RECONVERSÃO DA CULTURA DO FUMO NAS PROPRIEDADES FAMILIARES DA REGIÃO FUMAGEIRA DO ESTADO DO PARANÁ*
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2 2 RECONVERSÃO DA CULTURA DO FUMO NAS PROPRIEDADES FAMILIARES DA REGIÃO FUMAGEIRA DO ESTADO DO PARANÁ* Resumo Odílio Sepulcri 1 Milton Satoshi Matsushita 2 Methódio Groxko 3 O presente trabalho faz uma análise comparativa dos custos de produção das atividades agropecuárias que competem com a cultura fumo na Região Centro Sul do Paraná, para serem usadas na sua reconversão. Das vinte alternativas analisadas, apenas treze apresentam tal condição. Palavras-chave Competição com o fumo; tabaco, reconversão, análise comparativa. Abstract CONVERSION OF THE CULTURE OF TOBACCO IN THE FAMILY PROPERTIES IN THE REGION OF THE PARANÁ STATE This work is a comparative analysis of production costs of farming activities that compets with the tobacco cultivation in the South Center of Paraná to be used in the redevelopment. Based on the twenty alternatives analyzed, only 13 have this condition. Keywords Competition with the tobacco; tobacco, conversion, comparative analysis Introdução A reconversão é aqui entendida como o processo de reorganização ou mudança dos sistemas de produção, através da realocação de recursos (fatores) produtivos, visando manter ou melhorar a competitividade e a sustentabilidade, diante de novas realidades de mercado, onde se faça necessária uma ação decisiva do setor público. A reconversão da cultura fumo (Nicotiana tabacum L.) é um movimento mundial através da Organização Mundial da Saúde OMS, visando substituí-la por culturas alimentares nas pequenas * Trabalho apresentado e publicado nos Anais do 4º Congresso Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural - ConBATER, 13 a 15 de maio de 2008, Londrina PR, p Engenheiro Agrônomo, Mestre, Instituto Emater, Rua da Bandeira, 500, Curitiba, PR - Brasil, (41) , odilio@emater.pr.gov.br 2 Engenheiro Agrônomo, Mestre, Instituto Emater e Facsul, Rua da Bandeira, 500, Curitiba, PR - Brasil, (41) , matsushita@emater.pr.gov.br 3 Economista, Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná SEAB, Rua dos Funcionários, 1559, Curitiba, PR Brasil, (41) , methodio@seab.pr.gov.br
3 3 propriedades fumicultoras em todo o mundo, tendo em vista os danos causados à saúde humana, tanto na produção como no consumo do tabaco. No Paraná são grandes os prejuízos sociais devido ao envolvimento das pessoas com a exploração do fumo, em conseqüência da saúde debilitada, em graus variados e da abreviação de seu período de vida saudável (SEAB, 2001). Em pesquisa efetuada pelo IPARDES (1999), nos municípios de Irati, Ivaí, Palmeira, Prudentópolis, Rebouças, Rio Azul e São Mateus do Sul, constatou-se que, do total de produtores pesquisados, cerca de 46 % das unidades produtivas (2.326 produtores) pesquisadas utiliza mão-de-obra de menores na cultura do fumo, com a média de dois trabalhadores menores por estabelecimento. Os agricultores estão cientes dos malefícios causados no processo de manejo dos agrotóxicos utilizados na cultura do fumo, assim como no contato com os produtos agrotóxicos (SEAB, 2001). A exploração do fumo envolve interesses econômicos de ampla repercussão em diversos setores do país, tais como: interesses de grupos industriais de fumo e correlatos, tanto nacionais, como internacionais; importante fonte de tributos para o Tesouro Nacional; representa a principal fonte de renda para agricultores familiares de limitados recursos para a sustentação financeira (SEAB 2001). Da sua exploração dependem economicamente agricultores familiares da Região Sul do Brasil, para os quais a cultura é também a mais rentável dentre as explorações típicas; é opção de ocupação de mão-de-obra, garantindo atualmente de empregos diretas e indiretas; ocupa expressiva posição na composição da balança comercial brasileira, sendo o 4 o colocado na ordem dos produtos agrícolas. A área média das propriedades que cultivam o fumo é de 17,9 hectares, distribuídos em área com o fumo 2,5 hectares, feijão 1,4 ha, milho 3,3 ha, outras culturas 1,4 ha, pastagens 3,4 ha, mata nativa 3,0 ha, mata reflorestada 1,7ha, açudes e áreas de descanso 1,2ha. (SINDIFUMO, 2002). Para os agricultores, a substituição do fumo por outra atividade será bem vinda, desde que apresente iguais ou melhores resultados econômicos, devendo ser estimulada e coordenada pelo Estado (SEAB, 2001). Mapa 1 - Distribuição geográfica das áreas de ocorrência da cultura do fumo no Estado do Paraná (em vermelho). Fumo Paraná - Distribuição Geográfica da Produção Fonte: SEAB/DERAL concentração da produção Objetivos O presente trabalho tem como objetivo identificar alternativas agropecuárias econômicas que competem com a cultura do fumo, para sua reconversão.
4 4 Método O método consistiu-se na análise comparativa dos custos de produção (margem bruta) das atividades agropecuária recomendadas para a região produtora de fumo e verificar quais competem com o mesmo, visando sua reconversão. Resultados As alternativas aqui apresentadas, para serem viabilizadas, dependem, em muito, das situações locais e regionais de mercado, devido à grande flutuação de preços durante o ano. Portanto, a substituição da cultura do fumo por qualquer das alternativas identificadas, necessita de um estudo prévio de viabilidade econômica de cada atividade. Cabe destacar que a área cultivada das alternativas deverá ter o cuidado de não saturar o mercado. Em previsão feita pela EMATER PR (2003) existe uma possibilidade de expansão de área para frutas de caroço (pêssego, ameixa e nectarina) de apenas, 120 hectares, para morango 150 e para uva rústica hectares. Na análise comparativa efetuada na tabela 1 constatou-se que das vinte alternativas analisadas, somente treze competem com o fumo, ao apresentar índice superior a 100%. Tabela 1 Alternativas em substituição ao fumo: investimentos iniciais em R$, área mínima a ser explorada em ha, mão-deobra em equivalente homem/ha, produtividade em kg/ha, renda bruta em, custos variáveis, margem bruta em e índice (%). Alternativa Investime nto R$ * Área mínima ha M. Obra Eq. H/ha Produtividade Kg/ha Renda Bruta Custo Variável Margem Bruta Indice ** (%) Fumo ,5 0, Soja Bardana ,0 1, , Calendula ,0 1, Camomila ,0 1, Cap. limão ,0 1, Melissa ,0 1, Repolho ,0 0, Man. Salsa ,0 0, Cebola ,0 0, Cenoura ,0 0, Crisântemo ,13 1, Pepino ,0 0, Pimentão ,0 0, Tomate ,0 1, Ameixa ,0 1, Caqui ,0 0, Morango ,4 8, Nectarina ,0 1, Pêssego ,0 1, Uva Rúst ,0 1, FONTE: 1 SEAB/DERAL (2003); 2 EMATER-PR (2003); 3 FNP Agrianual (2003); 4 OCEPAR (2003) * Refere-se investimento inicial, na cultura do fumo estão incluídos os investimentos em estufa e depósito. Para as plantas medicinais (bardana, calêndula, camomila e capim limão) estão incluídos a unidade de beneficiamento e os equipamentos. Para flores (crisântemo) os investimentos em estufa. Para frutas e olerícolas os investimentos incluem um depósito para seleção e armazenamento temporário. ** As culturas (alternativas) com possibilidades de competirem com o fumo possuem índice acima de 100%.
5 5 Conclusões Pela análise efetuada chegou-se às seguintes conclusões: - A exploração do fumo envolve interesses econômicos de ampla repercussão em diversos setores do país; - São grandes os prejuízos sociais devido ao envolvimento das pessoas com a exploração do fumo, em conseqüência da saúde debilitada, em graus variados, intoxicações com agrotóxicos e da abreviação de seu período de vida saudável; - O envolvimento ilegal de 55 % dos jovens na faixa de 7 a 14 anos, como mão-de-obra de menores na cultura do fumo, além exposição aos riscos de intoxicação inerentes ao cultivo; - Treze das vinte alternativas analisadas competem com a cultura do fumo, porém estão limitadas pela demanda de mercado, pois pequenas áreas de cultivo suprem todo o mercado, não sendo possível substituir toda a área de fumo, cerca de ha, havendo a necessidade de buscar outras alternativas não analisadas no presente trabalho. Referências APOLINÁRIO, A. et al. A mão-de-obra do menor na cultura fumageira. Curitiba : IPARDES, 2003, 15p. BELING, R. R. et al. Anuário Brasileiro do Fumo Santa Cruz do Sul, RS. Gráfica e Editora Palotti. CARAMORI, P. H. et al. Zoneamento Agrícola do Estado do Paraná. Londrina : IAPAR, 2003, 76p. COLETTI, T. et al. Agricultura Familiar e Sócioeconomia Solidária. Convênio TEM/SEFOR/CODEFAT 007/2000. Florianópolis, SC GREEN, R. H. La reconversión de la agricultura européia. Paris,1993. SEAB/DERAL/DCA Divisão de acompanhamento conjuntural, SEAB/PR. A Cultura do Fumo no Paraná. Curitiba, março de SINDIFUMO: Sindicato da Indústria de fumo do Brasil. Conjunto de tranparências sobre a produção de fumo no Sul do Brasil, SKORA, C. et al. Política de reconversão: critérios e parâmetros para formulação de um projeto de reconversão. Estudos de política agrícola n Curitiba. IPARDES, setembro de 1974.
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