A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS E OUTRAS FERRAMENTAS COMO RECURSOS PEDAGÓGICOS NA ELABORAÇÃO DE PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO EM SAÚDE MENTAL
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- Tomás Leal Cordeiro
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1 1 A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS E OUTRAS FERRAMENTAS COMO RECURSOS PEDAGÓGICOS NA ELABORAÇÃO DE PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO EM SAÚDE MENTAL Annatália Meneses de Amorim Gomes José Jackson Coelho Sampaio Resumo A participação nos processos de gestão e atenção em saúde é um dos princípios do Sistema Único de Saúde na construção de políticas públicas. Trata-se da experiência de facilitação de oficina com 56 trabalhadores e gestores da rede de atenção em saúde mental do município de Sobral-Ceará, visando a elaboração de um diagnóstico situacional. Utilizou-se de metodologias ativas, dinâmicas de grupo e a contação de histórias, segundo as etapas: apresentação e integração dos participantes, resgate histórico da saúde mental no município, facilidades e desafios, ações de enfrentamento das dificuldades e avaliação. A oficina possibilitou a integração, o resgate de valores, e a percepção compartilhada de que os participantes constroem a história com suas práticas. Contexto. Rede de atenção a saúde mental de Sobral. Os beneficiários foram 56 trabalhadores e gestores da saúde mental do município - trabalhadores do CAPS AD, CAPS GERAL, Residência Terapêutica, Hospitais, estudantes universitários, redes sociais e serviços de saúde em 20 de agosto de Sete saberes: Saber 7: A ética do gênero humano. Ambientes de aprendizagem como espaço de convivência e transformação. Processo pedagógico integrativo visando o respeito às diferenças e resgate de identidade histórica do desenvolvimento da rede de saúde mental em Sobral, mapeamento da situação atual do serviço de saúde e suscitar estratégias de mudança. Breve histórico da instituição O município de Sobral encontra-se ao norte do Estado do Ceará. Rompe com o modelo hospitalocêntrico com a implantação de uma rede de saúde mental em julho de Ao longo dos anos desenvolve um esforço em qualificar a rede de atenção e gestão em saúde mental ampliando e buscando o fortalecimento das práticas humanizadas do cuidado em
2 2 saúde mental. Os atores sociais protagonizaram movimentos de construção da saúde mental na rede com base nos princípios da reforma psiquiátrica. Passa no momento da intervenção pedagógica pela necessidade de avaliar e planejar seu trabalho em rede. Objetivo geral: Elaborar um levantamento situacional do contexto atual do CAPS de Sobral para a construção de um plano integrado de ações em saúde mental neste município. Objetivos específicos: - Integrar os participantes; - Compartilhar uma visão comum sobre a rede de atenção e gestão em saúde mental no município; - Construir as bases analíticas da situação atual do CAPS; - Elaborar um plano integrado de ações de saúde mental em rede. Relato da Vivência Apresentação e integração dos participantes O primeiro momento constou de uma apresentação e integração dos participantes visando criar um clima de descontração, favorecer a participação e o reconhecimento entre os agentes que compõem a rede de saúde mental e o CAPS.. Para propiciar este encontro trabalhou-se com a técnica da entrevista em dupla onde cada pessoa poderia responder a quatro questões disparadoras do diálogo: nome que gosta de ser chamado, uma característica/qualidade pessoal, maior desafio percebido no ambiente de trabalho (expectativas), e o que eliminaria da face da terra (valores). Promover intercâmbios que levem a aprendizagem cognitiva e à socialização das pessoas, considerando as condições normativas, efetivas, simbólicas e as relações humanas (TARDIF; LOIOLA E LOIOLA, 2004) são importantes no pensar e agir em saúde. As pessoas participaram animadamente desta etapa integrativa e no final refletiram juntos sobre a importância dos relacionamentos, conhecerem-se uns aos outros, os seus valores e compartilhar de conhecimentos e saberes. A história da saúde mental na narrativa dos trabalhadores Decorrente de concepções diferenciadas, as políticas de saúde e as formas como se organizam os serviços não são frutos apenas do momento atual, ao contrário, têm uma longa trajetória de formulações e de lutas (CUNHA E CUNHA, 2001). Optou-se por utilizar a contação de histórias para realizar o resgate histórico. Para todos os
3 3 participantes foram entregues tarjetas de cartolinas e folhas de papel ofício na qual deveriam registrar fatos e/ou momentos históricos importantes que fizessem parte da história de saúde mental do município de Sobral. Um quadrado formado de folhas de papel madeira emendado foi colocado no centro da sala. Este seria o livro aberto da história contada pelos sujeitos presentes à supervisão. A facilitadora convidou que alguém iniciasse o Texto escrevendo Era uma vez...no grande cartaz estendido no solo, à espera de mãos que lhe dessem vida. Os participantes foram aos poucos escrevendo e eram animados a colocar suas percepções ainda que não conhecessem a história. Foi sugerido que colocassem no cartaz a palavra Hoje, visando a participação na elaboração da história, mesmo os que estivessem chegando à rede de saúde mental. Iniciase o processo de construção com as pessoas inserindo aleatoriamente as tarjetas e papéis, elaborando um texto vivido do contexto histórico da saúde mental. A contação de história despertou curiosidade e motivação para a escuta ativa, e resgate de uma identidade coletiva, constatação que confirma o pensamento de Freyre (2002, p. 14), ao afirmar que cada vez:...ao cruzar a fronteira com o imaginário, a realidade se transforma da mesma maneira que acontece nos sonhos, obedecendo à linguagem de que nada é impossível e trazendo sempre consigo um vasto poder de transformação. O segundo convite consistiu em colocar ordem nos fatos registrados. Duas pessoas iniciaram e outros foram sugerindo modificações; a ação era incentivada neste momento, no sentido de mobilizar-se para atuar na formação do filme da história. Escolheu-se trabalhar com tarjetas móveis para que pudessem migrar de lugar no painel. Após todos verem os conteúdos e concordarem com a disposição e seqüência, foram lidos todos os eventos citados e ainda perguntado ao grupo se gostariam de fazer alterações. Em seguida, no terceiro momento, as pessoas mais antigas envolvidas com a saúde mental no município contaram a história, seguindo o roteiro desenhado pelos participantes. No último momento houve o compartilhar dos participantes destacando: a importância de conhecerem a história, de se colocarem diante da história e verem o que conseguiram
4 4 realizar, de que estão construindo a história, e por último, que já fizeram muito, dentre outras observações. O grande painel histórico foi afixado na sala. Observou-se que o grupo tem potência e identidade construída ao longo da história, que se faz de idas e vindas, avanços e desafios permanentes, requerendo reinvenções, planificação e negociações. Os participantes consideraram muito importante o resgate histórico, pois se colocaram diante de conquistas que valeram a pena ser lembradas e apropriadas por todos. Aqueles que se sentem chegando ao trabalho destacaram a importância de conhecer os percursos realizados: estamos construindo a história, demonstrando um certo orgulho de pertencimento Facilidades e Desafios na Atenção e Gestão em Saúde Mental no Município Os participantes foram divididos em dois grupos de forma espontânea, respeitando as preferências de agrupamento. Um grupo deveria conversar sobre as facilidades e o outro sobre os desafios existentes na atenção e na gestão em saúde mental em Sobral. Este diálogo deveria ser partilhado nos grupos resultando num elenco de itens a serem apresentados na plenária do grupo. Para isso deveriam escolher um animador da roda, um coordenador e outro que tomaria anotações das falas. Depois de concluídos os trabalhos dos dois grupos, foram feitas as apresentações em plenária e todos poderiam acrescentar ou debater sobre as idéias propostas. O primeiro grupo, o das Facilidades, listou 31 itens que significaram facilitadores ao processo de desenvolvimento da rede de atenção em saúde mental no município de Sobral O grupo que conversou sobre os desafios estabeleceu inicialmente 22 itens de dificuldades no processo de trabalho envolvendo diferentes aspectos. Em seguida elaboraram uma classificação em quatro temáticas: estrutura, processo de trabalho, macro-política e outros que consideraram múltiplos, ou seja, com variadas interfaces entre os anteriores, pertencendo a mais de uma temática. Ações estratégicas para a superação dos desafios Após as apresentações dos dois grupos e dos debates, a etapa seguinte constou da escolha por todos os participantes de dois desafios, para os quais propuseram ações estratégicas visando à superação das dificuldades.
5 5 Apreciação da Vivência A vivência possibilitou, assim, ganhos de aprendizagem no tocante a solidariedade e pensamento sistêmico, permitindo que os participantes se percebessem e abrissem o olhar para perceber o todo e como se integrar neste todo coletivo. Os participantes demonstraram muito interesse em participar em todo o processo da supervisão, sendo mantida uma freqüência de participação acima de 50% até o final do dia. Observou-se, no entanto, que algumas pessoas se expressavam com mais facilidade, e uma maioria permaneceu mais passiva. Isto pode indicar a necessidade de fortalecimento de maior grupalidade entre os integrantes da rede de saúde mental do município de Sobral, da sua autonomia e protagonismo no pensar seus processos de trabalho e incremento do diálogo. Na medida em que se empregam recursos que promovem a participação e a troca de saberes, incentiva-se a um pensar e fazer em saúde que avance as atitudes para práticas compartilhadas mais adequadas à complexidade da condição humana na atenção e gestão em saúde. A vivência ao integrar a dimensão do lúdico, favoreceu a espontaneidade e expressão das pessoas, criando um clima de abertura para a aprendizagem, e que cada participante comparecesse a oficina com suas idéias, questões e afetos, seu jeito de andar a vida e de pensar. Enriqueceu a produção do conhecimento sobre a realidade, o pensar reflexivo e a formulação de estratégias de mudanças de melhoria dos serviços e a satisfação dos trabalhadores e usuários. Sugere-se que novos encontros sejam propiciados de modo a estreitar laços entre os integrantes da rede de saúde mental e ocorram mais possibilidades de enfrentamento coletivo das dificuldades. O desenvolvimento de uma ética solidária tem mais chance de se efetivar nos serviços, na medida em que processos participativos se inserem tanto nas ações de cuidado (clinica) como na gestão dos serviços de forma indissociável, isso implica aumentar a democracia institucional com espaços de conversa, troca de experiências e trabalho em equipe, o que a vivência possibilitou. A partir desta práticas coletivas compartilhadas, poderá aumentar a potência de uma reforma do pensamento que amplie a
6 6 clínica para uma prática transdisciplinar, onde a conexão entre saberes e inclusão dos diferentes nestes encontros cotidianos favoreçam a produção de vida e saúde. No final foi proposto um circulo com todos os participantes que expressaram seus sentimentos, reações e percepções: proveitoso, aprendi muito, precisamos de mais encontros como esse, foi muito boa a contação de história da saúde mental em Sobral, vimos o que já avançamos, foi dinâmico, conseguimos fazer muito em um dia, cumprimos nosso objetivo, excelente, interessante. Referências Bibliográficas CUNHA, J. P. P; CUNHA, R E. O sistema único de saúde: princípios. In: BRASIL, Ministério da Saúde. Gestão municipal de saúde: textos básicos. Rio de Janeiro: MS; p FREYRE, K. (Org.). A fantástica história dos contadores de histórias no reino do tudo é possível II: histórias para acordar os homens. Recife: Edupe; TARDIF, M.; LOIOLA, F. A.; LOIOLA, L. J. O trabalho docente, a didática e o ensino: interações humanas, tecnológicas e dilemas. Conseil Canadien de la recherche em Sciences Humanies (CRSH). Canadá: Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); 2004.
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