Urge a pergunta: Há possibilidade de reconhecer vínculo empregatício àqueles que prestam serviços religiosos?
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- Ayrton Balsemão Carlos
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1 I- INTRODUÇÃO. Urge a pergunta: Há possibilidade de reconhecer vínculo empregatício àqueles que prestam serviços religiosos? A resposta pode ser dada quando avaliada algumas vertentes, tais como: Se a entidade eclesiástica tem fins caracterizadamente empresariais ou sem fins lucrativos realmente; Se tal serviço esta edificado na crença e na fé; Se tal labor está envolvido pelo voluntarismo; e, Se o trabalho ministerial está sob os requisitos clássicos do artigo 3º da Consolidação das Leis Trabalhistas. II- DEFINIÇÃO. O Pastor é um ministro de confissão religiosa de vocação voluntária para os serviços que podem ser eventuais ou permanentes, cujas atividades laborais são: aplicação do batismo, celebração de cultos, reunião eclesiásticas, visitação às pessoas enfermas ou membros da congregação, bem como praticar ofícios diversos como cerimônias de casamentos, funerais, apresentação de crianças, entre outros. Estes ministros de confissão religiosa podem ser conhecidos como sacerdotes, pastores, rabinos, obreiros, cooperadores, presbíteros, anciãos, diáconos, etc. III- DO VINCULO EMPREGATÍCIO. 1 / 9
2 Como destacado na introdução, para entender o vinculo empregatício entre pastor e a instituição religiosa devemos avaliar as vertentes: 01)- Desvirtuamento da Entidade Eclesiástica. Esse desvirtuamento é caracterizado quando a organização religiosa estabelece-se como comércio de bens espirituais mediante pagamento pela sua retribuição. Destacando que as contribuições voluntárias de seus fieis, como ofertas, dízimos, mensalidades não compulsórias e doações não podem ser consideradas pagamentos por retribuição, mas simplesmente um mecanismo para manutenção das suas atividades fins. Entende-se que se as atividades da organização eclesiástica em promover, permanentemente a comercialização de livros, fitas, DVD s e outros produtos religiosos, presume desvirtuamento da atividade fins e os laboristas envolvidos nestas atividades terão direito de arguir vinculo empregatício. O desvirtuamento embasa o vinculo, pois muitos ministros prestam atividades que extrapolam os limites da divulgação da fé e os ideais da instituição eclesiástica que estão vinculados. Há denominações que exigem de seus pastores realizações de gravações e venda de CD s, além de shows e festas em outros lugares com finalidade financeira, dentre outras condutas. Isto é considera-lo empregado e assim o vinculo empregatício é latente. 02)- Atividade na Crença e na Fé. Um embasamento forte da não caracterização do vinculo empregatício para o pastor de confissão religiosa é que ele abdica dos bens terrenos para ingressar as atividades espirituais da crença e fé de sua comunidade religiosa que pertence. 2 / 9
3 Pensando neste engajamento do pastor em torno das atividades religiosas da Igreja que pertence e o seu estilo de vida não se vê relação de profissão, mas sim a doação de si próprio em sentido desinteressado e comunitário e isto chamamos de profissional liberal. 03)- Atividade Voluntária. Outro aspecto é que o trabalho pastoral é voluntário, pois é movido pela vocação e sobre esta atividade voluntária, o legislador pátrio editou a Lei 9.608/98 e no seu artigo 1º, destaca que a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social e especificamente decreta, através do parágrafo único do mesmo dispositivo, que o serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciário ou afim. Portanto face o dispositivo legal acima a atividade voluntarista do pastor diante de sua congregação não tem natureza trabalhista. 04)- Requisitos do Art. 3º da CLT. O trabalho pastoral é uma função que o obreiro utiliza sua energia pessoal sob sua própria direção. O vinculo empregatício, exige os requisitos clássicos do Artigo 3º, da Consolidação das Leis Trabalhistas para ser considerado empregado, ou seja, pessoa física que presta serviços de natureza não eventual a um empregador, sob dependência deste e mediante salário. Pois bem, o pastor que presta labor a sua entidade eclesiástica sem fins lucrativos, 3 / 9
4 por vocação, por fé, crença, de forma voluntária não preenche e jamais preencherá os requisitos do artigo mencionado, inserido no diploma legal que fundamenta os direitos trabalhistas. Neste caso não há o que se falar em vinculo empregatício, muito menos em direitos trabalhistas. IV- DA PREBENDA PASTORAL. A Instituição Eclesiástica não deve considerar o pastor como seu empregado, nem mesmo este deve entender assim. Surge uma pergunta: porque existe prebenda para o mesmo, mensalmente? Entende-se que o vinculo unificante entre o pastor e sua igreja é puramente de natureza religiosa e vocacional e sua subordinação é de caráter eclesiástico. A retribuição que o pastor percebe diz respeito ao necessário para sua manutenção do serviço confessional. Daí se dizer que as atividades de natureza espiritual que o pastor exerce já citados no corpo deste tema ou a pregação da Palavra de Deus, não podem ser consideradas serviços a serem retribuídos mediante uma contraprestação salarial, pois não existe relação entre bens espirituais e materiais. Todas as retribuições financeiras percebidas das Igrejas se tratam de pura consideração e não pode ser uma exigência do laborista, uma vez que este não presta serviço oneroso e subalterno. Portanto a prebenda mensal, o FGTM (fundo de garantia por tempo ministerial), o aluguel, a água, a luz, o plano de saúde, a contribuição previdenciária espontânea, a 4 / 9
5 gratificação natalina, ajuda de férias, são retribuições voluntária e de honra pela instituição eclesiástica. Daí o nobre ministro não poder cobrar outras verbas trabalhista, como se fosse empregado da entidade eclesiástica ou tivesse direitos trabalhistas, como: FGTS, registro na CTPS, férias mais 1/3 (um terço) Constitucional, entre outros. V- OTICA DAS JURISPRUDÊNCIAS DOS TRIBUNAIS TRABALHISTAS. Os doutrinadores, bem como os doutos desembargadores e ministros dos egrégios Tribunais, tem entendimento quase que unanimes com relação ao trabalho pastoral de confissão religiosa. As jurisprudências tem tratado o trabalho de cunho religioso como atividade não caracterizadora de contrato de emprego, pois sua finalidade seria tão somente a de prestar assistência espiritual e divulgação da fé, impossíveis de apreciação econômica. Veja alguns julgamentos abaixo: PASTOR EVANGÉLICO. RELAÇÃO DE EMPREGO. Inexiste vínculo de emprego entre o ministro de culto protestante pastor e a igreja, pois o mesmo como órgão se confunde com a própria igreja. (RO TRT 1 a Região 4 a Turma Relator Juiz Raymundo Soares de Matos Publicado no DORJ 08/10/02 ) 5 / 9
6 RELAÇÃO DE EMPREGO - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS RELIGIOSOS - INEXISTÊNCIA - Não gera vínculo empregatício entre as partes a prestação de serviços na qualidade de pastor, sem qualquer interesse econômico. Nesta hipótese, a entrega de valores mensais não constitui salário, mas mera ajuda de custo para a subsistência do religioso e de sua família, de modo a possibilitar maior dedicação ao seu ofício de difusão e fortalecimento da fé que professa. Recurso ordinário a que se nega provimento. (RO /98 TRT 3 a Região 2 a Turma Relator Juiz Eduardo Augusto Lobato Publicado no DJMG em 02/07/1999 ) VÍNCULO DE EMPREGO. ATIVIDADE RELIGIOSA. O exercício de atividade religiosa diretamente vinculada aos fins da Igreja não dá ensejo ao reconhecimento de vínculo de emprego, nos termos do artigo 3º da CLT. Recurso do reclamante a que se nega provimento. (RO TRT 4 a Região Relator Juiz João Alfredo B. A. De Miranda Publicado no DORGS em 02/06/2006 ) PASTOR. TRABALHO VOLUNTÁRIO. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DEFINIDORES DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO. O alegado desvirtuamento da finalidade da igreja e o enriquecimento de seus "líderes" com recursos advindos dos fiéis, embora constitua argumento relevante do ponto de vista da crítica social, não afasta a possibilidade de haver, no âmbito da congregação, a prestação de trabalho voluntário, motivado pela fé, voltado à caridade e desvinculado de pretensões financeiras. Assim, estando satisfatoriamente provada a ausência dos requisitos definidores do vínculo empregatício, deve ser afastada a tese da existência de relação de emprego com a entidade religiosa. 6 / 9
7 (RO 7024/2005 TRT 12 a Região Relatora Juíza Gisele P. Alexandrino Publicado no DJSC em ). Esse tem sido o posicionamento quase que unânime de nossos tribunais trabalhistas, não reconhecendo vínculo empregatício entre o ministro de confissão religiosa e a Igreja à qual pertença. VI- CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIARIA. Como não se configura o vinculo empregatício entre a entidade eclesiástica e o pastor de confissão religiosa, este por sua vez deve contribuir de forma voluntária para o INSS, prevenindo-se para futura garantia de aposentadoria. Quando se fala em contribuição e desconto da entidade religiosa sobre o valor pago ao ministro de confissão religiosa como deve ser? O ministro deve recolher sua contribuição sobre o valor por ele declarado, observados os limites mínimo e máximo do salário-de-contribuição, utilizando o código de recolhimento de contribuinte individual, uma vez que o valor pago a ele não é considerado remuneração, portanto não deve ser informado na GFIP e nem ser descontada a contribuição do pastor, isto é o que se extrai do parágrafo 13, do artigo 22 da Lei 8.212/91. Esta contribuição individual destacada ao ministro de confissão religiosa, como segurado obrigatório é denotado no artigo 9º, inciso V, letra c, do Regulamento da 7 / 9
8 Previdência Social Decreto 3048/99. Em suma sobre o recolhimento do INSS, destaco: -Essa contribuição do pastor, a partir de 1º/04/2003, corresponde a 20%, do valor por ele declarado observado os limites mínimo e máximo do salário da contribuição. -Esses recolhimentos devem ser feitos por ele próprio, como dito pelo valor por ele mesmo declarado. -A instituição abrangida pelo seu labor deve fazer o acompanhamento regular destas contribuições, ou ainda, assumindo tal compromisso, como forma de consideração, visando guardar esses direitos previdenciários do seu ministro. VII- CONCLUSÃO. Finalmente, pode-se afirmar que o desvirtuamento das finalidades religiosas da instituição que é fonte do trabalho do ministro devoto à pregação da fé e crença, presumem-se suficientes para se afastar uma atividade gratuita em detrimento da relação de emprego que emerge, destacando que não são todas, mas algumas que assim tem procedido, portanto devedora das verbas trabalhistas e subordinadas a proteção da Legislação pertinente. Diante do exposto, os pastores devem se convencer da mudança da mentalidade acerca de seu trabalho religioso, pois eles devem fazê-lo como atividade de natureza espiritual, com sentido de missão, atendendo a um chamado divino e nunca por uma remuneração terrena. 8 / 9
9 Destarte saber também que há quase unanimidade dos juristas em não reconhecer a possibilidade de vinculo empregatício entre os pastores e suas respectivas igrejas ou congregações. Em suma essa modalidade de trabalho, como pastor, encontra-se regulada pela Lei 9.608/98 em resposta à crescente discussão em torno da existência da relação de emprego entre os que colaboram espontaneamente e gratuitamente com as entidades religiosas ou filantrópicas, sejam sacerdotes, pastores ou simples fiéis. WILLIAM MARTNEZ BATISTA Pastor, Bacharel em Teologia, Pós-Graduação em Psicopedagogia Especialista em Formação de Líderes e Professores em Prevenção contra Drogas Bacharel em Direito. 9 / 9
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