PREFEITURA MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA PREFEITO MUNICIPAL: ODELMO LEÃO SECRETÁRIA DE CULTURA: MÔNICA DEBS DINIZ

Transcrição

1 Página 36 de 108 BENS IMÓVEIS IPAC Nº 2/ 2013 MUNICÍPIO: Uberlândia/MG. DISTRITO: Sede. DESIGNAÇÃO: Residência. ENDEREÇO: Rua Augusto César, 101 Bairro Integrado Tabajaras Uberlândia MG. USO ATUAL: Imóvel desocupado e abandonado. Não foi realizada vistoria na parte interna e fundos, pois se encontra fechado. IMAGEM 01: Residência à Rua Augusto César, 101 Bairro Tabajaras. Fachada frontal. Uberlândia/ MG. Data: Fotógrafo Clarice Costa Ferreira. IMAGEM 02: Residência à Rua Augusto César, 101 Bairro Tabajaras. Fachada frontal e lateral esquerda. Uberlândia/ MG. Data: Fotógrafo Clarice Costa Ferreira. IMAGEM 03: Residência à Rua Augusto César, 101 Bairro Tabajaras. Fachada frontal vista no contexto da vizinhança. Uberlândia/ MG. Data: Fotógrafo Clarice Costa Ferreira. IMAGEM 04: Residência à Rua Augusto César, 101 Bairro Tabajaras. Vista do telhado em processo de arruinamento. Uberlândia/ MG. Data: Fotógrafo Clarice Costa Ferreira.

2 Página 37 de 108 PROPRIEDADE/ SITUAÇÃO DE PROPRIEDADE: Privada: Adélia dos Santos França. RESPONSÁVEL: Adélia dos Santos França. SITUAÇÃO DE OCUPAÇÃO: Próprio. ANÁLISE DE ENTORNO: O terreno possui declive da lateral direita do terreno para a lateral esquerda. O ambiente urbano de entorno é de média densidade populacional, constituído por edificações que possuem gabaritos que variam de 1 a 2 pavimentos, onde predominam os usos residencial, comercial local (comércio de roupas, sapatos e acessórios, restaurantes) e serviços (escritórios, consultórios e escolas). Encontram-se nas proximidades do bem sob análise outros exemplos de bens imóveis que são marcos referenciais do início da cidade, entre outros o imóvel comercial à Rua Barão de Camargo, 604, a Escola Estadual Enéas de Oliveira Guimarães, a Oficina Cultural, etc. Localiza-se muito próximo ao centro da cidade, onde o fluxo de veículos é intenso e a Rua Augusto César, via de mão única sentido centro bairro, embora estreita, faz ligação dos transeuntes entre o centro da cidade e a Avenida Rondon Pacheco, que é uma via Estrutural (Lei /2010) que corta a cidade de leste a oeste, contribuindo assim com a aceleração da deteriorização dos imóveis, através da fuligem, vibração, etc. A região de entorno, bem como a via em que se encontra o imóvel, possuem infraestruturas urbanas, as quais são fornecidas/mantidas pelas seguintes empresas/concessionárias/ órgãos: asfalto (Prefeitura Municipal - PMU); água potável encanada (Departamento Municipal de Água e Esgoto - DMAE - PMU); rede de drenagem pluvial (DMAE PMU); rede de esgoto (DMAE PMU); rede de energia elétrica (CEMIG); rede de telefonia (CTBC e outros); serviços de limpeza urbana (PMU); coleta de lixo (LIMPEBRAS Engenharia Ambiental/PMU). O imóvel está localizado na esquina da Rua Augusto César com a Rua Padre Anchieta, cuja continuação é a Rua Mercedes Brasileiro e é contornado por: à frente um imóvel de linhas modernas e uso comercial; ao lado, do outro lado da rua, um imóvel de linhas ecléticas, bem conservado, usado como escritório de arquitetura; na diagonal, lote vago; na lateral direita, uma edificação dos anos 60; aos fundos, uma edificação de linhas modernistas, uso residencial. Nota-se que o imóvel em questão e os imóveis do entorno estão condenados à substituição através da pressão imobiliária e da demanda por renovação urbana, todavia a legislação urbanística vigente assegura gabaritos baixos e usos restritos no Bairro Fundinho, com o qual se confronta, e outras Áreas de Diretrizes Especiais. As calçadas são estreitas, com cerca de 1,00 m de largura, e revestidas com ladrilho ou cimentadas. Em razão da pouca largura das calçadas e construções a partir do alinhamento predial, o ambiente de entorno não é arborizado ou ajardinado e para proteção do imóvel e pedestres foram colocados, na borda da calçada em frente ao imóvel, pilares de concreto. A rede elétrica é aérea com postes de concreto, encontrando-se o imóvel no lado contrário à rede. A edificação é um dos poucos

3 Página 38 de 108 exemplos de sua época no entorno imediato e, por seu pequeno porte, é notada somente a partir das esquinas mais próximas. HISTÓRICO: Uberlândia integra o universo de cidades de porte médio no Brasil. Surgiu no século XIX e experimentou rápida transformação nos seus aspectos urbanísticos em razão do crescimento econômico ocorrido nas últimas décadas. Compõe também o rol de cidades que, sintonizadas com idéias de desenvolvimento, tiveram seu patrimônio arquitetônico liquidado e substituído por edificações que, rompendo com o passado, eram associadas ao progresso e ao moderno. O seu bairro mais antigo, o Fundinho, passou nas últimas décadas por acelerado processo de transformação e descaracterização por buscar o novo/moderno. A cidade, que é um importante documento sobre a vida e a cultura das pessoas, se Jornal Correio. 31 ago transforma incessantemente e os valores de preservação sócio-histórica não são percebidos de forma clara pela população: Eu penso igual ao senhor que há poucos dias criticou no CORREIO de Uberlândia a Lei do Patrimônio Histórico que proíbe derrubar casas velhas. Uberlândia não é cidade histórica como Ouro Preto. Esta é uma cidade progressista, que prefere o desenvolvimento. Deixar o bairro Fundinho com calçadas estreitas e casas velhas não é progresso. É atraso. O Fundinho precisa ser modernizado com casas e prédios novos em ruas com calçadas confortáveis. O prédio do velho Cine Regente foi derrubado e no lugar surgiu um moderno hotel. Isto é progresso. [...] Uberlândia não é Mariana nem Congonhas do Campo, que vivem no passado. Uberlândia é presente e é futuro. Vamos arquivar mentalidades fossilizadas, afirma um morador ao Jornal Correio (Uberlândia, nov. 2011). Apesar da consciência preservacionista pouco desenvolvida na comunidade algumas construções resistem ao tempo e ficam ali como evidência do processo histórico, dos saberes, dos estilos e modos de vida experimentados na cidade. É o caso da residência situada à rua Augusto César, n. 101 (bairro Fundinho, CEP ). Essa rua tem grande importância histórica, por ser uma das mais antigas da cidade (antes chamada de rua das Pitangas) e constituir ponto de referência simbólica e espacial para os moradores mais antigos da cidade, pois que levava os moradores a pontos muito freqüentados na urbe, como o antigo Largo do Comércio.

4 Página 39 de 108 A edificação do n. 101 acompanhou o movimento da cidade. Ainda que sua estrutura se encontre debilitada e sua apresentação estética esteja seriamente abalada pela ação dos anos, constitui um dos rastros mais antigos da formação da cidade. Ela é indício (assim como outros poucos imóveis na mesma região) da arquitetura praticada no final do século XIX e início do século XX. Constitui elemento residual no espaço urbano atual, informando sobre estilos tradicionais de construção que remontam ao período colonial. Não existem informações seguras sobre a data de construção da casa, mas pode-se situá-la historicamente por meio do cruzamento de informações históricas referentes ao município sobretudo documentos iconográficos disponíveis no Arquivo Público de Uberlândia e dos materiais utilizados no imóvel. A julgar pelos materiais usados e as técnicas adotadas podemos situar essa construção no final do século XIX, momento em que as residências eram caracterizadas a exemplo da existente à rua Augusto César, n. 101 pelo emprego de estrutura autônoma em madeira, com vedação em adobe ou pau-apique e cobertura com telhas de barro. As portas e janelas empregavam madeira, com vergas retas e folhas cegas, pintadas em cores que contrastavam com a alvenaria caiada (branco). O primeiro proprietário do imóvel em questão foi Vicente Guimarães, que logo o vendeu para Benjamin Alves dos Santos. Tempos depois a casa foi vendida por Benjamin a Cirilo dos Santos França, cuja filha (Adélia dos Santos França) e seus herdeiros passaram a ter o título da propriedade. Ao que tudo indica o imóvel sempre teve destinação residencial e, apesar de preservar parte considerável de suas características originais, sofreu modificações para atender as necessidades de seus moradores. DESCRIÇÃO: Edificação de tipologia colonial implantada com partido retangular em terreno de esquina, em declive para a Rua Padre Anchieta. Ergue-se no alinhamento da Rua Augusto César, com afastamentos laterais e posterior, formando dois corredores laterais e um pequeno quintal ao fundo. A fachada frontal é composta por seis vãos com requadros em madeira, umbrais e vergas retas. Os esteios são em madeira aparente nos cunhais e outro no pano de vedação, separando esta parte da edificação em 2 partes. A parte mais próxima à Rua Padre Anchieta traz distâncias entre vãos diferentes da parte de cima, pressupondo uma ampliação posterior da edificação para este lado. As janelas são de duas folhas cegas, em madeira, com sistema de abrir para dentro. Na lateral direita encontra-se uma pequena varanda, fechada por um gradil de metalon, que protege a porta de entrada locada nesta fachada. O telhado do corpo principal, que se inscreve em um retângulo, é composto por quatro águas, com cobertura de telhas cerâmicas do tipo capa e canal. A cobertura da varanda lateral e dos fundos são prolongamentos da cobertura principal, em uma água, e empregam telha cerâmica tipo francesa. A cobertura principal, apresenta partes cobertas com telha francesa e de fibrocimento que provocam

5 Página 40 de 108 goteiras e infiltrações, além de interferir negativamente em seu aspecto formal. O beiral é em cachorrada em madeira, com peças de perfil simples. Os acabamentos das linhas das tesouras são em chanfro que começa junto ao esteio e termina na ponta, finalizando com espessura de alguns centímetros, dando à peça aspecto de leveza. Este acabamento se encontra também no imóvel situado à Rua Barão de Camargo, 604, indicando serem contemporâneas e executadas pelos mesmos profissionais. A estrutura é autônoma em madeira, assentada sobre alicerce de pedra basalto, e as vedações em adobe. PROTEÇÃO LEGAL EXISTENTE: Nenhuma. PROTEÇÃO LEGAL PROPOSTA: Inventário para registro documental. ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Péssimo. ANÁLISE DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO: O imóvel apresenta péssimo estado de conservação. Encontra-se abandonado e em processo de desabamento. Apresenta prumada das paredes externas comprometida, com perda de material de vedação, trincas extensas, profundas e largas. Estrutura autônoma de madeira apresenta podridão, principalmente junto ao telhado e na base, junto à fundação. A cobertura em telha cerâmica, tipo comum sobre estrutura de madeira, apresenta panos muito irregulares, com desabamento parcial, envolvendo o corpo principal da casa. As instalação elétrica e hidrosanitária são precárias. Não foi possível avaliar o estado de conservação das paredes internas, dos pisos e dos forros. Os danos são de difícil reversão e demandam análises mais detalhadas, pois, há risco de queda da parede frontal externa e de boa parte do telhado, comprometendo o bem como um todo. FATORES DE DEGRADAÇÃO: O principal fator de degradação é o abandono e a falta de manutenção do imóvel, além dos efeitos da ação do tempo e do clima que proporcionam desgaste natural dos materiais. MEDIDAS DE CONSERVAÇÃO: A edificação necessita de reestruturação, reconstrução e restauro imediato a fim de manter seus elementos estruturais (físico/construtivo) e compositivos (estético/formal) desempenhando plenamente suas funções. As estruturas, cobertura e vedações deverão ser avaliadas, refazendo toda a área danificada e o acabamento, com substituição de peças danificadas e reposição de peças faltantes, devendo-se também reparar os danos encontrados nas instalações elétricas e hidrosanitárias. Para a recuperação do imóvel é necessária a execução de projeto arquitetônico e complementares completos do objeto, considerando as intervenções possíveis, com descrição detalhada dos procedimentos, materiais e técnica a serem adotadas, visando melhorias na durabilidade da

6 Página 41 de 108 construção e boas condições de habitabilidade do imóvel. Os procedimentos deverão ser acompanhados por profissional especializado e utilizar produtos adequados para cada item da construção. INTERVENÇÕES: Além das intervenções de adequação, evidenciadas na substituição de alguns materiais, assim como do agenciamento dos espaços e elevações, é possível presumir que a casa que hoje existe seja resultado de duas ou mais etapas de construção, ocorridas em épocas distintas. A fase inicial, o corpo principal da casa, com estrutura autônoma de madeira com vedação em adobe, e as outras fases com acréscimo na lateral esquerda e por fim no fundo do terreno, construído com tijolos cerâmicos. Internamente, verifica-se a retirada do fogão à lenha da cozinha e a substituição do forro original em todos os cômodos, exceto na sala. O piso em madeira, original, foi preservado apenas no quarto principal. Uma parede que formava um corredor entre a sala e a cozinha também foi suprimida. Foi também aberta uma porta de ligação direta entre os dois quartos.seu terreno original também sofreu alterações. Estendia-se até onde hoje se encontra a Rua Padre Anchieta e, a área onde havia um pomar e um pequeno curral, foi desmembrada e vendida a terceiros. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Acesso em novembro de 2011: Lei do Plano Diretor do Município: Lei nº. 432/2006; Lei de Zoneamento do Uso e Ocupação do Solo: Lei Complementar nº. 525/2011; Lei nº /2010 Diretrizes do Sistema Viário do Município. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES: Em 1993 foram criados os Bairros Integrados de Uberlândia através da Lei 5.917, de 23/12/1993. FICHA TÉCNICA: Levantamento (Nov/2011): Clarice Costa Ferreira (Engenheira Arquiteta Especialista em Gestão Ambiental) e Roberto C. de Oliveira (Historiador). Elaboração (Nov/2011): Clarice Costa Ferreira (Engenheira Arquiteta Especialista em Gestão Ambiental) e Roberto C. de Oliveira (Historiador). Revisão (Dez/2012): Equipe PAGINAR Editoração Ltda: Liliane Corrêa Mandraga (Historiadora - Mestranda em História pela UFRJ), Karine Guimarães Berbari (Arquiteta e Urbanista Coordenadora PAGINAR) e Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta e Urbanista Diretora Geral PAGINAR).