03 MATÉRIA PRINCIPAL LAUDO NEUROPSICOLÓGICO DE IDOSOS: QUESTÕES LEGAIS 07 ENTREVISTA ESTILO PARENTAL 10 RELATO DE PESQUISA
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- Sônia Neiva do Amaral
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1 EDIÇÃO MAI/2017
2 NESTA EDIÇÃO MATÉRIA PRINCIPAL LAUDO NEUROPSICOLÓGICO DE IDOSOS: QUESTÕES LEGAIS 07 ENTREVISTA ESTILO PARENTAL 10 RELATO DE PESQUISA CODIFICAÇÃO E RECUPERAÇÃO DA MEMÓRIA DECLARATIVA APÓS INTERFERÊNCIA RETROATIVA EM PALAVRAS HOMÔNIMAS 14 RESUMO DE ARTIGO MORAL TRANSGRESSIONS CORRUPT NEURAL REPRESENTATIONS OF VALUE
3 MATÉRIA PRINCIPAL Laudo Neuropsicológico de Idosos: Questões legais O laudo neuropsicológico de idosos deve ser elaborado cuidadosamente, já que poderá ser utilizado em contexto jurídico, devido às intervenções necessárias nos quadros demenciais (Zimmermann, Kochhann, Goncalves, & Fonseca, 2016). Nas demências os prejuízos cognitivos interferem com a habilidade nas atividades de vida diária. Inicialmente este prejuízo engloba as atividades de vida diária mais complexas (ou instrumentais), que incluem a capacidade de preparar refeições, cuidar das finanças, administrar sua própria medicação, entre outros. Com a evolução do quadro demencial as atividades de vida diária básicas, que compreendem o autocuidado (como a capacidade para realizar a higiene pessoal e o controle esfincteriano), são afetadas (Chaves et al, 2011). Desta maneira, a independência dos indivíduos com demência acaba sendo comprometida, culminando com a dependência total. Nesses casos, a interdição judicial pode ser necessária com a evolução da doença, pois estes indivíduos tornam-se incapazes de cuidar de si próprios de forma autônoma (Reisberg et al, 2011). Nesse sentido, alguns domínios cognitivos podem ser mais relevantes para a capacidade funcional do que outros, por exemplo, o prejuízo no funcionamento executivo está relacionado a um maior prejuízo no desempenho funcional do que o prejuízo mnemônico (Royall et al, 2007). No entanto, mesmo instrumentos de rastreio cognitivo, como o Mini-Exame do Estado Mental, podem evidenciar associação entre o prejuízo cognitivo e o declínio funcional (Royall et al, 2007). Ainda, a utilização de tarefas ecológicas, como a escrita de uma carta, também demonstrou associação entre a expressão gráfica e o declínio cognitivo (Onofri et al, 2016). Neste estudo, os autores salientam que a identificação de erros na escrita pode facilitar para a compreensão da progressão de um quadro demencial e identificar os estágios em que o paciente pode ser considerado suficientemente lúcido para tomar decisões. Assim, na elaboração de um laudo de avaliação neuropsicológica de um idoso é fundamental que haja a descrição da capacidade funcional deste indivíduo. A definição das tarefas que ele ainda consegue realizar e a identificação das atividades que ele deveria evitar, devido possíveis danos que possa ocorrer para si ou para terceiros, necessitam ser relatadas. Há evidências que a capacidade para tomar decisões relacionadas ao tratamento farmacológico encontra-se prejudicada já em idosos com Comprometimento Cognitivo Leve, que é o estágio anterior aos quadros demenciais (Okonkwo et al, 2008), ficando mais comprometida com a evolução da demência (Huthwaite et al, 2006). Ainda, foi demonstrado que um percentual maior de pacientes com demência apresenta prejuízo ao dirigir do que idosos com envelhecimento normal, 62% em relação a 3%, (Barco et al,
4 MATÉRIA PRINCIPAL CONTINUANDO ). Portanto, o posicionamento do neuropsicólogo em relação à capacidade funcional do idoso deverá estar claramente reportado no laudo a fim de que não traga dúvidas para a fonte encaminhadora ou outros profissionais que possam fazer uso deste documento, como no caso de ser utilizado em processo judicial. Dessa forma, todas as informações contidas no laudo devem estar descritas de maneira clara, objetiva e adequada (Zimmermann et al, 2016). O documento necessita ser compreensível aos leitores, seja ele o próprio paciente avaliado, os seus familiares, o médico que solicitou a avaliação ou para o advogado e o juiz. Ainda, os dados contidos no laudo deverão ser úteis para o caso que esteja sendo avaliado, sem a inclusão de conteúdo que não seja pertinente ou que possa causar dúvida. Adicionalmente, o contato com informantes deve ser reportado, indicando quem foi a pessoa que forneceu as informações sobre o paciente. De maneira geral, a avaliação da capacidade funcional conta com as informações disponibilizadas através de informante. É imprescindível que ele seja confiável, tenha conhecimento de como o paciente era antes do aparecimento do quadro para o qual ele está sendo avaliado e consiga fornecer as informações adequadas e necessárias para a avaliação. Outro aspecto que deverá constar no laudo diz respeito à duração dos prejuízos avaliados, pois poderá ser temporária (como em pacientes pós acidente vascular cerebral), nos quais poderá haver recuperação dos prejuízos, ou o quadro poderá ser progressivo (como no caso da demência ocasionada pela doença de Alzheimer). Em grande parte dos casos a reavaliação será necessária para definição/delimitação das capacidades funcionais ao longo do tempo. Desse modo, os principais aspectos que deverão constar no laudo neuropsicológico de idosos estão relacionados à capacidade funcional do idoso e se esta pode ser referente a alguma doença progressiva, pois neste caso a autonomia e independência poderão estar prejudicadas e haver a necessidade da interdição judicial. Portanto, mesmo que o encaminhamento para a avaliação não tenha vindo dentro de um contexto judicial, o laudo poderá ser utilizado para este fim. Assim, a escrita do mesmo deverá ser realizada com muita cautela.
5 MATÉRIA PRINCIPAL CONTINUANDO... REFERÊNCIAS 1. Barco, P. P., Baum, C. M., Ott, B. R., Ice, S., Johnson, A., Wallendorf, M., & Carr, D. B. (2015). Driving errors in persons with dementia. Journal of the American Geriatrics Society, 63(7), Chaves, M. L. F., Godinho, C. C., Porto, C. S., Mansur, L., Carthery-Goulart, M. T., Yassuda, M. S., Beato, R. (2011). Avaliação cognitiva, comportamental e funcional. Dementia & Neuropsychologia, June;5(Suppl 1): Huthwaite, J. S., Martin, R. C., Griffith, H. R., Anderson, B., Harrell, L. E., & Marson, D. C. (2006). Declining medical decision making capacity in mild AD: a two year longitudinal study. Behavioral sciences & the law, 24(4), Okonkwo, O. C., Griffith, H. R., Copeland, J. N., Belue, K., Lanza, S., Zamrini, E. Y.,... & Marson, D. C. (2008). Medical decision-making capacity in mild cognitive impairment A 3- year longitudinal study. Neurology, 71(19), Onofri, E., Mercuri, M., Archer, T., Rapp-Ricciardi, M., & Ricci, S. (2016). Legal medical consideration of Alzheimer s disease patients dysgraphia and cognitive dysfunction: a 6 month follow up. Clinical interventions in aging, 11, Reisberg, B., Jamil, I. A., Khan, S., Monteiro, I., Torossian, C., Ferris, S., Shulman, M. B. (2011). Staging dementia. Principles and Practice of Geriatric Psychiatry, 3, Royall, D. R., Lauterbach, E. C., Kaufer, D. M., Malloy, P., Coburn, K. L., Black, K. J. (2007). Committee on Research of the American Neuropsychiatric Association. The cognitive correlates of functional status: a review from the Committee on Research of the American Neuropsychiatric Association. The Journal of Neuropsychiatry & Clinical Neurosciences, 19(3): Zimmermann, N., Kochhann, R., Gonçalves, H. A., Fonseca, R. P. (2016). Como escrever um laudo neuropsicológico? 1. ed. São Paulo: Pearson Clinical Brasil, 244p.
6 MATÉRIA PRINCIPAL Autora Renata Kochhann Psicóloga formada pela UNISINOS; Doutora em Medicina pela UFRGS; Professora colaboradora do PPG em Psicologia da PUCRS, área Cognição Humana. Coordenadora do Grupo de Neuropsicologia do Envelhecimento (GNE). Pesquisadora do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e do Hospital Moinhos de Vento.
7 Relato de pesquisa ENTREVISTA SBNp entrevista: Estilo Parental 1. O que é Estilo Parental? Os pais utilizam de várias técnicas e comportamentos quando estão educando seus filhos, seja para estabelecer uma regra, ensinar algo novo, estimular certo comportamento ou acabar com outro comportamento indesejado. Esse conjunto de comportamentos e técnicas é chamado de Estilo Parental. Diana Baumrind foi uma das pioneiras em estudos sobre estilos parentais e trouxe um modelo que classifica três estilos diferentes: Democrático, Autoritário e Permissivo. O estilo Democrático é aquele caracterizado por altos níveis de controle comportamental e de afeto. Nesse estilo os pais conseguem acolher seus filhos quanto às necessidades emocionais e físicas, são capazes de dar suporte às crianças, conseguem ser assertivos, dão autonomia à criança, conseguem controlar o comportamento de seus filhos e costumam explicar os motivos das regras como forma de estipulá-las. O estilo Autoritário é caracterizado por um alto nível de controle e níveis muito baixos de afeto. Pais autoritários costumam utilizar de muita punição como forma de controle comportamental, não explicam os motivos das regras, não conseguem atender às necessidades emocionais dos filhos, não dão suporte nem autonomia às crianças. Por fim, o estilo Permissivo é caracterizado por um nível baixo de controle e nível alto de afeto. Pais permissivos não conseguem manejar o mau comportamento da criança, costumam ser inconsistentes, quando estipulam uma regra acabam por não conseguir segui-la, cedem às vontades e desejos de seus filhos, apesar de serem afetuosos e responsivos às necessidades emocionais da criança. 2. O Estilo Parental pode influenciar aspectos da vida da criança? Pode sim, e muito! Estudos encontraram que o estilo parental democrático está relacionado com desfechos positivos nas crianças, além de estar associado com os comportamentos mais desenvolvidos e bem adaptados das crianças. Os estilos autoritário e permissivo estão ambos relacionados a desfechos negativos nas crianças e estão associados ao mau comportamento também. Alguns estudos encontraram que o estilo parental pode influenciar o desempenho acadêmico, as habilidades sociais e o desenvolvimento emocional das crianças. Em uma revisão realizada em 2014 são apresentados achados acerca da influência que o estilo parental e algumas técnicas adotadas pelos pais pode ter sobre o desenvolvimento das Funções Executivas das crianças. Os autores relatam que o suporte que os pais dão aos seus filhos tem uma correlação direta com o desenvolvimento da flexibilidade cognitiva e do controle inibitório. Existem estudos que trazem que a combinação entre estimulação e sensibilidade às
8 Relato de pesquisa ENTREVISTA CONTINUANDO... necessidades da criança, aspectos que condizem com o estilo democrático, predizem o desempenho em tarefas de atenção e de memória, além de mediarem os efeitos negativos do nível socioeconômico baixo nas funções executivas. 3. Alguma característica da criança pode influenciar o Estilo Parental de seus pais? Não só pode como estudos encontraram que essa direção parece mais importante. Pardini, um pesquisador da relação entre pais e suas crianças, diz que essa interação pai-filho é bidirecional. Segundo o autor, tanto a criança influencia o estilo parental adotado por seus pais, como os pais influenciam o comportamento de seus filhos dependendo do estilo parental utilizado. Dentro desse modelo bidirecional, grande foco tem sido dado a crianças com problemas de comportamento e estudos indicam que a influência do comportamento das crianças sobre o estilo parental é mais relevante do que o contrário. Pesquisas com crianças com comportamentos disruptivos mostram que esse comportamento na criança elicia práticas parentais negativas, como o maior uso de punição, hostilidade verbal, coerção física e inconsistência. Essas práticas parentais, por sua vez, acabam por agravar os problemas comportamentais das crianças e as famílias entram em um ciclo desastroso! 4. Existe alguma forma de ensinar os pais a adotarem o estilo Democrático, já que ele parece ser o mais vantajoso? Existe sim e essa forma é por meio de técnicas efetivas de manejo comportamental. A Psicologia Comportamental é a linha que pode ajudar os pais com isso, por meio do Treinamento de Pais. Esse programa foi criado para ensinar os pais como reforçar e como punir os comportamentos de seus filhos da forma mais eficaz. Os pais aprendem a usar controle comportamental assertivo, estabelecendo regras claras e simples e as fazendo cumprir por meio de reforço. Também se ensina formas de punição, mas sem hostilidade verbal ou punição física, para tornar o controle comportamental mais efetivo e estimular o desenvolvimento de afeto entre pais e filhos. O Treinamento de Pais é comprovadamente um programa eficaz, que traz uma melhora do ambiente familiar e do repertório comportamental da criança e dos pais.
9 ENTREVISTA CONTINUANDO... REFERÊNCIAS 1. Baumrind, D. (1967). Child care practices anteceding three patterns of preschool behavior. Genetic psychology monographs, 75(1), Fay Stammbach, T., Hawes, D. J., & Meredith, P. (2014). Parenting influences on executive function in early childhood: A review. Child Development Perspectives, 8(4), Kazdin, A. E. (2005). Parent management training: Treatment for oppositional, aggressive, and antisocial behavior in children and adolescents. Oxford University Press. 4. Pardini, D. A. (2008). Novel insights into longstanding theories of bidirectional parent child influences: Introduction to the special section. Journal of abnormal child psychology, 36(5), Power, T. G. (2013). Parenting dimensions and styles: a brief history and recommendations for future research. Childhood Obesity, 9(s1), S-14. Thaís Dell'Oro Oliveira Graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG. Vinculada ao do Laboratório de Neurociência/UFMG e integrante do Núcleo de Investigação da Impulsividade e Atenção (NITIDA) do Hospital das Clínicas, UFMG.
10 RELATO DE PESQUISA Codificação e Recuperação da Memória Declarativa após Interferência Retroativa em Palavras Homônimas A memória inclui um conjunto de mecanismos que processam as informações de formas diferentes, entre esses está a Memória de Longo Prazo Declarativa (MLPD). A MLPD é responsável pelo armazenamento e recuperação de eventos passados em longo prazo de forma explícita e consciente (Tulving, 2001). A Memória Episódica e a Memória Semântica são subsistemas da MLPD e permitem, respectivamente: a recordação consciente de episódios específicos, registradas pela percepção original de um acontecimento ou resíduos desta percepção; e a recordação de fatos em um contexto geral, auxiliando a estruturar o mundo em conceitos, sem necessariamente estar associada ao episódio em que ele foi aprendido (Squire, 2004; Tulving, 2001). A perda destas informações pode ser chamada de esquecimento. Uma teoria que busca elucidar aspectos do esquecimento é a Teoria da Interferência Retroativa. Esta teoria sugere que há a disputa entre duas informações, em que uma informação apresentada posteriormente age como fator interveniente na recordação de uma informação apresentada previamente (Alves & Bueno, no prelo; Lechner, Squire & Byrne, 1999). Na linguagem, um mesmo termo pode evocar várias representações e uma palavra pode ser associada a diversas representações cognitivas. Trabalhos clássicos demonstraram que o contexto pode afetar a forma pela qual uma palavra homônima é codificada (Barclay e cols., 1974). Palavras homonimas possuem duas ou mais representações semânticas (significado), apesar de possuirem a mesma fonética e grafia. Por exemplo, os sentidos da palavra macaco só podem ser diferenciadas pelo contexto: o macaco comeu a banana (animal); o macaco levantou o carro (ferramenta). Uma das hipoteses é a de que tais palavras possuem representações distintas na Memória de Longo Prazo, e o contexto se limitaria a determinar qual delas é acessada (Barclay & Reid, 1974). O presente estudo se propôs investigar o efeito interferente de palavras homônimas com frases com contexto congruentes e incongruentes, tendo em vista que a forma como as palavras homônimas são codificadas e recuperadas podem ser influenciadas pelo contexto em que elas são apresentadas, verificando assim a relação dos distintos tipos de MLPD para a codificação e recuperação dessas informações. Para isso, um experimento com participantes saudáveis (N-90) foi realizado. Neste experimento, foram apresentadas listas de palavras (9 listas com 15 palavras), sendo que cada uma possuía tríades de palavras localizadas na 7ª, 8ª e 9ª (esta sendo considerada a palavra-chave) posições, sendo
11 RELATO DE PESQUISA CONTINUANDO... elas: 1) palavras com relação semântica e com uma palavra homônima como palavra-chave (rim - pedra - cálculo; três listas); 2) palavras não-homônimas, mas com relação semântica (fogo - incêndio - bombeiro; três listas); e 3) palavras sem relação semântica (túnel - raquete - válvula; três listas). Após ouvir uma lista o participante ouvia uma frase contendo a palavra-chave. Para as listas sem palavras homônimas, o conteúdo da frase remetida ao sentido da palavra (i.e. O bombeiro apagou as chamas e Maria acionou a válvula de escape ), contudo, os participantes foram divididos em três grupos que na condição em que ouviam uma das listas que continham palavras homônimas eram apresentadas frases com sentido congruente ao da palavra ( Pedro retirou o cálculo na cirurgia ); uma frase com sentido incongruente ( Pedro resolveu o cálculo da prova ) e uma frase controle ( Pedro leu o livro ). Em seguida, era solicitado ao participante que esse recordasse livremente a lista de palavras e a frase correspondente. Este procedimento era repetido para cada uma das nove listas. Procedimento repetido nove vezes durante o experimento. Todas as listas e condições foram pseudoaleatorizadas. Foram realizados procedimentos para ajustes do experimento, tais como avaliações das tríades com palavras homônimas e das frases que foram utilizadas no experimento, com a intenção de construir e testá-las a partir do parecer de juízes em um questionário aberto on-line (N - 310), além de um piloto (N-25) com o objetivo de testar se a posição das palavras-chave nas tríades podia influenciar na recordação, assim como testar o uso das tríades homônimas com os sentidos mais ou menos comuns na língua portuguesa. A posição da palavra homônima nas tríades se deu pelo fato das duas primeiras palavras com relação semântica serem essenciais para o fortalecimento do contexto em que a última homônima seria apresentada possibilitando uma maior ativação semântica. Os resultados do piloto indicaram que as listas com palavras homônimas com sentido mais comum e as listas de palavras com relação semântica foram mais recordadas que as listas com palavras homônimas com sentido menos comum e todas foram mais recordadas que a lista de palavras sem relação semântica. Este resultado demonstrou que as palavras homônimas com sentido mais comum agem semânticamente como as palavras com relação semântica, já as com sentido menos comum tendem a ir de encontro às redes semânticas dos indivíduos, dificultando
12 RELATO DE PESQUISA CONTINUANDO... sua recordação. No experimento foram utilizadas as palavras homônimas mais comuns. No experimento principal não houve diferença estatística entre as frases congruentes, incongruentes e controle. Os resultados mostraram que a relação semântica entre as tríades é mais resistente do que a flexibilidade semântica representada pelas palavras homônimas mesmo na presença das frases congruentes ou incongruentes ao contexto das palavras nas listas. A utilização das frases incongruentes não interferiu suficientemente a recordação das palavras nas listas, assim como as frases congruentes não a facilitaram. Esperava-se que um conteúdo congruente a uma representação semântica seria lembrado com mais facilidade do que um conteúdo incongruente devido à interferência retroativa, porém neste trabalho este efeito não foi encontrado. Ao contrário do que era previamente esperado, a partir de uma tendência nos resultados em que as frases incongruentes apresentaram um efeito maior - porém não significativo - hipotetizamos para próximos estudos de que as frases incongruentes funcionarão como facilitadores para a recordação das palavras homônimas da lista, justamente por estas serem apresentadas no contexto oposto ao contexto da palavra da lista. Resultando em um possível efeito de novidade ( novelty ) a qual o contexto incongruente remete quando apresentado. Este é um indicativo de que o espraiamento semântico em palavras homônimas vai depender de sua constância na língua e do contexto em que são apresentadas, indicando um possível método para estudar com mais afinco a relação episódica e semântica da MLPD.
13 RELATO DE PESQUISA CONTINUANDO... REFERÊNCIAS 1. Alves & Bueno (no prelo). Psicologia: Teoria e Pesquisa. 2. Barclay, J. R; Bransford J. D; Franks, J. J; McCarrell, N. S & Nitsch, K. (1974). Journal of Verbal Learning and Verbal Behavior. 13, Bueno, O. F. A. (2001) Tese (Livre Docência), UNIFESP, São Paulo. 4. Lechner, H. A.; Squire, L. R.; Byrne, J. A. (1999) 100 Years of Consolidation Remembering 5. Squire, L. R. (2004) Memory System of the brain: A brief history and current perspective. Neurobiology of Learning and Memory, 82, Tulving, E. (2001) Episodic memory and common sense: how far apart? Phil. Trans. R.Soc. Lond. B, 356, Susanny Tassini e Deborah Lima Susanny Tassini e Deborah Lima são graduandas em Psicologia pela Universidade Anhembi Morumbi e estudantes de Iniciação Científica do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo. O estudo aqui relatado faz parte de uma pesquisa de iniciação científica realizado sob a orientação do Prof. Dr. Orlando Francisco Amodeo Bueno e do pesquisador Marcus Vinicius Alves pelo Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (projeto: 2015/ ) e Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa (AFIP).
14 RESUMO DE ARTIGO Moral Transgressions Corrupt Neural Representations Of Value Crockett, M. J., Siegel, J. Z., Kurth-Nelson, Z., Dayan, P., & Dolan, R. J. (2017). Moral transgressions corrupt neural representations of value. Nature Neuroscience, 20(6), Há alguns anos, estudos têm sugerido que nosso processo de tomada de decisão tem base mais afetiva do que racional, diferente do que se pensou por muito tempo. Entretanto, o comportamento pró-social ainda não tem suas bases neurais bem definidas, ou seja, o que acontece quando a tomada de decisão é de cunho moral e social? Que mecanismos neurobiológicos se encontram por trás do nosso comportamento de preservar o outro, em detrimento de um ganho próprio? Um grupo de pesquisadores se propuseram a responder essas questões através de um estudo de Ressonância Magnética Funcional (fmri), um aparelho de neuroimagem, avaliando o comportamento moral em uma tarefa onde os participantes poderiam escolher se beneficiar através da penalização com choques elétricos dolorosos a si mesmos ou a outro participante anônimo. Além disso, os participantes avaliaram sequências de decisões morais tomadas por dois agentes fictícios, fornecendo um julgamento moral. O córtex pré-frontal lateral (CPFlateral), implicado em calcular o valor moral das ações para orientar a tomada de decisão moral, codificou negativamente a magnitude do lucro obtido por prejudicar os outros, mas não o lucro obtido por se prejudicar. E a força dessa codificação previu diferenças individuais no comportamento moral. O CPFlateral foi mais ativo em experimentos nos quais a dor infligida produziu lucro mínimo, as mesmas consideradas mais culpáveis pelo segundo grupo de participantes que forneceu julgamentos de culpa. As preferências morais também foram associadas com a redução das respostas do Estriado Dorsal em relação ao lucro obtido por prejudicar os outros em detrimento de si mesmo. Esta região mostrou conectividade funcional alterada com o CPFlateral durante as decisões morais, o que pode sugerir que as pessoas estão incertas sobre suas preferências (sobre prejudicar ou não o outro) e usam informações sociais para 'aprender' o que querem. Como resultado, esse estudo mostrou que a maioria das pessoas prefere prejudicar a si mesma em detrimento de outras, com fins lucrativos. Esta preferência moral foi associada à diminuição das respostas neurais em regiões sensíveis ao valor quando relacionada ao lucro acumulado por prejudicar os outros. Esses resultados sugerem uma explicação neural de porque as pessoas são relutantes em buscar lucros com ações imorais, e desaprovam indivíduos e organizações que aceitam dinheiro de fontes moralmente contaminadas, revelando que transgressões morais corrompem representações neurais de valor. Além disso, destacam a importância das nor-
15 RESUMO DE ARTIGO CONTINUANDO... mas para restringir o interesse próprio, uma vez que o comportamento pró-social parece ter menos a ver com o mecanismo de empatia do que com preferências morais (que podem representar julgamentos morais antecipados ou internalizados de outros). Lorrayne Soares Graduação em psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestranda em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG. Vinculada ao Laboratório de Neurociência/UFMG e integrante do Núcleo de Investigação da Impulsividade e Atenção (NITIDA) do Hospital das Clínicas, UFMG.
16 GESTÃO Presidente: Neander Abreu Vice-presidente: Gabriel Coutinho Conselho deliberativo Leandro Fernandes Malloy-Diniz Paulo Mattos Jerusa Salles Lucia Iracema Conselho fiscal Rodrigo Grassi-Oliveira Annelise Júlio Laiss Bertola Secretária Executiva Carina Chaubet D Alcante Valim Secretário Geral Andressa M. Antunes Tesouraria Executiva Beatriz Bitttencourt Tesouraria Geral Deborah Azambuja Presidente: Alina Teldeschi Vice-presidente: Gustavo Siquara Comissão SBNp Jovem: Ana Luiza Alves Breno Marques Camila Bernardes Cássio Lima Fuuka Sunano Jaqueline Rodrigues Natália Becker Natália Canário Samara Reis Thais Quaranta Victor Polignano Comissão SBNp Kids: Nayara Argollo Editoração: Fuuka Sunano
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