PRIMEIRA SISTEMATIZAÇÃO OCIDENTAL DO SABER

Transcrição

1 Filosofia Antiga Período Sistemático PRIMEIRA SISTEMATIZAÇÃO OCIDENTAL DO SABER nasceu em 384/383 a.c. em Estagira. Com dezoito anos muda-se para Atenas e frequenta a Academia platônica e aí amadurece a vocação para a Filosofia. Com Platão estudou cerca de vinte anos (alguns comentadores afirmam oito anos). Com a morte de Platão em 347 a.c., e descontente com os rumos que a Academia tomava, muda-se para a Ásia Menor onde, juntamente com outros discípulos de Platão, funda uma escola de Filosofia. Em 343 a.c. inicia-se um novo período na vida de : Filipe da Macedônia confia-lhe a educação de seu filho Alexandre, onde permaneceu na corte até Alexandre subir ao trono em 336 a.c. Volta para Atenas, alugando prédios próximos a um pequeno templo dedicado a Apolo Lício e aí funda o famosoliceu. Ministrava seus ensinamentos passeando pelas veredas dos jardins e, por isso, a Escola também ficou conhecida como Perípato (do grego: passeio) e seus seguidores foram designados de peripatéticos. Em 323 a.c., com a morte de Alexandre e a reação antimacedônica, foi considerado um dos culpados pela situação política da Grécia (pois foi o preceptor de Alexandre) e, para fugir de seus inimigos, retirou-se para Cálcis, onde possuía alguns imóveis e morre em 322 a.c. depois de poucos meses de exílio. foi, primeiramente, um historiador, ou o primeiro historiador da Filosofia; dele provém o primeiro esforço de explicação sistemática do desenvolvimento das ideias filosóficas; sua filosofia é uma tentativa de encadeamento das diversas doutrinas anteriores, com base numa explicação dos próprios motivos que teriam levado os homens, desde os pré-socráticos, a elaborarem sucessivas e cada vez mais aprofundadas concepções. apresenta-se como seu ponto terminal, julgando a filosofia de seus predecessores, mostrando-lhes as falhas e equívocos. 1

2 se diferencia de seu mestre, de modo geral, em torno de três aspectos gerais: Abandono do componente místicoreligioso-escatológico. (Escatologia é uma teoria relativa aos acontecimentos do fim do mundo) Escasso interesse pelas ciências matemáticas e a viva atenção pelas ciências naturais e empíricas. Uso do método sistemático em vez do dialético-dialógico. VOCABULÁRIO TÉCNICO ARISTOTÉLICO Substância: literalmente o que está por baixo; conceito básico da metafísica aristotélica. Substância é toda coisa que existe para si, não tem natureza acidental ou eventual, mas necessária. É aquilo que tem vida própria. Essência: aquilo que não muda, apesar das mutações. Acidente: o que pode existir ou não em uma substância, as qualidades do ser. Categorias: regras fundamentais, modos generalíssimos, noções básicas que estruturam a linguagem, o pensamento e a realidade. VOCABULÁRIO TÉCNICO ARISTOTÉLICO Causa: tudo aquilo que responde à pergunta por quê?. Todo conhecimento, segundo, pode ser definido como o entendimento das causas que movem os fenômenos. Compreender a verdadeira causa de um evento é intuir a sua essência, a sua especificidade e sua necessidade. Matéria e forma: cada objeto do mundo é constituído por uma matéria e uma forma. Esta não indica o aspecto exterior e visível, mas a estrutura, a organização interna que faz com que o sujeito seja o que é. A matéria é passiva, ao passo que a forma coincide com a essência necessária. VOCABULÁRIO TÉCNICO ARISTOTÉLICO Potência e ato: a potência indica a possibilidade por parte da matéria de assumir uma determinada forma. O ato indica a realização dessa possibilidade. A potência está para a matéria como o ato está para a forma. Ato: para é o ser na sua realização completa e na sua perfeição. O ato é oposto a potência, que é o ser naquilo que ele pode vir a ser. 2

3 A metafísica é a principal das ciências teoréticas, O pensador grego oferece quatro definições dela: Ela indaga as causas ou os princípios supremos (etiologia). Ela indaga o ser enquanto ser (ontologia). Ela indaga a substância (ousiologia). Ela indaga Deus e a substância suprassensível (teologia). Etiologia Quanto ao que se refere à pesquisa das causas e dos princípios primeiros, ele formulou a célebre teoria das quatro causas: Causa formal: aquilo que explica a forma que uma essência possui (por exemplo: o rio ou o mar são formas da água; mesa é a forma assumida pela matéria madeira com a ação do carpinteiro; margarida é a forma que a matéria vegetal possui na essência de uma flor determinada, etc.). Causa material: aquilo de que é composta toda a realidade sensível (por exemplo: água, fogo, ar e terra). Causa eficiente: também chamada de causa motriz; aquilo que produz geração, movimento e transformação; aquilo que explica como uma matéria recebeu uma forma para construir uma essência (por exemplo: o ato sexual é a causa eficiente que faz a matéria do espermatozoide e do óvulo receber a forma de um novo animal ou de uma criança; o carpinteiro é a causa eficiente que faz a madeira receber a forma de mesa; o fogo é a causa eficiente que faz os corpos frios tornarem-se quentes, etc. Causa final: a causa que dá o motivo, a razão ou a finalidade para alguma coisa existir e ser tal como ela é (por exemplo: o bem comum é a causa final da política, a felicidade é a causa final da ação ética; a flor é a causa final de a semente transformar-se em árvore). Ontologia Segundo, a metafísica é a ciência que indaga o ser enquanto ser: Há uma ciência que considera o ser enquanto ser e as propriedades que lhe cabem enquanto tal. Na pesquisa em torno do ser, retoma a temática debatida pelos présocráticos e a resolve refutando a tese da univocidade do ser (a tese que apregoa que existe um só tipo de ser em sentido absoluto, que se opõe ao não-ser em sentido absoluto). A tese aristotélica é que o ser tem múltiplos significados, em vários níveis. 3

4 A física aristotélica, que inclui a psicologia, trata da substância sensível afetada pelo movimento. O que é o movimento? É a passagem da potência ao ato, como já afirmamos; requer uma causa eficiente que já esteja em ato e uma causa final. Ao movimento estão ligados o espaço (onde os corpos se movem), o lugar (aquilo que contém o corpo) e otempo (a medida do movimento segundo o antes e o depois). O tempo, por sua vez, requer uma alma que a meça A alma é a forma de um corpo. divide-a em três faculdades: Vegetativa: preside a reprodução e o crescimento. Sensitiva: é sede da sensação, é a capacidade de sentir que torna ato quando entra em contato com a forma sensível das coisas. Intelectiva: é a capacidade de raciocinar; a alma intelectiva se divide em: a) intelecto passivo: é o intelecto do homem que tem capacidade e potência de conhecer as formas inteligíveis que estão em potência nas coisas b) intelecto ativo: põe em ato as formas inteligíveis que estão em potência nas coisas e as torna compreensíveis. É semelhante à luz que ativa a vista e reaviva as cores; é imortal. Todas as ações humanas tendem a um fim, isto é, à realização de um bem específico; mas cada fim particular e cada bem específico está em relação com um fim último e com um bem supremo, que é a felicidade. O que é a felicidade? Para a maior parte dos homens é o prazer, ou a riqueza; para alguns é, ao contrário, a honra e o sucesso. Mas estes bens todos possuem um defeito: põem o homem em dependência daquilo de que dependem e, portanto, a felicidade ligada a tais coisas é totalmente precária e ilusória. No homem possui notável importância, além da razão, os apetites e os instintos ligadas à alma sensitiva. Tais apetites e instintos se opõem em si à razão, mas podem ser regulados e dominados pela própria razão. A submissão da alma sensitiva à razão ocorre por meio das virtudes éticas, as quais não são mais que os modos pelos quais a razão instaura sua soberania sobre os instintos. 4

5 De fato, as virtudes se traduzem em busca da justa medida (justo meio) entre o excesso e a carência nos impulsos e nas paixões. Esta busca e aquisição da justa medida por meio da repetição se traduzem em um habitus e, portanto, constitui a personalidade moral do indivíduo. As obras de que tratam da postura moral são: Ética a Nicômaco, Ética a Eudemo e Grande Ética. No tocante à sua visão política, parte de um conceito antropológico: o homem é um animal social e político e não pode realizar sua perfeição sem a sociedade; é da natureza humana buscar a vida em comunidade e, portanto, a política é uma coisa natural. A política aristotélica é essencialmente unida à moral, pois o fim último do Estado é a virtude, isto é, a formação moral do cidadão e o conjunto dos meios necessários para isso. O Estado é um organismo moral, condição e complemento da atividade moral individual. A política, contudo, é distinta da moral, pois a moral é uma doutrina do indivíduo e a política é a doutrina moral social. O Estado, assim, é superior ao indivíduo, visto que, a coletividade é superior ao indivíduo,o bem comum é superior ao bem particular. Já no tocante às formas de governo, distingue três formas de governo: Monarquia: é o governo de um só, cujo valor está na unidade e cuja degeneração é a tirania. Aristocracia: é o governo de poucos, cujo valor está na qualidade e cuja degeneração é a oligarquia. Democracia: é o governo de muitos, cujo valor está na liberdade e a degeneração está na demagogia. Segundo, a forma ideal de governo é uma república democrático-intelectual, a forma de governo clássica da Grécia, particularmente de Atenas. 5

6 As Ciências Poiéticas são aquelas que buscam o saber em função do fazer, ou seja, tendem à produção de determinadas coisas; aqui se encontram a lógica,a retórica e a poética. A Lógica A lógica é um instrumento do pensamento para pensarmos corretamente, de maneira ordenada, sistematizada e analítica; portanto, é uma disciplina normativa, visto que estabelece normas para bem conduzir o pensamento na busca da verdade. Segundo o pensador grego, a Lógica, essa disciplina normativa, divide-se em duas: lógica material (aquela que analisa como o nosso conhecimento atinge a verdade, a realidade e o ser; ela analisa o valor de nosso conhecimento) e lógica formal (aquela que analisa como se estruturam as formas do pensamento; ela analisa a estrutura de nosso conhecimento). Contudo, não faz separação entre as duas lógicas, mas as trata em conjunto. A Retórica Assim como Platão, tinha a firme convicção de que a retórica não possuía a função de ensinar a verdade e muito menos treinar para a compreensão da verdade (esta função é estritamente da Filosofia); para ambos, a função da retórica era persuadir, descobrir quais os modos e meios para a persuasão. No fundo, a retórica se propõe a descobrir, mediante o silogismo dialógico, os meios de se convencer alguém. 6