Em defesa da Saúde pública para todos
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- Osvaldo Sampaio Carreira
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1 Boletim Econômico Edição nº 57 março de 2015 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico Em defesa da Saúde pública para todos 1
2 A saúde pública faz parte do sistema de Seguridade Social A seguridade social é definida na Constituição Federal, no artigo 194 e 195 da Constituição Federal de 1988 como um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. É, portanto, um sistema de proteção social que abrange os três programas sociais de maior relevância: a previdência social, a assistência social e a saúde. Esse sistema possui Orçamento próprio, porém os seus recursos estão sendo desviados pelos governos federais para o pagamento dos juros da dívida pública. SAÚDE, direito de todos e dever do Estado, artigos, 196 e seguintes): A saúde é segmento autônomo da Seguridade Social e se diz que ela tem a finalidade mais ampla de todos os ramos protetivos porque não possui restrição de beneficiários e o seu acesso também não exige contribuição dos beneficiários. Não importa nesta espécie de proteção social a condição econômica do beneficiário. O Estado não pode negar acesso à saúde pública a uma pessoa sob o argumento de que esta possui riqueza pessoal e meios de prover a sua própria saúde. 2
3 Ex.: se o Sílvio Santos quiser ser atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ele poderá, na medida em que, sendo a saúde direito de todos, o Estado não pode limitar o atendimento somente a quem não dispuser de meios pessoais para o seu cuidado. As ações na área da saúde são de responsabilidade do Ministério da Saúde, instrumentalizada pelo Sistema Único de Saúde. Assim, o INSS, autarquia responsável por gerir benefícios e serviços da Previdência Social, não tem qualquer relação e responsabilidade em relação a hospitais, casas de saúde e atendimentos em geral na área de saúde. O órgão responsável pelo sistema de saúde é o SUS. Compete ao Sistema Único de Saúde: - executar ações de vigilância sanitária e epidemiológica, e as da saúde do trabalhador; - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico; - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho; - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico; - fiscalizar e inspecionar alimentos, bem como bebidas e águas para o consumo humano; - participar da produção de medicamentos, equipamentos e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde. 3
4 Como se vê, as ações e serviços da saúde não se restringem à área médica, por meio de ações remediativas, devendo haver medidas preventivas relativas ao bem-estar da população nas áreas sanitárias, nutricionais, educacionais e ambientais como forma de evitar situações e infortúnios no futuro, que invariavelmente causaram, além de maior gasto financeiro para solucionar o problema, desgastes emocionais e psicológicos. A política nacional de saúde é regulada pelas leis 8.080/90 e 8.142/90. Seu executor é o SUS, que é constituído por órgãos federais, estaduais e municipais (Ex. policlínicas). Os recursos da Seguridade Social estão sendo desviados Para esclarecer essa questão financeira é preciso que recordemos que o Orçamento da Seguridade Social foi criado pela Constituição de 1988 para financiar as políticas sociais integradas de Previdência Social, Saúde e Assistência Social e através de uma tributação paga por toda a sociedade brasileira. O objetivo sempre foi nunca faltar recursos para ampliar o alcance social das políticas públicas e também sempre se fazer justiça diante dos problemas da economia brasileira, principalmente a questão da manutenção do poder de compra da população e, nesse sentido, manter a irredutibilidade do valor dos benefícios sociais, notadamente o valor das aposentadorias e pensões, conforme preceitua a Constituição Federal. 4
5 Como prova da sobra de recursos dentro do Orçamento da Seguridade Social apresentamos o superávit do sistema nos últimos quatro anos. Como se pode verificar o superávit da Seguridade Social foi, respectivamente, de R$ 55 bilhões em 2010, de R$ 76 bilhões em 2011, de R$ 83 bilhões em 2012 e de R$ 78 bilhões em O total nos recursos que sobraram nesse período foi de R$ 292 bilhões. Superávits da Seguridade Social (R$ bilhões) Além desses superávits significativos é importante informar e agregar que o subsistema da Previdência Urbana alcançou um superávit de R$ 24,6 bilhões apenas no ano de Ele também vem obtendo superávits sistemáticos nos últimos anos. Isso denota que mais recursos existem para fazer justiça aos aposentados e pensionistas do Brasil. 5
6 O que é o Saúde + 10? Do diálogo entre diferentes movimentos sociais focados na saúde pública nasceu, em abril de 2012, o Movimento Nacional em Defesa da Saúde Pública, o Saúde Mais 10. Sob a proposta de assegurar o repasse de 10% das receitas brutas da União para o Sistema Único de Saúde (SUS), o movimento contou com o apoio de 44 entidades entre elas Conselho Nacional de Saúde (CNS), o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e, em agosto de 2013, 02 milhões de assinaturas foram entregues à Câmara dos Deputados. Um ano depois, o projeto de lei de iniciativa popular ainda não foi discutido na Câmara. O coordenador nacional do movimento, Ronald Ferreira, fala sobre a importância do repasse de recursos para a melhoria dos serviços prestados pelo SUS, sobre seus desafios e o impacto que o projeto pretende causar na vida das pessoas, principalmente em regiões menos assistidas, como o Nordeste. O que é o movimento Saúde Mais 10? O Movimento Nacional em Defesa da Saúde Pública Saúde Mais 10 é fruto de um grande trabalho do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que, há vários anos, apontava a necessidade de priorização da saúde através de mais recursos. Na época o debate estava centrado na regulamentação da Emenda 29. A regulamentação da emenda frustrou a todos, pois não priorizou o financiamento da saúde. As entidades e movimentos sociais que atuam em defesa da Saúde Pública caíram em campo na defesa de mais recursos, chegando ao consenso de que, para garanti-los seria necessário alterar a Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012 através de um Projeto de Lei de Iniciativa Popular. O objetivo era coletar 1,5 milhões de assinaturas para levar à Câmara 6
7 Federal um projeto de que assegurasse o repasse efetivo de 10% das receitas brutas da União para o Sistema Único de Saúde. Em 17 de abril de 2012, lançamos o Saúde Mais 10 contando com o apoio inicial de 44 entidades: o CNS, a OAB, a CNBB, o CEBES, os Conselhos de Profissões, as Centrais Sindicais, entre outras entidades dos movimentos sociais. Em que estágio está a iniciativa? O movimento correu o país. Coletamos mais de 2 milhões de assinaturas, que foram entregues à Câmara dos Deputados em 5 de agosto de Atualmente, a proposta está em tramitação na Câmara dos Deputados sob o nº PLP321/2013. Porém, o projeto vem sendo ignorado pelos parlamentares. Em dezembro de 2013, a coordenação do Saúde Mais 10 divulgou uma nota à sociedade denunciando o descaso e a omissão das autoridades sobre o pleito, ou seja, a aplicação dos recursos para o próximo período orçamentário de 2014 foi negligenciada e, para 2015, segue no mesmo ritmo. Mais uma vez prevaleceu a lógica de uma política econômica distanciada dos interesses públicos e coletivos e essencialmente pautada pelos interesses do mercado financeiro. A votação da PEC do Orçamento Impositivo ainda não teve os seus destaques votados e é possível que eles não sejam votados este no. O Pleno do CNS, reunido no dia 17 de julho, apresentou um manifesto à sociedade em forma de Agenda Propositiva para a Saúde nas Eleições Entre as propostas apresentadas estão a garantia do direito à saúde e acesso a cuidados de qualidade, a valorização do trabalho e da educação na saúde e o fortalecimento da participação social na saúde. É importante que a sociedade exija seus direitos e vote em candidatos comprometidos com esta agenda propositiva. O que o aumento de recursos representa para a gestão dos projetos e programas e para a saúde pública? A injeção de mais recursos tem impactos positivos imediatos para os programas já existentes, tornando possível a contratação de mais profissionais de saúde, a garantia do piso salarial dos agentes de saúde, a aquisição e a modernização de equipamentos, a redução de filas de espera e nos atendimentos, seja na atenção básica à saúde, na média e na alta complexidade. Estes hoje são um dos grandes gargalos do SUS, que já não comporta em sua estrutura a quantidade de pacientes que 7
8 todos os dias vão em busca de atendimento. Espera-se que a gestão continue comprometida com os serviços públicos, mantendo os recursos prioritariamente no SUS, não como aporte público ao setor privado de saúde. Regiões mais desassistidas, como o Nordeste, seriam privilegiadas? Claro que sim. Isso está garantido nas diretrizes da Lei Orgânica do SUS 8080/ 1998, sendo eles a universalidade do acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência (todas as pessoas, sem discriminação, têm direito ao atendimento público e gratuito à saúde); a igualdade da assistência à saúde (o mesmo tipo de atendimento deve ser oferecido a todas as pessoas, sem preconceitos ou privilégios); a equidade na distribuição de recursos (destinar mais recursos para localidades mais pobres e com menor capacidade de atender às necessidades de suas populações); a resolutividade dos serviços (capacidade de resolver os problemas de saúde da população); a integralidade da assistência; a descentralização e a participação da comunidade. 8
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