidos. No entanto, o prisioneiro que perdia a fé no futuro estava condenado a definhar e sua morte era eminente (Frankl, 2003b). A sobrevivência de Frankl e de seus companheiros se deram principalmente pela capacidade de manterem-se ligados, cada um de forma singular, a sentimentos que lhes davam capacidade de transcender através do sofrimento os limites do campo de concentração, numa atitude intencional e livremente aceita rumo a um valor mais alto e capaz de dar sentido a todo aquele infortúnio. Deste modo, a resposta ao sentido da vida é mobilizadora de forças vitais, enquanto a ausência de sentido é capaz de levar o indivíduo a uma condição muito mais propensa a enfermidades e ao sofrimento (Frankl, 2003c). A VONTADE E A BUSCA DO SENTIDO Com o intuito de construir uma teoria que trouxesse um embasamento mais humano para a psicoterapia, Frankl fundamentou sua teoria em três correntes filosóficas: a fenomenologia, o existencialismo e o personalismo. Consolidou uma abordagem através da qual o homem busca razões para agir e encontrar sentido nas diversas circunstâncias de sua vida (Xausa, 1986).
4 917 Contrariando as tendências da época, Frankl diferenciando-se de uma psicologia associacionista e pandeterminista para uma psicologia humanista, Frankl (2003a) redescobre uma vontade livre ao ser humano. Para Frankl o homem não é livre de condições, mas livre para se posicionar perante os fatores determinantes da existência, pois, afinal, o homem também é influenciado por forças ambientais, biológicas e psicológicas, mas, de forma antagônica, pode vir a se posicionar perante sua condição no mundo. O ser humano não apenas reage de forma passiva às suas questões internas e externas, mas sim responde ativamente a estas. Quando escolhe dar uma resposta à vida, torna-se responsável pelo que vai ser e/ou acontecer no momento seguinte. Dessa forma, a liberdade e a responsabilidade constituem as duas características essenciais dos fenômenos humanos (Frankl, 1978; 2005). São três as vias pelas quais o homem pode encontrar significados e sentido para sua vida (Frankl, 2003a): Vivenciando: quando a pessoa vivencia algo ou encontra alguém para amar, transcende a si mesma e se expressa por meio da contemplação estética, ou do encontro com um tu, que se manifesta como outro ser que transcende a sua esfera pessoal. Criando: quando cria uma obra e a entrega ao mundo, ao compor uma obra científica ou artística, ao lapidar uma pedra bruta, ao dar cores a uma tela, o indivíduo expressa uma capacidade especificamente humana, a de encontrar sentido em uma obra criativa, transcendendo a si mesmo para algo no mundo. Enfrentando o sofrimento inevitável: Outro momento em que a vida pode configurar um sentido é quanto transforma um sofrimento inevitável em uma realização humana. Em situações limite, como em caso de enfermidades crônicas ou transitórias, em que, mesmo diante da dor e do sofrimento, o ser humano tem a possibilidade e a liberdade de se posicionar, de tomar uma atitude perante os condicionamentos ao realizar valores atitudinais (Xausa, 1986; Frankl, 2003a).
5 918...o homem só é completamente ele mesmo quando fica absorvido pela dedicação a uma tarefa, quando se esquece de si mesmo no serviço a uma causa, ou no amor a uma outra pessoa. É como o olho, que só pode cumprir sua função de ver o mundo enquanto não vê a si próprio (Frankl, 2003c, p. 18). A partir da citação, Frankl usa a metáfora do olho, que nunca vê a si mesmo, ao menos que esteja com alguma enfermidade como glaucoma ou catarata, por exemplo. Da mesma forma o homem só encontra o verdadeiro sentido quando se dedica a algo ou alguém que está fora de si próprio, que é do mundo. Frankl (2003a) considera ainda que o sentido não pode ser dado a alguém e sim, encontrado pela própria pessoa; desse modo, o ser humano encontra sentidos na relação com o mundo, e não nas elucubrações filosóficas. Assim, apenas a discussão acerca de questões existenciais não promove, por si só, o aumento da sensação de sentido, pois este só é atingido na consumação dos valores existenciais, sejam estes vivenciais, criativos e/ou atitudinais. Desta forma, a felicidade aparece como efeito da realização de um sentido. Apenas na medida em que o homem preenche um sentido lá fora, no mundo, é que ele realizará a si mesmo. Se ele decide realizar a si mesmo, ao invés de preencher um sentido, a autorrealização perde imediatamente sua razão de ser (Frankl, 1991). Frankl falando ainda de suas vivencia nos campos de concentração, contrariando teorias da época, diz que o ser humano tende a se diferenciar, frente aos infortúnios a ele impostos. Da mesma forma, acredita que é o próprio sujeito o responsável por suas escolhas e decisões. "Lá (na realidade do campo de concentração), as 'diferenças individuais' não obscureceram, ao contrário, as pessoas tornaram-se mais diferentes, lá as máscaras caíram, tanto os porcos, quanto os santos. O homem é essencialmente auto determinante. Ele se transforma no que fez de si mesmo. Nos campos de concentração, por exemplo, nesse laboratório vivo e nesse solo de testes, nós presenciamos e testemunhamos alguns de nossos companheiros comportarem-se como porcos, enquanto outros comportaram-se como santos (Frankl, 2003c). "Portanto, fiquemos alerta, alerta em duplo sentido. Desde Auschwitz nós sabemos do que o ser humano é capaz. Desde Hiroshima nós sabemos o que está em jogo" (Frankl, 2005).
6 919 Frente aos acontecimentos traumáticos, aos infortúnios e demandas a que o ser humano é propenso, Frankl escreve independentemente das condições impostas, o homem sempre tem a potencialidade de posicionar-se de maneira livre e digna frente ao seu sofrimento. Da mesma forma, o sujeito carece de um motivo, de sentido também para sua felicidade. "O homem tem ambas as potencialidades dentro de si mesmo: a que se efetiva depende das decisões, e não das condições. Nossa geração é realista porque passamos a conhecer o homem como realmente é. Além do mais, o homem é esse ser que inventou as camadas de gás de Auschwitz; entretanto ele é também aquele ser que entrou nessas câmaras de gás de pé, de cabeça erguida, com a oração do Senhor ou a Shema Yisrael nos lábios (Frankl, 2003c). CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo em vista a importância da obra de Viktor Emil Frankl no que diz respeito à reflexão e abordagem sobre o sentido da vida, o exposto neste artigo de forma alguma esgota o assunto. A visão de homem proposta pela Logoterapia leva o indivíduo a pensar-se a partir de sua atitude com o outro e com o mundo. Em uma perspectiva existencial, a Logoterapia leva o ser humano a buscar o motivo, ou motivos que lhe são mais caros, o sentido que dê razão à sua existência. Assim, pode-se refletir que a natureza das ações do indivíduo independe no que diz respeito à felicidade e realização pessoal. A partir deste entendimento, o mais importante torna-se o sentido atribuído pela pessoa às suas atividades e criações. A vida passa a ser valorizada e conduzida por meio dos sentidos a ela atribuídos. Mesmo sendo propenso a infortúnios na vida, o homem possui a potencialidade de posicionar-se de maneira livre e digna, atribuindo sentido ao seu sofrimento, da mesma forma que busca sentido também para sua felicidade.
7 920 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Frankl, V. E. Fundamentos antropológicos da psicoterapia. (R. Bittencourt, trad.). Rio de Janeiro: Zahar Editores, Frankl, V. E. A psicoterapia na prática. (C. M. Caon, trad.). Campinas, SP: Papirus, Frankl, V. E. Psicoterapia e sentido da vida: fundamentos da logoterapia e análise existencial. 4ª ed. São Paulo: Quadrante, 2003a. Frankl, V. E. A presença ignorada de Deus. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2003b. Frankl, V. E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 18ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003c. Frankl, V. E. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. 11ª ed. Aparecida, SP: Editora Santuário, Xausa, I. A. M. A psicologia do sentido da vida. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986.
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