A CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO EPISTÊMICO EM BIOLOGIA
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- João Gabriel Igrejas Zagalo
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1 A CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO EPISTÊMICO EM BIOLOGIA Janice Silvana Novakowski Kierepka - janicekierepka@bol.com.br Tamini Wyzykowski - tamini.wyzykowski@gmail.com Tatiane Cristina Possel Greter tati.cris2010@gmail.com Lenir Basso Zanon - bzanon@unijui.edu.br Maria Cristina Pansera de Araujo - pansera@unijui.edu.br Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UNIJUÍ PALAVRAS CHAVE: Educação, Epistemologia e Historicidade. INTRODUÇÃO O presente relato constitui-se de uma reflexão sobre a construção do conhecimento epistêmico. A escrita do relato reflexivo partiu da vivência experienciada por três alunas na disciplina "Epistemologia e Educação I" do curso de mestrado do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação nas Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul/Campus Ijuí/RS, sob responsabilidade das professoras coautoras deste trabalho. A atividade transcorreu, no primeiro semestre de A disciplina Epistemologia e Educação I possibilitou refletir a respeito da produção do conhecimento e destacou a necessidade de tornar esse conhecimento acessível ao aluno a partir da significação conceitual. Foi discutida a necessidade de reconhecer a Ciência como algo não acabado, para compreender a natureza do conhecimento científico. Neste contexto, o papel do professor, nos aspectos epistemológicos, considera que o aluno aprende tanto na escola quanto em contextos não formais de ensino. Desta forma, problematizamos a relação entre o universo cotidiano, o científico e o conhecimento escolar. A partir da leitura e discussão em aula do referencial proposto no Plano de Ensino, compreendemos que as teorias da ciência não emergem descontextualizadas, que possuem antecedentes e implicações e por isso vão sendo refeitas, problematizadas e refletidas. Observamos que todo cientista precisa refletir sobre o conhecimento construído, pois no mundo da ciência tudo é dinâmico e depende do objeto de estudo do cientista. O percurso das aulas constituiu-se em torno da discussão dos conhecimentos científicos e da problematização do entendimento do significado de ciência. Para isso, realizamos a leitura e discussão em grupos, de modo crítico e reflexivo, das proposições
2 de alguns autores como Thomas Kuhn, Karl Popper, Imne Lakatos, Paul Feyerbend e Gaston Bachelard e Edgar Morin. Também estudamos alguns textos que propõem uma compreensão construtiva da Ciência e das teorias científicas. Partindo das aprendizagens construídas na disciplina propomos neste texto apresentar uma reflexão a respeito do conhecimento científico em biologia, que é nossa área de formação inicial, objetivando explicitar suas perspectivas epistemológicas e implicações para a educação nas Ciências. METODOLOGIA Para a construção deste trabalho, foram realizadas leituras de artigos, livros e capítulos de livros que tratam de diferentes abordagens epistemológicas, bem como as ideias dos autores estudados na disciplina "Epistemologia e Educação I". Além disso, as reflexões aqui expressas, ainda, remetem à apresentação de seminários durante as aulas e da discussão sobre a escrita de um artigo científico vinculado com o objeto de estudo das pesquisas, que cada mestrando se propôs a construir como atividade avaliativa e sistematização dos conhecimentos significados durante a disciplina. Além disso, construímos ao longo do semestre uma linha do tempo, que resgatou alguns pontos importantes da história da ciência e permitiu refletir alguns aspectos dos estudos epistemológicos realizados, relacionando-os com nossa área de formação, atuação profissional e percurso de pesquisa de mestrado. Neste texto, delimitamos a reflexão sobre a construção da linha do tempo, que foi uma atividade muito significativa, e, por isso tornou-se o ponto de partida para esta escrita. A linha do tempo foi construída a partir de pesquisa bibliográfica em livros didáticos de Ensino Fundamental e Médio. Ao elencarmos as datas de alguns fatos marcantes, que tratam da origem de alguns conhecimentos científicos da área de biologia, relacionamos estes com uma abordagem epistemológica. Ao apresentar a linha de tempo construída aos colegas de turma e a partir da interação com as professoras responsáveis da disciplina, obtivemos reflexões e considerações pertinentes, que posteriormente pesquisamos para a construção deste texto. RESULTADOS Com a construção da linha do tempo e análise dos fatos históricos abordados na mesma, percebemos algumas particularidades relativas ao conhecimento científico em
3 biologia. Optamos pela análise de livros didáticos do Ensino Fundamental e Médio com o intuito de fazer um levantamento da configuração do conhecimento epistemológico no ensino de ciências e biologia. Um dos fatos encontrado em um dos livros didáticos analisados diz respeito à origem da biologia no século VI a.c., que indicam que a Biologia se desenvolveu a partir dos estudos do filósofo Alcmeón (considerado o pai da Biologia ) por meio da hipótese de que o homem se diferencia dos animais porque pensa. Do ponto de vista epistemológico, dizer que a biologia surgiu apenas por meio desta hipótese é muito generalizador; assim como afirmar que somente um homem, neste caso o filósofo Alcmeón, tenha sido o provedor de tal perspectiva. Questionamos se a ideia destacada foi formulada somente por este filósofo, ou tenha recebido contribuições de outros pensadores, que levaram à formulação desta hipótese. Nesse sentido, a possibilidade de outras ideias terem contribuído para a proposição do filósofo Alcmeón parece evidente. Outra questão é o fato de ser um filósofo o pai da biologia e não um cientista conhecedor das teorias da ciência biológica. Outra abordagem destacada é a ideia de que a partir de 415 a.c. a Biologia foi analisada como Ciência, no momento em que o filósofo grego Platão registrou em sua obra Timeu, as primeiras advertências com relação à preservação do ambiente, pois em relação ao que foi outrora, nossa terra transformou-se num esqueleto de um corpo descarnado pela doença. As partes gordas e macias desapareceram e tudo o que resta é a carcaça nua. Aqui novamente percebemos a presença de um filósofo como figura decisiva para o desenvolvimento dos conhecimentos científicos e a definição de uma data específica para o surgimento da biologia como ciência. Será possível defender que tal acontecimento tenha partido somente das ideias de um único ser humano e que todas estejam concentradas em uma única obra? Fundamentamos nossa análise nas ideias de Bachelard acerca da filosofia da Desilusão, em que Lopes (2007, p. 34) destaca: sempre se conhece contra um conhecimento anterior, retificando o que se julgava sabido e sedimentado. Nesse sentido, apostamos que o delineamento de um marco e/ou ser humano como o provedor de uma ideia pode esconder outras contribuições que foram decisivas para a formulação da hipótese, pois acreditamos que o conhecimento se constrói a partir da retificação ou reformulação do que já foi construído anteriormente, contrapondo-nos desta forma
4 também ao empirismo, pois defendemos que as pesquisas sempre ocorrem com aporte teórico. Pois como destaca LOPES (2007), A história da ciência deve estar presente no ensino, fortalecendo o pensamento científico pela colocação das lutas entre ideias e fatos que constituíram o progresso do conhecimento (p. 65), ou seja, abordar a história da ciência na escola não deve ser uma opção, mas sim um hábito saudável de discussões permanentes sobre a origem e a constituição dos conhecimentos científicos cronologicamente. Verificamos com estas reflexões a presença no ensino de uma visão distorcida e descontextualizada do conhecimento científico em biologia. Isso por que não há um espaço para a contestação e surgimento de dúvidas ou questionamentos, tornando o ensino muito fechado e técnico. Com isso, entendemos que é muito importante que o professor seja um profissional preparado para identificar estas abordagens desconectadas nos livros didáticos e problematizá-las com seus alunos. Para isso, precisa selecionar e tematizar o material didático mais adequado para o ensino, além de estar permanentemente atento a estes pontos. CONCLUSÕES Na disciplina Epistemologia e Educação I ficou evidenciado que precisamos ter a clareza de que ensinar o conteúdo e ensinar acerca da natureza do conhecimento que é ensinado são processos distintos. Desta maneira, com os estudos realizados na disciplina, foi possível compreender sobre as diferentes concepções epistemológicas dos conhecimentos científicos em relação à biologia. Também indicou caminhos para o estudo da concepção de ciência, visto que este conceito não tem uma definição única. A prática de construção de uma linha do tempo apresentou-se como meio de estabelecer uma conectividade relacional entre os conceitos de biologia presentes no passado e no presente, a fim de visualizar e reconhecer se os mesmos configuraram-se epistemologicamente no ensino e na aprendizagem de forma a refletir sobre os mesmos. Precisamos ter respostas fundamentadas sobre o que é ciência e neste sentido apontamos que tornar-se-ia muito relevante incluir a Natureza das Ciências como uma disciplina no currículo dos cursos de formação de professores, para a preparação adequada de professores para abordar a natureza da ciência em sala de aula.
5 REFERÊNCIAS LOPES, Alice Casimiro. Currículo e epistemologia. Ijuí: Ed. Unijuí, p. (Coleção educação em química).
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