MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

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1 EXCELENTÍSSIMO(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA 5ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE PERNAMBUCO. PROCESSO Nº CLASSE: 1 AÇÃO CIVIL PÚBLICA AUTOR: RÉS: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL CAIXA SEGURADORA S/A E CAIXA ECONÔMICA FEDERAL EDCL Nº. /2011/MPF/PRPE/AT O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por seu mandatário, o Procurador da República que esta subscreve, vem, nos autos da ação civil pública em epígrafe, com fundamento no artigo 535, incisos I e II, do Código de Processo Civil, opor EMBARGOS DE DECLARAÇÃO à r. sentença de fls /2.624, pelos fatos e fundamentos adiantes esposados. I - TEMPESTIVIDADE Preliminarmente, cumpre-nos assinalar que os presentes autos aportaram nesta Procuradoria da República em 14 de outubro de 2011 (sexta-feira). O prazo para a oposição de embargos declaratórios é de 05 (cinco) dias, conforme mandamento do artigo 536 do CPC, sendo tal prazo é concedido em dobro para o Parquet, nos termos do art. 188 do CPC. Dessa feita, o dies a quo recursal se deu em 17/10/11 (segunda-feira) e o dies ad quem somente ocorrerá em 26/10/2011 (quarta-feira). Patente, pois, a tempestividade. 1

2 II - RELATÓRIO Estes autos tiveram origem a partir do desmembramento da ação civil pública nº , e têm por objetivo resguardar os interesses coletivos, individuais homogêneos e outros de natureza indisponível, como o direito à vida, à integridade física e à moradia, dos habitantes do Conjunto Residencial Muribeca, no Município de Jaboatão dos Guararapes/PE, especificamente dos moradores da Quadra 03. Da leitura da exordial, vê-se que, no mérito, pediu-se a condenação da ré ao ressarcimento integral pelos danos materiais e morais causados aos moradores dos Blocos 20, 48, 50, 70, 72, 80, 90, 96, 130, 150, 152, 170 e 190, localizados na Rua 01, da Quadra 03, do Conjunto Residencial Muribeca, em decorrência de vícios de construção, bem como ao pagamento da multa decendial, calculada sobre os valores das indenizações devidas a cada consumidor/proprietário e, ainda, fosse concedida aos proprietários a possibilidade de optar, sem prejuízo das perdas e danos, entre a restituição das quantias pagas pelos imóveis, monetariamente atualizadas, ou a reconstrução ou recuperação dos imóveis e, neste último caso, fosse efetuada a compensação em pecúnia face a desvalorização dos imóveis. Ultimada a instrução processual, foi proferida sentença às fls /2.624, por meio da qual a i. magistrada julgou PROCEDENTE o pedido autoral, para: " I) condenar a Caixa Seguradora S/A a pagar a cada um dos substituídos dos Blocos 20, 48, 50, 70, 72, 80, 90, 96, 130, 150, 152, 170 e 190 da Quadra 03 do Conjunto Residencial Muribeca que comprovarem ter adquirido seus imóveis através de contrato de financiamento ou através de "contrato de gaveta", independentemente de estarem quitados, indenização correspondente aos valores de seus imóveis, constantes na planilha de fls.2466/2469, acrescido do valor acumulado da multa decendial de 2%, até o limite fixado no art. 412 CC; bem como indenização por danos morais, no montante de R$ 4.800,00 (quatro mil e oitocentos reais) a cada substituído, acrescidos de atualização monetária e juros de mora, incidentes a partir da data do evento danoso (16/05/2006), nos termos da Súmula nº. 54 do STJ, correspondentes à taxa do "Sistema Especial 2

3 de Liquidação e Custódia - SELIC", conforme disposto no art. 406, do Código Civil, reconhecida como sucedânea dos juros de mora e da atualização monetária; II) condenar a Caixa Econômica Federal indenizar os substituídos que comprovarem ter adquirido seus imóveis integrantes dos referidos Blocos da Quadra 03 do Conjunto Muribeca à vista por danos materiais em montante correspondente ao valor dos respectivos imóveis, observando-se, outrossim, os cálculos elaborados às fls.2456/2468, bem como por danos morais, no valor de R$ 4.800,00 (quatro mil e oitocentos reais) a cada substituído, acrescidos de atualização monetária e juros de mora, incidentes a partir da data do evento danoso (16/05/2006), nos termos da Súmula nº. 54 do STJ, correspondentes à taxa do "Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC", conforme disposto no art. 406, do Código Civil, reconhecida como sucedânea dos juros de mora e da atualização monetária; proferindo, assim, o julgamento com a resolução do mérito, nos termos do art.269, I, CPC. Ressalte-se que o valor final e exato da condenação dependerá somente de cálculos aritméticos, cabendo aos substituídos interessados promoverem a sua habilitação e cumprir o disposto no art B do CPC. Ademais, as execuções propostas devem ser livremente distribuídas entres as Varas desta Seccional da Justiça Federal em Pernambuco. Ficam confirmadas as antecipações de tutela e demais decisões proferidas nestes autos em favor dos substituídos, que deverão ser cumpridas até o cumprimento efetivo da sentença. Diante do noticiado risco de desabamento dos Blocos 20, 48, 50, 70, 72, 80, 90, 96, 130, 150, 152, 170 e 190 da Quadra 03 do Conjunto Residencial Muribeca, determino seja imediatamente oficiado ao Poder Executivo Municipal, através do seu órgão de Defesa Civil para iniciar o processo da desativação planejada da habitabilidade nos prédios vistoriados, visando salvaguardar a integridade física dos moradores. Condeno às rés ao pagamento de custas. Sem condenação em honorários advocatícios (REsp /PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, DJe 15/04/2011; REsp /RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJe ; REsp /SP, 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe ; EREsp /PR, 1ª Seção, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe ). Publique-se. Registre-se. Intime-se." 3

4 Percebe-se, rapidamente, que embora a demanda tenha sido julgada PROCEDENTE, as determinações contidas no dispositivo da r. sentença não correspondem in totum ao pedido autoral. E, naquilo que correspondem, existem alguns pontos que reclamam maiores esclarecimentos. III - DA CONTRADIÇÃO ENTRE A FUNDAMENTAÇÃO E O DISPOSITIVO DA SENTENÇA. Como já delineado, na petição inicial de fls. 06/51, dentre outros pedidos, a parte autora fez constar expressamente: [...] seja dada a opção aos consumidores proprietários das unidades do CONJUNTO RESIDENCIAL MURIBECA, sem prejuízo das perdas e danos, de escolher entre: I - a restituição imediata das quantias pagas pelos imóveis, monetariamente atualizadas; II - a reexecução ou recuperação dos imóveis, efetuada a compensação em pecúnia face a desvalorização [...] Ocorre que, por meio da decisão recorrida, esse r. Juízo afastou tal possibilidade, tendo condenado às rés, CAIXA SEGURADORA S/A e CAIXA ECONÔMICA DEFERAL CEF, tão-somente ao pagamento de indenizações, equivalente ao valor de mercado atual dos bens, conforme levantamento realizado pelo perito judicial, não obstante conste da parte dispositiva que a demanda foi julgada PROCEDENTE. A possibilidade de recuperação dos imóveis foi abordada na fundamentação da sentença, precisamente no subitem : 4

5 " DA INDENIZAÇÃO As cláusulas 11ª e 12ª da apólice securitária (Condições Particulares de Danos Físicos) prevêem duas formas de reparação dos danos físicos constatados: Cláusula 11ª - Indenização - Será igual ao valor necessário à reposição do bem sinistrado. Cláusula 12ª - Reposição a seguradora, em atendimento ao dever de indenizar o segurado, obriga-se a providenciar, por sua conta e risco, a reposição do imóvel destruído ou danificado, restituindo-o a estado equivalente àquele em que se encontrava imediatamente antes do sinistro No caso de comprovada impossibilidade ou contra-indicação da reposição mencionada no subitem 12.2 acima, a indenização será prestada mediante pagamento em dinheiro, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, ao financiador, por conta do segurado, com a prévia anuência do estipulante. Conforme as recomendações do perito judicial, há necessidade de serem restauradas as falhas construtivas pertinentes à estabilidade das edificações dos Blocos 20, 48, 50, 70, 72, 80, 90, 96, 130, 150, 152, 170 e 190 da Quadra nº 03 do Conjunto Muribeca, o que seria possível através de "um projeto consistente de recuperação e reforço das estruturas dos prédios, e que tenha o acompanhamento/fiscalização das obras por parte de Técnicos da Prefeitura Municipal e do CREA/PE". Ressaltou, outrossim, que as alterações constatadas no projeto arquitetônico decorrente de reformas realizadas pelos moradores devem ser "corrigidas para sua forma original, nos apartamentos em que as mesmas foram executadas". Ademais, o expert recomenda "que seja oficiado ao Poder Executivo Municipal, através do seu órgão de defesa Civil para proceder ao monitoramento na infra-estrutura (alvenaria de embasamento) dos prédios, bem como iniciar o processo da desativação planejada da habitabilidade nos prédios vistoriados até que se execute um projeto de reforço necessário as edificações, visando salvaguardar a integridade física dos moradores". Entretanto, é de ver-se que a reposição ou conserto dos imóveis não se afigura como solução mais indicada para atender aos interesses dos substituídos. Isto porque a reforma implicaria fatalmente na "perpetuação da demanda", em razão do elevado número de imóveis a serem recuperados, e, de outro lado, por não haver garantias de que as obras seriam executadas em curto ou médio prazo, ou mesmo, a contento. Destarte, em que pese a apólice prevê duas formas de reparação, neste caso em particular, a forma mais simples e eficaz de cumprimento da sentença (e, que, portanto, deve prevalecer) é o pagamento em pecúnia de indenização relativa ao valor dos imóveis aos respectivos proprietários, a qual deverá obedecer a planilha elaborada pelo perito às fls.2456/2468." 5

6 Dessa forma, ante as conclusões do laudo pericial no qual o perito recomendou a recuperação de cada um dos blocos vistoriados na Quadra 03, do conjunto habitacional, absolutamente devido que se concedesse aos moradores o direito de optar entre receber uma verba indenizatória ou manter a propriedade do imóvel que deverá ser objeto de reestruturação. A obra do Conjunto Residencial Muribeca data de 1982, de onde se conclui que existem pessoas que residem ali há quase 30 (trinta) anos, e que, apesar de todas as agruras sofridas pela noticiada e constatada falta de solidez da construção, em sendo possível a reestruturação, conforme atesta o laudo pericial, certamente optariam pela reparação dos danos sofridos na forma da reposição do imóvel. Por outro lado, é certo que a integridade desses moradores, bem como o direito à moradia, enquanto não transitada em julgado a sentença recorrida, e, mesmo após, enquanto perdurarem as obras de reestruturação das edificações, estarão resguardados pela concessão da medida cautelar em antecipação de tutela. Vê-se, portanto, que se faz necessária a elucidação da controvérsia entre os argumentos deduzidos na fundamentação e a parte dispositiva da sentença, de modo que futuramente não restem dúvidas acerca do interesse da parte autora em eventual manejo de recurso de apelação. IV - DA OMISSÃO PARCIAL QUANTO AO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DA TUTELA Ao proferir sentença nestes autos, esse r. Juízo concedeu também a medida cautelar requerida em antecipação de tutela. Isto porque, levando-se em consideração o risco de desabamento dos blocos periciados, determinou-se a interdição dos imóveis, a fim de salvaguardar a integridade física dos moradores. Para tanto, determinou-se a expedição de ofício ao Poder 6

7 Executivo Municipal, através do seu órgão de Defesa Civil, para que desse início ao processo da desativação planejada da habitabilidade nos prédios vistoriados. Faltou, contudo, pronunciamento expresso, na parte dispositiva da sentença, quanto à obrigação das rés, CAIXA SEGURADORA S/A e CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF, a procederem ao pagamento de abonos de aluguel, durante o período de afastamento compulsório, e demais encargos incidentes sobre o bem desocupado, bem como prover a manutenção e guarda dos blocos interditados, a fim de impedir que neles sejam praticados atos de turbação ou esbulho. Quanto a obrigatoriedade de custear os aluguéis, até houve manifestação desse r. Juízo, mas tão-somente na fundamentação da sentença (item ): "[...] A propósito, uma vez que o perito concluiu pela ameaça de desmoronamento dos Blocos 20, 48, 50, 70, 72, 80, 90, 96, 130, 150, 152, 170 e 190 da Quadra 03 do Conjunto Residencial Muribeca, faz-se imperiosa a interdição dos referidos imóveis a fim de salvaguardar a integridade física dos moradores, de modo que, tal logo ocorra a desocupação dos referidos imóveis, deverá a Caixa Seguradora proceder ao pagamento de abonos de aluguel, enquanto durar o afastamento compulsório, no valor de R$ 400,00 (quatrocentos reais), aos respectivos substituídos titulares das referidas unidades habitacionais, até o trânsito em julgado da presente ação, nos moldes da decisão de fls. 1963/1979. " Observa-se, outrossim, que na parte dispositiva da sentença, reproduzida no item I acima, restaram confirmadas as antecipações de tutela e demais decisões proferidas nestes autos em favor dos substituídos. Ocorre que, da análise dos autos, vê-se que inexiste decisão que tenha antecipado os efeitos da tutela especificamente para os moradores dos blocos da Quadra 03, objeto desta ação. Com efeito, a r. decisão proferida ainda pelo Juízo Estadual, traslada às fls /1979 destes autos, refere-se aos moradores do Bloco 35, Rua 04, Quadra 02, em razão de já encontrar-se, àquela época, interditado pela Defesa Civil do Município de Jaboatão dos Guararapes/PE, não havendo notícia de interdição de nenhum dos blocos cotejados nestes autos. 7

8 A desocupação dos Blocos 20, 48, 50, 70, 72, 80, 90, 96, 130, 150, 152, 170 e 190, localizados na Rua 01, da Quadra 03, do Conjunto Residencial Muribeca, até que seja executado um projeto de reforço nas edificações, é uma recomendação do perito judicial, que previu, em seu laudo, que alguns blocos apresentavam grau de risco alto de colapso total/parcial em sua estrutura (Blocos 20, 50, 70, 72, 96, 130, 150 e 152), enquanto outros apresentavam risco médio (Blocos 48, 80, 90, 170 e 190). Todos esses blocos encontram-se atualmente ocupados. Desse modo, faz-se necessária manifestação desse juízo quanto a todos os pedidos formulados em sede de antecipação de tutela, incluindo o custeio de moradia e demais encargos incidentes sobre os imóveis, bem como a guarda e manutenção das unidades habitacionais cuja interdição fora determinada nestes autos. V - DA OMISSÃO ACERCA DA ATUALIZAÇÃO DO MONTANTE INDENIZATÓRIO POR DANOS MATERIAIS Tendo em consideração que os valores de mercado dos imóveis, que constam na planilha de fls /2.469, foram levantados pelo perito ainda em 2010, e, sobretudo, o decurso do tempo até que as rés venham efetivamente a adimplir com a obrigação, faz-se necessária a previsão e definição de índice para a atualização monetária pelos danos materiais, tanto em relação aos substituídos mutuários quanto àqueles que adquiriram os imóveis à vista. 1 Dessa feita, a fim de complementar esse ponto da sentença, revela-se imperiosa a manifestação do juízo estabelecendo expressamente o índice que deve ser considerado para a atualização do montante indenizatório a título de danos materiais, bem como a data a partir da qual incidirá. 1 "Código Civil. Art As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional." 8

9 VI - PEDIDO Ante o exposto, demonstrada a contradição e a omissão na decisão proferida às fls /2.624, o Ministério Público Federal requer o conhecimento dos presentes embargos e, por conseguinte, seu provimento, a fim de que sejam sanandos os vícios aqui apontados. Termos em que pede deferimento Recife (PE), 24 de outubro de ANASTÁCIO NÓBREGA TAHIM JÚNIOR Procurador da República 9