Breve histórico das literaturas africanas de língua portuguesa na PUC Minas. Maria Nazareth Soares Fonseca *
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- Jerónimo Benke Aragão
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1 Breve histórico das literaturas africanas de língua portuguesa na PUC Minas Maria Nazareth Soares Fonseca * Até o final da década de 1980, o ensino das literaturas africanas de língua portuguesa se fazia, em várias universidades brasileiras, ligado aos Setores de Literatura Portuguesa e era pensado como uma expansão natural dos estudos sobre as literaturas européias para os espaços significados pela presença da colonização no continente africano. Com um projeto aprovado e recomendado pela Capes em 25 de novembro de 1988, a PUC Minas instalou, em março de 1989, o seu primeiro Programa de Pósgraduação stricto sensu, inicialmente um curso de Mestrado em Letras com área de concentração em Literaturas de Língua Portuguesa. Entre as quatro subáreas previstas, incluía-se a de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, que passou a ser ministrada, na primeira fase do curso, por professores visitantes, já que não havia, entre os nomes listados no corpo docente apresentado no processo, um professor com formação específica nesse campo. Fiel ao seu compromisso de dar igual tratamento a todas as subáreas propostas, o Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Minas procurou oferecer, regularmente, disciplinas de literaturas africanas de língua portuguesa, buscando o apoio de outras universidades brasileiras que já contemplavam em seus currículos essas literaturas, geralmente como disciplinas optativas. A efetiva colaboração de três ilustres pesquisadores brasileiros, Profa. Dra. Maria Aparecida Santilli, da USP, Prof. Dr. Benjamim Abdalla Júnior, da USP e a Profa. Dra. Laura Cavalcante Padilha, da UFF, garantiu a efetiva presença das literaturas africanas no currículo do curso recém-criado, bem como na orientação das pesquisas dos alunos e na composição de bancas examinadoras. A contribuição desses professores foi realmente importante para a implantação da disciplina Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, no curso de Pósgraduação em Letras da PUC Minas. A saudosa Profa. Maria Aparecida Santilli se responsabilizou, nos primeiros semestre do curso, pela oferta de disciplinas da área, tendo também proferido uma aula inaugural. Dez anos mais tarde, em 1999, a mesma * Professora do Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Minas.
2 Profa., Maria Aparecida Santilli, de saudosa memória, foi a conferencista da sessão comemorativa do décimo aniversário de criação do Mestrado, quando já várias dissertações sobre as literaturas africanas de língua portuguesa haviam sido defendidas e o interesse dos alunos pela área crescia consideravelmente. Fazem parte ainda da história da instalação das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na PUC Minas, o Prof. Dr. Benjamin Abdalla Júnior (USP), que ministrou uma disciplina, fez conferências e, posteriormente, orientou uma dissertação, e a Profa. Dra. Laura Cavalcante Padilha (UFF), que se encarregou da oferta de uma disciplina, proferiu conferências, orientou uma dissertação e, mais tarde, acompanhou temporariamente uma tese. Ao longo dos primeiros anos de sua existência, o Programa de Pós-graduação em Letras da PUC, além da presença desses três professores, contou com a participação efetiva do Prof. Dr. Joaquim Lourenço da Costa Rosário, natural de Mocambique, à época professor da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade Eduardo Mondlane de Maputo. O Prof. Dr. Lourenço ministrou seu primeiro curso como professor-visitante no segundo semestre de A este se seguiram, por sete semestres letivos consecutivos, outros cursos ofertados por ele, sempre em módulos concentrados. A inestimável contribuição do Prof. Lourenço do Rosário não se interrompeu com a sua saída de Lisboa para regressar a Moçambique, onde atualmente desempenha o cargo de Reitor do Instituto Superior Politécnico e Universitário (ISPU), com o qual a PUC Minas manteve frutuoso intercâmbio por longos anos. A contribuição direta do Prof. Lourenço do Rosário para o desenvolvimento dos estudos culturais e literários africanos na PUC Minas durou até 1994, enquanto permanecia a situação de carência da Instituição no que dizia respeito à presença contínua de um professor integrado ao seu corpo docente. Essa situação se resolveu, em 1995, com a contratação da Profa. Dra Maria Nazareth Soares Fonseca que, como pesquisadora das literaturas dos espaços colonizados pela França, mantinha contatos com os espaços colonizados por Portugal em África. Tendo feito estudos na França sobre a produção literária dos espaços africanos e antilhanos colonizados pela França, a pesquisadora trouxe um acervo teórico que se mostrou eficaz à preparação dos primeiros mestrandos que desenvolveram seus projetos de pesquisa sobre as literaturas africanas. No ano de 1995, o Programa de Pós-graduação realizou o I Simposio Internacional de Estudos Africanos, no período de 18 a 20 de outubro. Esse importante
3 encontro de pesquisadores brasileiros e estrangeiros pode contar com a presença de representantes de várias instituições brasileiras. Além da PUC Minas, instituição promotora do evento, estiveram presentes professores e alunos da UFMG, USP, UFF, UFRJ, UFBA, e representantes de Angola, Cabo Verde e Moçambique, dentre os quais se destacam os escritores Jofre Rocha, de Angola, Orlanda Amarílis, de Cabo Verde, os críticos Gilberto Matusse, Fátima Mendonça e Lourenço do Rosário, de Moçambique e Inocência Mata, de São Tomé e Príncipe, além de um grande número de pesquisadores brasileiros, como Maria Aparecida Santilli, Benjamin Abdalla Júnior e Laura Cavalcante Padilha, responsáveis por grande parte do sucesso dos estudos das literaturas africanas na PUC Minas, porque, como se ressaltou anteriormente, esses estudiosos se responsabilizaram pelos cursos da área, juntamente, com o Prof. Lourenço do Rosário, desde 1989 até1994. Estiveram também presentes as professores Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco (UFRJ), Rita Chaves e Tânia Macedo, ambas da USP. O I Simpósio Internacional de Estudos Africanos influenciou profundamente os rumos das pesquisas que se desenvolviam no Programa de Pós-graduação em Letras na PUC Minas, porque muitas obras chegaram aos alunos e ampliaram o lastro de suas pesquisas. Em 1999, surgiram a revista Scripta e os Cadernos CESPUC de Pesquisa, que, cuidadosamente organizados pela Profa. Dra. Lélia Parreira Duarte, vieram consolidar, sobremaneira, a área, particularmente com o Dossiê de Literaturas Africanas que sempre trouxe à revista Scripta a contribuição de importantes pesquisadores brasileiros e estrangeiros sobre as literaturas africanas. Um novo evento, o II Simpósio Internacional de Estudos Africanos, realizado de 11 a 13 de novembro de 2002, ajudou a consolidar o nome da PUC Minas, paticularmente o do Programa de Pós-graduação em Letras, como um espaço de disseminação de estudos e pesquisas sobre as literaturas africanas de língua portuguesa no Brasil. Esse novo evento reiterou a intenção da área de manter um diálogo com pesquisadores brasileiros e estrangeiros e com as instituições responsáveis, em cada país, pela divulgação das literaturas produzidas em África. Essa política de intercâmbio de idéias e de produção teórica tem conseguido frutos significativos para a ampliação das pesquisas dos mestrandos e doutorandos sobre aspectos importantes das diferentes literaturas produzidas nos países africanaos que têm o português como língua oficial. Vários cursos condensados têm sido oferecidos, por professores convidados, ao longo da história das literaturas africanas na PUC Minas, em diferentes momentos. Citem-se, os oferecidos, nesta década, pelas professoras Carmen Tindó (UFRJ), Laura
4 Cavalcante Padilha (UFF), Simone Caputo Gomes (USP), dentre os nacionais, e os ministrados pelos professores Ana Mafalda Leite (Universidade de Lisboa), Inocência Mata (Universidade de Lisboa), Pires Laranjeira (Universidade de Coimbra) e Russell Hamilton (Vanderbilt University, USA). Além desses cursos, contribuições importantes são dadas por visitas e viagens de pesquisa realizadas aos países africanos pelas professoras Maria Nazareth Soares Fonseca e Terezinha Taborda Moreira, muitas vezes em comoanhia de mestrandos e doutorandos. A Profa. Terezinha Taborda Moreira vem contribuindo para o aprofundamento de estudos associados não somente às literaturas africanas de língua portuguesa, mas também à cultura/literatura afro-brasileira. O conhecimento adquirido em viagens aos países africanos dão mais profundidade às pesquisas sobre aspectos das culturas, acolhidos pelas literaturas dos diferentes países. As viagens também enriquecem o acervo bibliográfico disponibilizado aos pesquisadores e ampliam a visão sobre as peculiaridades das literaturas de Angola, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe Guiné-Bissau e Guiné-Bissau. Com relação à expansão das pesquisas desenvolvidas sobre a cultura/literatura desse país, foi muito importante a presença no Programa da pesquisadora Odete Semedo, que, vindo fazer na PUC Minas o seu Doutorado, aproveitou o momento para ampliar a divulgação de feições de sua cultura e da literatura do seu país. Dentre as várias atividades realizadas pela pesquisadora no período em que viveu em Belo Horizonte, deve-se destacar a exposição Falas di Panus: cultura e simbolismo, vozes dos panos, montada no Teatro da PUC Minas, em agosto de A exposição, patrocinada pela Diretoria de Arte e Cultura e pelo Programa de Pós Graduação em Letras, visou a apresentar aos alunos e professoreas da universidade e a pessoas da comunidade universitária a arte produzida por artesãos na fabricação desses artefatos culturais significativos na cultura e literatura da Guiné-Bissau. Na abertura da exposição, a Profa. Odete Semedo expôs sobre os usos dos panos em sua cultura, ressaltando os motivos e cores que se inspiram na natureza, nos animais da terra e do mar, nos acontecimentos comunitários. Muitas dos aspectos ressaltados pela apresentadora, fazem parte do seu trabalho de tese, defendida em Nesta tese, a pesquisadora destacou a relação entre tecer os panos e tecer o texto poético, mostrando que essa habilidade como uma prática textual que acolhe no seu fazer as motivações dadas pela cultura.
5 Aberta aos diálogos entre expressões culturais e literárias, a área das literaturas africanas de língua portuguesa vem, ao longo de sua história na PUC Minas, reforçando um trabalho efetivo com textos literários produzidos em culturas que, apesar de terem como elo comum a língua portuguesa, têm diferenças, muitas delas ainda pouco conhecidas dos leitores brasileiros. O incentivo maior é em relação ao cuidado com as generalizações e com a pesquisa atenta dos textos e dos mecanismos de sua produção. Assim, apesar de contar ainda apenas com duas professoras, a subárea tem produzido um número significativo de pesquisas que redundam em dissertações e teses, muitas delas transformadas em material obrigatório de consulta para pesquisadores brasileiros e estrangeiros e de incentivo à leitura da obra dos vários escritores e as quais chegam com bem mais facilidade no Brasil de hoje. O incentivo à leitura de obras das literaturas africanas de língua portuguesa é o caminho aberto pelo programa de Pos-graduação em Letras, desde a sua criação em Esse caminho foi ressaltado pela Profa. Ângela Vaz Leão, na apresentação do seu livro Contatos e ressonâncias, publicado em Nesse texto, ressalta a Profa. Ângela Leão com relação à leitura dos livros de literaturas africanas: iniciada um dia a leitura, o mais provável é que o leitor a ela volte, em busca de outros textos, tão instigantes quanto o primeiro. Pois, nesse mar fantástico das jovens literaturas africanas de língua portuguesa, ninguém mergulha uma só vez (LEÃO, 2003, p. 7). E, por ter certeza do que afirma a Profa. Ângela Leão com relação às literaturas africanas de língua portuguesa, e seguindo o caminho iniciado em 1989, o Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Minas realizará, em novembro de 2010, em parceria com outros cursos de pós-graduação da UFMG e da UFOP, o IV Encontro de Professores de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, dando continuidade à iniciativa da Universidade Federal Fluminense, que, em 1991, organizou o I Encontro, a que se seguiram outros sediados pela USP, em 2003, e pela UFRJ, em E porque a trajetória das literaturas africanas de língua portuguesa é significativa e pertinente, nesse IV Encontro, que se realizará na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, será formalmente instalada a Associação Internacional de Estudos Literários e Culturais Africanos - AFROLIC -, destinada a congregar os professores e pesquisadores das Literaturas/Culturas Africanas, com o objetivo de promover, desenvolver e divulgar os estudos realcionados a essas áreas. Com a criação da AFROLI, os pesquisadores das literaturas africanas de língua portuguesa terão concretizado mais um marco importante da história dessas literaturas, fora do continente africano.
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