Segundo Olivia, ao apontar uma fotografia sobre a um móvel da fazenda
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- Rubens Aquino Marroquim
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1 Sampaio Moreira: de Portugal, ao centro da cidade de São Paulo à terra roxa da Fazenda Santa Carlota No início de 2011, realizamos uma entrevista com Renato Oliva e Cecília Sampaio Moreira, ainda residentes na fazenda centenária, há 70 km do município de Cajuru. Donos de um aspecto informal, a recepção do casal foi entusiasmada e sinalizou uma perspectiva na contribuição para a pesquisa que dará as bases de sustentação ao Centro de Documentação da História do Café, no antigo Oeste Paulista. O encontro foi marcado pela disponibilidade e com sentido para um roteiro, de como principiar uma pesquisa sobre a Fazenda Santa Carlota (1899), domínio territorial da família Sampaio Moreira. A Fazenda, atualmente denominada Santa Cecília, produziu um conjunto de documentos destinados ao registro da produção do café, o que deu origem ao acervo do contexto. Tal documentação, se tratada e organizada, fornecerá subsídios aos pesquisadores interessados nas áreas científicas diversas. E nesse panorama de agentes históricos, temos um ciclo produtivo cafeeiro, significativo do Oeste Paulista, em um de seus mais originais complexos construídos em belíssimas edificações, mantidas na paisagem. Necessariamente, começamos a descrevê-la a partir da história familiar, sobre as famílias ou da família a que está vinculada a Fazenda Sana Carlota, situada há 70 km de Cajuru, Estado de São Paulo. Dentro da produção do café, não tem sentido estudar alguma coisa relativa ao seu contexto cultural se não conhecermos, minimamente, a história das famílias. Renato Oliva começou o relato, e daí a participação da Dona Cecília, bisnetos de Francisco Sampaio Moreira, a quem devemos as informações sobre a genealogia da família Sampaio Moreira. comentava: Segundo Olivia, ao apontar uma fotografia sobre a um móvel da fazenda Aquele ali, aquele ali era meu bisavô e era bisavô dela, por que nós somos primos, eu comentei com você que o avô da Cecília, que é aquele senhor José Sampaio Moreira, que era filho do primeiro português que veio pro Brasil pra ganhar dinheiro, foi o Francisco Sampaio Moreira, que era pai do José, de apelido Juca, e da minha avó Carlotinha, que é aquela lá em cima, do lado direito, ali perto daquele castiçal. E a minha avó Carlota era irmã, a mãe da minha mãe, era irmã do avô paterno da Cecília, e a fazenda originalmente foi comprada, porque ele veio ganhar dinheiro no Brasil, chegou no Brasil, chegou em São Paulo, pegou fogo na loja 1
2 Na sequência da entrevista indaguei se Francisco veio ao Brasil como imigrante português e Oliva explicou-me a diferença entre os emigrantes portugueses e que, particularmente, este jovem português chegou ao Brasil por insistência do irmão, que já se inseria na cidade de São Paulo como comerciante. Ele foi chamado, ele na verdade foi o segundo português que veio pro Brasil, por que ele veio chamado pelo irmão. Havia a carta de chamada, os irmãos que estavam mais prósperos, tanto portugueses, como italianos, enfim, os europeus que vieram pra cá pra ganhar dinheiro, eles faziam Carta de Chamada, chamando seus irmãos, chamando os primos, a família, para vir participar da vida econômica e da vida social deles. Então quando meu bisavô, Francisco Sampaio Moreira, por volta de 1850, veio pro Brasil, a chamado do irmão, foi atendido. A loja, que instalou em São Paulo pegou fogo, na Rua do Comércio, hoje a Rua Álvares Penteado. As lojas antigamente vendiam um pouco de tudo, vendiam desde sabonete, sabão, até caixa fósforo, pólvora, produtos de utilidade doméstica, e produtos de utilidade de construção até. Nesse incêndio faleceu o irmão que já estava aqui no Brasil, comerciante, que chamou o Francisco para residir no Brasil. Ainda Oliva narrava o que consta da história de São Paulo, através do livro História de São Paulo através de suas ruas, então as ruas principais, a Rua do Comércio, a Rua do Grande Hotel, a Rua Líbero Badaró, caminhos que foram transformados para os nomes de pessoas ilustres. Os irmãos Sampaio Moreira vieram de Trás-os-Montes, de uma região que eu de pessoas que tinham muito tino para o comércio. Continua relatar Oliva: casou-se com uma senhora viúva que tinha dois filhos, a Carlota, mãe da Carlotinha, minha avó, e mãe do avô da Cecília, minha mulher. Carlota era de origem de família brasileira, tem a sua genealogia própria. Por isso que você falou, muito interessante, que a gente tem que procurar na genealogia. Eu tenho a genealogia deles. Carlota e Francisco ficaram casados alguns anos e eles tiveram três filhos. Na sala da sede da Fazenda o ambiente, mesmo que tenha sofrido modificações em sua forma original, podem-se reconstituir algumas referências da memória da família. A Estrada de ferro Mogiana tinha um ramal que justamente se dirigia às fazendas que eram grandes produtoras de café, e por essa ser uma grande fazenda produtora de café, que foi fundada por Francisco e por José de Sampaio Moreira, principalmente por José de Sampaio Moreira, em José casou-se com D. Guilhermina Sampaio Moreira, em 13 de fevereiro de
3 Oliva continua sua narrativa Naturalmente, as pessoas que eram comerciantes em São Paulo sempre tinham uma carteira de empréstimos bancários, então ele ficou, tanto que ele tinha a casa bancária Sampaio Moreira que emprestava dinheiro a juros, por que havia os grandes bancos tradicionais aqui em São Paulo, que era o Banco Comercial do Estado de São Paulo, que era da família Whitaker, tinha o Banco do Comércio e Indústria de São Paulo, que era da família Numa de Oliveira, tinha o Banco de São Paulo, que era dos Almeida Prado, enfim, havia uma meia dúzia de bancos, não tinha Banco Itaú, não tinha Bradesco, não nenhum desses bancos que vieram na década, no século XX já, por volta de 35, O Banco Itaú foi fundado por um tio meu, que era irmão do meu pai, Jorge dias de Oliva, que era do cimento Itaú também, então essas famílias todas tinham, esses comerciantes todos de tecidos e de outros produtos que o José de Sampaio Moreira foi mais comerciante de tecidos, e ele tinha uma carteira de empréstimos bancários, tanto que a casa da Avenida Paulista foi comprada através de uma hipoteca, essa fazenda parece-me que também veio de uma hipoteca, eu tenho os documentos aí, de aquisição e de transmissão de propriedade. Sampaio Moreira encontrou a terra sem agricultura. E ele é que tornou, construiu que ampliou a sede, o terreiro, os armazéns. O ramal da estrada de ferro, que é o sinal do progresso, do potencial de uma fazenda, a existência da estrada de ferro, a fazenda aqui abrigava uma quantidade de pessoas quase igual a população de Cajurú. Originalmente era uma fazenda de alqueires, que chamava-se Fazenda Santa Carlota. Depois com a divisão, em 1994, entre os herdeiros da família, por morte do Jose de Sampaio Moreira, o meu sogro, e o irmão dele, José e o Silvio de Sampaio Moreira, ficaram com a fazenda, e compraram dos outros irmãos, eles eram seis irmãos. O CAFÉ Eu tenho informação de que a cultura do café, do transporte, do beneficiamento e da secagem através de vias naturais, como sol, o terreiro é todo cruzado por 12 espaços grandes onde fazia também o transporte do café seco para a tulha. O prédio da Tulha é um prédio maravilhoso e deveria ser tombado pela grandiosidade, pelas pedras, dele 3
4 que é todo construído em pedras, é um dos poucos construídos no Brasil, pelo seu porte, pelo seu tamanho. O sistema de secagem, é feito por um sistema férreo que é chamado Decouville, em que o café é transportado por umas vagonetas que basculavam de um lado para outro para permitir o transporte e a secagem do café. Chegando à Tulha é feita de tal forma para proteger o café das intemperes da mudança de clima, para manter o café na mesma temperatura e de umidade, o prédio é feito com paredes de 40 a 50 cm de largura e são paredes feitas em alvenaria de pedra, pedra que era produzida na própria fazenda, que dá consistência do que o tijolo que é mais poroso. Silvia - Quando vcs pegaram a fazenda, que estava quase destruída, praticamente, a quem vcs pediram ajuda? Renato Nós tínhamos um arquiteto Hoover Américo Sampaio, nós pedimos ajuda à Faculdade de Turismo da Universidade de Franca através da Fabíola Andrade, hoje professora do COC e nós consultamos muitas pessoas na área de Turismo, uma empresa de Turismo, o Dr. Caio, presidente dá... Silvia Desta forma, com o turismo, funcionou até quanto tempo? Renato- Até recentemente, atualmente está funcionamento. Silvia Sobre essa revitalização vocês tiveram ajuda do Estado, ou algum arquiteto mesmo de restauro que restaura fazendas de café, especialista? Renato O nosso arquiteto Hoover Américo Sampaio, nasceu numa fazenda de café. Silvia - Ele era aqui de Ribeirão ou de Cajuru? Renato Ele é professor de arquitetura do Mackenzie lá em São Paulo, ele é filho de um grande médico e também cafeicultor, em Jaú. Ele tinha muita base. Agora o restauro, nós fizemos o restauro por conta própria. Mas, por exemplo, a igreja, nós fizemos, a igreja estava completamente destruída, tinham árvores no meio da sacristia, então, e ele refez tudo para nós, ele fez caixilhos novos, em que ele usou uma técnica, arte decorativa dele mesmo, em que ele usou cristais, vidros nacionais e peças que foram importadas que estão lá na igreja. E aquele lustre, quem fez? Renato Aquele lustre é muito engraçado, por que nós fizemos aquele lustre na própria fazenda com o Osmar, nosso administrador que continua trabalhando com os novos 4
5 proprietários e que usando perna de mesa de cozinha de uma loja aqui de Cajurú e a técnica nossa toda de projeto do arquiteto Hoover Sampaio, o projeto moderno, certas peças que são necessárias que sejam antigas, foram feitas nos moldes antigos, mas por exemplo, ele inovou nos vitrais, ele inovou nos candelabros, ele inovou muita coisa; os lustres... Silvia Mas fisicamente ela não foi modificada, ela é original? Renato Ela ficou como era originalmente. Silvia E assim por diante. A colônia também não foi modificada? Renato A colônia também, não, a colônia algumas casas são casas de colônia e outras casas nós adaptamos, fazendo suítes, dando um conforto para abrigar os turistas que freqüentavam a nossa fazenda. Cecília Agora, na parede, mandei que ficasse menos forte, mas é que dá uma alegria, e antigamente usava muito o rosa e o verde. Silvia E vocês já ouviram dizer que tinham pinturas antigas na parede, motivos? Cecília Não, não, eu guardei até um pedaço, quando nós fomos restaurar a sala de jantar, tinha uma pintura, acho que era alguma coisa italiana, que estava imitando uma madeira, eu guardei uns pedaços, e depois visitando uma loja eu vi qualquer coisa em madeira, parecida com isso, eu tenho o material. Silvia Aqui na sala não? A senhora não se lembra de ter alguma coisa desse tipo, algum painel, algum barrado? Cecília Aqui na sala não, nada. Lá na, aonde era a casa do português, que era o contador, lá tinha alguma coisa em pintura em cima, mas pouca coisa, nunca teve assim uma pintura mesmo, não. OUTRO LADO DA FITA 5
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