Marila Cristine Sales Marques Vinícius Batista Marques Universidade Federal da Bahia
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1 1 Momentos Brasileiros : Recital realizado com turmas do IMIT (Iniciação Musical com Introdução a Instrumentos de Tecla) na universidade Federal da Bahia Marila Cristine Sales Marques marila.marques@gmail.com Vinícius Batista Marques vinnymusica@hotmail.com Universidade Federal da Bahia Resumo. Este artigo trata-se de um relato de experiência de um recital de Mestrado em música com concentração na área de educação musical. Este foi realizado num dos cursos da extensão da Escola de Música na Universidade Federal da Bahia, com duas turmas do IMIT (Iniciação Musical com Introdução a Instrumentos de Tecla) e a faixa etária dos alunos foi entre 10 e 15 anos de idade. Tratouse de 3 meses de aulas para preparo do recital intitulado por: Momentos Brasileiros, onde se tocou peças que representam algumas épocas da música no Brasil. Uma mistura e diversidade de ritmos, história, cultura e riquezas musicais brasileiras. Palavras-chave: Ensino, música popular brasileira, grupo Introdução O recital de Mestrado é uma das disciplinas finais do programa de pós-graduação em Música pela UFBA, e na área de concentração em Educação Musical pode ser realizado mediante uma audição onde o (a) Mestrando (a) que esteja realizando o recital toque ou acompanhe alunos de turmas na qual ensine ou esteja ensaiando para a apresentação. O IMIT (Iniciação Musical com Introdução a Instrumentos de Tecla) é um dos cursos da extensão da UFBA, coordenado pela professora Marineide Maciel Costa. Este foi criado pela professora Alda de Oliveira, e existe há 20 anos. No IMIT os alunos estudam por semestres, e há cada dois semestres eles passam de ano, iniciam no IMIT I e concluem no IMIT IV, depois eles optam por um instrumento específico, que pode ser de tecla ou não, prosseguindo assim para o nível de pré-básico e em seguida para o básico. Durante esses 4 anos no IMIT os alunos estudam leitura, ritmo, percepção, apreciação, tocam instrumentos de teclas (metalofones, xilofones, teclados, marimba, piano) diversos instrumentos de percussão, também experimentam outros instrumentos além dos de tecla, conhecem e vivenciam com instrumentos utilizados em orquestra. Neste caso optou-se por fazer o recital com duas turmas de IMIT IV.
2 2 Escolheu-se fazer o recital com turmas do IMIT porque antes eu havia lecionado neste curso durante três anos como estagiária e agora no mestrado achei interessante re-vivenciar a música com estes alunos. Foi então, que apresentei o projeto Momentos brasileiros ao atual professor das turmas, um aluno de graduação (Composição e regência) da mesma universidade (UFBA), o professor Vinícius Marques, que tendo oportunidade de estagiar no IMIT acabou se apaixonando pela educação e também por ensinar música. Desde o primeiro momento o professor mostrou-se aberto e entusiasmado para realização do projeto, da mesma forma quando o projeto foi mostrado aos alunos, pois, eles acharam interessante terem a oportunidade de conhecer um pouco mais da nossa música, ter contato com diferentes compositores, conhecer diversas culturas musicais e vivenciá-las na prática. Objetivos Os objetivos do projeto foram: conhecer os compositores, um pouco da história, apreciar, experimentar e tocar músicas de algumas épocas que marcaram a história da música popular brasileira. Metodologia Músicas/ repertório Sabe-se que a música popular brasileira é muito rica e diversificada e que sua história possui diversas épocas e momentos marcantes com suas canções, gêneros e tendências, mas, para o desenvolvimento do projeto escolheu-se apenas alguns estilos, que foram: O choro, o baião, o samba - canção, a bossa-nova, a jovem-guarda, a tropicália e uma música para representar os dias atuais. Nas aulas os alunos puderam dar sugestões e opiniões a cerca das canções escolhidas pelos professores. O critério de escolha estava numa canção que fosse bastante conhecida para cada época escolhida, nos compositores, pela facilidade ou por estar adequadamente no nível da turma, e os alunos também teriam de simpatizar e estarem de comum acordo para tocá-las. Portanto as canções escolhidas foram: Brasileirinho (Walter Azevedo), Xote ecológico (Luiz Gonzaga), Suíte do pescador (Dorival Caymmi), Pela luz dos olhos teus (Vinícius de Moraes), Estúpido cupido (Versão de Fred Jorge para "Stupid Cupid" de Neil Sedaka e Howard Greenfield), Alegria, alegria, (Caetano Veloso), Do seu lado (Nando Reis) e finalizou-se com um pout-pourrit com músicas de Ary Barroso Aquarela do
3 Brasil e Isso é o que é. Estas foram às músicas escolhidas, sugeridas e aceitas em comum acordo pelos alunos. 3 Arranjos Os arranjos, segundo o professor Vinicius Marques, sempre são feitos em conjunto com os alunos, então, utilizamos esta mesma metodologia para desenvolver o projeto. Nas aulas nós (os professores) passávamos a melodia para os alunos aprenderem nos metalofones, depois cada aluno decidia em qual instrumento iria tocar, se num instrumento de tecla (Metalofone, teclado, marimba, xilofone ou piano) ou num instrumento de percussão (caxixi, atabaque, conga, pandeiro, meia-lua etc.). Daí o professor os acompanhava no piano e a professora acompanhava-os cantando e ajudando nos instrumentos, e às vezes acontecia o contrário, a professora acompanhava-os ao piano e o professor ajudava nos instrumentos, principalmente nos arranjos de percussão. Aos poucos os arranjos foram sendo formados, com sugestões dos professores e dos próprios alunos, que pediram para tocar a base do piano, outros para ajudar no arranjo da percussão, outros optaram por ficar na melodia dos metalofones ou teclados, e assim as músicas foram ficando prontas. A cada ensaio surgia uma nova idéia, que ia se adequando, se adaptando ao contexto e assim cada qual desenvolvia seu papel no grupo. Os alunos revesaram os instrumentos de acordo a música e o arranjo escolhido, assim, eles se sentiam à vontade com o instrumento, pois foi aquele pelo qual optou naquela música. Por exemplo, um aluno, toca numa das músicas a base (piano), em outra faz o solo (teclado), noutra toca outra base (violão), em outra canção faz a melodia no metalofone, da mesma forma os outros alunos, a cada música toca um instrumento, com exceção de dois alunos que optaram por tocar a percussão em todas as canções. Aulas Durante as aulas os alunos: Apreciaram e conheceram músicas das diferentes épocas apresentadas. Pesquisaram sobre vida, obra e história dos compositores. Contextualizaram com as músicas e a história. Experimentaram, vivenciaram, interpretaram, arranjaram e tocaram as músicas estudadas.
4 4 Fundamentação do projeto A metodologia do IMIT fundamenta sua prática e a filosofia do curso mediante estudos de Murray Shafer (1991) e também por estudos de Keith Swanwick (2003) através da abordagem TECLA (Na tradução para o português) proposta por ele, trazendo maneiras de se trabalhar os conteúdos de uma aula de música( Técnica- Execução- Composição e Criação- Literatura- Apreciação) de diversas formas. Neste projeto pôde-se utilizar a técnica durante os ensaios, a execução nas aulas e apresentações, a composição e criação quando os alunos ajudaram a criar e compor os arranjos das músicas, a literatura foi desenvolvida mediante pesquisas e leituras sobre vida e obra dos compositores estudados em sala, e a apreciação fora trabalhada nas aulas apreciando as músicas que seriam tocadas e também quando puderam ouvir seus colegas tocando. O desenvolvimento do projeto também seguiu termos indicados nos PCNS Parâmetros curriculares Nacionais (Artes/ Música/Temas transversais), pois, estes sugerem que os alunos se desenvolvam em diversos níveis de aprendizagem artística e tenham possibilidade de apreciar diferentes tipos de música.(pcns: 1997) Segundo a Secretaria de Educação Fundamental do MEC, A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico que caracteriza um modo particular de dar sentido às experiências das pessoas: por meio dele, o aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação. [...] Envolve também, conhecer, apreciar e refletir sobre as formas da natureza e sobre as produções artísticas individuais e coletivas de distintas culturas e épocas. (PCN-Arte, 1997, p. 15). A música popular brasileira compõe-se de diversos momentos, épocas e estilos. Desde o surgimento do choro (1870), do maxixe (1875), do samba - canção (década de 40), e da chamada década de ouro com os grandes programas de rádio, com Luiz Gonzaga, Roberto Carlos e a jovem guarda, com o movimento tropicalista, e a bossa nova. (LISBOA JUNIOR: 1983, p. 6) No projeto buscou-se os gêneros musicais e os compositores em fontes como livros, song books e artigos via internet para fundamentação do trabalho proposto. É importante que os alunos tenham oportunidade de conhecer o que tocam, saber o porquê de se tocar aquela peça, compreender o contexto daquela canção, e que vivencie. Para isto é necessário que ele adentre no contexto histórico cultural da época, e também se faz importante que o professor abra espaços para que o aluno sinta curiosidade e tenha interesse
5 5 de conhecer aquilo que lhe é distante e ao mesmo tempo tão próximo, tratando-se de músicas de épocas anteriores, mas, que ainda permanecem até hoje, nos dias atuais. A música não morre, ela continua viva, mesmo que faça parte de outros momentos, de outros instantes, pois, ela ainda estará presente. Por isso defende-se que os alunos não devam tocar por tocar, porque mesmo ainda criança ou adolescentes, eles podem refletir sobre fatos históricos, bastando que estes fatos sejam explicados de forma adequada, dentro do seu entendimento cognitivo e psicológico, com uma ética. Sendo assim, é possível fazer música de uma maneira prazerosa e coerente, deixando que os alunos reflitam, criem, escolham, dêem opiniões, e também aprendendo junto com eles. Conclusão Durante o desenvolvimento do projeto observou-se que os alunos iam com maior empolgação para as aulas, uma mãe chegou a dizer que o filho nos dias das aulas de música dizia: - Oba! É hoje a aula de música, não vejo a hora de tocar. Quando as músicas foram apresentadas aos alunos, eles ficaram bastante felizes e surpresos por poderem tocar músicas populares e conhecidas por eles. Mostraram-se muito interessados e a cada aula iam optando por seus instrumentos, ajudando nos arranjos, e crescendo musicalmente a cada ensaio. O projeto terá seu êxito numa apresentação, que será realizada no dia 16 de junho de 2008 na Escola de música da UFBA (Sala 105). Nesta apresentação os alunos se vestirão de acordo à época que irão representar falando sobre esta antes de cada música a ser tocada e serão feitas filmagens do recital. Referências AYRES, Suzana Gigo. Dorival Caymmi. jun Acesso em: 07 de jun MELLO, José Eduardo Homem de. Música popular brasileira: entrevistas de José Eduardo Homem de Mello. Edições Melhoramentos, São Paulo: Editora da universidade de São Paulo, EFEGÊ, Jota, pseud. de João Ferreira Gomes. Figuras e coisas da música popular brasileira. Apresentação de Ari Vasconcelos. Vol. 2 il. Rio de janeiro: FUNARTE, LISBOA JUNIOR, Luiz Américo. Resumo da história da música popular brasileira de 1870 aos nossos dias. Salvador: Universidade Católica do Salvador, Instituto de música, 1983.
6 6 BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Artes. V6, Brasília, p.. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Apresentação dos Temas transversais, ética. / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, KIEFER, Bruno. História da Música Brasileira, dos primórdios ao início do século XX. Porto Alegre, Instituto Nacional do livro, Porto Alegre: Editora Movimento, MARIZ, Vasco. História da Música no Brasil. 4ª ed., Revista e ampliada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, SILVA, Uéliton Mendes da. Luiz Gonzaga: O rei do baião-cronologia completa. Jun Acesso em : 9 jun SWANWICK, Keith. Ensinando música musicalmente. Trad. Alda Oliveira; Cristina Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.
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