Autos nº

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1 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE MARINGÁ - FORO CENTRAL DE MARINGÁ 7ª SECRETARIA DO CÍVEL DE MARINGÁ - PROJUDI Avenida Tiradentes, Centro - Maringá/PR - CEP: Fone: (44) Autos nº Processo: Classe Processual: Ação Civil Pública Assunto Principal: Associação Valor da Causa: R$10.000,00 Autor(s): MINISTÉRIO PÚBLICO DA COMARCA DE MARINGÁ - PARANÁ (CPF/CNPJ: Não Cadastrado) representado(a) por STELLA MARIS SANT ANNA FERREIRA PINHEIRO (CPF/CNPJ: Não Cadastrado) Rua Arthur Thomas, 575 centro - térreo - Zona 01 - MARINGÁ/PR - CEP: Telefone: Réu(s): Vistos etc. Casa Abraão (CPF/CNPJ: Não Cadastrado) Estrada da Pedreira, s/n - FLORESTA/PR 1. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ ajuizou Ação Civil Pública com pedido cautelar de interdição de estabelecimento em desfavor de CASA ABRAÃO RESTRUTURANDO NAÇÕES (CARAN), alegando, em síntese, que foram constatadas inúmeras irregularidades de ordem higiênico-sanitárias, que levam riscos à saúde dos internos, recaindo sobre a parte ré responsabilidade pela irregularidades apuradas. Ao final, formulou pedido liminar de interdição da referida casa de tratamento de desintoxicação de substâncias psicoativas, para o fim de que se abstenha de receber novos internos, bem como seja determinado que o responsável pela instituição realoque as pessoas que lá estão atualmente para um local adequado, seja próprio ou de terceiros. Juntou documentos (evento 01). É o breve relato. Decido. 2. O artigo 12, da Lei 7347/85, dispõe que poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo". In casu, os fundamentos que embasaram a propositura da presente ação civil pública e documentos que a instruíram são suficientes para possibilitar, ao menos em sede de cognição sumária, a concessão da liminar pleiteada. Para a concessão de liminar, necessário que se façam presentes os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora. Assim, passo à análise dos requisitos.0 Evidenciam-se do feito diversas irregularidades de ordem estrutural, organizacional e higiênico-sanitárias na instituição ré, sobretudo diante da gravidade do relato

2 ofertado pelo MINISTÉRIO PÚBLICO na exordial, acerca das condições precárias do local. É, pois, o que se conclui das fotos que acompanham a inicial, que demonstram situação de extremo descaso com os internos que habitam o local, bem como dos demais documentos que acompanham o Inquérito Civil MPPR autos físicos disponíveis em Secretaria. Observam-se, neste ponto, diversas situações que são incompatíveis com um ambiente que tem por finalidade essencial tratar indivíduos com transtornos toxicológicos. Os fatos relatadas atentam contra a saúde, vida e dignadade dos internos. Como exemplo cabe mencionar a questão dos alimentos, armazenados em locais impróprios, sem qualquer refrigeração, sendo que muitos são perecíveis e encontram-se em decomposição (fotos dos eventos 1.2 a 1.4). Das fotos também é possível concluir que falta higiene no local como um todo, com muita sujeira aderida aos móveis, pias, azulejos, chão, paredes etc. Também se verifica que a estrutura é inadequada, inclusive com possibilidade de danos físicos aos internos, com a exposição do teto da casa e fiação sem proteção. Igualmente, revelam-se praticamente inutilizáveis os colchões fornecidos aos internos, falta de asseio nos banheiros da casa e insetos dentro da geladeira. Todas essas informações, clarificadas pelas imagens, encontram-se formalmente fundamentadas nos documentos juntados aos Inquérito Civil acima mencionado. Ainda, relata a d. Promotora de Justiça que a instituição está há dias sem energia elétrica nem água, fato que agrava ainda mais a situação daqueles que habitam o local, que estão sem as mínimas condições de sobrevivência digna. A corroborar a inviabilidade da manutenção do estabelecimento na maneira em que se apresenta, constata-se que, conquanto se intitule instituição para tratamento de pessoas com transtornos toxicológicos, não se vislumbra qualquer plano de tratamento dos internos, que, ao contrário, fazem dali um recanto para dar continuidade ao vício, sem qualquer acompanhamento profissional, social, espiritual nem indícios de reabilitação. É o que se conclui pela informação do parquet, que informou ter sido encontrado um cachimbo de bambu num dos quartos (fl. 05 da inicial), bem como do pertinente relatório da Secretária de Saúde, Lusia Adriana Borge, acostado às fls. 498/499 do Inquérito, do qual destaco o seguinte excerto: A entidade Casa Abraão atualmente encontra-se sme alvará para funcionamento, pois a Vigilância Sanitária indeferiu tal alvará devido às condições apresentadas durante a vistoria. Segundo relatos de usuários da Casa de Abraão que procuram a política de assistência social do Município de Floresta-PR, a fim de

3 locomover-se para seus locais de origem, os mesmos relatam todas as formas de maus tratos, como falta de alimentação, água, luz, condições de higiene pessoal e outros. A instituição não possui equipe técnica para atendimento. O Relatório Técnico da 15ª Regional de Saúde de Maringá (fl. 275 do Inquérito Civil) também elenca diversas e graves irregularidades, registrando que a instituição, apesar de notificada, não cumpriu as exigências para regular funcionamento. Assim, tenho que restou bem demonstrada a verossimilhança das alegações constantes da inicial. O receio de dano irreparável ou de difícil reparação é evidente e também veio comprovado pelos documentos juntados, que deixam claro que o funcionamento dos da Casa Abraão, sem que sanadas as irregularidades apuradas, enseja prejuízos à saúde, integridade e bem estar dos habitantes do local. Tudo isso justifica o deferimento da liminar inaudita altera pars. Vale registrar, por oportuno, que a concessão de medida liminar em casos similares é medida essencial à preservação da incolumidade da saúde dos internos, que se sujeitaram à internação no local com a promessa de livrar-se do mal trazido pelas substâncias entorpecentes, sem contudo receber qualquer acompanhamento profissional, tampouco tratamento. Dito isso, mostra-se sem razão a manutenção da entidade em funcionamento. A situação denunciada verifica-se recorrente em diversos estados, sendo a concessão da liminar medida mais acertada para evitar prejuízo maior àqueles que estão expostos ao tratamento disponibilizado por esse tipo de instituição. Vejamos. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INTERDIÇÃO DE INSTITUIÇÃO DE ATENDIMENTO PARA PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS. PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL AFASTADA. O descumprimento de ordem judicial comporta medida coercitiva, não redundando na ausência de pressuposto de admissibilidade do recurso, eis que produz efeitos na esfera jurídica da agravante. MÉRITO. REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DE LIMINAR PRESENTES. EXEGESE DO ARTIGO 12 DA LEI N.º 7.347/85. Econtrando-se a Instituição de Atendimento para Portadores de Transtornos Mentais com suas instalações em estado precário, conforme atestado pela vigilância sanitária, a possibilidade de ocorrerem prejuízos à saúde, integridade e bem estar dos internos justifica a medida de urgência adotada na ação proposta. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.(TJPR - 4ª C.Cível - AI Foro Regional de Colombo da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Abraham Lincoln Calixto - Unânime - J ) sem destaque no original

4 AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PEDIDO DE INTERDIÇÃO DE CLÍNICA DE REALIBILITAÇÃO PARA DEPENDENTES QUÍMICOS. INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE SAÚDE. TUTELA ANTECIPADA. REQUISITOS DO ART. 273 DO CPC. CARÁTER IMINENTE DO RISCO DE DANO NÃO VERIFICADO. ASTREINTES. APLICABILIDADE. DECISÃO POR ATO DA RELATORA (ART. 57 DO CPC). Deferimento de medida proibitiva de admissão de novos pacientes em antecipação da tutela que visa à interdição do estabelecimento que se mostra suficiente em sede de sumária cognição. Cumulação de multa diária para hipótese de descumprimento que se afigura cabível diante da natureza da medida. Irrazoabilidade e inviabilidade de cumprimento de pedido de remoção dos atuais pacientes para outras clínicas em prazo exíguo. Medida que depende da intervenção de vontade dos pacientes e seus responsáveis, além da disponibilidade de outros estabelecimentos. AGRAVO DE INSTRUMENTO PARCIALMENTE PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº , Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sandra Brisolara Medeiros, Julgado em 11/01/2012) sem destaque no original AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TUTELA ANTECIPADA. FECHAMENTO DE CLÍNICA DE REABILITAÇÃO E TRATAMENTO DE DEPENDENTES QUÍMICOS E ALCOÓLICOS. IRREGULARIDADES CONSTATADAS. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. Incensurável é a decisão que defere pedido de tutela antecipada na ação civil pública para determinar a interdição das atividades da Agravante por diversas irregularidades constatadas em relatórios de autoridades competentes, bem como ausência de tratamento adequado aos internos nas dependências daquele centro de reabilitação. Se a clínica de reabilitação de dependentes químicos não atende à nobre finalidade a que se destina, desarazoável se afigura o seu funcionamento. (Agravo de Instrumento Cv /001, Rel. Des.(a) Belizário de Lacerda, 7ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 06/07/2010, publicação da súmula em 20/08/2010) sem destaque no original Pois bem, a interdição liminar da instituição ré revela-se medida mais acertada para a preservação da saúde e da vida dos internos, todavia, merece atenção o pedido de remoção dos pacientes para outras instituições correlatas. Isso porque tal medida não se afigura como medida cujo cumprimento dependa apenas da ação da parte ré sendo necessária a intervenção de vontade dos próprios pacientes e seus familiares ou responsáveis. Ademais, vale refletir acerca da viabilidade de cumprimento dessa medida de forma imediata, diante da necessidade de que haja vagas em outras instituições, assim como a intervenção de vontade da administração dessas outras clínicas em aceitar os pacientes da instituição ré como seus, em substituição. Desse modo, razoável a concessão da medida de forma condicionada, tanto à indicação de instituições correlatas quanto à anuência dos internos ou responsáveis. Por fim, em atenção ao disposto no art. 273, 2º, do CPC, apenas registro que o

5 provimento antecipado não é irreversível. 3. Em face do exposto, num juízo preliminar de cognição sumária, DEFIRO parcialmente, com base nos arts. 11 e 12 da Lei nº 7.347/85 c/c arts. 273, I, 3º e 461, 3º, 4º e 5º, do CPC, o pedido liminar e determino a imediata interdição da Casa de Abraão - RESTRUTURANDO NAÇÕES (CARAN), com endereço na Rua da Pedreira, KM 131, BR 317, em Floresta-PR e CNPJ nº / , até que sanadas todas as irregularidades apuradas através das vistorias realizadas pelo Ministério Público e pela 15ª Regional de Saúde de Maringá. Com o objetivo de assegurar a eficácia da medida determino a remoção dos pacientes para local adequado ao tratamento, às expensas da parte ré. Para tanto, poderá providenciar o aluguel de outro local que atenda às exigências míninas da vigilância sanitária, ou realocá-los à outras instituições correlatas, no prazo de 30 (trinta) dias. Na hipótese de realocar para instituições correlatas, deverá ser colhida anuência dos internos ou de seus responsáveis. Fixo pena de multa diária de R$ 1.000,00 (um mil reais) para o caso de descumprimento da presente ordem de interdição, a ser revertida em favor do fundo previsto no art. 13 da Lei nº 7.347/85. Expeça-se o respectivo mandado de interdição e lacramento, devendo constar dos lacres a advertência de que o seu rompimento caracteriza o crime previsto no art. 336 do CP. 4. Cite-se a parte ré, na pessoa de seu responsável, Bispo Arlindo Gustavo de Rezendes, com observância das formalidades legais. 5. Intimem-se. 6. Ciência ao Ministério Público. Demais diligências necessárias. Maringá, 26 de Setembro de Nicola Frascati Junior Juiz de Direito Substituto