O jornalismo impresso no contexto do ensino e da aprendizagem no ambiente acadêmico

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1 O jornalismo impresso no contexto do ensino e da aprendizagem no ambiente acadêmico Cristiane Venancio 1 A formação profissional superior em jornalismo ainda é uma exigência do mercado de trabalho, embora o diploma para o exercício da profissão tenha sido banido por decisão do Superior Tribunal Federal (STF), em junho de Atentas a esta tendência, as universidades têm buscado um nível de excelência cada vez mais alto em seus projetos pedagógicos. Este é o caso do recém-criado curso de jornalismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), localizada no município de Seropédica, na Baixada Fluminense. Ao participar da elaboração das linhas mestras que deveriam nortear o novo curso iniciado em março de 2010 pensamos em uma grade que oferecesse ao discente uma oportunidade de obter conhecimentos teóricos e práticos dentro das principais linhas de atuação do profissional: rádio, TV, impresso e digital. Meyer apud Lage (2002) afirma que o jornalista que se forma na atualidade precisa ter uma série de novas habilidades antes desnecessárias ao exercício da profissão. Segundo ele, a era da informação é a principal responsável por estas crescentes exigências: O mundo tornou-se tão complicado, tão intenso o incremento da informação disponível, que o jornalista tem de ser alguém que cria, e não só transmite, um organizador, e não só um intérprete, alguém que junte os fatos e os torne acessíveis. Além de saber como redigir informações de imprensa ou como contá-las, deve descobrir como fazê-las chegar à mente de seu público. Em outras palavras, o jornalista tem agora que ser um administrador de dados acumulados, processador e analista desses dados (LAGE, 2002, p. 142). Diante deste quadro analisado e apontado por Meyer, unido à percepção da nova dinâmica do mercado de jornalismo impresso e suas necessidades, era necessário estabelecer atividades acadêmicas para serem desenvolvidas pelos alunos. Como professora oriunda do mercado de trabalho, com forte experiência no jornalismo 1 Graduada em Comunicação Social (UGF-RJ), Especialista em Jornalismo Impresso (Cidade-RJ), Mestre em Comunicação Empresarial (UFRRJ). Foi professora do curso de Jornalismo da Unesa e professora sustituta do curso de Jornalismo da Uerj. Foi repórter e editora da Infoglobo Comunicações Ltda. É professora assistente do Curso de Jornalismo da UFRRJ. crisvenancio1@hotmail.com.

2 impresso, fiquei responsável pela orientação do Laboratório de Prática Jornalística Impressa I. Dessa forma, procuramos oferecer um ambiente propício à aprendizagem de todo o processo produtivo do jornalismo impresso apuração, redação e edição. Revista ICHS 40 Anos Neste momento, a calhar, surgiu a ideia de marcar o aniversário de 40 anos do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da UFRRJ, onde o curso de jornalismo é lotado. Decidimos, portanto, fazer uma revista comemorativa; uma edição única. A ideia foi muito bem acolhida pelos alunos bem como por todo o Instituto. Para os discentes, a oportunidade foi de colocar em prática parte do conhecimento teórico já obtido no início do curso. Para os membros do ICHS, incluindo-se aqui sua diretoria, foi o momento de marcar seus feitos e estabelecer metas para o futuro. Para o desenvolvimento da revista ICHS 40 Anos 52 páginas, em cores fiz um trabalho duplo com os alunos. Ao mesmo tempo em que reforçava conceitos de apuração e redação com eles, fizemos, em conjunto, um planejamento editorial com divisão de editorias e o estabelecimento de pautas e seus devidos prazos. Dessa forma, os discentes puderam, inclusive, trocar experiências sobre o andamento de suas apurações, trocar fontes e ideias sobre possíveis personagens. Este foi um momento muito rico da atividade, pois foi quando os alunos começaram a perceber e compreender duas coisas: 1) a relevância dos três principais gêneros informação, interpretação e opinião dentro da prática do jornalismo; 2) o valor da prática do impresso como porta de entrada do próprio jornalismo, haja vista ser aquele o suporte que exige maior volume de apuração, o que propicia uma aprendizagem maior também nos dois passos seguintes, que são a redação e a apuração. Outro aprendizado valioso foi na área da programação visual. Os alunos não tiveram a oportunidade de trabalhar na diagramação da revista, mas puderam aprender conceitos como equilíbrio, harmonia, distribuição de cores, usos e precedência da imagem sobre o texto, mancha gráfica, legibilidade, conforto visual entre outros. Um trabalho totalmente novo para os alunos foi na área de edição. Como havia o objetivo de fazer com que o discente acompanhasse todo o processo de produção da notícia, foi necessário um acompanhamento individual dos 22 envolvidos no projeto. Cada matéria foi vista do início ao fim de sua produção. Cada corte, cada inserção, cada mudança foi justificada para os alunos, de forma que eles entendessem os critérios dos

3 ajustes feitos em cada texto. Assim como a criação de títulos, subtítulos e legendas, que obedeceram às regras já estabelecidas no planejamento editorial da revista. Resultados No campo das ideias, esta experiência proporcionou uma reflexão sobre a relevância do jornalismo impresso num momento em que a realidade do mercado de trabalho é marcada pela inserção de novas tecnologias. Houve a percepção de que àquele suporte ainda cabe o papel da análise e do aprofundamento no ambiente noticioso. E que a internet, mesmo com todas as suas possibilidades multimídia, ainda não substituiu os veículos impressos, que podem ser lidos e relidos; que podem ser dobrados e carregados pelo leitor aonde estes forem; que têm valor de documento; que reúnem numa única página (ambiente) retrancas coordenadas e secundárias, demonstrando vários pontos de vista sobre um único assunto. E uma última percepção de que a internet ainda serve como extensão e complemento de algumas publicações impressas. Não se sabe, no entanto, por quanto tempo esta situação se manterá. Como resultado prático, dado o bom desempenho dos discentes na atividade que fizeram um produto altamente satisfatório foi-nos feito um convite para que façamos uma nova produção impressa, para o segundo semestre de Atualmente, estamos concluindo o planejamento editorial de uma nova revista impressa para a Pró- Reitoria de Extensão da UFRRJ, mas as primeiras pautas já estão em andamento. A execução da revista será oferecida também como atividade acadêmica pelo Laboratório de Prática Jornalística Impressa II. Considerações finais Para mim, como professora da área de jornalismo impresso, esta experiência foi extremamente rica, pois nunca tinha tido uma oportunidade de acompanhar todo o processo produtivo de uma revista juntamente com alunos. Foi gratificante ver o crescimento do aprendizado deles e o entusiasmo à medida que o trabalho ia se desenvolvendo. As condições oferecidas pela UFRRJ favoreceram muito a execução do projeto. O fato de a universidade ter uma imprensa (gráfica), por exemplo, foi decisivo para o bom resultado. Outro ponto importante foi a terceirização da diagramação, visto

4 que nos quadros do curso ainda não tínhamos um profissional qualificado para desenvolver tal trabalho. Com a possibilidade de fazermos outra revista em 2011, esperamos atingir um resultado ainda mais satisfatório.

5 Referências bibliográficas BARTHES, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, JORGE, Thais de Mendonça. Manual do foca. Guia para a sobrevivência dos jornalistas. São Paulo: Contexto, JORGE, T. M.; PEREIRA, F. H.; ADGHIRNI, Z. L. Jornalismo na Internet: desafios e perspectivas no trinômio formação/universidade/mercado. In: Rodrigues, Carla. (Org.). Jornalismo on-line: modos de fazer. Rio de Janeiro: PUC-Rio / Sulina, 2009, LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, MARTINS FILHO, Eduardo Lopes. Manual de Redação e Estilo de O Estado de S. Paulo. 3ª edição. São Paulo: O Estado de S. Paulo, MEDINA, Cremilda. A arte de tecer o presente narrativas do cotidiano. São Paulo: Summus, MELO, José Marques. Jornalismo opinativo: gêneros opinativos no jornalismo brasileiro. Campos do Jordão: Mantiqueira, MORETZSOHN, Sylvia. Jornalismo em tempo real o fetiche da velocidade. Rio de Janeiro: Revan, Resumo A reflexão sobre os rumos do jornalismo impresso ocorre todo o tempo no ambiente acadêmico dos cursos de jornalismo. No recémcriado curso da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) tal discussão levou à produção de uma revista de cunho jornalístico, com objetivo duplo: oferecer um ambiente propício à aprendizagem de todo o processo produtivo do jornalismo impresso apuração, redação e edição e marcar os 40 anos do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFRRJ. O resultado foi rico e produtivo em dois sentidos: 1) gerou um aprendizado inédito para os discentes sobre a importância e as tendências do jornalismo impresso diante das novas tecnologias; 2) o pedido da produção de uma nova revista para a Pró-Reitoria de Extensão da universidade, o que, certamente, vai gerar um resultado mais eficiente. Palavras-chave: jornalismo impresso; revista; processo produtivo da notícia.

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