SÓCRATES: O MESTRE GREGO E SEU SISTEMA PEDAGÓGICO REFLETINDO NA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA
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1 SÓCRATES: O MESTRE GREGO E SEU SISTEMA PEDAGÓGICO REFLETINDO NA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA Luiz Fernando Bandeira de Melo lfbmelo@prove.ufu.br Vani Terezinha de Rezende Faculdade Católica de Uberlândia O método socrático Com um método dialético examinador, Sócrates se apresenta consciente de que não sabe diante de um interlocutor que julga que sabe e o interpela numa conversação ( erótesis ), aplicando argumentações que levam a uma contradição de definições previamente aceita pelo interlocutor, utilizando em outras situações exemplos na busca de uma definição que mais se aproximasse de uma verdade universal, o que também acabava refutando o conceito anteriormente definido. Esse método próprio de articular questões para a obtenção de um conceito foi conceituado de maiêutica que significa parto por ser Sócrates filho de uma parteira. O seu método conhecido filosoficamente como elenchos traduzia na prática a busca incessante do mestre pela verdade acerca de determinado conceito que, normalmente tratava-se de uma virtude como coragem, piedade, amor, e outros. A busca contínua pela verdade através de diálogos públicos proporciona condições pedagógicas que traz a seus interlocutores um aprendizado consistente sobre os temas que serviam de fundamento para as questões discutidas e nessas conversações Sócrates era seguido por jovens que procuravam aprender o suficiente para serem introduzidos na vida pública e política de Atenas. Educação grega: Sócrates e os sofistas A meditação sobre educação e as ideias pedagógicas existem desde o período clássico da filosofia grega e aparecem expostas de forma elementar com os sofistas, que tiveram na história grande representatividade a partir do século V a.c., sendo considerados os primeiros professores, e educadores profissionais da história, desenvolvendo suas atividades docentes como professores ambulantes, num momento de grande transformação social e política de Atenas, em que era exigida uma preparação
2 2 tanto intelectual como física aos jovens gregos. Dessa necessidade surgiram esses sofistas, homens que sem conexão entre si, tinham, contudo, o mesmo objetivo: educação remunerada direcionada seu resultado para a vida pública, formação do político e do orador. Os sofistas são antes professores que cientistas ou filósofos originais, e exerceram influência considerável na cultura e na educação da sua época. Sócrates, embora discordasse dos sofistas em muitos pontos, participava da crença geral de que a educação tornava o homem um cidadão melhor e mais feliz. Mas, diferentemente dos sofistas que se preocupavam mais com o homem como indivíduo, Sócrates o considerava como membro da sociedade e divulgava que a coisa mais valiosa que o homem pode possuir é o saber, que se obtém eliminando as divergências conceituais existentes e descobrindo os elementos essenciais da verdade desses conceitos com os quais todos eles próprios conhecem. Sócrates foi um mestre dedicado à prática do ensino tendo como principal discípulo, Platão, que desenvolveu uma das primeiras teorias sobre a educação cuja descrição pormenorizada de um sistema educacional está em um de seus diálogos A República, que em sua opinião, asseguraria a existência de um Estado justo e feliz. A influência imediata do ensino de Sócrates sobre a educação grega deu-se em relação ao conteúdo, constituindo uma exaltação sem precedentes, ao conhecimento, coincidindo com a idêntica influência dos sofistas, que proclamavam dar conhecimento aos jovens pela exigência das novas condições sociais da época. Mas, justamente porque o conhecimento, para Sócrates, continha uma inevitável projecção moral, encerrava, também uma concepção muito mais ampla que o conhecimento dos filósofos primitivos, e do que a educação dada pelos sofistas. Para Sócrates pouco progresso mental se obtinha do simples fato de ministrar conhecimentos com os métodos populares que os sofistas proporcionavam que almejavam disseminar informações por meio de prestações formais uma vez que o método de conversação socrática trazia mais benefícios de aprendizagem, e tinha como objectivo o poder de pensar. O seu alvo era formar jovens capazes de tirar conclusões corretas, e formular a verdade por si mesmos, em vez de dar-lhes conclusões já elaboradas. Portanto, para Sócrates, a educação tinha por objetivo imediato o desenvolvimento da capacidade de pensar, não apenas ministrar conhecimentos,
3 3 processo educacional que pode ser encontrado nos momentos atuais da moderna pedagogia. Filosoficamente, a maior contribuição de Sócrates corresponde, com efeito, ao desenvolvimento da moral e da ética com o fim último do seu método educacional era a busca da verdade, o conhecimento das virtudes e a entendimento do bem, pois atendendo à máxima grafada no portal do templo de Delfos Conheça-te a ti mesmo, Sócrates mostrava insistentemente que era necessário ensinar a pensar. Não tendo conseguido formular uma filosofia de maneira sistemática, o processo principal de Sócrates consistia em interrogar, em ajudar cada um a tomar consciência dos seus próprios pensamentos, ou melhor, em despertar dentro de cada indivíduo a consciência da verdade universalizada. Assim, os ensinamentos de Sócrates mostravam dois propósitos: o primeiro de demonstrar que o conhecimento era a base de toda a acção virtuosa; o segundo indicar que o conhecimento devia ser desenvolvido pelo próprio indivíduo com sua própria existência, atraves do seu método dialéctico. O conhecimento para Sócrates, era o requisito prévio da livre acção em todas as artes que conduzia o jovem ao sucesso profissional. Isto é sobretudo verdadeiro no caso da mais elevada das artes, a arte de bem viver. Esse conhecimento para Sócrates não podia ser adquirido pela simples aceitação de opiniões individuais, mas somente pela procura daquilo que é comum a todos e que constitui a verdade universalmente válida a verdade. O indivíduo sem instrução é incapaz, segundo Sócrates, de descobrir experiencialmente essa verdade de reconhecimento universal, em consequência, o alvo do trabalho de Sócrates, assim como o seu ponto de vista sobre o objetivo geral da educação, era o de desenvolver em cada indivíduo o poder de formular com seu próprio esforço, verdades universais. Conclusão Na utilização do seu método Sócrates, ao interrogar Adimanto no diálogo platônico A República esclarece a melhor forma de educar um jovem cidadão grego: Sócrates Então que educação há-de ser? Será difícil achar uma que seja melhor do que a encontrada ao longo dos anos a ginástica para o corpo e a música para a alma? Adimanto Será efetivamente. (...) Sócrates Ora tu sabes que, em qualquer empreendimento, o mais trabalhoso é o começo, sobretudo para quem for novo e tenro? Pois é sobretudo nessa altura que se é
4 4 moldado, e se enterra a matriz que alguém queira imprimir numa pessoa? (PLATÃO, 1949, p.86 e 87). Platão (460 a 430 a.c.), o principal discípulo de Sócrates seguiu a linha educacional do seu mestre e fundou escola direcionada aos jovens gregos que se tornou conhecida na história. Em 387 a.c. em Atenas a Academia, sua própria erscola de investigação científica e filosófica. O acontecimento é da máxima importância para a história do pensamento ocidental (CIVITA, 1973, p.52, volume 1). O maior discípulo de Platão, Aristóteles fundador de uma escola que se consagrou na Grécia antiga denominada Liceu também manteve o pensamento pedagógico dos mestres antecedentes, utilizando uma forma diferente de transmitir o conhecimento a seus alunos, pois ensinava caminhando e por isso foi conhecido como um filósofo peripatético, uma vez que gostava de andar compassadamente dando aula nos peripatos (caminhos entre árvores) de seu Liceu, hábito que deixou para os futuros pensadores e inspirou o que viria a se chamar Escola Peripatética de Filosofia. Seguindo a mesma linha de raciocínio, Jesus pode também ser considerado peripatético. Segundo Marcio Ferrari, Johann Heinrich Pestalozzi nascido em 1746 em Zurique, na Suíça, antecipando-se às concepções do movimento da Escola Nova, que só surgiria na virada do século XIX para o XX, afirmava que a função principal do ensino é levar as crianças a desenvolver suas habilidades naturais e inatas. Segundo ele, o amor deflagra o processo de auto-educação, diz a escritora Dora Incontri, uma das poucas estudiosas de Pestalozzi no Brasil. É interessante ainda observar o que a professora doutora da USP Gilda Barros, comenta em seu discurso para turma de doutorado na educação, E o mestre? Ele só pode operar como um braço auxiliar da razão, que, uma vez ativada, traz em si o princípio que a faz produzir, isto é, conhecer. Interferir nesse processo, colocando na alma do outro um saber que não nasceu ali é uma opção pelo fracasso. Ele não promove a conversão, ele não opera o milagre que leva a agir. Ou, se o fizer, a conduta assim provocada terá a qualidade das imitações, e bastará uma circunstância negativa para desviá-la de seu verdadeiro fim. Tal como ocorre com estátuas de Dédalo, "saberes" transplantados têm a leveza das plantas que não têm raízes. Apenas o encadeamento promovido dialeticamente pela razão pode aprofundá-los, e consolidando-os, torná-los fixos (BARROS, 2000).
5 5 Dessa forma podemos considerar as contribuições permanentes e imediatas de Sócrates para a educação como: um conhecimento com valor prático ou moral, isto é, um valor funcional, e consequentemente de natureza universal e não individualista; um processo objetivo para obter-se conhecimento através da conversação; e um objetivo de reflexão e organização do próprio pensamento. Referências CIVITA, Victor. História das Grandes Ideias do Mundo Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1972, p. 26 a 44. (Coleção Os Pensadores, volume I). BARROS, Gilda Naécia Maciel. A Educação para as virtudes na Tradição Ocidental. São Paulo: Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (texto da conferência - março para o curso de doutorado) FERRARI, Marcio. Johann Heinrich Pestalozzi. São Paulo: Abril Cultural, < educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/pestalozzi> PLATÃO. A República. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1949.
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