TRT 20ª Região. PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 20 a REGIÃO MS Fls.
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- Matilde Azeredo Conceição
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1 AÇÃO/RECURSO: MANDADO DE SEGURANÇA N ORIGEM: T.R.T. DA 20ª REGIÃO PARTES: IMPETRANTE: FUNDAÇÃO DE BENEFICÊNCIA HOSPITAL DE CIRURGIA IMPETRADO: JUIZ(A) DA 6ª VARA DO TABALHO DE ARACAJU DA 20ª REGIÃO LITISCONSORTE PASSIVO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO RELATOR: DESEMBARGADOR FABIO TÚLIO CORREIA RIBEIRO EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. LIMINAR. EXISTÊNCIA DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN MORA. DEFERIMENTO DA PRETENSÃO ACAUTELATÓRIA. A concessão de liminar, em mandado de segurança, faz supor a presença do fumus boni iuris e do periculum in mora, situação evidenciada no caso presente, haja vista que a impetrante é instituição de saúde que presta serviço eminentemente público, principalmente de assistência à população carente. In casu, ainda sendo passível de discussão o débito, não se mostra razoável efetuar o bloqueio de numerário indispensável à continuidade dos serviços públicos de saúde, quando houve oferecimento de imóvel à penhora. Liminar deferida para o fim de determinar a imediata cassação da ordem de bloqueio de créditos da impetrante até o final julgamento do mandamus.
2 Vistos etc. Cuida-se de mandado de segurança impetrado pela FUNDAÇÃO DE BENEFICÊNCIA HOSPITAL DE CIRURGIA, qualificada na peça de ingresso, contra ato praticado pelo juízo da MM 6ª Vara do Trabalho de Aracaju nos autos da ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho, tombada sob número , processo que já se encontra em fase de execução. Em síntese, alega a impetrante que, não obstante seja constituída sob a forma de pessoa jurídica de direito privado, é uma fundação filantrópica, sem fins lucrativos, que há mais de 80 anos atende gratuitamente às camadas menos abastadas da população sergipana e de regiões próximas, desempenhando, assim, atribuições tipicamente públicas. Sob sua ótica, o bloqueio dos repasses do convênio com o Município de Aracaju atingirá frontalmente a comunidade com destaque para os mais carentes, havendo, assim, flagrante interesse público na prestação contínua dos serviços de saúde pela impetrante, por se tratar de entidade beneficente destinada aos mais carentes. Afirma, desta forma, que a manutenção do bloqueio afrontaria o princípio de direito administrativo que dispõe que deve haver supremacia do interesse público sobre o privado. Diz, ainda, que o valor executado na ação principal refere-se tãosomente à multa decorrente de astreintes, acrescida de juros e de correção
3 monetária, e não a créditos devidos a empregados ou a exempregados seus, carecendo a multa, portanto, de natureza alimentar, ao revés das verbas trabalhistas. A inicial fez-se acompanhar da documentação de fls. 36/872, aí se incluindo o instrumento procuratório (fl. 37) e as cópias dos autos da reclamatória acima referida. Vieram os autos conclusos para a apreciação do pedido liminar. É o sucinto relatório. DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO LIMINAR: A concessão de liminar ou mesmo da própria ordem definitiva no bojo de mandado de segurança é medida que se impõe não apenas nas hipóteses em que o ato acoimado de ilegal não possa ser atacado por recurso próprio, mas igualmente naqueles casos nos quais, havendo meio processual específico de impugnação, ele, o meio, não se mostra apto a afastar a ilegalidade ou o abuso de poder de maneira pronta, permitindo, então e nessa conta, que se perpetuem no tempo as situações geradoras de periclitância a direito líquido e certo. A Fundação de Beneficência Hospital de Cirurgia, impetrante deste remédio heróico, não obstante se tratar de entidade constituída sob a forma de pessoa jurídica de direito privado, é reconhecidamente uma instituição de amparo social, que socorre a pessoas com necessidades de assistência médicohospitalar do nosso Estado, bem como oriundas de municípios circunvizinhos.
4 Esclareço que a verba executada nos autos da ação civil pública n.º não se refere a créditos devidos a trabalhadores (empregados ou ex-empregados da ré), mas à multa decorrente de astreintes, calculada pela Secretaria da Vara, em conformidade com a decisão de conhecimento proferida naqueles autos, consoante cópia juntada às fls. 446/449, cuja destinação da multa é em favor do FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador. Logo, não se trata, evidentemente, de crédito de natureza alimentar. Ademais, ainda é passível de discussão o montante da dívida, uma vez que a sentença não foi proferida de forma líquida e, após realizada a liquidação, ainda não se possibilitou à ré discutir os cálculos, por não se encontrar totalmente garantido o juízo. Ou seja, os cálculos que consubstanciam o título ainda não passaram pelo crivo da censura da impetrante (note-se que o juízo não conheceu da exceção de pré-executividade no ponto, consoante decisão de fl. 841). Entendo que a impetrante cumpre função eminentemente social, cujas atividades não se podem inviabilizar através de bloqueios créditos seus, valores esses que seriam destinados ao FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador. O bloqueio desses repasses traria como consequência dificuldades na manutenção dos serviços de saúde prestados pela autora à parte significativa da população deste Estado, o que, chama-se a atenção para a circunstância, penalizaria principalmente essa parcela da população a mais
5 carente de recursos materiais -, que se utiliza do serviço de saúde público através do SUS Sistema Único de Saúde. Dizendo de outro modo para dizer com mais clareza ainda: a impetrante desempenha papel nitidamente de poder público, nada obstante esteja constituída sob a forma de pessoa jurídica de direito privado. Isso já patenteia, portanto e a meu sentir, o fumus boni juris que justifica a pretensão liminar, mormente ante o que dispõe o art. 100 da Constituição Federal. Veja-se que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido, verbi gratia, de que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, que sabidamente desempenha atividade econômica e visa a lucro, faz jus aos benefícios da fazenda pública, haja vista que presta, entre outros, serviços públicos em sistema de exclusividade. Em raciocínio paralelo e com força de maior razão, tal entendimento, pelo menos à primeira vista, deve ser aplicado nas hipóteses de instituições como a ora autora, mesmo que privadas, que cumprem tarefas estritamente públicas, in casu, de assistência médicohospitalar, sem fins lucrativos. Há mais, porém. Os recursos sobre os quais recairia a constrição judicial seriam aqueles repassados pela Prefeitura de Aracaju decorrentes de convênio firmado entre ela, municipalidade, e a impetrante, o que, à primeira vista, não soa possível. De outro lado, o requisito do perigo da demora consubstancia-se, data venia, no fato de que a medida judicial atacada, ou seja, o bloqueio de repasses decorrentes de convênio com órgão público, implica a indisponibilidade de recursos materiais importantes, que costumam ser
6 insuficientes para atender à sempre crescente demanda social, não sendo demais chamar a atenção para os relevantíssimos valores de indiscutível estatura constitucional, conforme art. 6º, inciso II do art. 203 e art. 227 da CF/88 que ela, a autora, visa a salvaguardar. Trago aqui em destaque o referido art. 6º, dispositivo que principia o Capítulo II DOS DIREITOS SOCIAIS de nossa Carta Magna, in verbis: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Vale dizer, o legislador constitucional colocou o direito à saúde como um dos princípios basilares dos direitos sociais, o que deve ser perseguido por toda a população. Outrossim, na conformidade com as informações prestadas pelo Diretor da impetrante ao Ilmº. Procurador do Trabalho durante a audiência realizada em 14/12/2000 (fls. 856/857), na sede da Procuradoria Regional do Trabalho da, a verba repassada pela Secretaria de Saúde do Município de Aracaju (verba pública, portanto, repassada mediante convênio), cujo desbloqueio ora se pleiteia, é a única que atualmente mantém o hospital. Sem ela, então, ele pararia. E para onde iriam os doentes ou as pessoas necessitadas de socorro médico-hospitar? Entendo, assim e pelo menos neste juízo precário, próprio da fase processual em curso, que esses valores têm destinação vinculada, e sobre eles, venia concessa, não pode recair constrição judicial, em qualquer de suas
7 modalidades, sob pena de se inviabilizar os objetivos institucionais já tantas vezes destacados, o que seria uma perda para o conjunto da sociedade. Destaco que o confronto de valores que se vê aqui milita em favor da adoção de uma decisão proporcional, que respeite a esfera mínima do direito fundamental que se busca proteger. No caso, o direito altaneiro a ser resguardado é, venia concessa, o direito da população mais carente ao acesso aos serviços de saúde. Configurado, portanto, o periculum in mora, haja vista que o retardo em liberar os valores poderia ter como consequência a falta de continuidade dos serviços públicos de saúde, os quais ocupam, sem dúvida alguma, um lugar privilegiado no contexto constitucional, como procurei haver demonstrado em linhas passadas. Acrescento, ainda, porque oportuno, que a fundação hospitalar chegou a oferecer à penhora um bem imóvel, conforme petição de fl. 863, requerimento com o qual não concordou o MPT, autor da ação civil pública, através dos argumentos expostos às fls. 869/869-v. Transcrevo, aqui, parte daquela peça do parquet, in litteris: Ressalte-se, ainda, que o Ministério Público Estadual ingressou com ação civil pública pleiteando o reconhecimento do caráter público do Hospital Cirurgia, sendo cediço que o eventual julgamento de procedência do pedido também tornaria inócua a penhora do citado bem. Assim, considerando que a executada permanece inadimplente em relação aos depósitos fundiários de seus empregados;
8 considerando que a Secretaria de Saúde do Município de Aracaju repassa mensalmente ao executado a quantia de R$ ,00, conforme convênio celebrado com a executada, requer a expedição de notificação ao Município de Aracaju determinando o bloqueio de depósito em favor desse Juízo dos valores a serem repassados à Fundação de Beneficência Hospital Cirurgia até o limite do valor executado (fl. 775), bem como a realização de novas pesquisas do Sistema Bacen Jud. Datissima venia, entendo ser contraditório o posicionamento do Ministério Público do Trabalho ao rejeitar a nomeação à penhora de um bem imóvel, requerendo, em seu lugar, o bloqueio de créditos de um hospital cujo caráter público é buscado através de ação judicial pelo próprio Ministério Público, não obstante o autor da referida ação seja o parquet em sua esfera estadual. Por outro lado, não parece razoável, pendente discussão quanto ao valor do débito, o qual, aliás, mostra-se de monta expressiva (mais de seis milhões de reais), efetuar penhora sobre dinheiro, essencial à continuidade dos serviços da impetrante, quando a constrição do imóvel apontado poderia ter o condão de garantir a execução sem apresentar os mesmos inconvenientes. Ou seja, parece que, entre as alternativas apresentadas, escolheu-se aquela que implicou mais gravame à impetrante e, por tabela, à comunidade que precisa de seus serviços. Em face de tudo o que vai dito, DEFIRO a liminar pleiteada no sentido de cassar a decisão proferida pelo MM Juízo da 6ª Vara do Trabalho de Aracaju em 03/02/2012 (fl. 871 destes autos), liberando-se do bloqueio os
9 valores repassados ao impetrante pelo Município de Aracaju, até o julgamento final deste mandamus. Fica, igualmente, vetada a realização de nova penhora em dinheiro, até o final julgamento desta ação. Oficie-se, com urgência, à autoridade coatora para: a) cumprir a presente decisão, tornando sem efeito a ordem de bloqueio dos valores devidos à impetrante relativos a repasses oriundos da Secretaria Municipal de Saúde. Sem prejuízo disso, comunique-se a concessão liminar da segurança por meio de ou telefone, a fim de agilizar a liberação, certificando-se, nos autos, a adoção desta providência e o dia e hora em que houve o contato, bem assim a pessoa a quem foi ela, a concessão, comunicada; b) preste as informações que julgar pertinentes, no prazo legal. Intime-se a impetrante desta decisão. Encaminhem-se os autos ao Ministério Público do Trabalho, litisconsorte passivo, para, nesta condição inclusive, tomar ciência da impetração e desta decisão, bem como para manifestar-se, querendo, no prazo de lei. Cumpra-se, com urgência. Tudo isso cumprido, voltem os autos conclusos para julgamento. Aracaju, 13 de março de FABIO TÚLIO CORREIA RIBEIRO DESEMBARGADOR RELATOR
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