PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: UM EXERCÍCIO DE CONSTRUÇÃO SISTÊMICA E COMPLEXA 1
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- João Henrique Carlos Sabala
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1 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: UM EXERCÍCIO DE CONSTRUÇÃO SISTÊMICA E COMPLEXA 1 Jorge Antônio da Silva Sitó 2 Resumo: O artigo pretende refletir sobre a perspectiva do Projeto Político e Pedagógico de uma instituição escolar. Inscreve-o no contexto de uma prática coletiva e complexa, marcada por uma rede de relações, de influências, contradições e reciprocidades, no âmbito do macrossistema social e do microssistema escolar. Define-o como referencial, a partir de um conjunto de pressupostos elencados, em termos da possibilidade de reinvenção da escola e a conseqüente reinvenção da vida. Palavras-chave: educação, função social, político, pedagógico, complexidade. Todo projeto educativo tem que ser um projeto de humanização; isto implica reconhecer a desumanização, ainda que seja uma dolorosa constatação. Juntar os cacos de humanidade de tantos milhões de brasileiros triturados pela injustiça, fome, provocados pela brutalidade do capitalismo. Buscar a viabilização de sua humanização no contexto real, concreto do Brasil. Este é o desafio pedagógico do Projeto Popular. Recuperar a humanidade roubada do povo. Miguel Arroyo Introdução A palavra projeto é originária do latim projectus e tem o significado etimológico de lançar para frente. Nessa linha de raciocínio, o Projeto Político e Pedagógico expressa a síntese dos sonhos e esperanças coletivas de que a escola venha a cumprir o seu papel social de humanização em um determinado tempo histórico. O Projeto Político e Pedagógico, expressão do esforço generoso e coletivo dos educadores, educadoras, pais, alunos, alunas, funcionários, funcionárias, trabalhadores 1 Artigo elaborado para subsidiar a discussão sobre o tema, na Escola Estadual Emílio Zuñeda, em processo de assessoramento pedagógico no ano de Subsídio referencial da palestra proferida no 2º PEC (Pare, Estude, Construa) em 2005, no Instituto Estadual de Educação Oswaldo Aranha. Referencial de discussões e reflexões do Componente Curricular Projeto Político-Pedagógico ministrado no curso de Pedagogia da UERGS (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul). 2 Docente da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) e Rede Pública Estadual.
2 2 (as) em educação, bem como dos vários organismos das suas respectivas comunidades, tem o propósito de abrindo a avenida dos sonhos fundamentais, demarcar os caminhos dessa avenida e os compromissos coletivizados que permeiam a empreitada da educação sistematizada, enquanto prática social intencional, capaz de contribuir, conjuntamente com outras práticas, para o processo emancipatório humano, a concretização das necessárias e urgentes transformações, tradutoras da reinvenção da vida e da existência de homens e mulheres em seus tempos e espaços em construção. Esse ato de elaboração coletiva de e organização das ações deve promover a ressignificação dos processos escolares, orientado por uma visão totalizadora da função social da escola, calcada em uma leitura dinâmica de contextos, cenários e paisagens que dão conformação aos tempos históricos. Portanto, fundando essa interpretação dos homens e mulheres nesses espaços, o sentido da vida humana no próprio risco e aventura de um tempo de perplexidades e paradoxalidades que define os contornos da complexidade da vida contemporânea. Isso pressupõe, indubitavelmente, um tensionamento e ao mesmo tempo uma clarividência entre um presente que é uma junção entre um teimoso passado e um insistente futuro, na perspectiva de uma síntese dialética. Essa visão totalizadora deve buscar os vínculos entre educação e vida, concebendo-se que olhar para a vida significa olhar para redes de construção. Requer o respeito às liberdades de expressão, portanto, condições para um espaço de polifonia, possibilidades para a explicitação dos vários olhares, condições de fluidez das várias concepções de seus atores e atrizes reais, respeito à valorização das diferenças, a superação de verdades estabelecidas, bem como a hierarquização de saberes sobre a escola, criando-se assim laços estreitos de cumplicidade entre seus construtores. Nesse processo dialético geram-se as condições históricas de reinvenção permanente do já inventado projeto de escola. Com esta perspectiva, o Projeto Político e Pedagógico deverá emergir de uma leitura dinâmica e rigorosa da realidade em suas várias dimensões, ou seja, de uma problematização contextualizada do processo educativo, expressando os seus limites, as suas contradições e possibilidades de incorporar-se em um processo emancipatório. Esse movimento é condição fundamental para proporcionar a sintonia entre o pensado, o dito e o que será efetivamente realizado no interior da escola em termos de práxis pedagógica. Assim, é imprescindível que o diagnóstico norteador vincule limites, potencialidades do já feito a fim de gerar as possibilidades para o que será feito.
3 3 Por esses caminhos, o PPP constituir-se-á no pólo articulador/orientador de toda a ação educativa desenvolvida pela escola e das múltiplas relações com o macrossistema; expressará uma concepção clara de educação e de escola, de sociedade, de conhecimento e de visão humana; será um documento abrangente, pois explicitará opções de ordem filosófica; concepções pedagógicas e de metodologias a serem utilizadas; é o que identificará a escola; é o que dará concretude e sentido ao chão da sala de aula e as múltiplas interações que caracterizam os processos da instituição. Isso posto, torna-se evidente que a feitura, a implantação e implementação do PPP têm no seu bojo um processo de planejamento complexo. Ao referir-se sobre o processo de complexidade, assim concebe Morin (1985, p. 14): É a viagem em busca de um modo de pensamento capaz de respeitar a multidimensionalidade, a riqueza, o mistério do real; e de saber que as determinações cerebral, cultural, social, histórica que se impõem a todo pensamento co-determinam sempre o objecto de conhecimento. É isto que eu designo por pensamento complexo. Assim, complexidade é a qualidade do que é complexo. O termo vem do latim: complexus, que significa o que abrange muitos elementos ou várias partes. É um conjunto de circunstâncias, ou coisas interdependentes, ou seja, que apresentam ligação entre si. Para Morin (1990, p. 8), a palavra complexidade lembra problema, e não solução. Não é utilizada para designar idéias simples, nem tampouco se reduz a uma única linha ou vertente de pensamento. Pensamento complexo é aquele capaz de considerar todas as influências recebidas: internas e externas. A compreensão da escola como instituição sistêmica e complexa é a base para a gestação e execução do projeto político pedagógico. Baseado nessas premissas o respectivo instrumento de práxis escolar não é algo pronto, engessado, a perpetuar-se. É algo dinâmico, processual, sendo marcado pela exigência de um permanente exercício de ação e de reflexão sobre a ação consolidada, enquanto feitura coletiva dos construtores-problematizadores. Na concepção expressa o PPP torna-se um potencializado instrumento que resgata e fermenta a possibilidade da unidade do trabalho escolar, unidade essa permeada ao mesmo tempo pelo processo da diversidade, ou seja, unidade na diversidade.
4 4 Poderá também constituir-se em um instrumento promotor da gestão democrática, entendendo-a como necessidade para movimentar o processo da instituição escolar e dar concretude a sua função social. É para isso que serve a gestão democrática, para impactar resolutivamente os propósitos da educação escolar. De outra forma, é instituto desnecessário. Em síntese, o Projeto Político e Pedagógico, é a ferramenta que expressa a função da escola, partejada das experiências cotidianas, das adversidades, das angústias, das tramas e dramas que marcam vidas humanas. É a oportunidade coletiva de resgatarmos nossas memórias, construir e reconstruir nossas histórias e legalizá-las, pois legítimas já são. E, se tivermos memória, reconheceremos que a história pouco espaço reservou para a construção coletiva, como cita Aílton Krenak (líder indígena): Então, antes do mundo, existia não só a história dos espíritos, dos elementos, mas a história de todos os nossos povos antigos que conseguiram, ao longo dos tempos, manter esta memória da criação do mundo (...) Porque se esta sociedade se reporta a uma memória nós podemos ter alguma chance. Senão, nós vamos assistir à contagem regressiva dessa memória no planeta, até que só reste a história. (...) Ou como reflete Santos: A história pode ser vista como um fluxo ininterrupto, onde passado e futuro se entrelaçam num presente mais ou menos revelador dos processos responsáveis pelas grandes mudanças. Estas nem sempre são percebidas porque têm suas origens em movimentos de fundo, acelerações até então desconhecidas e com a entrada em cena de novos atores. É assim que se dão as rupturas e novos objetos, novas paisagens, novas relações, novos modos de fazer, de pensar e de ser se levantam e difundem. Dessa forma, esse movimento coletivo de construção, de dar contorno às nossas memórias, histórias, sonhos e esperanças, carrega consigo a exigência de um refletir permanente e profundo sobre o significado de nossa presença nesse tempo, como sujeitos construtores de história e da escola como instituição palco desses sujeitos. Acredito que um Projeto Político e Pedagógico orientado pelos pressupostos expressos, gerará condições objetivas para gestar e articular a implementação de uma proposta de educação complexa, de qualidade social, transformadora e libertadora, onde a escola constitua-se em um laboratório de prática, de exercício e conquista de direitos,
5 5 de formação de sujeitos históricos, autônomos, críticos e criativos, cidadãos planetários, identificados com os valores de uma nova ética universal humanizadora.
6 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. 7 ed., São Paulo: Cortez,1984. FREIRE, Ana Maria Araújo. Notas In: Freire, Paulo. Pedagogia da Esperança. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, PETRAGLIA, Izabel Cristina. Edgar Morin: A educação e a complexidade do ser e do saber. Rio de Janeiro: Vozes, VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Org.). Projeto Político-Pedagógico da Escola: Uma Construção Possível. Campinas, SP: Papirus, VASCONCELOS, Celso dos S. Construção do Conhecimento em Sala de Aula. São Paulo: Lebertad, 1993.
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