SIMULAÇÕES E JOGOS DE EMPRESA COMO INSTRUMENTOS DE ENSINO EM ADMINISTRAÇÃO

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1 SIMULAÇÕES E JOGOS DE EMPRESA COMO INSTRUMENTOS DE ENSINO EM ADMINISTRAÇÃO Jorge Alberto dos Santos Universidade Federal de Viçosa Sirlei Santos Campos Universidade Federal de Viçosa José Roberto Reis Universidade Federal de Viçosa Alessandra Mendes Miranda Universidade Federal de Viçosa Endereço: Av. P.h. Rolfs, s/n Campus universitário Departamento de administração viçosa mg Telefones: s: jalberto@mail.ufv.br sscampos@mail.ufv.br robereis@mail.ufv.br RESUMO A formação do Administrador precisa de métodos ecléticos, baseados em sistemas de ensino dinâmicos e holísticos, para acompanhar o desenvolvimento do ambiente de negócios. No entanto, a estrutura curricular básica da totalidade de nossos cursos de Administração está fundamentada na grade curricular e na sala de aula. Mas já não é por falta de opção. Alguns cursos têm se destacado na utilização de metodologias inovadoras. Uma destas metodologias é o uso de simulações empresariais ou jogos de empresa. Simulações empresariais ou jogos de empresas são atividades sistêmicas que simulam uma organização ou aspectos específicos de uma organização. Através da manipulação de um modelo, chega-se a uma visão dinâmica, quase cinematográfica da realidade. Proporciona, também, conhecimentos sobre a sua natureza ou funcionamento. Este tipo de atividade deveria ser mais utilizado pelas escolas de Administração como instrumento didático. Poucas escolas de graduação em Administração utilizam algum tipo de simulação ou jogo como instrumento didático. Cremos, contudo, que a nova geração de estudantes, criados em um ambiente de alta tecnologia e interatividade exigirão novos métodos de ensino em Administração. INTRODUÇÃO Atualmente, falar da globalização da economia e do papel preponderante que os novos instrumentos de tecnologia da informação é um fato costumeiro. No entanto, as escolas e os professores têm assimilado estas transformações de forma periférica, colocando estes

2 instrumentos à disposição dos alunos, mas preservando a mesma estrutura e processo na relação ensino-aprendizagem. No entanto, estas inovações se configuram como transformações profundas nas relações escola-aluno do futuro. Por um lado, as tecnologias permitirão acesso ao conhecimento, ou pelo menos, aos dados de forma generalizada. Por outro, o perfil do estudante deve mudar tanto no que se refere ao como aprender como também ao onde aprender. As escolas e universidades devem continuar ainda por muito tempo como centros de saber, mas as grandes organizações, por outro lado, começam a investir em Universidades Corporativas. Experiências inovadoras têm sido promovidas pelo sistema SEBRAE. Por exemplo, a Escola Técnica de Formação Gerencial (ETFG) do Sebrae-MG em Belo Horizonte oferece curso equivalente a um curso técnico, fornece diploma de ensino médio e habilita técnicos em Administração. Sua estrutura curricular é inovadora. No primeiro ano, empresários de diversos ramos participam de conversas e levam os estudantes a conhecer seus negócios. No segundo ano, os alunos gerenciam uma empresa fictícia. Os estudantes cuidam da administração, marketing, contabilidade e vendas da empresa. No último ano, os alunos realizam pesquisa de mercado e, depois, desenvolvem o projeto de uma empresa. Alunos com esta formação no ensino médio dificilmente se sentirão à vontade matriculados em um curso superior tradicional em Administração. Outro exemplo vem do Sebrae-RS que inaugurou em Porto Alegre a Universidade Sebrae de Negócios. A metodologia de ensino também não é convencional. O curso utiliza técnicas como a dramaturgia e as simulações. A parceria com a Harvard Business School trouxe dois softwares de simulação para a escola. O primeiro é um programa sobre decisão e estratégia empresarial e o outro simula o passo a passo de abertura de uma empresa. PROBLEMAS É dentro deste quadro que diversos trabalhos têm mostrado como as escolas de graduação em Administração encontram dificuldades em traduzir as necessidades de formação profissional em currículos e metodologias de ensino que induzam a um aprendizado efetivo. Por exemplo, uma pesquisa realizada em 1999 pelo Conselho Federal de Administração com uma amostra de 783 Administradores, 246 professores e 300 empregadores identificou a percepção dos seguintes problemas dos cursos de graduação em Administração por partes destes: O segmento formado por administradores criticou a formação prática insuficiente, a desatualização e superficialidade dos conteúdos transmitidos, a falta de sintonia entre o ensino e as necessidades do mercado, a ênfase na formação geral em detrimento da formação profissional e a ilusão de sucesso profissional fácil. O segmento formado por professores identificou como zonas de deficiências na formação do Administrador a desarticulação entre a teoria e a prática, a falta de sintonia entre o curso e as exigências do mercado, o reduzido espaço reservado para a pesquisa, a desmotivação, o desinteresse e a apatia dos estudantes, o perfil do ingresso e a falta de unidade da grade curricular. Já o segmento formado pelos empregadores revelou que o fato de serem excessivamente teóricos, de não terem uma visão geral e articulada da empresa, de dominarem conteúdos inúteis e de serem imaturos e inexperientes representam as maiores limitações dos egressos dos Cursos de Administração. Muitos destes problemas podem ser urgentemente atacados com novas metodologias de ensino. Ao lado de uma forte base teórica, os alunos dos cursos de graduação em Administração

3 devem se formar com uma visão integrada e devidamente equilibrada nas habilidades preconizada por KATZ (1974): as habilidades técnica, humana e conceitual. O QUE SIGNIFICA APRENDER ADMINISTRAÇÃO No seu documento de Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Administração (1999), a Comissão de Especialistas de Ensino de Administração arrolou da seguinte forma as habilidades necessárias ao egresso dos cursos: Reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar estrategicamente, introduzir modificações no processo de trabalho, atuar preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos; Autoplanejar-se, auto-organizar-se, estabelecer métodos próprios, gerenciar seu tempo e espaço de trabalho; Expressão e comunicação com seu grupo, superiores hierárquicos ou subordinados, cooperação, trabalho em equipe, diálogo, exercício da negociação e de comunicação interpessoal; Utilizar todos os conhecimentos obtidos através de fontes, meios e recursos diferenciados nas diversas situações encontradas no mundo do trabalho, isto é, da capacidade de transferir conhecimentos da vida cotidiana para o ambiente de trabalho e vice-versa; Iniciativa, criatividade, vontade de aprender, abertura às mudanças, consciência da qualidade e das implicações éticas do seu trabalho; Refletir e atuar criticamente sobre a esfera da produção (compreendendo sua posição e função na estrutura produtiva, seus direitos e deveres); Raciocínio lógico, crítico e analítico para operar com valores, formulações matemáticas para estabelecer relações formais e causais entre fenômenos e para expressar-se de modo crítico diante dos diferentes contextos organizacionais e sociais. Este conjunto de habilidades necessita de métodos ecléticos, baseados em sistemas de ensino dinâmicos e holísticos. Aprender é adquirir a capacidade de realizar algo novo ou algo que não se conhecia, embora esta capacidade possa ser apenas potencial, no sentido de que ainda não se realizou de fato o algo novo. A estrutura de um ato de aprendizagem tem, portanto, a princípio, dois pólos. De um lado o sujeito aprendiz. De outro, o processo ou fato a ser aprendido (apreendido). Uma das formas de se adquirir capacidade apreender - em um campo do conhecimento humano é agindo em situações reais e praticando tentativa e erro. Tentativas bem sucedidas são repetidas e tentativas fracassadas são abandonadas. Um terceiro elemento poderá ser incluído nesta relação. Ele pode ser denominado de elemento catalisador. Ele só fará sentido se acelerar o processo de aprendizagem, fazendo com que o aprendiz reduza o tempo que levaria para adquirir a capacidade de realizar sua nova competência. Este elemento é geralmente um professor, orientador, conselheiro, consultor ou outro nome que indique sua interferência na relação aprendiz-aprendizado para auxiliar o primeiro a adquirir a capacidade de realizar o seu objetivo. Figura 1 - Estrutura do Processo de Ensino-Aprendizagem

4 CATALISADOR APRENDIZ CONTEÚDO Mas o professor não atua sozinho. Uma série de outros fatores tais como os recursos disponíveis, a estrutura curricular, as formas de avaliação e, essencialmente, a metodologia utilizada podem ser ou elementos catalisadores ou fatores inibidores do processo de aprendizagem. Para cumprir o objetivo de realizar as habilidades desejáveis aos egressos de Administração, conforme descrito acima, é preciso repensar o ensino de Administração e, principalmente, a metodologia utilizada em sala de aula. SIMULAÇÕES E JOGOS Simulação Empresarial é uma atividade sistêmica que simula uma organização ou aspectos específicos de uma organização. Através da manipulação de um modelo, chega-se a uma visão dinâmica, quase cinematográfica da realidade (ACKOF,1971). Proporciona, também, conhecimentos sobre a sua natureza ou funcionamento. A simulação é uma ferramenta poderosa para desenhar, operar e analisar sistemas complexos. Ela permite testar hipóteses sem ter de executá-las na prática, economizando tempo e dinheiro. É um meio efetivo de explorar o processamento de um sistema sem ter de recorrer a programas pilotos. A simulação também provê um meio interessante e efetivo de compreender o mundo em volta e suas relações e o ajuda a desenvolver resultados melhores mais rápidos. É também um meio de comunicação eficiente, mostrando como um processo funciona e estimulando meios de melhorá-lo. A simulação envolve o desenho e a construção de um modelo do sistema que se quer representar e a sua manipulação. O objetivo destes testes é estudar como o sistema se comportaria numa situação e se... e determinar os efeitos de mudanças no sistema durante seu funcionamento. Você pode começar com um modelo simples do sistema e ir aprimorando-o à medida que seu conhecimento sobre o sistema aumente. As simulações oferecem aos estudantes um modo efetivo e atraente de aprender fazendo. Usando simulações computadorizadas, pode-se ampliar as combinações de relacionamentos entre variáveis existentes nos sistemas. Quando não é possível colocar o estudante em situações reais nas quais ele se envolva para aprender, as simulações são possibilidades eficazes que recriam este ambiente e inserem o estudante numa realidade virtual. O termo jogos de empresa também tem sido utilizado para designar o que chamamos de simulações empresariais neste artigo. uma simulação ou jogo empresarial pode ser definido como um exercício seqüencial de tomada de decisões, estruturado em torno de um modelo de uma situação empresarial no qual os

5 participantes se encarregam da tarefa de administrar as empresas simuladas. THORELLI e GRAVES (1964) ), citado por SAUAIA (1989). Segundo SAUAIA (1995), são poucas as instituições de ensino no Brasil que utilizam sistematicamente o instrumento de jogos de empresas em seus cursos. Sua pesquisa destaca as seguintes: Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Universidade de São Paulo FEA-USP; Escola de Administração de Empresas de São Paulo Fundação Getúlio Vargas - EAESP; Escola de Administração de Empresas Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP; Faculdade de Administração Pontifícia Universidade Católica - PUC; Faculdade de Administração Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ; Faculdade de Administração Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS; Escola Superior de Propaganda e Marketing (S.P.) ESPM. A falta de pesquisa sobre a metodologia deixa em branco respostas a diversas perguntas. Por exemplo: qual a eficácia das simulações e jogos de empresa no ensino de Administração? Podem os jogos importados ser utilizados no Brasil sem adaptações? Equipes trabalham melhor em jogos mais simples ou mais complexos? A complexidade deve ser variável dentro do programa? Os modelos para a classificação do grau de complexidade são adequados ou podem ser melhorados? Qual teoria deve apoiar a construção do modelo a ser utilizado? Um ambiente econômico turbulento catalisa positivamente a aprendizagem? Muitas outras perguntas ainda poderiam ser feitas sobre a utilização e eficácia de uma simulação empresarial. CONCLUSÕES: Uma ponte entre o aprendiz e o conteúdo a ser aprendido deve levar em conta não apenas o professor, mas a metodologia utilizada. As ferramentas disponíveis através da tecnologia da informação, principalmente o computador e a internet estão disponíveis para mudar a relação entre aprender e aprendiz nos próximos anos. Precisamos aprender a utiliza-las. Simulações e jogos de empresa são instrumentos potencialmente poderosos para transformar a dinâmica do ensino de Administração. Eles não devem se constituir em instrumentos únicos, mas devem ocupar cada vez mais posição de destaque nos currículos. A tecnologia de informação deve continuar sua marcha de aumento da capacidade de processamento e diminuição do preço relativo. Isto faz com que visualizemos softwares cada vez mais complexos, especialistas e fáceis de manusear. Não seria hora de pensarmos, seriamente, em utilizá-los na simulação de ambientes organizacionais? BIBLIOGRAFIA: ACKOFF, Russel L.; SASIENI, M. W. Pesquisa Operacional. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda, ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de LIMA, Manolita CORREIA et alli. Perfil, Formação e Oportunidade de Trabalho do Administrador Profissional, São Paulo: ESPM, HILGARD, E.R. Teorias da Aprendizagem. São Paulo, Pedagógica e Universitária, KATZ, R. Skills of an effective Administrator, Harvard Business Review 52, set/out KEYS, J. B. & BIGGS, Willian D. A review of business games. In: GENTRY, James W. Guide to business gaming and experiential learning. London, Nichols/GP Publishing, 1990.p

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