A ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO COMO MEDIDA DE PREVENÇÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO
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- Heloísa Covalski Tomé
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1 !"#! B(C 4-+-4ED(4-F-* %3, C, :-.(:-% A ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO COMO MEDIDA DE PREVENÇÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO Agnaldo Fernando Vieira de Arruda (CEFET-GO) afva@terra.com.br Roberto Luis de Figueiredo dos Santos Júnior (UFSC) figueiredo@back.com.br Leila Amaral Gontijo (UFSC) leila@deps.ufsc.br Este artigo descreve sobre a utilização da análise ergonômica do trabalho como forma prevencionista na gestão da segurança e saúde do trabalho, abordando para isto o relacionamento legal existente entre ergonomia, segurança e saúde do trabaalho, análise ergonômica do trabalho e prevenção de riscos. Para tanto, são feitas considerações conceituais sobre a ergonomia e análise ergonômica do trabalho, apontando o relacionamento destes com a segurança e saúde do trabalho. Apresenta o resultado da pesquisa baseada na NR 17 (1990) e Diretriz CE 89/391 (1989) da Comunidade Européia, sobre a aplicação da análise ergonômica do trabalho como obrigatória, buscando um foco prevencionista. Questiona sobre a obrigatoriedade da participação da análise ergonômica do trabalho como forma de prevenção de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho, especificamente em relação aos critérios de aplicação da NR 17 (1990). Concluí que a contribuição da análise ergonômica do trabalho é fundamental para os sitemas de gestão de segurança do trabalho, como uma análise prevencionista, a exemplo da Comunidade Européia, propiciando avaliações antecipadas dos riscos, para propor melhorias nos ambientes de trabalho e nas suas relações com os trabalhadores. Sugere ainda que as discussões de relacionamento da análise ergonômica do trabalho prevencionistas sejam desenvolvidas através da participação do nível gerencial. Palavras-chaves: Análise Ergonômica do Trabalho; Prevenção de Riscos; Segurança e Saúde do Trabalho.
2 1. Introdução O objetivo deste artigo é discutir sobre a utilização da análise ergonômica do trabalho como medida de prevenção da segurança e saúde do trabalho. Este artigo possui como finalidade, diagnosticar o estágio atual do conhecimento, compreensão e aplicação da análise ergonômica do trabalho como uma atividade prevencionista na segurança e saúde do trabalho, procurando trazer para o âmbito do campo da segurança e saúde do trabalhador as questões e desafios da análise ergonômica do trabalho, as quais se relacionam e ultrapassam o universo dos ambientes de trabalho. O diagnóstico do estudo foi pautado a nível nacional na NR 17 (1990) e respectivo Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora NR 17 (2002) do Ministério do Trabalho e Emprego, e a nível internacional na relação e na forma prevencionista da Diretriz Européia CE nº.89/391 (1989) com a análise do trabalho, além das considerações do Maggi (2006). A relevância do trabalho consiste na explicitação dos conhecimentos e benefícios que a análise ergonômica do trabalho pode trazer aos sistemas de gestão de segurança do trabalho, principalmente na forma prevencionista. No caso brasileiro, existe uma dualidade de informações, se contrapondo entre obrigatoriedade e solicitação. Os itens existentes nas normas e diretrizes são de cunho geral e seus conteúdos, quando bem interpretados, sugerem uma aplicação de forma conjunta, permitindo antecipações e melhorias nos aspectos abordados, contribuindo para um ambiente e postos de trabalho mais seguro, produtivo e adequado à realidade do trabalhador e da organização. Para alcançar os objetivos propostos, a estratégia usada neste estudo foi salientar e contextualizar a necessidade da participação da análise ergonômica do trabalho na prevenção de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, através de pesquisas em normas e diretrizes de âmbito nacional e internacional, análises de trabalhos publicados e de informações divulgadas por empresas que desenvolveram a relação da analise ergonômica do trabalho como forma de prevenção de acidentes de trabalho. 2. Ergonomia, Análise Ergonômica e Segurança do Trabalho 2.1 Ergonomia e Segurança do Trabalho Wisner (1987) descreve ergonomia como sendo o conjunto dos conhecimentos científicos relacionados ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia. O autor também relata sobre a continuidade entre o campo das condições de trabalho e da segurança do trabalho, afirmando sobre a existência de serviços comuns de ergonomia e segurança nas empresas, onde os conhecimentos científicos e a metodologia da ergonomia na análise do trabalho renovaram o estudo dos acidentes e outros aspectos das condições de trabalho. Dul e Weerdmeester (2004) descrevem que a ergonomia pode contribuir para solucionar um grande número de problemas sociais, principalmente relacionados com a saúde, segurança, conforto e eficiência. Discorre ainda os autores, que a probabilidade de ocorrência dos acidentes pode ser reduzida quando se consideram adequadamente as capacidades e limitações humanas e as características do ambiente, durante o projeto do trabalho. Rebelo (2006), por sua vez, considera que a Ergonomia é uma ciência multidisciplinar, pois se 2
3 fundamenta em diferentes domínios do saber, constituindo uma unidade estrutural que permite estabelecer uma coerência alicerçada nos seus métodos de ação. O autor comenta ainda que esta visão panorâmica possibilita contextualizar o trabalho humano, de modo a encontrar as condições de trabalho que permitam a melhor integração do trabalhador do ponto de vista do conforto e segurança, assim como da confiabilidade e eficiência do sistema produtivo. Nas descrições baseadas em Wisner (1987), Dul e Weerdmeester (2004), e Rebelo (2006), a abordagem da ergonomia é feita de uma forma ampla dentro da organização, procurando relacionar as questões da ergonomia com o trabalhador de maneira sistêmica, deixando clara a relação com a segurança do trabalho e a eficiência dos processos de trabalho. Neste contexto, as perspectivas de intervenção em segurança e saúde no trabalho, focam normalmente na definição de procedimentos de ação centrados na tipificação dos perigos ou dos fatores de risco e convergem em soluções pré-definidas para os problemas diagnosticados. Apesar destes procedimentos serem eficazes, apresentam problemas decorrentes do fato de muitas vezes não considerarem o Homem como o ator principal de uma situação de trabalho. É precisamente neste aspecto que a ergonomia pode focar a sua atenção, em particular, na compreensão da interação do trabalhador com os elementos de uma situação de trabalho, tendo em vista a sua otimização de acordo com critérios de segurança e saúde, ao mesmo tempo em que promove a eficiência do sistema produtivo (REBELO, 2006). Em relação a objetivos e concepções da ergonomia, destaca-se a melhoria do ambiente de trabalho, a adaptação do trabalho ao homem e a busca da segurança do trabalhador. Estes fatores são usados como balazidores deste estudo, que procura destacar a participação da análise ergonômica do trabalho como uma condicionante no processo de prevenção dos riscos do ambiente de trabalho. Dentro do contexto das definições abordadas, observa-se um estreito relacionamento conceitual da ergonomia e consequentemente também da análise ergonômica do trabalho com a segurança e saúde do trabalho, tipificada, no próprio conceito de ergonomia, que em resumo é fundamentado na relação entre homem, ambiente e trabalho. O que este artigo pretende ressaltar, portanto, é a importância prática que este relacionamento estreito entre a análise do trabalho, como base dos estudos ergonômicos, e a segurança do trabalho pode trazer para a prevenção de riscos no ambiente do trabalho. 2.2 Análise Ergonômica e Segurança do Trabalho Segundo Fialho e Santos (1995), a análise ergonômica do trabalho é entendida como uma metodologia que tem como finalidade desvendar as diferenças entre os trabalhos formal e real, com a intenção de elaborar recomendações de modificações das condições laborais em seus pontos críticos evidenciados, de tal modo a possibilitar oportunidade à segurança e à eficácia de trabalhadores e processos, preservando a saúde e o conforto dos indivíduos. Comentam também os autores que a analise ergonômica do trabalho se realiza para avaliar o entorno de um posto de trabalho, com vistas a determinar riscos, observar excessos, propor mudanças de melhorias, etc. Santos e Santos (2006) consideram que a análise ergonômica do trabalho consiste em se estudar itens de valor sobre o desempenho global dos sistemas homen e trabalho, qualidade e produtividade e saúde e segurança do trabalho. 3
4 Vidal (2003), por sua vez comenta que as análises ergonômicas são análises quantitativas e qualitativas que permitem a descrição e a interpretação do que acontece na realidade da atividade enfocada. Para Guerín et al (2001) transformar o trabalho é a finalidade primeira da ação ergonômica, sendo esta tranformação realizada na forma de contribuição para a concepção de situações de trabalho que não alterem a saúde dos trabalhadores, e nas quais estes possam exercer suas competências, valorizando suas capacidades, e que também alcancem os objetivos econômicos determinados pela empresa. Nestas concepções, a análise ergonômica do trabalho começa a se destacar como prevencionista, atuando na avaliação dos riscos nos ambientes de trabalho, os quais vão sendo identificados ao longo da suas etapas, para posterior análise, identificação e tomadas de decisões. Desta forma, a análise ergonômica do trabalho muitas vezes pode conduzir a transformações dos sistemas técnicos, na organização do trabalho e também na organização e gestão da empresa (WISNER, 2004). O último passo da análise ergonômica do trabalho é a realização do diagnóstico e das recomendações, onde são evidenciados os pontos problemáticos e formuladas alterações para melhorar as condições de trabalho, conduzindo, então, para o aumento da produtividade e qualidade dos produtos e serviços, garantindo a saúde dos trabalhadores. Para Fialho e Santos (1995), esta fase de elaboração das recomendações é a razão de ser da análise ergonômica do trabalho. Em função da sistemática de uma análise ergonômica do trabalho, fica evidente que na realização do diagnóstico, em uma área de trabalho que foi analisada de forma ergonômica, as chances de prevenção de riscos a saúde do trabalhador passam a ser muito maiores, devido ao ambiente de trabalho ter passado por um mapeamento detalhado, envolvendo análises minuciosas das suas característas fisicas, dos equipamentos, e da relação e interação com os trabalhadores. É neste contexto prevencionista que a análise do trabalho também deve atuar, e não só após a existência de uma demanda. 3. A Análise Ergonômica na Prevenção da Segurança do Trabalho Para descrever sobre a contribuição da análise ergonômica do trabalho como prevencionista da segurança e saúde do trabalho, foi feita uma pesquisa, principalmente na NR 17 (1990) e no seu Manual de Aplicação, e nas diretrizes e normas da Comunidade Européia, além dos textos do Maggi (2006), Daniellou (2001), e trabalhos publicados. Esta pesquisa constatou uma diferença de interpretação e aplicação da análise do trabalho entre países da Comuniade Européia na visão de Maggi (2006) e aqui no Brasil, nos diversos setores de trabalho, principlamente em relação ao direcionamento que é dada pelo Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora NR 17 (2002), onde em suma orienta que a análise ergonômica do trabalho deve atuar apenas para atender a uma determinada demanda, ao passo que no entendimento das diretrizes da Comunidade Européia, a análise do trabalho é obrigatoriamente prévia, como forma de prevenir e evitar riscos no ambiente de trabalho. O trabalho de Gomes (2006) deve ser salientado neste contexto, por se diferenciar das alegações do Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora NR 17 (2002), porque descreve sobre o processo de gestão de ergonomia da empresa Embraco brasileira, a montagem do comitê ergonômico, inclusive comentando sobre os procedimentos e resultados 4
5 das avaliações ergonômicas de concepção, de correção e de conscientização, onde foram realizadas análises do trabalho de praticamente todos os postos de trabalho da empresa, não por demanda explícita, mas como forma prevencionista, procurando atuar antecipadamente na avaliação dos riscos. Também nesta linha prevencionista, o trabalho de Soares (2006) sobre a relação do programa de ergonomia com a gestão da segurança do trabalho, procura mostrar esta importância prevencionista da ergonomia, através da análise do trabalho. De maneira geral, as organizações estão tentando gerenciar suas atividades de modo a antecipar e prevenir circunstâncias que possam resultar em lesão ou doença ocupacional. Neste contexto, o modelo da BS 8800 (1998) estabelece, portanto uma estrutura a respeito da Segurança e Saúde no Trabalho, orientando as empresas e a forma de gerenciamento de suas atividades, de modo a antecipar e prevenir situações que possam causar acidentes ou doenças ocupacionais (FERNANDES, 2000) e (SOUZA, 2002). É neste contexto prevencionista, de antecipação e avaliação dos riscos, que a análise ergonômica do trabalho poderia atuar junto aos sistemas de gestão de segurança do trabalho. 3.1 Comentários sobre a aplicação da Análise Ergonômica do Trabalho na NR 17 Neste item serão feitos comentários sobre o modo de entendimento da análise ergonômica do trabalho em relação ao contexto da ergonomia e segurança do trabalho. A NR 17 (1990) visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficientes. As condições de trabalho citadas na NR 17 (1990) incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. O item da NR 17 (1990) destaca que para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora. Numa primeira avaliação, fica claro a obrigatoriedade da análise ergonômica do trabalho pelos empregadores, para poder avaliar a adaptação das condições de trabalho aos trabalhadores e suas características. Porém, esta obrigatoriedade começa a ruir a partir do entendimento e das interpretações do Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora NR 17 (2002), que faz um direcionamento sobre a realização da análise ergonômica do trabalho, apenas em casos que houver demanda, para enfocar um problema especifico, para evitar segundo o Manual, análises desenfreadas. De acordo com o Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora NR 17 (2002), a realização da análise ergonômica do trabalho pelo empregador, como forma de avaliar a adaptação das condições de trabalho ao homem, é o assunto mais polêmico da Norma, o que concordamos plenamente, inclusive pela razão de ser deste estudo. A análise ergonômica do trabalho neste manual de aplicação é descrita apenas como uma forma corretiva de melhorar o ambiente ou posto de trabalho, não sendo considerada como um facilitador da prevenção de riscos no ambiente de trabalho. 5
6 Segundo o Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora NR 17 (2002) a análise ergonômica do trabalho é um processo construtivo e participativo para a resolução de um problema complexo que exige o conhecimento das tarefas, da atividade desenvolvida para realizá-las e das dificuldades enfrentadas para se atingirem o desempenho e a produtividade exigidos. A análise começa por uma demanda que pode ter diversas origens como saúde, social, legal, etc. Mais uma vez é destacado o engessamento da análise ergonômica do trabalho, aguardando sempre uma demanda para depois entrar em ação. Por que não elaborar análises ergonômicas do trabalho planejadas de acordo com as atividades da empresa, nos respectivos postos e ambientes de trabalho, procurando se antecipar aos prováveis problemas? Não seria uma forma de prevenção para os trabalhadores? Ou simplesmente, por que a prevenção não pode ser considerada uma demanda? Por que não podemos considerar as duas formas de se fazer uma análise ergonômica do trabalho: uma para o caso de solicitação por uma demanda, para solucionar um problema particular, e outra para o caso de auxiliar na prevenção dos riscos nos ambientes laborais?. Segundo o Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora NR 17 (2002) a análise ergonômica deverá conter, minimamente, as seguintes etapas: Análise da demanda e do contexto; A análise global da empresa; A análise da população de trabalhadores; Definição das situações de trabalho a serem estudadas; A descrição das tarefas prescritas e reais e das atividades desenvolvidas para executá-las; Estabelecimento de um pré-diagnóstico; Observação sistemática da atividade, e dos meios disponíveis para realizar a tarefa; Elaboração e validação dos diagnósticos; O projeto de modificações/alterações; O cronograma de implementação das modificações e alterações; O acompanhamento das modificações e alterações. Observando-se as etapas acima, pode-se constatar que seria muito enriquecedora para a estratégia da empresa, conhecer detalhes do seu ambiente ao mapear seus postos de trabalho, principalmente como forma de alimentar bancos de informações para elaboração de estratégias dos sistemas de gestão de segurança e meio ambiente do trabalho. Estas informações viriam através da definição de situações de trabalho, descrição de tarefas, observações das atividades, e elaboração de diagnósticos, realizadas pela análise ergonômica do trabalho antecipada ou prevencionista. 3.2 Comentários sobre a Diretriz Européia nº 89/391 e sua relação prevencionista com a análise e a segurança do trabalho A Diretriz Européia CE nº 89/391 (1989) possui como objeto orientar é introduzir medidas de incentivo e melhorias na segurança e na saúde dos trabalhadores. Ela contém os princípios gerais a respeito da prevenção de riscos ocupacionais, da proteção da segurança e da saúde, da eliminação de fatores de risco e de acidente, de informar, de consultar, de participação equilibrada de acordo com leis nacionais e/ou práticas e de treinar os trabalhadores e os seus representantes, para a execução dos princípios ditos. Segundo Maggi (2006), por volta do final do século passado, o estudo do trabalho visando o 6
7 bem-estar passou a ser objeto de normas da Comunidde Européia (CE). Descreve ainda o autor que a diretriz CE nº. 391/89 (1989), da Comunidade Européia, prescreve medidas para a tutela da saúde e para a segurança dos trabalhadores, as quais conduzem à consideração da situação global do trabalho desde sua concepção, modificando assim profundamente o quadro normativo anterior. Entre as numerosas inovações introduzidas, aquela que diz respeito à análise e à concepção do trabalho surge como uma das mais notáveis, se não a mais notável, dos conhecimentos e das práticas de intervenção nos locais de trabalho. Aqui, entende-se que as mudança nas diretrizes européia foram direcionadas para a prevenção, o que também é fato nas NR s brasileiras, mas a diferença consiste em que no caso das diretrizes da Comunidade Européia, esta prevenção passa por um relacionameto estreito com a análise ergonômica do trabalho. Maggi (2006), afirma também que as normas da Comunidade Européia impõem que sejam tomadas medidas de prevenção que implicam uma análise do trabalho objetivando intervenções repetidas com vistas a melhorar a segurança e a saúde dos trabalhadores. Nesta descrição fica comprovada pelo autor, a obrigatoriedade da análise do trabalho, com objetivos prevencionistas, de acordo com o que determina à diretriz CE nº. 89/391 (1989). A diretriz CE nº. 89/391 (1989) estabelece uma hierarquia entre as medidas a dotar, em termos de princípios gerais de prevenção: sobretudo evitar os riscos, em seguida avaliar os riscos que não podem ser evitados, combater os riscos na origem, entre outros. Em si, essa hierarquia revela a vontade de inovação. As medidas de proteção e higiene, a redução da exposição ao risco, o controle sanitário em relação a riscos especificos, em suma tudo o que tende a proteger o trabalhador em presença de riscos admitidos é subordinado a medidas que buscam evitar os riscos e a combater suas origens. Assim é preciso evidenciar os riscos inerentes a cada configuração de trabalho em relação com os materiais, os instrumentos, as modalidades de execução, etc., e indentificar soluções de trabalho alternativas desprovidas de riscos. Emerge daí uma visão da intervenção na qual a análise do trabalho e a concepção do trabalho estão estreitamente correlacionados à prevenção (MAGGI, 2006). Os preceitos citados acima, são a base dos sistemas de gerenciamentos de riscos, dos principais sistemas de gestão de segurança e saúde do trabalho. É evidente a necessidade da participação dos fundamentos da ergonomia e da análise ergonômica do trabalho nestes sistemas, como facilitador, para ajudar a combater os riscos dos ambientes de trabalho, promover melhorias nestes ambientes e atingir os objetivos da organização. Estes indícios por si só despertam para a prática da análise do trabalho como medida de prevenção de riscos. De acordo com Maggi (2006) e a diretriz CE nº. 89/391 (1989), a intervenção não pode ser a partir de danos verificados, tampouco a partir da exposição a riscos presentes, deve ser o objetivo prioritário de uma prevenção primária, que não deve se apoiar em medidas de proteção dos riscos admitidos, a não ser a título excepcional, e que pressupõe a capacidade de analisar a situação global do trabalho e de evidenciar entre as escolhas efetuadas os aspectos suscetíveis de engendrar riscos. A visão de uma prevenção geral, programada e de concepção é afirmada no ponto que prescreve o respeito aos princípios ergonômicos: adaptar o trabalho ao homem, em particular no que diz respeito à concepção dos postos de trabalho e de produção, tendo em vista principalmente limitar o trabalho monótono e o trabalho cadenciado, e reduzir os efeitos destes sobre a saúde (MAGGI, 2006). Maggi (2006) conclui a abordagem sobre os aspectos prevencionistas da diretriz CE nº. 7
8 89/391 (1989) comentando que esta norma prescreve uma prevenção primária, geral, programada, e de concepção, baseada numa avaliação dos riscos que abrange a integralidade das situações de trabalho, o que implica uma capacidade de análise e intervenção tendo em vista o controle da saúde e da segurança dos trabalhadores, bem como uma formação adequada a essa necessidade. Portanto, uma análise das situações de trabalho e uma formação para a prevenção são prescritas por leis. Neste contexto, podemos confrontar as idéias de Maggi (2006) e as orientações do Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora NR 17 (2002), onde é notória a diferença de aplicação de uma análise do trabalho nos dois casos. O primeiro afirma a necessidade e a obrigatoriedade de análises de trabalho prévias com objetivos prevencionistas, e o segundo, apenas indica a análise ergonômica do trabalho para demanda comprovada. 4. Conclusões Podemos considerar que a análise ergonômica do trabalho é um instrumento valioso na contribuição de soluções de problemas de segurança do trabalho. Porém, para que esta análise possa desenvolver suas contribuições, é necessário que ela atue também de forma prevencionista, e não só na forma corretiva, atencipando-se aos problemas e aos riscos dos postos, ambientes de trabalho e sua relação com o trabalhador. Da forma como ela é colocada no Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora NR 17 (2002), ela atua apenas, quando existe uma demanda, ou seja, quando já existe um problema instalado, uma lesão, queixas ou algo similar. Entendemos que nestes casos a serventia da análise ergonômica do trabalho é apenas corretiva, onde todas as suas etapas de elaboração são focadas apenas para atender aquela demanda (problema existente). E para prevenir um ambiente de trabalho, não seria correto elaborar análises ergonômicas do trabalho, mesmo sem uma demanda explicita, a fim de procurar detectar prováveis e possíveis problemas de doenças ocupacionais e saúde no trabalho? Quais fatores ou considerações influem negativamente nestes aspectos? A diretriz CE nº. 89/391 (1989) foi concebida com objetivos prevencionistas claros, envolvendo em suas necessidades a obrigação da análise do trabalho como uma nova maneira de prevenção, análise e concepção do trabalho. É fato as semelhança e igualdades entre itens das normas e diretrizes européias de segurança do trabalho e as brasileiras, porém, as interpretações são divergentes quanto a sua aplicação. No caso brasileiro, a análise ergonômica do trabalho é recomendada apenas quando da existência de uma demanda, e na Comunidade Européia a análise do trabalho aparece estreitamente relacionada com a prevenção de riscos, atuando de forma obrigatória e prévia. Portanto, o objetivo deste artigo, em relação a discutir a utilização da análise ergonômica do trabalho como prevencionista nas abordagens de segurança e saúde do trabalho, mostrou-se pertinente, pelas considerações apresentadas, permitindo inclusive sugerir que os sistemas de gestão de segurança do trabalho procurem adotar de forma ampla e participativa a análise ergonômica do trabalho para auxiliar na avaliação e prevenção de riscos, de forma que seja implantada no conceito da organização, no nível estratégico da empresa. Referências BS Britanic Standards Normas de saúde e segurança no trabalho,
9 CE Nº 89/391. Diretriz Européia, DANIELLOU, F.. A Ergonomia em busca de seus princípios. Debates Epistemológicos. São Paulo: Edgard Blucher, 2004 DUL, JAN; WEERDMEESTER, BERNARD. Ergonomia Prática, 2ª ed... São Paulo: Edgard Blucher, FERNANDES, FRANCISCO CORTES. Analise de vulnerabilidade como ferramenta gerencial em saúde ocupacional e segurança do trabalho. Florianópolis, 2000.??p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Pós - Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina. FIALHO, F; SANTOS, N. Manual de Análise Ergonômica no Trabalho. Curitiba: Gênesis, GOMES, VERA REGINA BON BARBOSA. Processo de gestão da ergonomia Embraco. XV CONASEMT - Congresso Nacional de Segurança e Medicina do Trabalho, São Paulo-SP, ago., Disponível em: Acesso em: 10 de outubro de GUÉRIN, F.; LAVILLE, A.; DANIELLOU, F.; DURAFFOURG, J.; KERGUELEN, A. Compreender o trabalho para transformá-lo: a prática da ergonomia. São Paulo: Edgard Blucher: Fundação Vanzolini, MAGGI, BRUNO. Do agir organizacional: um ponto de vista sobre o trabalho, o bem estar, a aprendizagem. São Paulo: Edgard Blucher, MANUAL DE APLICAÇÃO DA NORMA REGULAMENTADORA NR ed. Brasília : MTE, SIT, NR 17. Norma Regulamentadora sobre Ergonomia, estabelecida por meio da Protaria nº 3.715, de 23 de novembro de 1990, do então Ministério do Trabalho e Previdência Social, Brasil, REBELO, FRANCISCO DOS SANTOS. Dossier Ergonomia: A Ergonomia na segurança e saúde no trabalho. Revista Segurança, Lisboa, Ano XLI, nº 170, janeiro/fevereiro SANTOS. E.F; SANTOS, G.F. Analise de Riscos Ergonômicos. Jacareí-SP: Ergo Brasil, SOARES, MARCELO MÁRCIO. A ergonomia como ferramente para o sistema de gestão. XV CONASEMT - Congresso Nacional de Segurança e Medicina do Trabalho, São Paulo-SP, ago., Disponível em: Acesso em: 10 de outubro de SOUZA, CARLOS ROBERTO COUTINHO. Administração moderna de segurança de trabalho e saúde ocupacional como ferramenta de gestão para a excelência empresarial. Congresso Nacional de Excelência em Gestão, Niterói, nov Disponível em: Acesso em: 26 de abril VIDAL, M. C. Ergonomia na empresa, útil, prática e aplicada, 2ª ed.. Rio de janeiro: Editora CVC, WISNER, A. Por dentro do trabalho: ergonomia: método e técnica. São Paulo: FTD: Oboré, WISNER, A. Questões epistemológicas em ergonomia e em análise do trabalho. In: A Ergonomia em busca de seus princípios. Debates Epistemológicos. Daniellou, F.. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo: Edgard Blucher,
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