PALAVRAS-CHAVE: 1) Precedentes Obrigatórios. 2) Acesso à Justiça. 3) Direito Fundamental. 4) Segurança Jurídica.

Transcrição

1 O PAPEL DOS PRECEDENTES OBRIGATÓRIOS NO ACESSO À JUSTIÇA, NA CELERIDADE PROCESSUAL E NA SEGURANÇA JURÍDICA: UM DIREITO FUNDAMENTAL NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO RESUMO Marisa Ferreira Neves Zephyr 1 marisazephyr@gmail.com Charley Maximilian Colvara 2 charley.colvara@gmail.com Nilton César Antunes da Costa 3 advniltoncosta@gmail.com Este trabalho está inserido no grupo temático 6: Direitos fundamentais, democracia e desenvolvimento sustentável. O objetivo é demonstrar a importância dos precedentes obrigatórios para imputar coerência, integridade, celeridade processual, uniformização e estabilidade jurídica aos julgados ao invés de termos decisões antagônicas e lotéricas nas cortes do país para casos análogos. O novo Código de Processo Civil de 2016 consolidou o sistema de precedente como um dispositivo capaz de proporcionar maior segurança jurídica na solução de conflitos. Além disso, o artigo 5º inciso XXXV da Carta Magna confere o acesso à justiça como um direito fundamental, não apenas no sentido formal, mas especialmente substancial. A finalidade do Estado Democrático de Direito é garantir que os direitos fundamentais dos indivíduos sejam protegidos até mesmo contra o próprio Estado, por isso são constitucionalizados. A metodologia utilizada quanto aos fins foi exploratória e descritiva; quanto aos meios foi bibliográfica com fontes primárias e secundárias obras e artigos científicos, publicações oficiais de órgãos competentes, e documentos legais. PALAVRAS-CHAVE: 1) Precedentes Obrigatórios. 2) Acesso à Justiça. 3) Direito Fundamental. 4) Segurança Jurídica. INTRODUÇÃO Os países de origem anglo-saxônica possuem uma visão muito bem desenvolvida dos precedentes judiciais, conhecido como o sistema do common law, baseado na teoria do stare decisis, oriundo do termo latino stare decisis et non quieta movere que significa que aquilo que foi decidido deve ser respeitado. Ademais, algumas decisões qualificadas e indicadas no art. 927, do novo CPC, possuem eficácia que vincula internamente os demais juízes e externamente a todos os juízos de grau 1 Graduanda em Direito da UFMS, Campo Grande-MS, marisazephyr@gmail.com. 2 Graduando em Direito da UFMS, Campo Grande-MS, charley.colvara@gmail.com 3 Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2010) Professor de Direito da UFMS, em Campo Grande-MS, advniltoncosta@gmail.com.

2 inferior, denominada de eficácia vertical do precedente. Entretanto, isso exige um contraditório e publicidade adequados na construção de tais decisões colegiadas, com a participação efetiva da sociedade, daí a admissibilidade de participação do Amicus Curiae, pois, tais julgados operam com força prospectiva para casos futuros e análogos que envolvam a mesma questão jurídica tratada. Embora o precedente judicial seja oriundo do sistema jurídico de commom law, ele possui grande importância e aplicação no civil law, tendo em vista a crescente demanda do poder judiciário brasileiro. O precedente cria um modelo de solução de conflitos que pode servir para casos futuros análogos. A excessiva demanda judicial e a utilização de recursos processuais criam decisões diferentes para casos semelhantes causando assim instabilidade e insegurança jurídica. Com a intenção de aprimorar o sistema jurídico e uniformizar as decisões dos tribunais, adotou-se a vinculação das decisões dos Tribunais Superiores como precedentes de observância obrigatória. A mais importante delas é a súmula vinculante oriunda do Supremo Tribunal Federal que vincula o próprio STF, todos os demais órgãos jurisdicionais do país e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. O Pleno do STF ao julgar uma ação de controle difuso de constitucionalidade, possui também uma força vinculante em relação ao próprio STF e a todos os demais órgãos jurisdicionais do país. Cada tribunal também pode consolidar um entendimento através de uma súmula que terá força vinculante dentro do próprio tribunal. A vinculação dos precedentes permite o acesso à justiça e à igualdade do tratamento das demandas, pois casos iguais terão soluções similares e os casos diferentes de maneira distinta. Esta é a base do tratamento isonômico ensinado por Aristóteles: devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na exata medida da sua desigualdade. Ademais, a justiça está intrinsicamente relacionada com a igualdade de tratamento. A segurança jurídica das decisões por sua vez, deve estar vinculada à aplicação da norma de forma previsível, consistente e uniforme. O contrário disso é considerado injusto e traz consigo a insegurança jurídica. É a equidade perante a lei e na aplicação da mesma que torna possível a igualdade substancial, que vai além do que está escrito, se materializa e concretiza realmente.

3 Todavia, é importante advertir que os precedentes não tem a intenção de engessar as decisões, muito pelo contrário, o caso paradigmático serve apenas de diretriz para os casos análogos. Se houve mudanças sociais e novas situações de litígio, ele deve ser moldado à nova realidade social, quebrando paradigmas. Existe o overruling (revogação total) e o overriding (revogação parcial) que possibilita a superação do precedente, pois foi demonstrado que o caso em questão não se compara ao paradigmático na sua essência. O precedente é diferente da súmula vinculante, pois ele é específico e a súmula é genérica. O caso paradigma possui uma ratio decidendi, ou seja, uma fundamentação ou tese jurídica que trazem elementos da decisão. O que não for ratio decidendi poderá ser considerado obter dictum, ou seja, comentários adicionais argumentativos. Portanto, o efeito do precedente é extraído da razão de decidir e não do obter dictum. Há um contraditório que produz um debate entre as partes para contrapor os pontos importantes. Geralmente há uma confusão sobre o uso de jurisprudência e precedentes judiciais. Estes últimos são decisões baseadas em contexto de uma situação fática que deu origem ao precedente, sendo sempre inseparável a análise do caso paradigmático com o caso em questão. Por outro lado, as jurisprudências são decisões utilizadas em outros julgamentos fora do contexto original. O precedente é uma fonte do direito, assim como a lei, o costume, a doutrina e os princípios gerais. Ele também auxilia na evolução do direito na sociedade, equalizando as decisões judiciais e abrindo caminho, quando necessário, para as mudanças de entendimento. OBJETIVOS: O presente trabalho visa analisar a importância dos precedentes judiciais obrigatórios consolidados pela Lei n /2015, o novo Código de Processo Civil, que entrou em vigor no ano passado, como ferramenta capaz de erradicar decisões contraditórias para casos semelhantes. Ademais, possui o intuito de promover a isonomia substancial, celeridade processual, segurança jurídica e, consequentemente, a justiça.

4 METODOLOGIA: A metodologia utilizada quanto aos fins foi exploratória e descritiva; quanto aos meios foi bibliográfica com fontes primárias e secundárias obras e artigos científicos, publicações oficiais de órgãos competentes, e documentos legais. RESULTADOS: Os precedentes obrigatórios contidos no novo Código de Processo Civil de 2016 possuem um grande potencial. Se eles forem bem utilizados, podem resolver o problema das sentenças distintas para casos idênticos, promover a celeridade processual, decisões uniformes e estáveis, além de justiça no julgamento. Além disso, outro problema sério enfrentado pelo sistema judiciário, que é o excesso de demandas judiciais, poderá ser diminuído com o uso dos precedentes obrigatórios. Contudo, a utilização de recursos como o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) para evitar decisões contraditórias sobre a mesma matéria de direito está sendo pouco utilizado nos tribunais. O IRDR suspende por um ano os demais processos com a mesma matéria no tribunal estadual ou regional até o julgamento do incidente que terá sua tese jurídica como precedente vinculante para os demais casos presentes e futuros. De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça, nos anos de 2014 e 2015, apenas dois incidentes por ano foram registrados. Já em 2016, com a vigência do Novo Código de Processo Civil, o número subiu para 60 incidentes. Em 2017, até o presente momento, há 54 incidentes registrados. Mesmo assim, é um número baixo para a demanda que existente. Por ser um dispositivo oriundo do common law, ainda há certa resistência e dificuldade de adaptação dos magistrados em relação ao uso e criação dos precedentes vinculantes. É primordial a disseminação da importância da utilização dessa ferramenta como sendo fundamental para o acesso substancial à justiça, direito à isonomia de tratamento, celeridade processual e segurança jurídica.

5 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. de Torrieri Guimarães. 6.ª ed. São Paulo: Martin Claret, BRASIL. Lei nº , de 16 de março de Código de Processo Civil. Acessado em 04 de julho de Disponível em: < CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Painel de Consulta ao Banco Nacional de Demandas Repetitivas e Precedentes Obrigatório. Acessado em 11 de agosto de Disponível em: < vw&host=qvs%40neodimio03&anonymous=true&sheet=shresumodespft> DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela provisória. 12ª. ed. Salvador: Juspodivm, 2016, v. 2.