Correio Braziliense - DF 16/01/2009 Economia 12
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1 Correio Braziliense - DF 16/01/2009 Economia 12
2 Jornal do Comércio Online RS 16/01/2009 Economia Online (Não Assinado) Para analistas, juro menor estimula emprego Quando o assunto é a melhor forma para estimular o emprego durante a crise financeira, é consenso mesmo entre economistas de diferentes escolas e vertentes que a melhor medida que o governo pode tomar é reduzir os juros. A menos de uma semana da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), os economistas concordam que um corte da Selic, que está atualmente em 13,75% ao ano, pode ajudar a estimular a atividade econômica e a demanda, o que, por sua vez, influenciam diretamente o emprego. "O Brasil tem um instrumento com muito espaço para ser usado que é a redução dos juros", destaca Edward Amadeo, PhD em Economia pela Harvard University e ex-ministro do Trabalho durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Em sua avaliação, uma coordenação entre as políticas fiscal e monetária seria muito positiva para o País. Para tanto, ele explica que o governo deveria adotar uma postura mais transparente com relação à área fiscal e oferecesse essas condições como parâmetro de atuação ao Banco Central. "O melhor seria que o País fizesse quase nada na área fiscal e deixasse o Banco Central reduzir os juros tanto quanto precisasse. Talvez essa seja uma excelente oportunidade para a taxa de juros no Brasil ir abaixo de 10%", aponta. A visão sobre a necessidade de reduzir os juros é compartilhada por Claudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp, escola brasileira posicionada mais à esquerda no campo teórico-econômico. Para ele, a combinação entre a queda dos juros e a flexibilização da meta para superávit primário permitiria ao governo contribuir para o crescimento. Dedecca também acredita que essas medidas também abririam a possibilidade para o governo fazer "alguma desoneração fiscal em alguns segmentos que porventura encontrem maior dificuldade de crescimento em 2009". Dedecca ressalta que o governo pode tomar medidas para estimular investimentos, a infraestrutura e financiar a produção. "A postura complicada do governo está na política monetária, na minha opinião", critica. Ele destaca que a manutenção dos juros nos níveis atuais tem afetado as empresas principalmente com a situação de escassez de crédito, o que obriga bancos a pagar um prêmio para captar recursos, encarecendo dessa forma os empréstimos. "Você vai resolver a crise dentro da política econômica, dentro da ampliação do investimento público, na redução das taxas de juros, na ampliação dos gastos
3 públicos e sociais, ampliando o seguro-desemprego", acrescenta José Krein, professor e diretor-adjunto do Instituto de Economia da Unicamp. O professor da PUC-RJ e economista da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, ressalta que mesmo havendo espaço para uma queda dos juros, o efeito que tal medida teria sobre a economia teria uma defasagem de seis a nove meses. "Da mesma forma que os juros não afetam a economia quando eles estão subindo no curto prazo, eles também não afetam quando estão caindo no curto prazo. Eles afetam em um prazo mais longo", explica. Ele acredita que uma queda da taxa básica só deve começar a fazer efeito sobre o nível de atividade no segundo semestre. Aumento do desemprego é inevitável, avalia CNI O aumento do desemprego neste momento é inevitável e há pouco que o governo possa fazer em relação a isso, de acordo com economistas. "A produção está se adequando à demanda", diz o chefe da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. "Parte da demanda se perdeu de forma permanente. Então, as empresas fazem um ajuste no quadro de pessoal", completa ele, que defende a redução de jornada de trabalho e de salários. O diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Sabóia, acredita que os postos de trabalho temporários criados pelo aquecimento da economia antes do agravamento da crise estão perdidos e que o foco deve ser minimizar o impacto sobre o emprego formal. "O governo vem sendo bastante ativo e deve continuar, mas não vejo como não ter cortes", diz. Segundo os especialistas, punir empresas que demitam com a suspensão de crédito de bancos públicos, como sugeriu o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, na terça-feira passada, não ajuda o quadro geral. "A gente vive em economia de mercado. Com as vendas caindo, as empresas vão demitir", raciocina o coordenador do grupo de Análises e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo Nonnenberg. Isso já vem acontecendo, argumenta, com base na pesquisa mensal de emprego e salário na indústria realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mostrou redução de pessoal ocupado tanto em outubro (-0,1%) quanto em novembro (-0,6%, maior queda desde outubro de 2003). Os resultados de dezembro ainda não saíram. Nonnenberg acredita que a tendência é piorar. "Ainda estamos começando a sentir os efeitos da crise", analisa o coordenador. "O mundo está importando menos. Então, vamos exportar menos", afirma. Castelo Branco e Sabóia consideram possível que o quadro melhore no terceiro trimestre, normalmente o mais aquecido. O professor entende que as negociações sobre jornada de trabalho devem ser por setores, já que o impacto da crise é variável. A redução de juros é recomendada pelos especialistas, mas além de demorar para fazer efeito, também não pode ser muito grande. "O Banco Central vai reduzir o que puder. Mas não vai ser uma redução tão grande assim a ponto de afetar a atividade econômica", diz Nonnenberg.
4 O pesquisador do Ipea acha que o governo poderia cortar gastos correntes para aumentar investimento público. Os investimentos da Petrobras também ajudam o emprego. Mas observa que com a queda vertiginosa do preço do petróleo nos últimos meses, a estatal "vai atrasar certamente o pré-sal". Indústria de máquinas sofre com inadimplência e queda nas vendas A inadimplência e a queda nas vendas viraram rotina para as empresas que fornecem máquinas e equipamentos para as indústrias brasileiras, o que, na avaliação de representantes do setor, é um reflexo da crise financeira mundial, que atingiu em cheio a confiança dos empresários e o mercado de crédito no exterior e no Brasil. De acordo com o vice-presidente da Associação Brasileira de Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Nogueira, as empresas enfrentaram queda que deve chegar a 26% nas vendas no último trimestre de Os números referentes a dezembro de 2008 ainda não foram fechados, mas estima-se que as vendas fiquem 12% abaixo do volume comercializado em novembro, mês que registrou queda de 14% em relação a outubro. "As mudanças têm ocorrido de forma muito rápida. Temos um aumento de inadimplência e uma queda muito brusca. Essa queda vem ocorrendo de forma generalizada. Basicamente, todos os setores deixaram de comprar, por adiamento de projetos, ou mesmo, cancelamento de projetos. Foi uma queda muito abrupta, que ainda está acontecendo", afirmou Nogueira. Na próxima semana, representantes do setor se reunirão com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, e com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), Luciano Coutinho. A principal reivindicação dos empresários é por melhores condições de crédito. "Com o crédito sendo liberado a contagotas, como está ocorrendo, muitas empresas vão fechar as portas", disse Nogueira. A queda nas vendas tem provocado demissões em um setor que há quase dois anos apenas contratava. De acordo com Nogueira, o mês de novembro de 2008 inaugurou resultados negativos que não vinham se registrando na indústria de máquinas desde agosto de "Em novembro do ano passado, tivemos quase 2 mil demissões, um resultado negativo que não foi registrado nos 22 meses anteriores.", destacou. As demissões prosseguiram e, de acordo com informações da Abimaq, o mês de janeiro poderá superar o número de dispensas registrado em novembro. "Neste mês estão ocorrendo demissões. Não tenho números ainda, mas tenho ouvido de associados nossos que estão fazendo demissões. O mês de janeiro, tradicionalmente, não é um bom mês para vendas, mas este está sendo pior", considerou. Pacote do governo focará áreas estratégicas O pacote de bondades que o governo vai anunciar ainda este mês para atenuar o impacto da crise financeira vai abranger quatro áreas consideradas estratégicas: habitação, construção civil, indústria automobilística e agricultura. Em conversas reservadas, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula
5 da Silva disse que a "pancada" na economia está indo "muito além" do esperado. Depois de isentar a indústria automobilística do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a equipe econômica deve agora incentivar a compra de carros usados. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu uma pista do que o governo prepara: afirmou que a compra do Banco Votorantim pelo Banco do Brasil permitirá aumentar o financiamento de veículos, principalmente os usados. A instituição tem grande experiência na administração de carteiras de crédito para o setor. Preocupado com as demissões na indústria automobilística - no início da semana, a General Motors anunciou que dispensará 744 funcionários -, Lula está convencido de que é preciso socorrer os setores estratégicos da economia para manter os empregos e o consumo. O governo também vai anunciar, até fevereiro, um plano de mobilidade urbana, com investimentos em metrô, corredores de ônibus e veículos leves sobre trilhos nas grandes cidades. Lula ficou contrariado com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que, em meio às negociações com as centrais sindicais para redução da jornada de trabalho e salários, disse que, mesmo com acordo, as empresas não podem se comprometer a manter os postos de trabalho. Na avaliação do governo, as medidas tomadas até agora para impedir a recessão restabeleceram a liquidez, mas os dois maiores problemas, hoje, estão relacionados aos juros altos e ao spread bancário - diferença entre o custo de captação dos recursos e a taxa que é cobrada do cliente. "É preciso derrubar não só a Selic como o spread", disse um ministro com livre acesso ao gabinete do presidente. "Na briga entre Cypriano e Meirelles, os dois têm razão", brincou, numa referência ao ex-presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, que propôs uma reunião extraordinária do Comitê de Política Monetária (Copom) para baixar os juros. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reagiu com a cobrança de que os bancos deveriam reduzir o spread, seguindo movimento dos bancos oficiais. Nas conversas com o Lula, o presidente do BC afirma que a instituição está comprometida com a política antirrecessão, mas adverte que, apesar do pacto anti-inflação, o tamanho da queda dos juros vai depender dos números da economia e dos preços. A expectativa do governo, agora, é de que a taxa básica de juros (Selic), hoje em 13,75%, caia entre 0,50 a 0,75 ponto percentual. No Palácio do Planalto, o argumento para o corte é que o ambiente macroeconômico mudou e o choque cambial foi absorvido pela deflação no mundo. Nesse cenário, o BC não teria mais como sustentar os juros em patamar tão elevado. Lula se reunirá com centrais sindicais na segunda-feira O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que se reunirá com todas as centrais sindicais do País na segunda-feira para discutir o que o governo
6 poderá fazer para evitar que ocorram demissões no País. "Já pedi ao Ministério do Trabalho um relatório e vou pedir às centrais que apresentem para mim um relato completo de tudo o que está acontecendo sobre o risco de demissões. Só assim vamos ver o que podemos fazer." Com a suspensão das negociações entre Força Sindical e Fiesp, a CUT avalia que há agora oportunidade para que as centrais possam se unir em torno de uma agenda positiva de combate aos efeitos da crise financeira internacional sobre a economia brasileira. A central já defendia uma redução temporária de impostos, por três ou quatro meses, para as empresas mais afetadas pela queda da demanda e pela restrição do crédito. Como contrapartida, as empresas teriam de manter o emprego dos trabalhadores. "Reduzir a jornada e os salários seria dar um tiro no pé. Ninguém vai sair dessa crise com uma proposta que diminui o poder de compra dos trabalhadores", disse o presidente da CUT, Artur Henrique da Silva. Na segunda-feira, a CUT vai reunir suas representações estaduais e algumas das categorias mais importantes para discutir como a crise está afetando cada setor e propor soluções para minimizar os impactos no emprego. Cenário eleva gastos do FAT com seguro-desemprego O agravamento da crise financeira internacional no último trimestre de 2008, que refletiu em mais demissões no País em dezembro, também elevou os gastos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) com pagamento de segurodesemprego. De acordo com dados preliminares do Ministério do Trabalho e Emprego, em dezembro foram requeridos 513 mil benefícios, número 5% superior aos requerimentos feitos nas superintendências regionais do trabalho de dezembro do ano anterior. Com o dado ainda preliminar, o período de janeiro a dezembro de 2008 registra 6,8 milhões de pedidos de seguro-desemprego contra 6,3 milhões que foram solicitados em todo o ano de O dado fechado só deverá ficar pronto, segundo a assessoria do Ministério do Trabalho, no final de janeiro. O seguro-desemprego é devido a todos os trabalhadores com carteira assinada demitidos sem justa causa. Os valores podem variar de R$ 415,00 a R$ 776,00, a depender da faixa salarial dos trabalhadores e do tempo anterior pelo qual ele esteve desempenhando uma atividade com carteira assinada.
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