BEATRIZ MILHAZES E ARQUITETURA DE MUQUI: UM DIÁLOGO ENTRE ELEMENTOS VISUAIS
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- Salvador Borges Canejo
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1 BEATRIZ MILHAZES E ARQUITETURA DE MUQUI: UM DIÁLOGO ENTRE ELEMENTOS VISUAIS Mônica Cardoso de Lima 1 EMEF José Áureo Monjardim Rosi Andrea Gonçalves de Oliveira Mendes 2 EMEF José Áureo Monjardim 1. Introdução Desde o ano de 2002, a EMEF José Áureo Monjardim, do Sistema Municipal de Ensino de Vitória, promove junto aos alunos do IV Ciclo 1 e 2 (alunos e alunas do turno matutino e vespertino) um projeto interdisciplinar abordando distintos objetos de estudo que se inserem no campo de investigação escolar do Patrimônio Histórico, Cultural e Natural do Espírito Santo. Preocupada com uma educação na sua contemporaneidade, com a formação de um cidadão critico e participativo, nossa escola tem buscado em seus projetos problematizar as questões sócio-ambientais e culturais com o intuito de que os sujeitos envolvidos se reconheçam como parte de um ambiente natural e cultural. Também idealizamos a constituição de sujeitos que se reconheçam como agentes sociais sensibilizados para ações voltadas para a preservação, para o reconhecimento das tradições, valores, história e costumes da cultura em geral de nosso estado. Tal estudo integra o Projeto Patrimônio Histórico Cultural do Espírito Santo, que no ano de 2010 teve como proposta conhecer Muqui, destacando seu Sítio Histórico. O estudo desenvolvido entre os meses de junho a novembro de 2010, nas disciplinas de Arte, História, Matemática e Português foi realizado em etapas distintas e simultâneas. 1 Licenciada em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. Mestre em Artes pela UFES. Professora de História do Sistema Municipal de Ensino de Vitória e na Faculdade Cenecista de Vila Velha, ES. 2 Licenciada em Educação Artística/UFES. Professora de Arte do Sistema Municipal de Ensino de Vitória, ES.
2 As disciplinas de Arte e História priorizaram em seu planejamento com as turmas envolvidas neste projeto, desde o ano de 2009, atividades de investigação de fachadas no bairro de Jucutuquara. As fachadas e seus detalhes decorativos foram vistas como objetos culturais que evidenciavam uma determinada cultura material repleta de aspectos e significados arquitetônicos, urbanísticos, sociais, econômicos e históricos de um tempo histórico vivenciado pela cidade. O trabalho realizado com as turmas, no ano de 2010, com as fachadas de Muqui, pretendeu expandir a percepção, através da análise e interpretação dos objetos, de que nos anos iniciais da Republica pode ser observada uma cultura que se reflete na identificação de um determinado gosto decorativo, de um aspecto construtivo e de uso de certos materiais e formas. Para isto a ação educativa fez uso da metodologia da Educação Patrimonial e se desenvolveu a partir das seguintes etapas metodológicas: observação (exercícios de percepção visual e sensorial), registro (fotografias, maquetes, desenhos, descrições verbais, escritas e gráficas), exploração (análise do problema, levantamento e hipóteses, pesquisa em outras fontes visuais e escritas, comparações) e apropriação (recriação, releitura). Dentre os objetivos específicos desta ação destacam-se: - Levar a pesquisar, a conhecer e a reconhecer (para utilizar) fontes de pesquisa e documentação de arte, valorizando a preservação, conservação e restauração de acervos variados presentes na historia das diferentes culturas e etnias; - Fazer conhecer, identificar e relacionar objetos e manifestações artístico-culturais criadas por diferentes culturas (regional, nacional e internacional) e, em diferentes tempos da história; - Levar a explorar a estrutura da linguagem visual e a articulação de seus elementos; - Refletir sobre a cultura material manifesta na Arquitetura do Casario de Muqui na época áurea de produção do café. 2. Etapas do projeto
3 No ano de 2010 foii incorporada ao trabalho educativo a proposta de incentivar nos alunos e alunas um exercício de analogia e aproximação entre as obras de Beatriz Milhazes expostas num museu da cidade e os elementos decorativos d das fachadas do casario de Muqui. Realizamos uma visita à Exposição Beatriz Milhazes: Gravuras no MAES, Museu de Arte do Espírito Santo, neste momento os o alunos acompanhados de mediação dialogaram com os elementos visuais das obras expostas. Emm sala de aula os alunos continuaram o exercício conhecendo outras obras de Interferências Urbanas feitas pela artista a partirr das imagens do Material Educativo OLHAR MAES - Painéis Temporários para a Estação dee Londres e Fachada da Loja Selfridges Londres e outras obras de fachadas encontradas s em sites. A proposta de ensino da Arte tem como função levar o aluno à apropriação do conhecimento estético, contextualizando-o, produzindo novas maneiras de ver e sentir a arte presente no seu entorno e no mundo utilizando as diferentes linguagens artísticas. Nesta disciplina (Profª Rosi Andrea A.. G. Mendes) trabalhou-se: - Observação e leituras de fotos de Fachadas de Casarios de Muqui, em dupla, destacando os detalhes decorativos em desenhos para criaçãoo de um catálogo; - Desenhos/estudos/projetos para pintura da fachada do Espaço Alternativo da Escola, relacionando o desenho das formas do café com os elementos visuais de Beatriz Milhazes; - Exposição dos projetos/desenhos para a pintura da fachada e seleção pintado; do projeto a ser - Pintura do projeto escolhido na fachada pelos alunos das duas d turmass organizados em grupos.
4 Durante a realização das produções artísticas, aconteceram momentos de registros escritos em duplas sobre o processo: Neste ano fizemos estudos sobre Beatriz Milhazes. Neles aprendemos seu estilo de arte que usa e abusa das figuras circulares e muitos arabescos. Pudemos observar certa semelhança entre as figuras de Beatriz com as formas decorativas de prédios antigos da cidade de Muqui. Diante disso passamos a misturar esses dois elementos: a obra de Beatriz e os detalhes decorativos das fachadas. Depois para esse projeto fizemos estudo do café. A cidade de Muqui é famosa pela sua expressiva produção cafeeira no final do século XIX e início do XX. Nesse momento fizemos uma fusão dos estudos para pintar a fachada misturando café + Beatriz Milhazes + detalhes de fachadas decorativas e o melhor é que vamos apresentar tudo na Mostra Cultural do JAM. (Solano e Henrique IVC1) Neste trabalho nós vimos fotos das fachadas do casario de Muqui e fizemos relação com o trabalho de Beatriz Milhazes. Primeiro nós fomos à exposição da Beatriz Milhazes no MAES, depois vimos fotos e finalmente nos pusemos a desenhar. (Karolaine IVC 1) Nas aulas de História (Profª Mônica Cardoso de Lima) foram estudados aspectos relacionados à produção de café, considerando sua origem na Etiópia e seu percurso através do tempo até a muda chegar ao Brasil, na Região Sudeste, no Estado do ES e no Município de Muqui. Os alunos leram publicações retiradas da internet e o artigo O caminho dos cafezais, do Dossiê Café, publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional (edição 57, de junho de 2010). Além do material escrito os alunos também tiveram a oportunidade de observar material iconográfico como estampas francesas do final do século XIX sobre o café e fotografias de fachadas art déco e ecléticas do centro da cidade e do bairro Jucutuquara. A ênfase dos estudos consistiu no estímulo à percepção de uma cultura material e visual das primeiras décadas do século XX, esta por sua vez relacionada com a ascensão e prosperidade da economia do café.
5 Visitas com alunos na Cidade Alta e no Bairro de Jucutuquara em Estampas francesas do século XIX (Disponível em: Base Jaconde). A ação educativa como já salientado tevee caráter interdisciplinar e consistiu na exposição e comentários de materiais de diversas naturezas feitos de forma simultânea entree as disciplinas, neste sentido s os alunos puderam fazer referencias r das informações trabalhadas nas diferentes disciplinas contribuindo e fomentando debates e questionamentos sobre suass impressões. Eis alguns registros: : Nós já vínhamos trabalhando com arquiteturass semelhantes as das casas de Muqui desde o ano passado quando vimos as fachadas em Jucutuquara com suas s formas de círculos, arabescos, linhas e geometrizadas, muito m comuns na arquitetura do inicio do século XX. Este anoo antes de visitarmos uma exposição naa FAFI notamos sua s arquitetura. Também trabalhamos com desenhos de casas de Muqui dando ênfase aos detalhes, que na minha opinião eram muito difíceis de fazer. Brevemente teremos a oportunidad de de visitar o casario de Muqui na festaa da Folia de Reis e, não é só isso que marca a diferença dessa cidade, mas tambémm sua grande produção de café na transição dos séculos XIX para o XX (Solano)
6 As fachadas de Muqui por coincidência se parecem muito com certas formas trabalhadas nas obras de Beatriz Milhazes. Uma das coincidências que pudemos observar foi a forma circular, onde a linha da circunferência faz giros como de um caracol até o centro. Outra característica são os arabescos que parecem depressões para dentro ou para fora do papel, onde há sobreposições, um tipo de forma sobre a outra no papel. Na arquitetura os artistas também faziam isso só que geralmente com o gesso! (Danilo e Jhonathan) Nas aulas de Matemática (Profª Ana Maria Côgo) foram estudados círculos (concêntricos, secantes, tangentes) e concordância de arcos com retas para relacionar com a obra de Beatriz Milhazes e a criação de uma maquete do Casarão de uma Fazenda de café. Nas aulas de Português (Profª Luciana Hibner), os alunos escreveram cartas em duplas, para serem entregues aos moradores das casas estudadas (fachadas) de Muqui, falando do projeto e fazendo perguntas sobre a história do imóvel, no momento da visita à cidade. No mês de novembro foi feita a visita a Muqui durante o 60º Encontro Nacional de Folias de Reis, momento em que foi possível conhecer um pouco do Patrimônio Histórico Cultural estudado. Visitamos as casas que vimos as fachadas nas fotos que estudamos, na casa que fiz o desenho da fachada morava uma senhora de 93 anos, ela é a quarta moradora da casa, a casa é linda até hoje. Cada casa que visitamos tinha uma fachada diferente, umas mais detalhadas, muitas coisas me chamaram atenção. (Ingrid IVC 2) No domingo saímos para observar as fachadas das casas que tínhamos estudado nas aulas de Arte e História e observamos os detalhes de perto. (Henrique IVC1) Eu gostei da visita nas casas porque na escola nós vimos na foto, mas agora nós vimos de perto. Eu reparei que as portas e as janelas são mais largas, vi um piso com formas de arabescos, tinha umas imagens pintadas nas paredes que eu gostei de ver.
7 (Eduardaa IVC 1) Passamos em todas as casas e entregamos as cartas e descobrimos muitas histórias dos moradores, entramos nas casas e vimos móveis antigos bem b conservados e tivemos uma sensação diferente em estarmos perto do imóvel. (Michaell IVC 2) Visita ao casario do sítio histórico de Muqui, em novembro de d Concluímos o projeto com o registro de depoimentos e comentários orais dos alunos avaliando as experiências vivenciadas em todos os momentos. Antes de realizarmos a visita ao Sitio Históricoo de Muqui, os alunos e alunas apresentaram seus trabalhos para a Comunidade Escolar, na ocasião da Mostra Cientifica e Cultural da escola, em outubro de Capaa do Catálogo e um dos desenhos de elementos decorativos das fachadas realizados pelos estudantes. 3. Considerações Finais Acreditamos que ass ações educativas promovidas neste projetoo interdisciplinar contribuíram para o despertar de interesse dos jovens pelos bens culturais existentes em seu entorno. O fato de podermoss estimular o olhar para estes objetos culturais e
8 propor aos jovens a realização de atividades de identificação, registro, exploração e apropriação desses mesmos objetos podem ser determinantes para a construção de uma postura preservacionista e de identidade com a própria cidade. REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana Mae. A imagem no imenso da Arte. São Paulo. Perspectiva. Porto Alegre. Fundação Iochpe, BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais /Arte Secretaria de Educação Fundamental, DVD 58º ENCONTRO Nacional de Folias de Reis de Muqui. Produção SEBRAE/ES, 2008 EDUCAR para Preservar. Educação patrimonial no Espírito Santo. Programa de Educação Patrimonial. Secult Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo, Outubro, EXPOSIÇÃO Beatriz Milhazes: Gravuras. Material Educativo Olhar Maes,Vitória, MAES GUIA da Preservação do patrimônio Cultural. Governo do Estado do Espírito Santo. Secretaria de Estado da Cultura, HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, LAVIGNE, Natália. Artista ao Contrário. Revista de Bordo TAM nas nuvens, ano 2, n 16, p. 76, abril/2009. MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias. Didática do Ensino da Arte: linguado mundo: poetizar, fruir e conhecer. São Paulo. FTD, PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO. EMEF José Áureo Monjardim, Vitória, SÍTIO Histórico de Muqui. Revista Natural, Muqui, n 27, p 20-25, jun/out VITÓRIA. Diretrizes Curriculares Do Ensino Fundamental/Arte Secretaria Municipal de Educação de Vitória, 2004.
9 VITÓRIA. Diretrizes Curriculares Do Ensino Fundamental/História Secretaria Municipal de Educação de Vitória, 2004.
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