CAPÍTULO 5 AS PERSPECTIVAS
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- Raphael Quintão Palmeira
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1 CAPÍTULO 5 AS PERSPECTIVAS DA INFECTOLOGIA Entre os principais desafios da especialidade, questões como o uso racional dos antimicrobianos, a melhoria da infra-estrutura para diagnóstico etiológico e o aprimoramento das ações voltadas à prevenção e ao controle das grandes endemias.
2 Avalorização da Infectologia, tanto dentro de suas abordagens mais tradicionais, quanto nas novas frentes que se abriram nas últimas décadas, fez com que a especialidade deixasse de ser uma atividade restrita à universidade e à pesquisa, e passasse a ocupar um espaço cada vez mais transversal, em interação com outras especialidades médicas e outros campos do conhecimento. A Infectologia evoluiu muito nas respostas oferecidas às doenças infecciosas e parasitárias, especialmente às epidemias mais recentes como a de HIV/Aids e das hepatites virais. Os recursos para diagnóstico e tratamento cresceram e se sofisticaram, permitindo ações mais precisas dos infectologistas. A velocidade das transformações tem sido surpreendente e os especialistas da área estão cada vez mais amparados pela contínua evolução do conhecimento e pelos avanços da pesquisa científica e do desenvolvimento tecnológico. Mas persistem alguns paradoxos, pois ao lado do domínio de complexas tecnologias, como os anti-retrovirais para HIV/Aids, não se consegue evitar mortes possíveis de se prevenir por imunizações. Patologias antes erradicadas encontram espaço para eclodirem novamente em virtude da ausência de políticas públicas eficazes, na área da saúde e do saneamento básico. Há também as doenças emergentes e reemergentes, e até mesmo aquelas decorrentes dos hábitos da vida contemporânea. 25 ANOS DA SBI l 69
3 CAPÍTULO 5 l AS PERSPECTIVAS DA INFECTOLOGIA 70 l 25 ANOS DA SBI Colocam-se, entre os principais desafios da especialidade, questões como o uso racional dos antimicrobianos e a resistência dos agentes infecciosos a essa classe de medicamentos; a melhoria da infra-estrutura para diagnóstico etiológico de doenças infecciosas e parasitárias; o aprimoramento das ações voltadas à prevenção e ao controle das grandes endemias; a capacidade do sistema de saúde para o atendimento das doenças emergentes e reemergentes; entre outras. Coloca-se como uma demanda indiscutível e inadiável a estruturação dos serviços de saúde para a prevenção, controle, diagnóstico e tratamento precoce de doenças e síndromes infecciosas com base em políticas públicas específicas e integradas para esta área, que responde por cerca de 80% dos males que acometem o homem atualmente. São inúmeros os desafios de saúde pública que concorrem entre si e, em sua quase totalidade, dependem cada vez mais da contribuição e da assistência dos infectologistas. Ações conjuntas do poder público, dos gestores de saúde, da população afetada pelas doenças infecciosas e, evidentemente, dos profissionais e serviços de saúde que atuam na assistência aos pacientes são essenciais para os avanços da Infectologia. Trata-se de um esforço coletivo e coordenado para que as ações empreendidas alcancem o sucesso planejado. A divulgação e a discussão dos problemas, mediante campanhas de prevenção, são fundamentais para que a população possa auxiliar na redução das doenças infecciosas. A grande maioria dos infectologistas vai necessitar de capacitação e de treinamentos muito intensos para que possa atender a essa demanda iminente. Até pouco tempo, a formação clássica do infectologista não incluía as hepatites porque na grande maioria dos serviços de saúde essa patologia ainda era tratada pelos hepatologistas. O recém-formado fazia uma residência em Infectologia e não estudava com profundidade as hepatites virais, saindo para o mercado de trabalho despreparado nessa área. Essa realidade vem mudando nos últimos anos: os médicos formados mais recentemente encontraram uma situação bastante diferente do que foi a realidade das residências médicas em relação às hepatites, há cerca de dez anos. Mas ainda é preciso expandir o foco de atenção no sentido de buscar respostas efetivas para a realidade do país, atuando em termos do controle prevenção e diagnóstico e de tratamento e assistência. Essa é uma área que certamente irá se expandir nos pró-
4 CAPÍTULO 5 l AS PERSPECTIVAS DA INFECTOLOGIA ximos anos e a SBI, como entidade da sociedade civil e que atua em conjunto com os gestores de saúde pública, deve investir fortemente em parcerias que permitam o enfrentamento dessa situação. Outra área que requer uma ação importante de conscientização refere-se ao uso racional dos antimicrobianos. Trata-se de um trabalho de educação tanto de médicos quanto de pacientes, ou melhor, da população em geral. A Medicina está seriamente ameaçada de perder um dos grandes recursos terapêuticos por conta do seu uso abusivo. São poucos os novos medicamentos dessa categoria que chegam ao mercado, pois este segmento não está mais entre as prioridades da indústria farmacêutica em termos de pesquisa e desenvolvimento. A Agência Nacional de Vigilância em Saúde (Anvisa) criou em meados de 2005 uma Rede de Monitoramento e Controle da Resistência Microbiana em Serviços de Saúde, na qual a SBI tem um representante. Isso demonstra que alguma iniciativa preliminar já começa a se esboçar e é importante que o próprio Ministério da Saúde expanda as ações nessa área. DIVERSIDADE DE ATUAÇÃO As diversas frentes de atuação que as doenças infecciosas e parasitárias possibilitam permitem que os infectologistas estejam cada vez mais presentes nos espaços de discussão e de gestão de políticas públicas. É assim que se enfrentam os desafios que surgem e também aqueles que se renovam, com a evolução do quadro epidemiológico e dos conhecimentos pertinentes a cada patologia. Essa é uma missão da própria SBI, que tem empenhado esforços permanentes nessa direção. Os infectologistas têm tido voz ativa e participação em quase todos os programas que cuidam das doenças infecciosas, tanto no Ministério da Saúde quanto nas secretarias estaduais e municipais de Saúde. Uma das ações das gestões da SBI é a busca de parcerias com outras sociedades médicas afins. São vários os exemplos: a importante aproximação com Sociedade Brasileira de Pneumologia, no que diz respeito às doenças infecciosas do aparelho respiratório, assim como uma efetiva proximidade com a Sociedade Brasileira de Hepatologia, na área das hepatites virais. A visão que conduz essas parcerias apóiase na certeza de que as ações construídas de modo coletivo podem, seguramente, ser mais efetivas em termos de resultados e avanços. 25 ANOS DA SBI l 71
5 CAPÍTULO 5 l AS PERSPECTIVAS DA INFECTOLOGIA 72 l 25 ANOS DA SBI FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DO MERCADO Uma das demandas da Infectologia refere-se ao reconhecimento e à consolidação da especialidade no mercado de trabalho médico. Ao ingressar na profissão, a maioria dos residentes tanto em Infectologia quanto em outras especialidades tem que conviver com os convênios médicos. Mas boa parte destes planos privados atuam com limitações de cobertura de doenças infecciosas, ao mesmo tempo em que impõe restrições à prática profissional do médico, seja interferindo na autonomia do médico ou praticando honorários aviltantes. Esta é uma questão que a SBI, ao lado das entidades médicas nacionais, empenha esforços permanentemente. De outro lado, a SBI tem se preocupado também com a formação dos profissionais médicos uma vez que os conhecimentos técnico-científicos evoluem muito rapidamente, além das próprias demandas impostas pelo perfil epidemiológico da população. Esse é um grande desafio não só para a SBI como também para todas as instituições acadêmicas que formam médicos residentes. A Sociedade tem consciência da necessidade de permanente capacitação dos especialistas e efetivamente ampliou as ações voltadas à educação continuada nas diferentes frentes da Infectologia. O fato de ser responsável pela execução do concurso de título de especialista e, a partir de 2006, do exame para a sua revalidação, permite à SBI auferir a atualização dos infectologistas nas áreas de maior relevância. A contínua capacitação dos infectologistas especialmente para aqueles que não têm acesso à literatura internacional ou que estão afastados dos principais centros de referência do país também se configura como desafio importante a ser enfrentado. Nesse sentido, a educação à distância suportada pelas novas tecnologias da informação revela-se como alternativa para superar as barreiras do acesso ao conhecimento e à atualização profissional. O intercâmbio dos infectologistas brasileiros com especialistas de outros países do mundo, por meio da participação em congressos internacionais, ou até mesmo integrando grupos de pesquisas científicas, apresenta-se como um desafio para a projeção internacional da Infectologia brasileira. Há desafios ainda em termos de suprir a crescente demanda por infectologistas nas áreas mais distantes dos grandes centros. No Rio
6 CAPÍTULO 5 l AS PERSPECTIVAS DA INFECTOLOGIA Grande do Sul, por exemplo, tem se formado número suficiente de especialistas para atender pacientes com doenças infecciosas, principalmente por HIV/Aids, na capital e nas cidades vizinhas. Mas ainda é necessário um maior número de infectologistas nas cidades do interior gaúcho. É uma situação que se repete em outros estados. Como resposta a esse quadro, uma solução viável pode ser a abertura de novos programas de residência médica em Infectologia, em áreas ainda carentes dessa opção para os médicos recém-formados, implantados conforme as normas da Comissão Nacional de Residência Médica e sob supervisão da SBI. As grandes endemias brasileiras, pelo número de pessoas comprometidas e expostas, as elevadas taxas de adoecimento e morte, a associação com a migração, a pobreza e por serem negligenciadas em termos de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos, também merecem todo o empenho dos infectologistas e das federadas e da SBI. Neste cenário, não são poucas as dificuldades para o exercício digno da Medicina no país: a mercantilização imposta pelos planos privados de saúde, as deficiências no ensino médico, a abertura indiscriminada de novas escolas médicas, os baixos honorários e salários, as condições inadequadas de trabalho nos serviços públicos. São questões críticas que merecerão permanente mobilização e vigilância dos profissionais médicos e de suas entidades representativas. Assim, além da missão técnico-científica, a instituição tem atuado também junto às entidades de classe das demais especialidades e às representativas dos médicos e profissionais de saúde em geral, na defesa de melhores condições para o exercício da profissão e na busca da melhoria contínua dos serviços de saúde oferecidos à população. Para a SBI, é importante conquistar e ampliar os espaços que permitam maior participação nas áreas de ensino, pesquisa e assistência, bem como na elaboração e implementação dos programas de saúde pública instituídos no Brasil. A maior presença dos infectologistas nos diversos setores que estabelecem as políticas de prevenção, controle e tratamento dos principais agravos à saúde dos brasileiros reforçará, certamente, a importância das contribuições da especialidade para o enfrentamento dos desafios de saúde pública do país. 25 ANOS DA SBI l 73
7 Referências O resgate da história da SBI e da trajetória das diferentes gestões que estiveram à frente da instituição apoiou-se em levantamento realizado junto a atas das assembléias gerais, coleção de boletins, The Brazilian Journal of Infectious Diseases e entrevistas. Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde: Programa Nacional de Imunizações 30 anos, 2003; Análise da Situação das Doenças Transmissíveis no Brasil, 2004; Brasil Saúde Uma análise da situação de Saúde, 2004 Instituto Pasteur, França: Dossiê Les Maladies Infectieuses, 2005 Médicos Sem Fronteiras: Relatório Desequilíbrio Fatal, 2001 Unaids Relatório sobre a Epidemia Global de Aids, 2004 O Livro da Meningite Uma doença sob a luz da cidade, de autoria dos médicos José Cássio de Moraes, Rita de Cássia Barradas Barata e da jornalista Cristina Fonseca. 74 l 25 ANOS DA SBI
8 PRODUÇÃO: Editor: Fernando Fulanetti. Redatores: Renata Bessi e Sérgio Araújo. Colaboração: Mário Scheffer. Assistentes de produção: Ruth Nagao e Givalda Guanás. Projeto gráfico: José Humberto de S. Santos. Fotos e ilustrações: material de divulgação da SBI e de suas federadas. Tiragem: 3 mil exemplares
9 Impressão: Tarfc Indústria Gráfica Tel/Fax.: (11)
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