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Transcrição

1 A responsabilidade territorial nacional alcança muito para além do nosso solo pátrio e Portugal tem de zelar pela segurança da imensa área marítima do norte do Oceano Atlântico, que engloba a Zona Económica Exclusiva e a Região de Informação de Voo oceânica. Esta área é equivalente à que vai desde a Escócia até ao Egipto e desde Portugal até à Rússia. O Estado português mantém a presença constante e a necessária vigilância dessa zona através da Esquadra 601 "Lobos" da Força Aérea Portuguesa, que tem como missões primárias a execução de operações de patru- Ihamento marítimo e de detecção, localização, seguimento e ataque a submarinos e meios de superfície; as missões secundárias são a execução de operações de busca e salvamento e a execução de operações de minagem. Desde 1988 que a Força Aérea Portuguesa (FAP) está equipada

2 com uma das melhores plataformas aéreas da actualidade para as missões de patrulhamento marítimo e combate a submarinos: o famoso Lockheed P-3 Orion, que é a versão militar do avião de transporte aéreo comercial Lockheed L-188 Electra. Inicialmente, a Esq. 601 recebeu seis P-3P (com os números de cauda 4801 a 4806) que tinham sido originalmente P-3B da Royal Australian Air Force. Face ao limite da vida útil destes aviões e dos seus equipamentos, foi necessário substituí-los f 1). Foram então adquiridos cinco P-3C (com os números de cauda a 14811) que voaram na Royal Netherlands Air Force. Chegaram a Portugal em 2006 e estão baseados na Base Aérea n^ 11, em Beja. Foram adquiridos dois aviões com a versão CUP Coast Guard e três com a versão Update O primeiro avião CUP Coast Guard foi entregue à FAP em 19 de Janeiro de 2006 nas instalações da Lockheed Martin em Greenville (EUA). As restantes aeronaves foram entregues à FAP até meados de O projecto da aquisição destes cinco aviões previa a modernização dos mesmos para a versão CUP+ - que significa capabitily upkeep program plus - dotando-os de capacidade para operar tanto em ambiente marítimo como em ambiente terrestre, mudando a filosofia de operação de Maritime Patrol Aircraft para Multí Mission Aircraft. Os P-3C CUP+ estão equipados com uma panóplia impressionante de sensores e de equipamentos de comunicações, que os tornam numa ferramenta extremamente útil no combate anti- -tráfico de droga, imigração ilegal, busca e salvamento e combate anti-submarinos, quer para o nosso país, quer para a União Europeia, quer para os nossos aliados. A formação e certificação do pessoal que opera os P-3C CUP+-quer tripulantes, quer pessoal de apoio no solo - foi atingida em 1 de Janeiro de 2011, ficando a Esquadra 601 apta a executar missões reais de busca e salvamento segundo o padrão Initial Operational Capability. O padrão Final Operational Capability foi atingido no dia 30 de Setembro de 2011, quando a Esq. 601 ficou pronta para combate (combat ready). Os dois primeiros P-3C CUP+ (14810 e 14809) ( 2 ) foram transformados pela Lockheed Martin, em Greenville nos EUA, e as restantes três (14807, e 14811) ( 2 ) na OGMA, em Alverca. Estes aviões estão aptos a largar armamento clássico e "inteligente": torpedos Mk.46, mísseis anti-navio AGM- -84D Harpoon, bombas de profundidade Mk.54 e mísseis AGM-65G Maverick. Também podem largar equipamento de sobrevivência para náufragos na água: o kit MA-1 e o contentor UNI-PAC. O cockpit do P-3C CUP+ é bastante diferente do seu antecessor. As tripulações dispõem agora de um glass cockpit, com o sistema W/EIDS (Warning and Engine Instruments Display System), com um CRT ( 3 ) onde é mostrada ao comandante toda a informação pertinente à condução da missão. Neste CRT também pode ser mostrada a imagem do radar multi- -modal de última geração ELTA EL/M-2022, de fabrico israelita, cuja antena está instalada sob a fuselagem e pode rodar 360. Tem um alcance que pode ir até 200 milhas (370 km) e tem vários modos de funcionamento: patrulhamento marítimo, mapa em movimento, navegação, meteorológico, de busca, entre outros de cariz essencialmente militar, como a detecção de pequenos objectos na superfície do mar (periscópios de submarinos) e a identificação de navios pela sua silhueta. Continua a ser necessária a presença do técnico de voo no cockpit, o que liberta mais os pilotos para as suas funções específicas de pilotagem. Recorde-se que o piloto comandante pode ter também funções de comandante de missão e uma das duas pessoas a bordo que pode efectuar largada de armamento; a outra é o TACCO ( 4 ). Os sensores que equipam os P-3C CUP+ são de vários tipos: ópticos, acústicos, laser, infra-vermelhos e magnéticos. Dos sensores ópticos destaca-se a câmara electo-óptica Wescam L-3 MX-15, que está instalada por baixo no nariz do avião. Pode rodar 360, sendo comandada manualmente pela tripulação ou automaticamente pelo sistema que estiver a usá-la, é estabilizada por meio de giroscópios e tem um isolamento contra vibrações. Esta câmara tem a possibilidade de gravação de vídeo de alta resolução, integração de GPS ( 5 ) e do sistema de navegação por inércia do avião para inserção de coordenadas do avião e do alvo, integração de mapas sob as imagens, tomada de imagens térmicas de infra- -vermelhos, medição de distâncias através de laser, identificação e seguimento de alvos em movimento e capacidade de "ver" através de neblina. Foi impressionante ver o modo aparentemente fácil de ver e identificar alvos no solo e na água, com a MX-15, assim como o seu grande alcance e nitidez. As suas imagens são tratadas e gravadas pelos sistemas de bordo e podem ser enviadas em tempo real para todos os meios aéreos, navais ou terrestres que estejam no mesmo teatro de operações, incluindo para os

3 respectivos comandos na retaguarda. Mas toda esta informação não seria tão valiosa se não fosse apoiada pela base de dados que identifica os alvos e lhes dá atributos, como o nome, tipo, operador, etc. A detecção de submarinos é feita, numa fase "puramente clássica", por intermédio do detector de campos magnéticos - o MAD = magnetic anomaly detector - que está alojado no grande "espigão" tão característico que os aviões de guerra anti-submarina costumam ter na cauda. O MAD do P-3C CUP+ é o AN/ASQ-81 da Raytheon que foi desenvolvido para a marinha norte-americana (USN = US Navy) para a detecção de submarinos a partir de uma plataforma aérea. O sistema detecta variações na intensidade do campo magnético sobrevoado. Essas alterações são processadas e apresentadas ao operador. As comunicações entre a tripulação dentro do avião, via interfonia, também foram cuidadosamente pensadas. O sistema montado é o AIC-34 ICS da Palomar, que só se encontra montado em algumas versões do P-3 e nos Boeing 747 Airborne Laser da United States Air Force. O sistema de intercomunicações é digital, interliga todos os rádios e todos os postos dentro do P-3 e faz a sua gestão e encriptação de modo a que não haja ne-

4 nhuma hipótese de escuta externa nem de sofrer interferências. Sendo o P-3C CUP+ um sistema de armas que actua em ambiente hostil, a sua defesa deverá ser acautelada. Por isso, os P-3C CUP+ dos Lobos estão equipados com o sistema de radar táctico ALR- -95 Electronic Support Measures (ESM) da EDO Corporation, que lhe confere auto-protecção na detecção, identificação e localização de sinais de radares hostis, possibilitando uma reacção atempada e eficaz contra a ameaça, por parte da sua tripulação. Os Lobos contam ainda com o sistema de defesa ALE-47 da BAE Systems, que usa informação recebida dos sensores de guerra electrónica e dos receptores de sinal de radar para determinar a resposta mais correcta e mais eficaz contra mísseis guiados por infra- -vermelhos ou tele-comandados por rádio, accionando os fiares ou outras defesas. O sistema acústico AN/USQ-788 é fornecido pela Lockheed Martin, aproveita todos os sistemas existentes desde a década de 80 e está preparado para sofrer as modernizações que se prevêem nos tempos mais próximos. O USQ pode receber dados de vários sensores, tanto activos como passivos, pode operar com todos os tipos de sono-bóias actualmente em uso pelas forças armadas norte-americanas e pode controlar até 32 daqueles aparelhos, simultaneamente. Todos estes sistemas são apoiados em computadores de dados digitais LM MS2 Eagan, de grande capacidade e desempenho. Os processadores de vídeo são iguais, assim como os sistemas de armazenamento de dados. Os sistemas de comunicações incluem toda a gama conhecida de HF, VHF, UHF, SATCOM, Link 11, etc. Esta grande capacidade de comunicar permite ao P-3C CUP+ servir de plataforma aérea para difusão de dados do teatro de operações em tempo real, para todas as forças que se encontram no mesmo teatro e para os comandos na retaguarda, o que lhes permite ter um papel muito importante na análise dos dados recolhidos em termos de ACINT ( 6 ), ELINT ( 7 ) e IMINT ( 8 ). Estes dados são tratados pelo Centro de Apoio à Missão (CAM), função que pertence à Esq. 601 e que está fisicamente locali-

5 zada nas suas instalações, conforme previsto no contrato assinado entre a FAP e a Lockheed Martin. Estas capacidades também conferem aos P-3C CUP+ a capacidade de realizar missões de ISTAR ( 9 ). As grandes vantagens que os novos P-3C CUP+ oferecem ao nosso país são o seu grande alcance, o seu grande poder de fogo (ver caixa), a sua versatilidade por poderem operar com qualquer tipo de forças aliadas, em ambiente marítimo e terrestre e oferecem a multiplicação de força porque distribuem os seus dados e informações a todas a forças aliadas que delas necessitem. De qualquer modo, o seu grande trunfo é a sua grande capacidade de "ver" e "ouvir" de longe sem ser detectado e poder guardar e transmitir essas informações. É esta a mais-valia que os Lobos nos proporcionam voando os seus P-3C CUP+ e a Nação agradece- -Ihes!

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