ACÓRDÃO PRELIMINAR. FALTA DE ASSINATURA NAS RAZÕES RECURSAIS. NÃO CONHECIMENTO DO APELO. DESCABIMENTO. REJEIÇÃO.
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- Ana Luísa Neves Moreira
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1 8 AC no /001 1 Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desembargadora Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira ACÓRDÃO APELAÇÃO Cá/EL No /001 - CABEDELO RELATOR: Juiz Ricardo Vital de Almeida, convocado, em substituição à Desembargadora Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira APELANTE: BV Leasing Arrendamento Mercantil S/A ADVOGADOS: Ricardo da Costa e Sousa e Jullyanna Karla Viegas Albino APELADA: Dalvanira de Franca Gadelha Fontes ADVOGADOS: Sidney Cirilo Feitosa e Sebastião Feitosa Alves PRELIMINAR. FALTA DE ASSINATURA NAS RAZÕES RECURSAIS. NÃO CONHECIMENTO DO APELO. DESCABIMENTO. REJEIÇÃO. Apesar da falta de assinatura das razões recursais, a petição recursal está subscrita, e o causídico também rubricou as folhas das razões, o que é suficiente, pelo princípio da instrumentalidade das formas, para suprir eventual vício. APELAÇÃO CÍVEL. LEASING FINANCEIRO. TAXA DE JUROS. REVISÃO. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. POSSIBILIDADE DESDE QUE DEMONSTRADA ABUSIVIDADE. USO DA "TABELA PRICE" NO CÁLCULO DAS PRESTAÇÕES. SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO QUE SE CARACTERIZA PELA INCIDÊNCIA DE JUROS SOBRE JUROS. ANATOCISMO. INFORMAÇÃO OMITIDA DO CONSUMIDOR. ILEGALIDADE. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO COM ENCARGOS MORATÓRIO COM JUROS REMUNERATÓRIOS. BIS IN Juiz Ricardo Vi RE de Almeid OR
2 AC no /001 2 AFASTAMENTO. DESPROVIMENTO. 1. Estando caracterizada a abusividade na fixação das taxas de juros, é aplicável o Código de Defesa do Consumidor desde que o contrato constitua relação de consumo. 2. A omissão de informação expressa por parte do fornecedor quanto ao uso da "Tabela Price" no cálculo das prestações, caracterizada pela incidência de juros sobre juros, é ilegal pois atenta contra o direito do consumidor à informação e contra o princípio da boa-fé objetiva. 3. É vedada a cobrança de encargos moratórios e juros remuneratórios em acúmulo com a comissão de permanência, pois aqueles já são abrangidos por esta, de modo que a cobrança de todos cumulativamente constitui bis in idem, criando vantagem excessiva para o fornecedor, prática abusiva vedada pelo art. 39, V, do CDC. VISTOS, relatados e discutidos estes autos. ACORDA a Colenda Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, por unanimidade, rejeitar a preliminar e, no mérito, negar provimento à apelação. Trata-se de apelação cível interposta pela BV LEASING ARRENDAMENTO MERCANTIL S/A em face de DALVANIRA DE FRANCA GADELHA FONTES, contra sentença (fls. 119/126) proferida pelo Juízo de Direito da 2a Vara da Comarca de Cabedelo, que julgou parcialmente procedente o pedido da demandante e declarou nula a capitalização de juros não expressamente contratada e a cláusula que autorizava a cobrança de tarifa de cadastro e de registro de contrato, afastou a incidência da multa moratória de 2% (dois por cento) e da comissão de permanência, das despesas decorrentes da cobran extrajudicial e dos honorários advocatícios, determinando a correção mone Juiz Ricardo R ital de Ai TOR eida
3 AC no /001 3 pelo INPC. O apelante foi condenado ainda a compensar os valores pagos referentes às nulidades já mencionadas e a repetir eventual indébito a ser apurado na fase de liquidação de sentença. Nas razões recursais (fls. 129/148), o apelante sustenta que a taxa de juros bancários e demais normas financeiras são reguladas pela Lei no 4.595/64 e regulamentos editados pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central, não sendo aplicável o Código de Defesa do Consumidor nesses casos; afirma que os termos do contrato foram livremente pactuados pelas partes, inclusive a capitalização mensal, possuindo a apelada cópia integral do instrumento, com todas as informações, não tendo ocorrido qualquer fato superveniente apto a modificar a avença. Alega que a comissão de permanência é legítima, pois não há cumulação com correção monetária, e ela segue a taxa de mercado apurada pelo Banco Central do Brasil. Por tudo isso, pede a reforma da sentença, para que seja julgado totalmente improcedente o pedido. Contrarrazões pelo desprovimento do recurso (fls. 152/158). Neste grau de jurisdição, instada a manifestar-se, a Procuradoria de Justiça opinou pelo não conhecimento do apelo, face à ausência de assinatura das razões recursais (fls. 168/172). É o relatório. VOTO: Juiz Ricardo Vital de Almeida RELATOR Preliminarmente, quanto à falta de assinatura das razões recursais, verifico que não apenas a petição recursal está subscrita, como também o causídico rubricou as folhas das razões, o que é suficiente, pelo princípio da instrumentalidade das formas, para suprir eventual vício. Essa tese é adotada pela Terceira Turma do Egrégio Superior Tribunal de Justiça. Vejamos: RECURSO ESPECIAL. LIMINAR EM MANUTENÇÃO DE POSSE. AGRAVO DE INSTRUMENTO. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. AUSÊNCIA DE ASSINATURA NAS RAZÕES RECURSAIS. EFEITO SUSPENSIVO. PREJUDICIALIDADE. Juiz Ricard Vital d Almeida ELATOR1,
4 AC no / A ausência de assinatura, apenas, nas razões recursais constitui mera irregularidade, suprível pela assinatura constante da petição de interposição do agravo, capaz de garantir a autenticidade e a autoria da peça recursal. 4. Recurso especial não conhecido.' Quanto à alegação do apelante de que as taxas de juros estabelecidas pelas instituições financeiras são reguladas exclusivamente pela Lei no 4.595/1964, deve ser repudiada. Embora já se encontre consolidado o entendimento de que às entidades supracitadas não se aplica a limitação constante da Lei de Usura (Decreto no /1933), isso não quer dizer que eventuais abusos por elas perpetrados contra os consumidores de seus serviços - como a fixação de juros excessivamente superiores à média do mercado ou a capitalização - não devam ser coibidos mediante a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Esse é o entendimento do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, conforme se vê adiante: DIREITO PROCESSUAL CIVIL E BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS DE CONTRATO BANCÁRIO. INCIDENTE DE PROCESSO REPE 1h I IVO. JUROS REMUNERATORIOS. CONFIGURAÇÃO DA MORA. JUROS MORATORIOS. INSCRIÇÃO/MANUTENÇÃO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. DISPOSIÇÕES DE OFÍCIO. DELIMITAÇÃO DO JULGAMENTO. I - JULGAMENTO DAS QUESTÕES IDÊNTICAS QUE CARACTERIZAM A MULTIPLICIDADE. ORIENTAÇÃO 1 - JUROS REMUNERATORIOS a) As instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto /33), Súmula 596/STF; b) A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% I REsp no /PA. Rel. Min. Carlos Alberto Meneses Direito. 3a Turma /4/1999. D3 31/5/1999. Juiz Rica do VitOclAlmeida RELATOR
5 AC n /001 5 ao ano, por si só, não indica abusividade; c) São inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições do art. 591 c/c o art. 406 do CC/02; d) É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada art. 51, 1 0, do CDC) fique cabalmente demonstrada, ante às peculiaridades do julgamento em concreto. [. ] 2 Quanto à alegação de que a apelada teve acesso ao instrumento de contrato, constando dele todas as informações necessárias, essa afirmação não é totalmente verdadeira. Não há no contrato (fls. 49/50v) qualquer informação de como foram realizados os cálculos das contraprestações devidas pela apelada. O apelante, tal como faz a maioria das instituições financeiras, faz uso da "Tabela Price" para calcular as parcelas, forma de cálculo que se caracteriza pela incidência de juros sobre juros, o que configura anatocismo. Eis o posicionamento da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça sobre o assunto: RECURSO ESPECIAL CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE CRÉDITO EDUCATIVO. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. UTILIZAÇÃO DA TABELA PRICE. IMPOSSIBILIDADE. EXISTÊNCIA DE JUROS CAPITALIZADOS. ANATOCISMO. CARAC. 1 ERIZAÇÃO DE CONTRATO BANCÁRIO. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: ARTIGOS 3, 20, 6, V, e 51, IV, 1, III. INCIDÊNCIA DE JUROS LEGAIS, NÃO CAPITALIZADOS. 2. É indevida a utilização da Tabela Price na atualização monetária dos contratos de financiamento de crédito educativo, uma vez que, nesse sistema, os juros crescem em progressão geométrica, sobrepondo-se juros sobre juros, caracterizando-se o anatocismo. 3. A aplicação da Tabela Price, nos contratos em referência, 2 ST3. REsp no /RS. Rela. Mina. Nancy Andrighi. 2 8 Seção. J. 22/10/2008. D3. 10/3/2009 Lr Almei0a
6 AC no /001 6 encontra vedação na regra disposta nos artigos 6, V, e 51, IV, 1, III, do Código de Defesa do Consumidor, em razão da excessiva onerosidade imposta ao consumidor, no caso, o estudante. 4. Na atualização do contrato de crédito educativo, deve-se aplicar os juros legais, ajustados de forma não capitalizada ou composta. 5. Recurso especial conhecido e provido.' O ordenamento jurídico brasileiro só permite a capitalização mensal de juros quando ela for pactuada expressamente: Isso não ocorreu no contrato ora em exame, tendo em vista que não consta da avença qualquer cláusula informando a apelada/consumidora de que o cálculo das parcelas é realizado mediante o uso da "Tabela Price", nem a equação matemática de cálculo dos juros é exposta para que a apelada tenha prévio conhecimento. Ao contrário, tais informações são omitidas de propósito da apelada, que pensa estar pagando juros simples, quando, na verdade, está sendo vítima de anatocismo. A conduta do apelante fere os princípios consumeristas da publicidade e da boa-fé objetiva, estando correto o Magistrado a quo quando afastou o emprego de juros capitalizados. Saliente-se que o princípio do pacta sunt servanda, que durante a vigência do Código Civil de 1916 valia quase de forma absoluta, acabou por ser relativizado por diplomas legais posteriores, como o Código de Defesa do Consumidor e o Código Civil de 2002, que acabaram por mitigar aquele princípio, consagrando os da função social do contrato e da boa-fé objetiva. Portanto, nenhum contrato é intangível, a menos que esteja cumprindo sua função social e desde que presente a lealdade na relação contratual. A ocorrência de fato superveniente que torne a avença excessivamente onerosa para uma das partes não é a única hipótese de revisão contratual estabelecida no Código de Defesa do Consumidor, devendo o aplicador do direito também realizá-la para conter eventuais abusos perpetrados pelos fornecedores. Por último, o. apelante defende a legalidade da cobrança da 3 Si], REsp no /R5, Rel. Min. José Delgado, Primeira Turma, j. 6/5/2004, 133 7/6/2004. Juiz Ri do Vital d ljneida R
7 AC n /001 7 comissão de permanência. Compulsando o instrumento contratual já mencionado (fls. 49/50v), verifica-se que, além da comissão de permanência, aquele estabelece que serão cobrados juros remuneratórios e multa de 2% (dois por cento). É entendimento já consolidado no Superior Tribunal de Justiça que a comissão de permanência abrange os juros remuneratórios, a correção monetária e os encargos moratórios. Estando presentes qualquer um desses, a cobrança de comissão de permanência caracteriza bis ia idem, criando vantagem excessiva para o apelante, em detrimento do apelado, o que é vedado pelo art. 39, inciso V, do Código de Defesa do Consumidor. Eis alguns decisões nesse sentido: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO BANCÁRIO. AÇÃO REVISIONAL. DISPOSIÇÕES ANALISADAS DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. JUROS REMUNERATÓRIOS. TAXAS. ABERTURA DE CRÉDITO. EMISSÃO DE CARNÊ. DESEQUILÍBRIO CONTRATUAL. INEXIS1ENTE. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. LICITUDE DA COBRANÇA. CUMULAÇÃO VEDADA. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. 3. É admitida a cobrança da comissão de permanência durante o período de inadimplemento contratual, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo Bacen, limitada à taxa do contrato, não podendo ser cumulada com a correção monetária, com os juros remuneratórios e moratórios, nem com a multa contratual. 4. Agravo regimental desprovido. 4 REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO. INAPLICABILIDADE. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. POSSIBILIDADE DE COBRANÇA DESDE QUE NÃO CUMULADA COM OS DEMAIS ENCARGOS MORATÓRIOS. II - É admitida a cobrança da comissão de permanência no 4 STJ. AgRg no REsp n /RS. Rel. Min. João Otávio de Noronha. 4a Turma. J. 22/6/2010. Dl. 1 /7/2010. Juiz Ricardo V I de Alnjeida RE TOR -
8 AC no /001 8 período da inadinnplência nos contratos bancários, à taxa de mercado, desde que (i) pactuada, (ii) cobrada de forma exclusiva - ou seja, não cumulada com outros encargos moratórios, remuneratórios ou correção monetária - e (iii) que não supere a soma dos seguintes encargos: taxa de juros remuneratórios pactuada para a vigência do contrato; juros de mora; e multa contratual. III - Agravo Regimental improvido. 5 Por todo exposto, conclui-se estar correta a sentença vergastada, razão pela qual rejeito a preliminar e, no mérito, nego provimento à apelação. É como voto. Presidiu a Sessão a Excelentíssima Desembargadora MARIA DAS NEVES DO EGITO DE A. D. FERREIRA. Participaram do julgamento ESTE RELATOR (Juiz de Direito Convocado, com jurisdição limitada, para substituir a Excelentíssima Desembargadora MARIA DAS NEVES DO EGITO DE A. D. FERREIRA), a Excelentíssima Desembargadora MARIA DE FÁTIMA MORAES BEZERRA CAVALCANTI e o Excelentíssimo Desembargador MARCOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE. Presente ao julgamento o Excelentíssimo Doutor FRANCISCO ANTÔNIO SARMENTO VIEIRA, Promotor de Justiça Convocado. Sala de Sessõe a Segund Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Parai!)., em João Pes a/pb, 1 de dezembro de 'P Juiz Ricárdo----V- ita e Almeida RELA/TOR 5 STJ. AgRg no REsp no /MS. Rel. Min. Sidnei Beneti. 3a Turma. J. 8/2/2011. Dl 22/2/2011.
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