LOGÍSTICA REVERSA E RESPONSABILIDADE PÓS-CONSUMO NAS LEIS ESTADUAIS BRASILEIRAS PARA RESÍDUOS SÓLIDOS
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- João Batista Bennert Neiva
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1 LOGÍSTICA REVERSA E RESPONSABILIDADE PÓS-CONSUMO NAS LEIS ESTADUAIS BRASILEIRAS PARA RESÍDUOS SÓLIDOS Kelma Maria Nobre Vitorino (1) Química Industrial pela UFC. Mestrado em Engenharia Sanitária e Ambiental pela UFPB. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe-IFS. Vice-presidenta da ABES-SE. Doutoranda em Eng. Civil, UFPE. Janaina Carlos Diniz de Assis Correia Engenheira Civil - UFRN Mestranda em Engenharia Civil - UFPE. Lúcia Helena Xavier Pesquisadora Coordenação Geral de Estudos Ambientais Fundação Joaquim Nabuco Recife/PE Professora Colaboradora do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil - UFPE Neison Freire Pesquisador Coordenação Geral de Estudos Ambientais Fundação Joaquim Nabuco Recife/PE Endereço (1) : Av. Augusto Franco, 3500, Casa 329, Bairro Ponto Novo, Aracaju/SE, CEP: Tel. (79) kelma.v@uol.com. RESUMO A legislação ambiental tem obtido significativa relevância em virtude das demandas de mercado. Processos como certificação ambiental e conquista de mercado passaram a ter como pré-requisito a adequação legal em relação aos critérios ambientais. Outro aspecto relevante, dentro da temática, é a gestão de resíduos que apresenta importância socioambiental, principalmente nos países em desenvolvimento. Nesse contexto, o presente trabalho apresenta o alcance da legislação para resíduos sólidos no país, bem como uma análise das abordagens da logística reversa (LR) e da Responsabilidade pós-consumo (RPC), enquanto mecanismos explícitos nas leis analisadas e que beneficiam tanto a sociedade como o meio ambiente. PALAVRAS-CHAVE: Logística reversa, Legislação ambiental, Responsabilidade pós-consumo. INTRODUÇÃO A gestão ambiental, nas últimas décadas, tem se tornado uma importante ferramenta de modernização e competitividade no setor produtivo brasileiro (GRADVOHL, 2007). Segundo Souza (2002), as empresas têm-se mostrado cada vez mais ativas e atentas para as questões ambientais, apresentando um crescimento substancial deste quesito no que diz respeito à importância estratégica no mercado e na sociedade. No contexto do mundo globalizado, a inserção da variável ambiental nas organizações torna a empresa mais competitiva, neste cenário a Gestão Ambiental assume um papel importante, pois consiste em um conjunto de medidas e procedimentos definidos e adequadamente aplicados que visam reduzir e controlar os impactos introduzidos por um empreendimento sobre o meio ambiente (ROBLES, 2006). O movimento da Qualidade de processos, produtos e serviços, que teve seu auge nas décadas de 80 e 90, induziu a reavaliação de processos produtivos com o objetivo de satisfazer a necessidade do mercado e, em última instância, atender ao cliente (Oliveira, 2005). Entretanto, a partir da adesão das empresas à certificação e implantação de sistemas de gestão ambiental (com base nas normas da série ISO ), houve a prioridade da adequação aos procedimentos legais, diferentemente da implantação da gestão da qualidade, com fins de auditoria para certificação. Desta forma, pode-se sugerir que os mecanismos legais tornaram-se critérios prioritários para a adequação ambiental por parte do setor produtivo. Outro reforço para a busca por adequação legal e normativa origina-se a partir da preocupação da sociedade com a crescente geração de resíduos sólidos. Sendo necessário, nesse caso, o poder público atender os anseios da 1
2 população com políticas públicas que minimizem os problemas relativos à elevada quantidade e ao destino dos resíduos sólidos. O papel do poder público na gestão dos resíduos sólidos é de extrema importância para a regularização e normalização dos aspectos econômicos, sociais, culturais, ambientais, sanitários, entre outros. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) está sendo discutida no legislativo desde Este lento processo tem prejudicado muito a adequada gestão de resíduos no país, devido a ausência de um marco regulatório. Sendo importante registrar a existência de políticas estaduais em parte dos Estados. Embora muitas não estejam regulamentadas e implementadas. Os marcos regulatórios são necessários para a adoção de medidas de redução, reaproveitamento e reciclagem, o estabelecimento de responsabilidades de consumidores e produtores e o investimento da iniciativa privada no setor. Um dos aspectos mais importantes da legislação Federal é instituir a logística reversa como um instrumento de desenvolvimento econômico e social, caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. A política nacional de resíduos sólidos (PNRS) estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a ser implementada de forma individualizada e encadeada, abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. Entretanto verifica-se que a maioria das Leis Estaduais sobre resíduos sólidos não cita a logística reversa, fazendo referência à responsabilidade pós-consumo de fabricantes, importadores e distribuidores pela coleta e destinação adequada de determinados resíduos. Portanto, a responsabilidade pós-consumo implica no estabelecimento de sistemas de logística reversa. Este aspecto de responsabilidade compartilhada pós-consumo entre fabricantes, comerciantes importadores e consumidores é um avanço grande. O dispositivo especifica deveres e direitos de cada envolvido na cadeia de geração de resíduos sólidos. A adoção de sistemas de logística reversa poderá proporcionar benefícios como redução de custos (diretos e indiretos) para as empresas; redução da demanda por matérias-primas e energia; redução da geração de resíduos; melhoria da imagem da empresa e geração de oportunidades de incremento de renda, de forma organizada e articulada, para grupos sociais específicos (associações e cooperativas de catadores, principalmente). Este trabalho tem por finalidade explorar as questões relacionadas com a regulamentação referente à logística reversa e responsabilidade pós-consumo com a análise das atuais Leis de resíduos sólidos existentes nos nível Federal e Estadual, para estabelecer a importância do desenvolvimento de propostas públicas para sistemas futuros de gestão realizada dentro dos princípios da responsabilidade e cooperação de todas as partes envolvidas na produção, na distribuição, na utilização e no consumo dos bens. Desta forma, entende-se como objetivo central desse trabalho: explorar as questões relacionadas com a regulamentação referente à logística reversa com a análise das atuais Leis de resíduos sólidos existentes nos nível Federal e Estadual, para estabelecer a importância do desenvolvimento de mecanismos legais e normativos como subsídio para sistemas futuros de gestão. 1. A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL No Brasil, um dos maiores problemas dos municípios refere-se à elevada quantidade de lixo diariamente gerada e que precisa ser repensada, coletada e disposta adequadamente. Atualmente, o meio técnico considera que a adoção de um Sistema Integrado de Gerenciamento de Resíduos Sólidos universalmente aceito deve ser baseado no princípio dos quatro R s: Redução, também conhecida como Prevenção, Reutilização, Reciclagem e Recuperação (recuperação de materiais ou energia), prioritariamente nesta ordem. A gestão integrada de resíduos sólidos consiste em um conjunto de ações que procura solucionar e controlar a destinação final dos Resíduos Sólidos. Nesse sentido, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotadas pelo Governo federal, 2
3 isoladamente ou em regime de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. 3
4 A legislação ambiental, com enfoque nacional, objetiva atender demandas variadas oriundas de diferentes estados. Por isso, a PNRS está sendo discutida durante um longo espaço de tempo, aproximadamente vinte anos, neste período, Leis estaduais foram estabelecidas com o objetivo de atender demandas específicas dos estados e, com isso, contribuir para a consolidação da gestão de resíduos no país. São evidentes os desperdícios decorrentes da má gestão de recursos. Nesse mesmo enfoque, a gestão de produtos e materiais pós-consumo pode acarretar impactos socioambientais significativos. Bosdogianni (2007) alerta que os resíduos representam uma enorme perda de recursos na forma de materiais e energia. A quantidade de lixo produzida pode ser vista como um indicador da nossa reduzida eficiência como uma sociedade, particularmente em relação ao uso dos recursos naturais e às operações de tratamento de resíduos. Considerando ainda que muita da atividade atual no domínio da gestão dos resíduos sólidos urbanos é uma conseqüência direta da legislação. O desenvolvimento econômico, urbanização e intensa mudança nos padrões de consumo têm resultado em um aumento da geração de resíduos sólidos (Bosdogianni, 2007). Com relação à composição apresentada na Figura 1, se verifica um elevado percentual de componentes recuperáveis coletados por meio da coleta seletiva, como plásticos, metais, dispositivos eletrônicos, borracha e outros que deveriam retornar ao ciclo produtivo propiciando a diminuição de impactos ambientais e gerando impactos positivos econômicos e sociais. Papel e papelão (39% Plásticos 22% Vidros 10% Metais 9% Alumínio 1% Diversos 3% Rejeito 13% Longa vida 3% Figura 1: Composição da coleta seletiva no Brasil (Ciclosoft, 2008). Apesar da existência de Leis em muitos Estados, práticas de gestão inadequadas ainda persistem, com a disposição de resíduos sólidos em lixões na maioria dos municípios brasileiros, levando à degradação das águas superficiais e subterrâneas, poluição do ar e do solo e problemas sanitários. Os impactos ambientais negativos decorrentes da disposição inadequada dos resíduos sólidos, bem como a perda econômica, proveniente da não valorização dos materiais recicláveis presentes na sua composição, são questões vitais e que merecem especial atenção da sociedade civil, dos órgãos ambientais, do governo, dos acadêmicos e da iniciativa privada. 2. POLÍTICA NACIONAL E LEIS ESTADUAIS DE RESÍDUOS SÓLIDOS A legislação que trata do tema resíduos sólidos estabelece diretrizes, instrumentos e responsabilidades para o gerenciamento destes resíduos no país tem sido priorizada nas últimas duas décadas. Motivações econômicas e sociais são alguns dos fatores que fomentam a elaboração de mecanismos legais para efetividade do gerenciamento de resíduos. A PNRS estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos como um dos seus princípios, definindo-a como o conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos pela minimização do volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como pela 4
5 redução dos impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, prevendo também a integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações desenvolvidas. O texto da Lei Federal destaca objetivos que demonstram a importância sócio-econômica e ambiental da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos em seu Art. 30: Parágrafo único. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos tem por objetivo: I compatibilizar interesses entre os agentes econômicos e sociais, e os processos de gestão empresarial e mercadológica com os de gestão ambiental, desenvolvendo estratégias sustentáveis; II promover o aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando-os para a sua cadeia produtiva ou outras cadeias produtivas; III reduzir a geração de resíduos sólidos, o desperdício de materiais, a poluição e os danos ambientais; IV incentivar a utilização de insumos de menor agressividade ao meio ambiente e de maior sustentabilidade; V estimular o desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo de produtos derivados de materiais reciclados e recicláveis; VI propiciar que as atividades produtivas alcancem eficiência e sustentabilidade; VII incentivar as boas práticas de responsabilidade socioambiental. A Política Estadual de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Roraima (RORAIMA, 2004) faz menção à responsabilidade compartilhada entre o Poder Público, os geradores e a sociedade civil, assegurando a participação da população na gestão, controle e acompanhamento da prestação dos serviços de limpeza urbana e no gerenciamento integrado dos resíduos sólidos, nos termos da legislação pertinente. A legislação também estabelece a responsabilidade do consumidor, determinando que seja realizada a separação dos recicláveis sempre que houver coleta seletiva em seu município, embalando-os corretamente A importância da legislação Na elaboração de Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) a aplicação da legislação corretamente é obrigatória, assim como devem ser consideradas resoluções e normas técnicas pertinentes. Esta exigência é observada nas Leis Estaduais e Federal de resíduos sólidos. Sendo fundamental que sejam elaboradas de forma a atender os princípios e objetivos estabelecidos. Considerando o estudo de caso relatado em Bosdogianni (2007), uma adequada legislação para gestão de resíduos sólidos deverá observar: - Aplicação de um planejamento a longo prazo a nível nacional; - Efetivos instrumentos legais e institucionais; - Efetiva coordenação e participação das autoridades locais; - Mobilização dos cidadãos em termos de conscientização e envolvimento; - Incentivo à utilização de tecnologias inovadoras; - Incentivo à adoção de consórcios ou outras formas de cooperação entre os entes federados, com vistas à elevação das escalas de aproveitamento e redução dos custos envolvidos. A política do governo e a prática administrativa nem sempre consideram o fato de que as decisões e ações devem, necessariamente, ser executadas de acordo com as normas de proteção ambiental, bem como os princípios do desenvolvimento sustentável, prevenção, preservação e recuperação de danos ambientais previstos na legislação ambiental. Verificando-se a omissão das autoridades responsáveis pela fiscalização e controle dos serviços envolvidos (BOSDOGIANNI, 2007). Esta prática é evidente na maioria dos municípios brasileiros, nos quais se observam problemas sanitários e ambientais relativos à coleta, tratamento e disposição inadequada de resíduos. A regulamentação das Leis nos casos previstos deve ser realizada em um curto prazo de tempo possibilitando a melhor execução das ações. A administração municipal deve observar a legislação vigente de resíduos sólidos para a implantação de sistemas logísticas reversa. Recursos financeiros, infra-estrutura e quadro técnico competente são fundamentais. Além disso, as Políticas somente serão efetivamente implementadas se as autoridades estiverem fortemente envolvidas. 5
6 Informações como objetivos, princípios, definições e responsabilidades devem ser prestadas na Lei de forma a facilitar a implementação da mesma. Neste caso, destaca-se a Lei n o , 2009 de Minas Gerais que apresenta uma seção específica sobre a LR, detalhando bem os objetivos, os quais indicam os benefícios do sistema de LR e as responsabilidades dos consumidores, do titular dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, dos fabricantes e importadores, revendedores, comerciantes e distribuidores. 3. METODOLOGIA A metodologia consistiu no levantamento e análise das políticas de resíduos sólidos, tanto no âmbito nacional, quanto as estaduais. Tal levantamento considerou como fonte de informações referências bibliográficas, informações disponibilizadas na internet, utilizando sites de busca e de Secretarias Estaduais de meio ambiente e órgãos ambientais, além de contatos telefônicos e presenciais com técnicos e profissionais da área de resíduos sólidos destas instituições. Foram selecionadas legislações de âmbito estadual, vigentes e no formato de anteprojeto de Lei. O projeto de Lei n o 203 de 1991, que propõe a Política Nacional de Resíduos Sólidos PNRS. Este projeto foi recentemente aprovado na Câmara dos Deputados, e desde março de 2010, está sendo analisado no Senado. Cada texto selecionado foi submetido à leitura minuciosa e exaustiva, a partir da qual foram identificados trechos que ofereciam resposta às perguntas relativas à gestão de resíduos sólidos. Foram analisados, no âmbito da legislação, a abordagem do conceito e os resíduos contemplados na logística reversa e responsabilidade pósconsumo na política nacional e nas Leis estaduais de resíduos sólidos. Neste contexto foi enfocada a importância das Leis estudadas no desenvolvimento dos sistemas de logística reversa. 4. RESULTADOS 4.1. Política Nacional e Leis Estaduais de Resíduos Sólidos Apesar da PNRS ainda não ter sido sancionada, vários estados manifestaram-se a respeito da necessidade de implementação de uma política estadual. Estados como Rio Grande do Sul e Paraná, já possuem políticas próprias de resíduos sólidos desde 1993 e 1999, respectivamente. Entretanto, apesar de um número significativo dos estados brasileiros e ter legislado e implementado suas Política de Resíduos Sólidos, o Distrito Federal e maior parte dos estados das regiões Norte e Nordeste, ainda não possuem Lei de resíduos sólidos implementada, diferentemente das demais regiões, conforme apresentado na Tabela 1, Tabela 1: Estados que não possuem Política Estadual de Resíduos Sólidos. REGIÃO ESTADOS Norte - Amapá - Acre - Amazonas - Pará - Tocantins Nordeste - Paraíba - Rio Grande do Norte - Alagoas - Maranhão - Piauí - Bahia Centro-oeste - Distrito Federal Sudeste Sul De acordo com as informações apresentadas, pode-se entender que a prática de ações ambientais, bem como o grau de conscientização da população nas diferentes regiões do país são, ao mesmo tempo, causa e conseqüência da adoção de mecanismos legais que contemplem a gestão de resíduos na esfera estadual e também municipal. Até cerca de 30% apenas dos estados nas regiões Norte e Nordeste possuem leis que contemplam o gerenciamento de resíduos, o que também demonstra a falta de comprometimento ambiental por parte dos gestores públicos. 6
7 As últimas leis sancionadas na região Sudeste, a título de exemplo, foram a do estado do Espírito Santo e de Minas Gerais, ambas em Pode-se sugerir que tal medida tenha sido reflexo de recentes impactos ambientais negativos verificados na região em virtude da ineficácia do gerenciamento de resíduos industriais. Com base nessa interpretação, pode-se ainda sugerir que o estabelecimento de refinarias de petróleo e usinas de beneficiamento de biodiesel na região Nordeste nos últimos anos, podem motivar a elaboração e implementação de legislação específica, em função do grande potencial de dano ambiental dessas duas atividades mencionadas Logística reversa e responsabilidade pós-consumo na legislação brasileira A política nacional de resíduos sólidos define logística reversa como um instrumento de desenvolvimento econômico e social, caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010). A maioria das Leis Estaduais sobre resíduos sólidos não cita a logística reversa. Em geral estabelecem a responsabilidade pós-consumo em seus princípios e fazendo referência à responsabilidade pós-consumo de fabricantes, importadores e distribuidores pela coleta e destinação adequada de determinados resíduos. Entretanto, entende-se que a responsabilidade pós-consumo implica no estabelecimento de sistemas de logística reversa. Vale ressaltar que algumas Leis não abordam nenhuma destas definições, como as Leis dos Estados do Ceará, Rondônia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, dentre estes, Ceará e São Paulo enfocam na regulamentação a responsabilidade pós-consumo. Em Rondônia, não existe Decreto de regulamentação nem consta na Lei esta exigência. No Rio Grande do Sul, o decreto não faz menção ao tema e em Pernambuco, consta apenas nos princípios e pressupostos da Lei, mas o decreto não trata desta questão. No caso do Paraná a Lei e o decreto de regulamentação citam somente a responsabilidade das empresas fabricantes e/ou importadoras de pneumáticos e produtoras e/ou comercializadoras de agrotóxicos, obrigadas a coletar, transportar, reciclar ou dar destinação final aos pneus inservíveis de sua responsabilidade. Em Santa Catarina a Lei Nº , 2005 citava dentre seus princípios a responsabilização pós-consumo, em que couber, do fabricante e/ou importador pelos produtos e respectivas embalagens ofertados ao consumidor final. Entretanto, esta Lei foi revogada pela /09 que não faz referência a este tema e não existe decreto de regulamentação. A nova Lei Institui o Código Estadual do Meio Ambiente e estabelece outras providências, como a revogação de Leis que tratavam de temas específicos estaduais, como política florestal, auditorias ambientais, resíduos sólidos, dentre outros, resultando em uma Lei extensa, composta por 296 artigos e com abordagem diversificada e provavelmente de difícil aplicabilidade, não considerando pontos importantes, como no caso da responsabilidade pós-consumo enfocada na Lei de resíduos sólidos que foi revogada. As Leis em geral, tratam de temas específicos e facilitando a implementação das políticas públicas. Com relação a estas definições, destaca-se a Lei do Estado de Minas Gerais e seu decreto de regulamentação que cita a LR definindo também resíduos pós-consumo e reversos. Considerando pós-consumo como aqueles resultantes do descarte de bens pelo consumidor após sua utilização original e os reversos, os que, por meio da logística reversa, podem ser tratados e reaproveitados em novos produtos, na forma de insumos, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos (MINAS GERAIS, 2009). Os resíduos especiais pós-consumo, também são definidos como as embalagens e os produtos que, após o encerramento de sua vida útil, por suas características, necessitem de recolhimento e destinação específica (RORAIMA, 2004). Em algumas legislações verificam-se denominações diferentes para abordar a logística reversa, caso do Decreto de Regulamentação da Política Estadual de Resíduos Sólidos do Estado do Ceará, Decreto Nº /2002 que define no Art. 2º, Inciso XXVI - ciclo processo consumo como o retorno do resíduo ao processo produtivo como fonte de matéria-prima, possibilitando sua recuperação desde a concepção do produto até o seu pós-consumo; podendo também se configurar em alguns casos quando os produtos forem: reutilizados e/ou incinerados (CEARÁ, 2002). Em alguns Estados existem Leis específicas para determinados resíduos, como no Ceará para pilhas e baterias e no Rio Grande do Sul, Lei e decreto sobre pilhas, baterias e lâmpadas fuorescentes. 7
8 A Tabela 2, a seguir, apresenta a análise da abordagem de LR e RPC em todas as Políticas Pstaduais vigentes no país. Em uma breve análise desses dados, verifica-se que a logística reversa é abordada somente nas Leis mais recentes, estabelecidas exatamente a partir de 2009, sendo as Leis Estaduais de Minas Gerais e Espírito Santo. O termo RPC, por usa vez, aparece a partir de 1991, na Lei do estado de Pernambuco e, mais recentemente no Decreto relativo a gestão de resíduos do estado de São Paulo em Não aborda Logística reversa ou responsabilidade pósconsumo Responsabilidade pósconsumo Logística Reversa Tabela 2: Abordagem dos conceitos de LR e RPC na legislação brasileira. LEI DECRETO ANO Lei RS 1993 Decreto RS 1998 Iei PR 1999 Lei CE 2001 Lei RO 2002 Decreto PE 2002 Decreto PR 2002 Lei SP 2006 Lei SC 2009 Lei PE 2001 Decreto CE 2002 Lei GO 2002 Lei MT 2002 Lei RJ 2003 Lei RR 2004 Lei SE 2006 Decreto SP 2009 Lei ES 2009 Lei MG 2009 Decreto MG Resíduos reversos e pós-consumo Em muitos textos consultados os termos Logística reversa e responsabilidade pós-consumo são citados como princípios e conceituados, não sendo, porém em muitos, identificada nenhuma consideração a respeito dos resíduos reversos ou pós-consumo conforme demonstrado no apêndice. Em algumas Leis e decretos é abordada a responsabilidade de fabricantes e importadores de produtos que após seu uso dêem origem a resíduos especiais, como resíduos de agrotóxicos e suas embalagens; pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes, de vapor de mercúrio, de sódio e luz mista; embalagens não retornáveis; pneus; óleos lubrificantes e assemelhados. Nesse sentido, o Decreto de regulamentação da política estadual de resíduos sólidos do Ceará destaca dentre os resíduos especiais citados na Lei estadual, aqueles que devem estar contemplados em Plano de Gerenciamento de Resíduos Especiais PGRE, especificando as formas de recepção, acondicionamento, transporte, armazenamento, reciclagem, tratamento e disposição final dos resíduos, indicando os centros de recepção criados ou associados. Ainda no capítulo relativo aos resíduos especiais, destaca-se o programa de coleta seletiva, como forma de possibilitar melhor recolhimento dos resíduos pós-consumo para reciclagem. O projeto de Lei da PNRS cita a obrigatoriedade de estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de: Agrotóxicos (resíduos e embalagens); Pilhas e Baterias; Pneus; Óleos lubrificantes (resíduos e embalagens); Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; produtos eletroeletrônicos e seus componentes, resíduo. As demais Leis e Decretos não citam os resíduos reversos. A Leis Estaduais em geral consideram resíduos especiais pós-consumo as embalagens e os produtos que, após o encerramento de sua vida útil, por suas características, necessitem de recolhimento e destinação específica, como, Resíduos tecnológicos: aparelhos eletro-eletrônicos, eletrodomésticos e seus componentes; os provenientes da indústria de informática; veículos automotores; baterias, pilhas e outros acumuladores de energia, produtos que 8
9 contenham pilhas e baterias integradas à sua estrutura de forma não-removível; lâmpadas fluorescentes, de vapor de mercúrio, de sódio e luz mista; embalagens não-retornáveis; óleos lubrificantes e assemelhados; pneumáticos (SERGIPE, 2006). Em algumas Leis constam também outros resíduos, como veículos automotores (RORAIMA, 2004), embalagens de medicamentos e os medicamentos com prazos de validade vencidos (GOIÁS, 2002) e resíduos de saneamento básico gerados nas estações de tratamento de água e de esgotos domésticos (MATO GROSSO, 2002). CONCLUSÕES A legislação consultada e analisada revelou pensamentos, valores e representações importantes de serem consideradas sobre os conceitos e as diretrizes práticas que envolvem o setor de resíduos sólidos. Nesse sentido conhecer os discursos relativos à gestão de resíduos é relevante, ainda mais no momento presente, em que se desdobram discussões acerca do marco regulatório dos resíduos sólidos no Brasil. A análise dos textos revelou a predominância do conceito de responsabilidade pós-consumo em relação à logística reversa, que é considerada somente na PNRS e nas Leis estaduais mais recentes, de 2009, de Minas Gerais e do Espírito Santo. Nota-se nas Leis e Decretos uma preocupação com questões sociais e ambientais, o que atende aos anseios de uma população com níveis crescentes de conscientização, facilitando assim a sua aplicação. As perspectivas de implementação da logística reversa e da responsabilidade pós-consumo incluem alternativas sustentáveis para os resíduos e fomento de suporte para projetos sociais envolvendo a reutilização, reciclagem, capacitação de profissionais, sensibilização sobre a importância do destino correto de resíduos, promoção da indústria local de reciclagem, dentre outras ações, proporcionando benefícios ambientais, sociais e econômicos. A regulamentação das Leis nos casos previstos deve ser realizada em um curto prazo de tempo possibilitando a melhor execução das ações propostas, necessária para o avanço de práticas e o fortalecimento do setor. Por outro lado, a administração municipal deve observar a legislação vigente de resíduos sólidos para a implantação de sistemas logísticas reversa. Além disso, recursos financeiros, infra-estrutura e quadro técnico competente são fundamentais. As Políticas somente serão efetivamente implementadas se as autoridades estiverem fortemente envolvidas. Nesse contexto, acredita-se que a mobilização da comunidade é fundamental para a efetivação de um sistema de logística reversa. Esta participação pode ser obtida mais facilmente por meio de um maior grau de conscientização e informação a respeito das leis que tratam de questões ambientais, assim como informações mias específicas sobre a importância e os benefícios da responsabilidade pós-consumo e da logística reversa, contempladas na legislação, com vistas ao desenvolvimento socioambiental da população como um todo. REFERÊNCIAS 1. BRASIL. Projeto de Lei Nº 203, de Política Nacional de Resíduos Sólidos, BOSDOGIANNI, A. Municipal solid waste management in greece legislation implementation problems. In: Eleventh International Waste Management and Landfill Symposium. Sardinia, CEARÁ. Decreto Nº /2002. Regulamentação da Política Estadual de Resíduos Sólidos, CEARÁ. Lei Nº , de 27 de Setembro de Dispõe sobre o descarte de pilhas de até 9 (nove) volts, de baterias de telefone celular e de artefatos que contenham metais pesados, CEARÁ. Lei Nº , Política Estadual de Resíduos Sólidos, CICLOSOFT, Pesquisa Ciclosoft. Disponível em: Acessado em julho de ESPÍRITO SANTO. Lei Nº 9.264, de 15 de Julho de Política Estadual de Resíduos Sólidos, GOIÁS. Lei N o de 29 de Julho de Política Estadual de Resíduos Sólidos, GRADVOHL, S. T. de S.; CHAGAS NETO, F.; AQUINO, M. D. A gestão ambiental nas empresas e sua repercussão: estudo de caso de uma empresa siderúrgica. In: 24º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Belo Horizonte-MG, MATO GROSSO. Lei Nº 7.862, DE 19 DE DEZEMBRO DE Política Estadual de Resíduos Sólidos, MATO GROSSO DO SUL. Lei N.º 2.080, DE 13 DE JANEIRO DE Política Estadual de Resíduos Sólidos, MINAS GERAIS. Lei nº , de 12 de janeiro de Política Estadual de Resíduos Sólidos,
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