Regulamentações internacionais e temas de pesquisa sobre cadeias alimentares. Professor Marcos Neves Professora Maria Sylvia Saes Fulvia Escudero
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- Maria do Carmo Aragão de Oliveira
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1 Regulamentações internacionais e temas de pesquisa sobre cadeias alimentares. Professor Marcos Neves Professora Maria Sylvia Saes Fulvia Escudero Introdução Os governos têm ampliando as exigências em relação à qualidade e segurança do alimento, buscando a proteção dos consumidores. Os padrões internacionais recaem sobre os produtores dispersos sobre os cincos continentes. Os países em desenvolvimento enfrentam o desafio de se adaptarem às normas requeridas. Como os setores privados e públicos responderão a esse importante ponto para o futuro do sistema alimentar mundial ainda é uma questão. Por isso foi criado o projeto Global Food Network - High Quality and Safe International Food Chains 1, que tem como principal objetivo a criação de uma rede internacional que congregue pesquisadores, organizações públicas e o setor privado em torno de questões relacionadas a qualidade nas cadeias alimentares. Tal conta com a participação de 12 países latino-americanos, africanos e europeus. Os pesquisadores do PENSA (Centro de Conhecimento em Agronegócios) atuam como coordenadores nacionais e regionais (América Latina) do projeto. O trabalho consistiu primeiramente num inventário sobre as regulamentações e agentes nacionais, após essa etapa houve workshops em cada país participante. A segunda atividade foi a identificação de oportunidades de parcerias público-privadas, seguida de encontros em nível regional (AL, EU, e África). A terceira etapa buscou desenhar uma agenda conjunta de pesquisa entre os continentes e culminou com um encontro internacional em Buenos Aires, nos dias 19 e 20 de Maio de Os principais pontos discutidos e os resultados alcançados com relação aos temas de pesquisa sobre as cadeias alimentares internacionais serão sumarizados nesse artigo. 1 Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas pelo endereço eletrônico
2 Objetivos Nesse artigo pretende-se apresentar um panorama geral sobre as mais comuns regulamentações internacionais de qualidade do alimento visando entender quais as adequações necessárias para os países emergentes integrar o comércio internacional e os principais desafios para elevar as exportações na União Européia, no Mercosul e nos Países da África. No que se refere às mais comuns regulamentações internacionais, criadas por instituições governamentais, pode-se destacar: Codex Alimentarius; Desenvolvido pela FAO e OMS, em 1963, o código visa proteger a saúde do consumidor, assegurar transações comerciais justas e estabelecer um programa padronizado de controle de alimentos. Tem como base o sistema HACCP (Controle Pontos Críticos), porém não apresenta caráter de obrigatoriedade. SPS Agreement; Acordo formulado pela OMC com o objetivo de estabelecer regras para um comércio justo. Não se configura como um guia técnico, mas as partes envolvidas nas transações devem cumpri-lo obrigatoriamente. Legislação Européia; Elaborado pelos países da União Européia pretende proteger a saúde do consumidor. Segue o sistema das Boas Práticas Agrícolas, e é obrigatório. Quanto às regulamentações privadas merecem destaque o EUREP-GAP, o British Retail Consortium (BRC), e o Safe Quality Food (SQF).
3 O EUREP-GAP 2 baseia-se no sistema das Boas Práticas Agrícolas e seu enfoque se dá sobre a produção primária da cadeia. Para a obtenção do certificado os produtores devem cumprir uma lista de itens e apresentar um conjunto de documentações que comprovem a atuação. Os pontos exigidos são informações sobre: a rastreabilidade dos produtos; a manutenção das atividades da fazenda; a variedade e rootstocks (como por exemplo, o tipo de sementes deve ser conhecido, a saúde dos estoques devem ser certificados); histórico e controle do sítio (características e rotação das colheitas); administração do substrate e do solo (mapeamento do solo e erosão); uso de fertilizantes e pesticidas (tipo, quantidade e aplicações); irrigação (qualidade e oferta de água, documentos sobre chuvas); coleta (protocolos sobre higiene, recordes da operação); desperdício e controle da poluição (tipos, quantidades, planos de reciclagem); saúde, segurança e bem-estar dos trabalhadores (postos de primeiros socorros, treinamentos); questões ambientais (vida selvagem, biodiversidade); auditoria interna (auditoria do Eurep-Gap todo ano). As Boas Práticas Agrícolas (GAP) trata-se de um conjunto de diretrizes para as praticas da agricultura, como o próprio nome diz. Contempla o gerenciamento de pestes, manure handling, qualidade da água, sanidade do campo e do trabalhador, post harvest handling, transporte, etc. O British Retail Consortium (BRC) fundamenta-se no sistema HACCP e regula as firmas processadoras de alimentos. Consiste no controle da produção dos padrões ambientais, de produtos, processos e pessoal. O HACCP preocupa-se com a identificação, avaliação e controle dos perigos significativos e potenciais relacionados com segurança do alimento. São sete os princípios que embasam o sistema: 1) pontos críticos (biológico, químico, físico); 2) identificação de pontos críticos de controle; 3) estabelecer medidas preventivas com limites críticos para pontos de controle (mínimas temperaturas de cozimento, por exemplo); 4) estabelecer procedimentos para monitorar os pontos críticos de controle; 5) estabelecer ações corretivas quando o limite crítico não for atingido; 6) estabelecer 2
4 procedimentos para verificar se o sistema está funcionando apropriadamente; 7) estabelecer recordkeeping para documentos do sistema HACCP. Muitos são os pré-requisitos para a implementação do HACCP, dentre eles: Controle de suprimentos: GMP e programas de segurança devem estar presentes; Especificações: escritas para todos os ingredientes, produtos e materiais de embalagem. Equipamentos: princípios sanitários e lista de manutenção; Sanidade e limpeza: procedimentos devem ser escritos e seguidos; Higiene pessoal; Controle químico: procedimentos documentados que assegurem a segregação e uso de químicos não alimentares. Estoque e transporte: sanidade e condições ambientais próprias. Rastreabilidade e recall; Treinamento: os trabalhadores devem receber certificado de treinamento. O Safe Quality Food (SQF) tem como elementos chaves o sistema HACCP e o ISSO Atua sobre duas partes das cadeias agroalimentares, através de normas distintas, no setor primário (SQF 1000) e nas firmas processadoras (SQF 2000). Trata-se de uma combinação de sistemas de gerenciamento da qualidade e segurança do alimento com requerimentos para tracking e tracing. Atualmente, está em desenvolvimento o SQF 3000, que buscará regulamentar o varejo de alimentos. Os principais objetivos dos padrões privados de qualidade de alimentos são criar e dar consistência aos padrões de abastecimento, e evitar falhas do produto; eliminar auditorias múltiplas por partes distintas da cadeia e dar suporte aos anseios dos consumidores e varejistas. Principais temas de pesquisa comuns aos três continentes. África Uma das preocupações citadas pelos países em desenvolvimento africanos e sulamericanos consiste em como conscientizar o consumidor nacional e o produtor sobre a qualidade e segurança dos alimentos. O reconhecimento da qualidade pelo consumidor é
5 essencial para que se viabilize a produção de frutas e carnes sob os padrões internacionais. Tais produtos devem conseguir se diferenciar frente aos processados fora dos critérios. A lista de questões levantadas pelos representantes africanos aborda problemas de organização do ambiente institucional pelos agentes (privados e públicos), desde a elaboração de padrões à inspeção do cumprimento das normas: Como organizar a inspeção nacional (pública e privada) da segurança e qualidade do alimento? Como viabilizar as parcerias entre entidades de negócios européias e empresas locais de pequena escala? Como fazer valer as regras e padrões na produção em pequena escala? Como promover a união entre produtores e empresas de grande escala para assegurar o acesso ao mercado internacional? De que maneira estimular o desenvolvimento de novos produtos e implantá-los? Quais os desenhos de sistemas de qualidade específicos para grupos diferentes de produtos? Como construir uma zona exportadora para a produção de carne para exportação? Como extrair as oportunidades de nichos de mercado (frutas exóticas, carne orgânica, leite, produtos de peixes)? Quais ferramentas podem ser utilizadas para propagar uma imagem positiva da produção e exportação de peixes para os consumidores? Mercosul A maior preocupação dos participantes do Mercosul é a necessidade de unificar as normas sanitárias agrícolas entre os países membros e os padrões de rastreabilidade. Uma idéia apresentada foi a criação de uma marca para uma produção sustentável. Internamente, torna-se essencial o desenvolvimento de uma padronização flexível para mercados domésticos e externos. De modo, que os consumidores internos não necessitem arcar com custos elevados de padrões europeus. Tal preocupação nasce da baixa renda da população dos países em desenvolvimento, que poderiam não ter acesso a inúmeros produtos, caso os preços se elevassem.
6 Sob esse contexto, a maneira de providenciar acessibilidade de produtos seguros e com qualidade para consumidores locais representa mais um tema de pesquisa. Assim como, a divisão dos custos dos encontros dos padrões internacionais entre os participantes da cadeia produtiva. No Brasil, as Boas Práticas Agrícolas (GAP) na fruticultura são disseminadas através da Produção Integrada de Frutas (PIF). Embora ainda incipiente o número de produtores que aderiram ao programa é de 615, distribuídos da seguinte maneira, segundo o IBRAF (Instituto Brasileiro de Frutas): Produto Nº Hectares Ton Produtores Maçã Manga Uva Mamão Citrus No que se refere ao sistema carne o SISBOV é o programa de rastreabilidade da carne bovina brasileira. É interessante a rápida adesão nos últimos 2 (dois) anos: Rebanhos certificados (milhões) Total Brasil (milhões) Produção Rastreada(%) Fonte: e Instituto Gênesis ,4 23,07 UniãoEuropéia Na UE, um dos principais desafios a serem enfrentando consiste nas diferenças perceptivas da qualidade dos produtos com distintas procedências pelos vários segmentos dos mercados e grupos de consumidores. Deve-se buscar a otimização do valor adicionado em cadeias de alimento internacionais (produto certo para o mercado certo).
7 O desenvolvimento dos nichos de mercado para frutas exóticas e produtores de peixes, assim como de cadeias de frio internacionais para carnes incluindo ativos de risco e gerenciamento de riscos.e a adaptação de novas estruturas de governança em cadeias de alimento internacionais (cooperativas) também são pontos a serem aperfeiçoados pelos europeus. Um problema que merece destaque é a delimitação dos efeitos dos padrões e legislação européia sobre os países em desenvolvimento. Por outro lado, como conciliar as diferenças nos padrões de rastreabilidade realizados nos países europeus e nos em desenvolvimento e de que maneira transferir conhecimento e tecnologia entre esses países são questões que desafiam a União Européia. Conclusões A preocupação dos consumidores com a segurança e qualidade do alimento trata-se de uma tendência européia. Para tanto, é necessário que esses tenham informação a respeito dos produtos que adquirem. O maior obstáculo a ser superado, portanto, consiste em aprimorar a comunicação sobre as características dos processos de fabricação. As oportunidades surgem de uma ampliação da rastreabilidade a fim de ganhar a confiança dos consumidores, dispostos a pagar um diferencial no preço por esses produtos. A prospecção de novos mercados a partir de produtos e materiais inovadores aparece como um caminho para a Europa. A dificuldade nessa questão advém de como diferenciar para o consumidor essas novas mercadorias. Como desafios surge a capacidade de construir o conhecimento e disseminar as experiências A produção para um grupo seleto de consumidores, o nicho de mercado, ganha cada vez mais espaço no cenário europeu. Porém, torna-se importante a disseminação do conhecimento pela cadeia de alimentos, tendo em vista que tal propagação não tem sido feita de maneira adequada. O monitoriamento para garantir a segurança e a qualidade dos produtos destaca-se como principal oportunidade. Diante do exposto, no que se refere aos países produtores em desenvolvimento a estratégia de direcionamento da produção para o mercado externo depara com gargalos diante de demandas dos países desenvolvidos. O maior obstáculo a ser superado é a dificuldade de coordenação, tanto horizontal quanto vertical. A convergência dos padrões
8 dentro dos países e entre os membros do Mercosul aparece como uma oportunidade para a diminuição dos problemas. Já nos países africanos, a oferta de alimentos seguros e com qualidade caminha para o desenvolvimento de códigos e padrões; a ampliação da infraestrutura e distribuição e uma maior colaboração dos produtores, o que é por si um grande desafio.
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