O ser humano em sua dimensão biológica: Metodologias ativas de ensino e de avaliação na graduação em saúde em um contexto interprofissional.

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1 O ser humano em sua dimensão biológica: Metodologias ativas de ensino e de avaliação na graduação em saúde em um contexto interprofissional. Alexandre Valotta da Silva 1, Odair Aguiar Junior 1, Isabel Cristina Cespedes 1 1 Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixada Santista {avsilva@unifesp.br, odaguiar@gmail.com, isabel.cespedes@unifesp.br} Resumo. O Campus Baixada Santista da UNIFESP tem desenvolvido estratégias inovadoras de ensino que integram cinco cursos de graduação em um ambiente de ensino interprofissional: Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Psicologia, Nutrição e Educação Física. No presente artigo, descrevemos experiências práticas na aplicação de algumas dessas estratégias. 1. Introdução O projeto pedagógico do campus Baixada Santista da UNIFESP organiza o conteúdo curricular em quatro eixos que se estendem por toda a graduação: um Eixo que trata do ser humano em Inserção Social, outro que caracteriza a dimensão Biológica do ser humano, um terceiro que percorre as dimensões do Trabalho em Saúde e finalmente, um Eixo que trata das especificidades teórico-metodológicas de cada uma das profissões em formação Educação Física, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia e Terapia Ocupacional. São tidos como metas os princípios que norteiam a Educação Interprofissional, segundo a qual os diferentes profissionais, ao aprenderem juntos, aumentam suas competências colaborativas e conseqüentemente potencializam o alcance de um cuidado integral à saúde do paciente, que está inscrito como uma política não só de País como de mundo. O eixo O ser humano em sua dimensão biológica, ou Eixo Biológico, é constituído por quatro Módulos, os quais abordam desde as moléculas mais importantes para a vida, passando pelas células ( Módulo do Átomo à Célula ), tecidos e pelo funcionamento dos diferentes órgãos e sistemas ( Módulo dos Tecidos aos Sistemas ), até os princípios biológicos que explicam o adoecimento humano ( Módulo Fundamentos Biológicos do Adoecimento Humano ), além do estudo da motricidade humana a partir do aparelho locomotor e seu controle neural ( Módulo do Aparelho Locomotor ) para três dos cinco cursos que integram o eixo, ou seja, Fisioterapia, Educação Física e Terapia Ocupacional. Os Módulos trabalham com a integração de áreas do saber correspondentes às disciplinas do currículo tradicional. Entretanto, essas áreas são entremeadas e seus limites enquanto disciplinas deixam de existir, o que passa a configurar um ensino mais próximo do contexto interdisciplinar. São ministrados a turmas onde estão mesclados alunos das cinco profissões em formação no campus. Nesse sentido, segue-se um dos preceitos básicos da educação interprofissional que apregoa que para trabalhar junto é preciso aprender junto. A integração dessas áreas do saber nessa inovação curricular requer o desenvolvimento e uso de estratégias que dêem suporte para um aprendizado

2 significativo nesse modelo. No presente artigo, descrevemos experiências práticas na aplicação de algumas dessas estratégias no Campus Baixada Santista da UNIFESP. 2. Relato das experiências 2.1. A construção de modelos tridimensionais como estratégia de ensino e avaliação no Módulo dos Tecidos aos Sistemas A complexidade do organismo humano torna o ensino de anatomia, histologia e fisiologia um desafio, especialmente para cursos de graduação na área da saúde. O Campus Baixada Santista da UNIFESP tem desenvolvido estratégias inovadoras de ensino que integram cinco cursos de graduação: Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Psicologia, Nutrição e Educação Física. O conteúdo programático é abordado em uma unidade curricular chamada Módulo dos Tecidos aos Sistemas, que representa a união das tradicionais disciplinas de Anatomia, Histologia, Embriologia, Fisiologia e Biofísica. Os alunos dos cinco cursos freqüentam as aulas formando turmas misturadas com o objetivo de promover o aprendizado em um ambiente interprofissional. Nesse contexto, uma das estratégias de ensino mais bem sucedidas tem sido a construção de modelos tridimencionais utilizando técnicas artesanais e materiais simples como argila, massa plástica, isopor, etc. Essa estratégia tem sido aplicada, por exemplo, ao estudo do sistema nervoso. Os alunos são divididos em grupos multiprofissionais para a elaboração dos modelos, sendo tutorados pelos professores ao longo de aproximadamente um mês de trabalho. Ao final do período, os grupos apresentam seus modelos em uma exposição coletiva e são avaliados por uma comissão julgadora, conforme critérios definidos (desenvolvimento do projeto, aspectos estéticos e conteúdo da apresentação). As principais vantagens do método são baixo custo, engajamento dos alunos, desenvolvimento da criatividade, abordagem multiprofissional e aprendizagem significativa. Em nossa experiência, essa atividade tem contribuído muito na aprendizagem dos alunos. Apesar de trabalhoso, esse método pode representar uma alternativa simples e criativa para o ensino de anatomia, histologia e fisiologia em diferentes cursos de graduação Dando vida ao ensino da Anatomia em laboratório e sala de aula De acordo com Ramos e col. (2008), o processo ensino-aprendizagem se apresenta complexo e difícil no que diz respeito ao ensino em morfologia, uma vez que a memorização de estruturas infindáveis e com nomes bastante complexos, torna a tarefa monótona demais e desestimulante para a maioria dos alunos quando não ministrada de maneira mais participativa. O modo como o educador aborda o conteúdo pode repercutir positivamente ou negativamente no processo de ensino-aprendizagem do educando. Além disso, segundo Verri e col. (2008), atualmente as universidades buscam métodos e inovações no ensino para atender: a falta de conhecimento dos alunos ingressantes, a sua falta de interesse pela fala do professor e um interesse excessivo pela informação rápida da internet, e a busca de qualidade na formação de um profissional criativo e crítico. Para tanto, torna-se de fundamental importância a busca de métodos que facilitem a apreensão do conhecimento pelos estudantes (Campus Neto e col., 2008). Anatomia é a ciência que estuda a constituição e o desenvolvimento dos seres organizados, ou seja, os componentes de um organismo em seus aspectos estruturais e

3 morfofuncionais (Moore e Dalley, 2007). O estudo da Anatomia no campus Baixada Santista UNIFESP está presente nas unidades curriculares: Módulo dos Tecidos aos Sistemas e no Módulo do Aparelho Locomotor. Como já descrito, o projeto pedagógico do campus está estruturado em um modelo interdisciplinar e multiprofissional. Assim, do Módulo dos Tecidos aos Sistemas participam alunos dos cinco cursos (Psicologia, Nutrição, Fisioterapia, Educação Física e Terapia Ocupacional) de forma integrada no estudo de todos os sistemas que compõem o organismo humano; e no Módulo do Aparelho Locomotor participam os cursos de Fisioterapia, Educação Física e Terapia Ocupacional, abordando as estruturas que compõem o aparelho locomotor e o controle nervoso da motricidade. Para o ensino da anatomia nestas unidades curriculares, desenvolveu-se a busca de estratégias pudessem envolver uma participação ativa do aluno, sua capacidade de trabalhar em equipe e de forma organizada, e uma concreta compreensão dos componentes do organismo. Biasutto e col. (2006), partilhando deste mesmo objetivo, desenvolveram um trabalho onde 698 estudantes de um grupo estudaram a anatomia através do método tradicional de dissecção de cadáveres; 330 estudantes de outro grupo usaram recursos tecnológicos sem utilizar o método de dissecção (softwares); e ainda um grupo de 145 estudantes participou da disciplina de anatomia sem utilizar a dissecção ou softwares, apenas com o conteúdo teórico desenvolvido pelo professor. Os alunos do método tradicional de ensino, ou seja, através de dissecção, mostraram os melhores resultados, seguido pelo uso do recurso tecnológico e por último o grupo sem qualquer uma das metodologias. Este resultado mostrou que, apesar dos avanços tecnológicos, no caso da anatomia o estudo/contato com as peças anatômicas trazem os melhores resultados no ensino prático das estruturas, mostrando que a busca por novas metodologias de ensino não pode perder de vista os fundamentos básicos do estudo da anatomia. Pautados nestes e em outros resultados da literatura corrente (Fornazieiro e Gil, 2003), iniciamos um trabalho na unidade curricular do Módulo do Aparelho Locomotor, onde o estudo das estruturas do aparelho locomotor partisse da apresentação de casos clínicos ou problemas desenvolvidos de forma ativa pelos alunos. Foram apresentados temas que envolvessem os aspectos morfofuncionais do aparelho locomotor em associação aos aspectos clínicos que envolvessem a atuação do fisioterapeuta, do educador físico ou do terapeuta ocupacional como: disfunções da articulação temporomandibular, hérnia de disco, ombro e braço na natação, cotovelo e antebraço no tênis, punho e mão em trabalhos domésticos, incontinência urinária, quadril, região glútea e coxa no ciclismo, joelho e perna no futebol, entre outros, percorrendo todos os segmentos do aparelho locomotor, e relacionando estes temas às suas patologias e lesões mais comuns, e à importância de cada uma das três áreas profissionais. Os alunos foram organizados em grupos e com a utilização de livros texto e atlas de anatomia, de histologia e de biomecânica/ cinesiologia, preparam uma apresentação para uma data previamente agendada, onde discorreram sobre os componentes, funcionamento, lesões e a atuação profissional de suas áreas, relacionados ao seu tema. Para o preparo das apresentações, as discussões ocorreram tanto em sala com a presença do docente com o papel de tutor, quanto com o apoio de monitores em horários extra-classe, e ainda em reuniões organizadas pelos próprios alunos de cada grupo em nossa área verde (período da semana sem aula presencial, onde os alunos desenvolvem atividades extracurriculares de ensino). Na data de apresentação, o docente e todos os alunos reuniramse, e após a apresentação do grupo, discutiram os assuntos relacionados ao tema. As

4 aulas sobre a morfofisiologia do Aparelho Locomotor ficaram mais dinâmicas, com o aluno mais motivado a explorar as peças anatômicas e o conteúdo teórico que envolvem estas estruturas, e ainda desenvolvendo habilidades no trabalho em equipe multiprofissional O trabalho de conclusão de módulo como estratégia de avaliação do aprendizado no Módulo do Átomo à Célula Um dois maiores desafios do processo de ensino-aprendizagem é o de aproximar aquilo que se ensina à realidade vivenciada pelo estudante. É nesse contexto que o Módulo Do Átomo à Célula procura dar uma significação de seus conteúdos no contexto das diferentes profissões do campus Baixada Santista. Para tal, foi desenvolvida a ferramenta do Trabalho de Conclusão de Módulo (TCM) é uma estratégia utilizada para que os estudantes apliquem os conhecimentos através da investigação de questões relacionadas às suas futuras áreas de atuação. O trabalho consiste na elaboração, em grupos, de um painel ou projeto de pesquisas, nos quais são exploradas as dimensões celulares, bioquímicas e genéticas de temas da área de saúde relacionados a atuação profissional. Cada um dos 5 cursos fica sob supervisão de um dos 5 docentes da equipe do Módulo. Nos 4 anos em que a experiência tem sido aplicada, uma gama de temas e suas dimensões Biológicas foram explorados: na Psicologia destaque para temas como depressão e ansiedade, transtornos psicológicos, loucura e medo; na Educação Física destacam-se os trabalhos envolvendo bioquímica do exercício; na Nutrição os temas atuais como alimentos funcionais, substâncias antioxidantes e síndrome metabólica; na Terapia ocupacional temas como Síndrome de Down e osteogênese imperfeita têm predominado e na Fisioterapia temas que envolvem suas grandes áreas de atuação (cardiorrespiratória e neuromuscular) têm predominado. Em alternativa aos pôsteres os alunos podem elaborar um projeto de pesquisas cuja finalidade é propor uma metodologia de investigação de um tema correlato a sua profissão e aos conteúdos do Módulo. Têm sido propostos protocolos que vão desde uma revisão sistemática até ensaios experimentais. Essa estratégia também inicia os alunos nos princípios da Metodologia da Pesquisa Científica. Tanto para pôsteres quanto projetos são realizados encontros periódicos chamados de "Evolução de TCM" onde é realizada a checagem e orientação para progressão do trabalho. A estratégia recebe pontuação de 25% da nota final. As notas são atribuídas pelo desempenho individual no decorrer dos encontros de Evolução e no produto final e sua apresentação, que tem a participação de todos os integrantes dos grupos. O TCM tem sido relatado pelos estudantes como ponto alto da aprendizagem, bem como o momento de descoberta do para que isso serve e do o que isso tem a ver com minha profissão. Em termos de campus, a partir de 2006, quando o TCM foi implantado no Módulo Do Átomo à Célula, vários outros Módulos têm proposto trabalhos de conclusão com essas finalidades. Além disso, no final de 2009, quando da apresentação dos TCC das primeiras turmas de formandos, foi possível observar que alguns temas pesquisados em 2006 para o TCM ainda serviram de pano de fundo para embasar os trabalhos finais desses estudantes.

5 9. Referências BIASUTTO, S.N.; CAUSSA, L.I.; CRIADO DEL RIO, L.E. Teaching anatomy: Cadavers vs. computers? Ann Anat. 188: CAMPUS NETO, F. H. C.; MAIA, N. M. F. e S.; GUERRA, E. M. D.. A experiência de ensino da anatomia humana baseada na clínica. Fortaleza: Universidade Metropolitana de Fortaleza, XXIII Congresso Brasileiro de Anatomia, FORNAZIEIRO, C. C. e GIL, C. R. R. Novas Tecnologias Aplicadas ao Ensino da Anatomia Humana. Revista Brasileira de Educação Médica. 27 (1): MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.. Anatomia orientada para a clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, RAMOS, K. da S.; PEDROSO, A. C.; GUIMARÃES, G. F.; SANTOS, J. C. C.; LACERDA, P. S. D. de.. Uma análise de caso acerca do ensino em morfologia na universidade do estado do Pará. Pará: Universidade Federal do Pará, XXIII Congresso Brasileiro de Anatomia, VERRI, E. D.; DEIENNO, F. S.; SAMPAIO, M. G. E.; GOMES, O. A.. Análise comparativa da metodologia de estudo para o ensino e aprendizagem de anatomia entre ABP / tradicional. Ribeirão Preto: UNAERP, XXIII Congresso Brasileiro de Anatomia, 2008.