Anita Bastos Granja é Autor do mês na Biblioteca Municipal Quinta, 08 Outubro :46 - Actualizado em Sexta, 16 Outubro :03

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Amália Graça Sales
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1 Autor do Mês é uma iniciativa da Biblioteca Municipal/Casa da Botica que pretende contribuir para a divulgação da obra de autores concelhios ou, de alguma forma, com ligação à Póvoa de Lanhoso. Anita A. Fernandes Bastos Granja nasceu na Póvoa de Lanhoso no dia 12 de Outubro de Filha do poeta João Augusto Lopes Bastos e de Adelina Fernandes Bastos. Por volta dos quatro anos foi para Lisboa, para onde o seu pai tinha emigrado. De início foram viver para o centro de Lisboa e, depois de diversas mudanças, fixaram-se em Benfica, no bairro da Cruz Quebrada. Aí frequentou a Escola Primária e depois tentou o Curso Liceal nas Portas de Benfica, numa escola privada. Por volta dos 20 anos, uma nova mudança de casa para a Parede da Linha de Cascais. Para ela foi ouro sobre azul : era outra gente e ela adaptou-se lindamente. Do seu liceu ficou apenas o 6º ano inacabado e, por isso, resolveu arranjar emprego. Foi para os escritórios de uma fábrica de Carcavelos, onde esteve 15 anos. Em 1972, veio a conhecer aquele que viria a ser o seu marido, José António Granja. Ele tinha vindo a Portugal, apenas por alguns dias, para ver os pais e o filho que, entretanto, tinham regressado a Portugal e, por mera coincidência, fixaram residência na Póvoa de Lanhoso. José António, além da visita à família, estava de passagem para os Estados Unidos, onde iria tirar um curso de televisão, já que ele trabalhava na Voz da América no Congo, Kinshasa. Anita e José António simpatizaram um com o outro e o que é verdade é que ela embarca para o Congo, onde esteve perto de dois anos mas, como o clima não lhe era favorável, teve de 1 / 5

Por volta dos quatro anos foi para Lisboa, para onde o seu pai tinha emigrado.

2 regressar a Portugal e José António, por amor, veio também. A adaptação foi muito difícil para ele pois, desde os nove anos, vivia fora do país. Veio o 25 de Abril e, como as coisas não corriam lá muito à feição do casal, ele resolveu emigrar para a África do Sul e Anita, uns meses depois, juntou-se a ele. Por lá ficaram uns largos anos até que revolveram regressar e fixar residência na Póvoa de Lanhoso. A princípio a adaptação deles foi difícil, por vários motivos que não cabe aqui especificar. Na África do Sul, Anita colaborou numa revista para a comunidade lusa, com uma página intitulada O cantinho da Anita ; fez traduções para o exército Sul-Africano; e colaborou com o marido na Radio South Africa. Na Póvoa de Lanhoso, teve o Cantinho da Anita enquanto colaboradora do Jornal da Póvoa. Hoje, mantém colaboração com o jornal Terras de Lanhoso. Em 2008, perdeu o seu companheiro e, a partir daí, como passatempo, tem-se dedicado ao artesanato e à pintura, tendo já exposto no Theatro Club. BIBLIOGRAFIA O Cantinho da Anita: Jornal da Póvoa, / Anita Bastos Granja.- Póvoa de Lanhoso: Biblioteca Municipal, Cadernos BMPL, 19 2 / 5

Por lá ficaram uns largos anos até que revolveram regressar e fixar residência na Póvoa de Lanhoso. A princípio a adaptação deles foi difícil, por vários motivos que não cabe aqui especificar.

3 Contos/ Anita Bastos. - Póvoa de Lanhoso: Biblioteca Municipal, Cadernos BMPL, 20 TEXTO DA AUTORA Feira de Sintra Era Domingo, Domingo de verão, quente e resplandecente de sol. Era dia de feira em Sintra. Centenas de pessoas passavam por entre as barracas ali armadas, mirando e remirando, perguntando preços, mas pouco comprando. Lá estava as quinquilharias os fatos já feitos para todos os tamanhos, gordos e magros, altos e baixos, as samarras e os sapatos, os antiquários com as suas supostas velharias, arranjadas não se sabe onde, moedas falsas mas ditas doutras épocas, que inexperientes coleccionadores compravam, convencidos da sua antiguidade. As barracas de brinquedos, onde a criançada se extasiava boquiaberta e, não raras vezes, se ouvia berrar como cabritinhos, ora puxando pela saia da mãe, ora pelo casaco do pai, pedindo a compra de um carrinho ou de uma boneca, pedidos que raramente eram atendidos e que, na maioria das vezes, provocavam um valente safanão ou até uma sapatada. Também lá estavam os saloios com os seus cabazes de rubros morangos, os maiores por cima, os pequenos por baixo, as belas laranjas, as verdes alfaces e os molhos de coentros. Ali havia de tudo, era só ter dinheiro para comprar. Aqui e além os eternos namorados passeavam de mãos dadas, às vezes ele abraçando-a, muito juntinhos, fazendo projectos e, sabe-se lá mais o quê. Uns e outros, olhando distraidamente para as barracas e escutando o homem da banha da cobra, com a sua propaganda à milagrosa pomada, boa para os calos, mas também para as borbulhas ao até, para esfregar a barriguinha do bebé quando está com cólicas. - É comprar, senhores, é comprar Ó menina, não quer comprar esta linda malinha? É de pele verdadeira. E o senhor, não quer comprar este casaco da última moda? Também lá estão os ciganos, vendendo as suas mercadorias. Um corte de fazenda por mil 3 / 5

Lá estava as quinquilharias os fatos já feitos para todos os tamanhos, gordos e magros, altos e baixos, as samarras e os sapatos, os antiquários com as suas supostas velharias, arranjadas não se sabe

4 escudos, mas vá lá, para me estrear, aceito oitocentos não quer, bem dê lá quatrocentos só para não dizer que a volto a levar para casa. É um autêntico burburinho naquela feira de Sintra num Domingo cheio de sol. De repente escuta-se um grito! Agarra que é ladrão E a mulher, uns cem quilos bem pesados e distribuídos, com pelo na venta e bigode mal rapado, gesticulava, furiosa, apontando um garoto que, na sua pequenez ágil, fugia a bom fugir, batendo os calcanhares no rabito, coberto por uns calções rotos. Apanhá-lo? Impossível. Ele escapulia-se por entre as pessoas, metia-se no meio das barracas. Era velo dar às de Vila Diogo. -Ó mulher, o que é que o miúdo te roubou para berrares dessa maneira? - perguntou um curioso. A matrona é que não se convencia ela queria que agarrassem o miúdo, o ladrão, embora ainda não tivesse dito o que, afinal, lhe tinha roubado. Os donos das outras barracas nem se mexeram, já conheciam a Gorda de ginjeira. Fizeram apenas alguns comentários em voz baixa, elucidando alguns clientes admirados com tamanha histeria. - Lá está a Baleia aos berros! Só tem gordura, porque de bondade, só os ossos! Berra como uma cabra, que é, e, naturalmente, o que lhe roubaram nem um pataco vali! Até inocentes já tem acusado. E para quê? Para ter aqueles gordalhudos cheios de anéis, cordões aos molhos que berre à vontade, já ninguém lhe liga nenhuma. Nem a polícia aparece quando ela a chama Enquanto a mulher berrava, o garoto continuava a sua correria, à procura de lugar seguro onde se esconder, embora soubesse que já ninguém o perseguia. E afinal o que tinha roubado ele? Isto passou-se num Domingo! Quente, e resplandecente de sol! Era dia de feira em Sintra e eu estava lá! Anita Bastos Granja 4 / 5

Agarra que é ladrão E a mulher, uns cem quilos bem pesados e distribuídos, com pelo na venta e bigode mal rapado, gesticulava, furiosa, apontando um garoto que, na sua pequenez ágil, fugia a bom

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