O USO DO CONCEITO BIM NO DESIGN DE INTERIORES

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1 XII INTERNATIONAL CONFERENCE ON GRAPHICS ENGINEERING FOR ARTS AND DESIGN 26 a 28 de outubro de 2017 O USO DO CONCEITO BIM NO DESIGN DE INTERIORES PALUDETTO, Pedro Silveira 1 ; SALCEDO, Rosio Fernández Baca 2 1 Unesp, pedropaludetto@gmail.com 2 Unesp, rosiofbs@faac.unesp.br Resumo O BIM é amplamente utilizado na arquitetura e, neste artigo, pretende-se explorar as possibilidades de seu uso no Design de Interiores. Será analisado o uso do conceito BIM e o que é possível extrair de informações através de um modelo virtual no processo de projeto de um espaço de interiores. Para isso foi escolhida uma sala de estar como modelo e objeto de estudo. O texto discutirá a aplicação do novo conceito BIM Modelagem da Informação da Construção relacionando-o com o antigo CAD (computer aided design), analisando o que vale a pena ou não utilizar do novo conceito em projetos de interiores. Palavras-chave: BIM, CAD, Design de Interiores Abstract BIM is widely used in architecture and in this article it is intended to explore the possibilities of its use in Interior Design. We will analyze the use of the BIM concept and what can be extracted from information through a virtual model in the process of designing an interior space. For this, a living room was chosen as the model and object of study. The text will discuss the application of the new BIM concept "Construction Information Modeling" in relation to the former CAD (computer aided design), analyzing what is worth or not to use of the new concept in interior design. Keywords: BIM, CAD, Interior Design 1. Introdução BIM é uma filosofia de desenvolvimento de projetos que pretende integrar os profissionais de AEC do início ao fim dessa fase, para a criação de um modelo virtual que represente todas as características do produto final, incluindo informações técnicas, de orçamento, de execução, de manutenção, entre outras, apresentando também a relação delas em função do tempo. Espera-se alcançar isso através

2 da utilização de dados paramétricos (dados baseados em parâmetros) em todos os elementos inseridos nas ferramentas de software (DURANTE, 2013, p.32). Durante (2013), afirma que a evolução pela qual tem passado o processo de desenvolvimento de projetos traz consigo, além das necessidades de alterações culturais e gerenciais, a necessidade de tecnologias que correspondem às características das novas formas de se projetar, planejar e entregar documentos projetuais. Quando se passou dos desenhos feitos em papel vegetal para o CAD (Computer Aided Design), que significa Desenho Assistido por Computador, as vantagens foram imediatas, principalmente em relação ao tempo e custos que envolviam o processo de desenho manual. No entanto, não houve melhorias significativas em outros aspectos, tais como análises de estruturas, gerenciamento de obras, planejamento de obras, entre outros, visto que o processo em si não teve muitas mudanças. Passamos do desenho feito a mão em pranchetas para o desenho digital. Mediante a reformulação do processo de projeto, surgiu a ideia de modelar os objetos, o que significa dar a forma tridimensional aos objetos, ao invés de apenas desenhá-los em 2D, duas dimensões. Esse foi o pontapé para a criação do BIM Modelagem da Informação da Construção, que representa, muito mais do que simplesmente um software de modelagem, mas uma filosofia de desenvolvimento de projetos. Essa filosofia possui grande sinergia com os princípios da Engenharia Simultânea, que é um ambiente de desenvolvimento no qual a tecnologia de projeto auxiliado por computador é utilizada para melhorar a qualidade do produto, não somente durante o desenvolvimento, mas em todo ciclo de vida. (ELLIS, 1992 apud PRASAD, 1996). Neste texto, o BIM será analisado mostrando os benefícios de seu uso no processo de projetar ambientes de interiores, a partir de do estudo de um modelo virtual, através de um software específico, o Autodesk Revit Architectural. 2. O BIM - Modelagem da Informação da Construção 2.1. Conceito Segundo Eastman et al. (2008), o BIM pode ser definido como uma tecnologia de modelagem e um conjunto de processos associados para produzir, comunicar e analisar modelos de edifícios. Sendo assim, o BIM significa Modelagem da Informação da Construção, no qual é criado um modelo virtual contendo diversas informações (geometria, materiais e componentes da construção), onde tudo é

3 organizado como um banco de dados que pode ser acessado e utilizado por diversas equipes envolvidas dentro de todo o planejamento da obra. Consequentemente, todas as representações gráficas do projeto são geradas de forma automática. Laiserin (2010) explica que enquanto os arquivos (drawing) da plataforma CAD consistem em meras representações gráficas de um determinado projeto, ainda que compostos de detalhamentos e outros fatores que lhe conferem grande complexidade característica da fase projetual, os projetos, ou Project, dos modelos BIM são o próprio projeto a partir do qual as representações são extraídas automaticamente, quantas forem necessárias. Suas alterações também são instantâneas em todas as visadas do projeto. Todas as disciplinas complementares àquele projeto são desenvolvidas tridimensionalmente e o próprio software acusa as inconsistências. Sendo assim, através do conceito BIM faz-se o cruzamento de dados coletados pelo usuário através de pré-configurações ou com novas configurações de parâmetros, gerando elementos como tabelas, gráficos e vistas, entre outros usos. Krygiel & Nies (2008) afirmam que se trata da informação acerca da edificação inteira e um conjunto completo de documentos referentes ao projeto armazenados em uma base de dados totalmente integrada. Todas as informações são paramétricas e, por isso, inter-relacionadas. Assim, os modelos idealizados em BIM vêm sendo chamados de modelos inteligentes ou building smarter (LAISERIN, 2010) Características Nos últimos anos, no Brasil, tem-se falado bastante sobre as ferramentas que usam o conceito BIM. Erroneamente muitos passaram a enxergar o BIM como simples softwares modeladores 3D, de 3 dimensões, quando, na verdade, os conceitos em torno desse termo são realmente superiores. O BIM não só gera modelos 3D, cortes e fachadas automaticamente, assim como permite simular toda a construção de um edifício através de informações aplicadas em um modelo virtual, desde o estudo preliminar arquitetônico até a coordenação e o gerenciamento da obra. Sendo assim, o BIM pode auxiliar toda a vida da construção da edificação, desde o projeto, finalização da obra e até mesmo no descarte/reutilização em demolições. Manzione (2013, p. 41) apresenta uma tabela adaptada dos trabalhos de Succar (2009), com os principais usos do BIM:

4 Tabela 1 - Principais usos do BIM

5 Fonte: Manzione (2013, p. 41) De acordo com a Tabela 1, observa-se que existem muitos usos proporcionados pelo BIM, mas este trabalho pretende priorizar itens que são mais relevantes no Design de Interiores: projeto e construção. Um exemplo de uso está na Realidade Virtual, que é a visualização de um projeto em três dimensões como uma maquete virtual, ajudando na construtibilidade do espaço, ou seja, se aquilo que se projeta virtualmente será possível ser executado na realidade, como o auxílio de um software específico Softwares O mercado disponibiliza diversos softwares BIM, de modo que cada projetista utiliza o que é mais coerente com a sua necessidade. Pode-se observar no gráfico a seguir, de acordo com pesquisa realizada na cidade de Belo Horizonte, Brasil, por Stehling (2014), os principais softwares utilizados na Arquitetura, sendo esta a área de

6 conhecimento que mais se aproxima do Design de Interiores, objeto de estudo deste texto. Gráfico 1 - Softwares mais utilizados em arquitetura Fonte: STEHLING (2014) O Gráfico 1 mostra que os softwares mais utilizados em arquitetura são o Autodesk Revit, da Autodesk, e o ArchiCAD, da Graphisoft. De acordo com (GOLDBERG, 2005; TOLEDO, 2009 e AMORIM, 2007), estes softwares podem ser resumidamente descritos do seguinte modo: Graphisoft ArchiCAD (1984): Primeiro software BIM. Permite a condensação dos dados de um projeto em um único arquivo PNL que pode suportar projetos mais complexos. Utiliza o modelo GDL de criação (Geometric Description Language) que contém informações necessárias para descrever elementos 2D advindos das plataformas CAD, modelos 3D e especificações a serem utilizadas nos projetos, nas apresentações e nos cálculos quantitativos. Autodesk Revit: Idealizado especificamente para o BIM e desenvolvido por programadores que criaram o software 3D para o design mecânico e aplicaram seus

7 conceitos para criar uma solução direcionada à arquitetura e à construção. O software é bidirecional em qualquer alteração de qualquer objeto, documento ou vista. Pretende-se intuitivo e de fácil didática para a aprendizagem inicial. 3. O processo de projeto em design de interiores 3.1. Fases do Projeto Gibbs (2009) apresenta um resumo sobre as principais fases de um projeto de interiores. Indica-se, a seguir, uma breve descrição de algumas dessas fases, consideradas essenciais a um projeto de design de interiores. A) Conceituação: Ao projetar para um cliente, o designer de interiores desenvolve, de fato, uma experiência sensorial e o conceito deve proporcionar a essência do projeto e esclarecer sua atmosfera (GIBBS, 2009, p. 150). Nesta fase, o designer de interiores inicia o projeto a partir de um briefing, ou seja, uma lista de necessidades que devem ser satisfeitas com o projeto. B) Estudo Preliminar: Neste momento as primeiras ideias são representadas de forma clara e precisa, para que cliente e designer possam discutir o desenvolvimento das próximas etapas do projeto. São apresentados desenhos de plantas, vistas e perspectivas. C) Anteprojeto: Etapa em que o projeto já foi aprovado previamente pelo cliente, normalmente o anteprojeto é elaborado para apresentação em diversos órgãos que exigem projetos para aprovação dos mesmos. Serve como parâmetro de custos pois já indica os materiais que serão utilizados, além dos desenhos básicos como planta, cortes e vistas. D) Projeto Executivo:... o design deve reunir informações de todos os produtos detalhados no projeto (GIBBS, 2009, p. 153), ou seja, representar todas as informações do projeto de forma bem detalhada para que possa subsidiar a obra adequadamente A elaboração de desenhos e representações gráficas Um projeto de Design de Interiores é composto de vários desenhos, em diferentes escalas, para os diversos níveis de detalhamento necessários. A seguir, são descritos alguns dos principais desenhos existentes em um projeto de Interiores.

8 A) Plantas: A planta baixa é a forma de representação mais utilizada em projetos, pois além de ser fácil a compreensão do espaço, diversos outros grupos de profissionais podem usá-la para entender melhor o projeto. Uma planta baixa é uma espécie de mapa, que visto de cima, proporciona uma visão geral de determinado espaço (GIBBS, 2009, p. 93). B) Cortes e Vistas: Somente com a planta baixa não é possível ver e identificar todos os detalhes do projeto, por isso existem as representações em cortes e vistas, para representar os demais detalhes construtivos do projeto (GIBBS, 2009). C) Layout de mobiliário: O designer de interiores costuma realizar gabaritos dos móveis a serem utilizados em seu projeto, desenhando-os em escala com suas dimensões corretas e recortando-os (GIBBS, 2009, p. 96). A planta de layout também pode facilitar o entendimento do projeto, principalmente por parte do cliente, que na maioria das vezes é leigo no assunto, e, quanto mais fácil a visualização do projeto, melhor o entendimento do mesmo. D) Apresentações em perspectivas, maquetes e croquis: As perspectivas constituem uma forma de representação gráfica que proporciona uma visão realista, na qual os objetos e os espaços são mostrados de forma tridimensional [...] (GIBBS, 2009, p. 101). De modo geral, são desenhos mais facilmente entendidos pelos clientes, pessoas leigas em projeto. Descritos conceitos e características do BIM e indicado o processo de projeto em Design de Interiores, serão verificadas quais as características do conceito BIM podem ser utilizadas nesse contexto, visando auxiliar o processo de projeto em Design de Interiores. 4. O uso do conceito BIM no design de interiores 4.1. Associatividade bidirecional A associatividade bidirecional refere-se à capacidade de conexão entre todos os elementos dimensionais de um modelo, podemos observar isso na Figura 01. Ao alterar qualquer situação no projeto, como, por exemplo, alterar a dimensão de um sofá, deixando-o mais largo 20cm, o modelo é automaticamente atualizado em todo o projeto. As informações de modelo são armazenadas em um único e coordenado banco de dados.

9 Figura 01 - Associatividade Bidirecional Fonte: Figura elaborada pelo autor do presente artigo Objetos paramétricos Não se trabalha com linhas apenas, mas sim com objetos paramétricos. Todos os objetos desenhados possuem características (parâmetros) como espessura, material, altura, largura, fornecedor, entre outros, podemos ver estes parâmetros na Figura 02. Sendo assim, qualquer parâmetro alterado em um objeto, como por exemplo, a mudança de um material, resultará não apenas em uma alteração em uma vista ou no modelo 3D, mas sim em todo o objeto. Figura 02 Objetos Paramétricos.

10 Fonte: Figura elaborada pelo autor do presente artigo Compatibilização De Projetos - Análise De Erros De Projeto São ferramentas para verificar interferências, encontrar interseções entre elementos em um projeto. Pode se exemplificar isso quando se coloca um elemento como uma porta fora de seu lugar de origem, que normalmente seria uma parede, colocando-a em um sofá, causando uma intersecção e interferência no projeto, como podemos ver na Figura 03. Pode-se ver a importância desta ferramenta na elaboração de um projeto de locação de pontos elétricos em design de interiores por exemplo. Figura 03 Compatibilização de Projetos - Análise de Erros de Projeto Fonte: Figura elaborada pelo autor do presente artigo. 4.4 Extração de quantitativos através de tabelas Com a ferramenta de criação de tabelas de quantitativos nos softwares BIM, pode-se gerar muito rapidamente orçamentos estimados em um projeto, sabendo que com qualquer alteração no modelo construído a tabela será atualizada automaticamente. Pode-se ver um exemplo de tabela de quantitativo de revestimento cerâmico na Figura 04.

11 Figura 04 Extração de Quantitativos através de Tabelas Fonte: Figura elaborada pelo autor do presente artigo. Neste texto, foram analisadas as principais características que podem ser empregadas no Design de Interiores, sendo que existem outras diversas que, em conjunto, somam e agregam mais valores no uso do BIM. 5. Conclusão A partir dos estudos realizados neste trabalho é possível vislumbrar o quanto o conceito BIM pode colaborar com o processo de projeto de ambientes no Design de Interiores, tendo este, muita proximidade com a Arquitetura e sendo, de fato, complementar à mesma. Usando parte do conceito BIM e suas características, observou-se grande eficiência de sua utilização em Design de Interiores. Isso porque foi considerado que a parametricidade é uma característica dos modelos em BIM que mais acrescenta benefícios aos projetos de Design de Interiores. Como são definidos parâmetros para um objeto, ao alterar algum desses parâmetros, a mudança se repete automaticamente em todos os objetos semelhantes, permitindo assim a possibilidade de se testar várias alternativas e avaliar seus efeitos no ambiente detalhado. Além disso, podem ser observadas outras vantagens durante a realização dos projetos como: estudos preliminares mais precisos e ricos, visualizações de design mais precisas (ainda durante o processo de projetar), geração automática e com maior precisão de visualizações em 2D, em qualquer fase do projeto. Assim sendo, pode-se dizer que o BIM deve ser usado no Design de Interiores tanto quanto é utilizado na Arquitetura.

12 Referências AMORIM, Sergio R. Leusin de. Novas formas de pensar o processo de projeto e o produto edifício Modelagem de produto BIM. VII Workshop Brasileiro de Gestão do Processo de Projetos Na Construção de Edifícios. Curitiba, DURANTE, Fábio Kischel. O uso da metodologia BIM (Building Information Modeling) para gerenciamento de projetos: Gerente BIM. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) Universidade Estadual de Londrina. Londrina EASTMAN, C, et al. The BIM handboo. Wiley&Sons, GIBBS J., Design De Interiores: Guia Útil Para Estudantes E Profissionais, Editora: Gustavo Gili Brasil GOLDBERG, H. Edward. Software strategy: BIM comparison: how does BIM software stack up with the 3D model concept? CADalyst, jan Disponível em: < 6215/. > Acesso em: 22 setembro, KRYGIEL, Eddie; NIES, Bradley. Green BIM: Successful Sustainable Design with Building Information Modeling. Indianapolis: Wiley Publishing, Inc., LAISERIN, Jerry. DESIGNER S BIM: Vectorworks Architect keeps design at the center of BIM process. The Laiserinletter, Georgia, Estados Unidos, n. 26, p.01-12, 10 mar Disponível em: Acesso em: 22 de setembro MANZIONE, Leonardo. Proposição de uma estrutura conceitual de gestão do processo de projeto colaborativo com o uso do BIM p. Tese (Doutorado) Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, MÁTTAR NETO, João Augusto. Metodologia científica na era da informática. São Paulo: Saraiva, PRASAD, B. Concurrent Engineering Fundamentals: Integrated Product and Process Organization. New Jersey, Prentice Hall, SUCCAR, B. Effects of BIM on Project lifecycle phases. Acesso: /> acessado em: 22 setembro de STEHLING, Miguel P. A Utilização de Modelagem da Informação da Construção em Empresas de Arquitetura e Engenharia de Belo Horizonte. 165p. Tese (Mestrado) Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte Análise do processo de implantação de bim em empresas de projetos industriais e arquitetônicos em belo horizonte. Acesso: _04_artigo01-VFinal.pdf acessado em: 22 setembro de 2014.