Professor e organizador: Cap PM Alberto Nunes Borges
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- Márcio João Vítor Castro Desconhecida
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1 Professor e organizador: Cap PM Alberto Nunes Borges
2 INTRODUÇÃO Este polígrafo trata dos princípios básicos, características gerais e classificação das armas leves para o emprego policial. Mostra algumas nuanças do desenvolvimento da mecânica das armas de fogo, procurando levar os discentes, policiais civis e militares, a entender, com mais facilidade e desenvoltura, o funcionamento das armas mais modernas, para que possa empregá-las com segurança, bem como, transmitir informações importantes, como multiplicadores do assunto. Ainda, traz informações, espera-se, suficientes e objetivas, sobre munições, abrangendo conceitos, características, tipos, processo de disparo e balística, dentre outros, para que se possa compreender suas finalidades, seu emprego policial e seus efeitos. Tendo como base o Manual de Armamento Convencional da Polícia Militar de Minas Gerais, com a ressalva de atualizações, correções e informações complementares feitas pelos professores da matéria, além de compilações técnicas de diversas fontes, e utilizando-se da estrutura da nota de aula Generalidades do Armamento Leve da Escola de Material Bélico do Exército Brasileiro, foi elaborado pela Seção de Treinamento com Armas de Fogo do Centro de Treinamento Policial da Polícia Militar de Minas Gerais, com o objetivo de servir como fonte de informação e consulta dos alunos. A compreensão dos conceitos aqui transmitidos é de extrema necessidade aos policiais-militares, policiais-civis e bombeiros-militares do Estado de Minas Gerais, público-alvo do presente processo de ensinoaprendizagem. A consciência de que tal documento não é produto acabado é plena, estando sujeito, ainda, a experimentações e revisões posteriores. Por este motivo, solicita-se dos discentes que apresentem, se assim o desejarem, à Seção de Treinamento com Armas de Fogo do Centro de Treinamento da Polícia Militar de Minas Gerais, sugestões, críticas, contribuições e experiências, visando torná-la, a cada dia, mais adequada à realidade dos usuários do material. BOM ESTUDO! CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 2
3 ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL SEÇÃO DE TREINAMENTO COM ARMAS DE FOGO Armamento Leve e Equipamento Policial I ARMAMENTO LEVE POLICIAL 1 CONCEITO DE ARMAMENTO LEVE POLICIAL O limite definidor do que seja arma leve e pesada tem sido objeto de vários conceitos. Como tal, já foram citados como armamento leve, os calibres.60 e 37 mm. De modo geral, o estudo das armas leves compreende aquelas que são do equipamento individual do soldado, sendo de peso e volume relativamente reduzidos, podendo ser transportado geralmente por um só homem, ou em fardos por mais de um, além de possuir calibre até o 0,50 polegadas inclusive. Por ser variado e complexo, o material bélico das polícias, há armas que, a rigor, não se enquadram perfeitamente dentro de tal conceito, o qual tem por objetivo generalizar e não particularizar. Em conseqüência, existem calibres como o 38.1 mm dos lançadores de granadas, ou o 12 (18,5 mm) das espingardas de alma lisa, cujos diâmetros são superiores à ½ polegada (.50) descrita, entretanto, enquadram-se no conceito de arma leve policial em virtude de sua aplicação. 2 CLASSIFICAÇÃO GERAL DO ARMAMENTO As armas de fogo são classificadas sob vários aspectos, com base em suas características, conforme descrito a seguir. É importante frisar que tal classificação, em algumas fontes de consulta, tem sofrido, ao longo do tempo, variações de denominação, o que não deveria ocorrer, pois tais conceitos e seus nomes possuem origem e aplicações em comum. Dentro do que foi possível observar, no desenrolar da produção das diversas doutrinas existentes em polícia, sempre surge um ou outro que, de per si, resolve alterar, sem explicações plausíveis, as denominações que foram criadas e vêm sendo usadas há tempos. Tais mudanças, além de críticas, não devem ser aceitáveis, sob pena de surgirem, em decorrência disto, confusões desnecessárias. A seguir, a classificação padrão do armamento na língua brasileira, tal e qual foi criada. 2.1 Quanto ao tipo: de porte: quando, pelo seu pouco peso e dimensões reduzidas, pode ser conduzido em coldre. Exemplos: revólveres e pistolas. portátil: quando, apesar de possuir um peso relativo, pode ser conduzido por um só homem, sendo, para facilidade e comodidade de transporte, geralmente, dotado de uma bandoleira. Exemplos: fuzis e submetralhadoras. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 3
4 não-portátil: quando, por seu grande volume e peso, só pode ser conduzido em viaturas ou dividido em fardos, para serem transportados por mais de um homem. Exemplos: metralhadoras, morteiros, canhões. 2.2 Quanto ao emprego: individual: quando se destina à proteção daquele que o conduz. Exemplos: revólveres, submetralhadoras, fuzis. coletivo: quando seu emprego tático se destina a ser utilizado em benefício de um grupo de homens ou fração de tropa, sendo operada por dois ou mais homens. Exemplos: metralhadoras pesadas, morteiros, canhões. 2.3 Quanto à alma do cano: de alma lisa: quando a superfície interna do cano é completamente lisa. Exemplo: espingardas calibre 12. de alma raiada: quando a superfície interna do cano apresenta sulcos helicoidais paralelos (raias) que têm por objetivo imprimir ao projétil um movimento de rotação por forçamento, dando estabilidade ao projétil. O raiamento de um cano apresenta tais sulcos, chamados de raias e um mesmo número de cristas, chamadas de cheios. Para identificarmos o sentido do raiamento devemos observar a arma da culatra para o cano. Ex: revólveres 2.4 Quanto ao sistema de carregamento: Antes de declinar a classificação do armamento leve quanto ao sistema de carregamento, devem ser entendidos os conceitos de carregar, alimentar e municiar uma arma, da forma como se segue. Também são conceitos que têm sido mudados a bel prazer de alguns, a exemplo da própria classificação do armamento. - carregar: consiste na ação de colocar a carga ou o cartucho na câmara de combustão, deixando a arma em condições de disparo; - alimentar: consiste em colocar a munição na arma, diretamente ou através de um carregador; - municiar: consiste em colocar a munição no carregador da arma. Estas operações podem ser perfeitamente distintas em algumas armas, mas em outras confundem-se devido às características de cada uma. No fuzil por ação de ferrolho ( bolt action ) tipo Mauser, por exemplo, o municiamento é feito com a colocação dos cartuchos em seu carregador metálico tipo lâmina; a arma é alimentada ao ser introduzido, tal carregador, em seu alojamento e serem pressionados todos os cartuchos para o interior do depósito, e, finalmente, a arma é carregada quando o ferrolho é levado à frente e girado no seu ponto de trancamento, com um cartucho introduzido na câmara. Nas "garruchas" de um modo geral não existe o municiamento, uma vez que não dispõem de carregador. A alimentação se dá ao introduzir-se o cartucho na câmara após basculamento do cano, e o carregamento verifica-se quando a arma é fechada e trancada. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 4
5 No revólver também não há municiamento. A arma é diretamente alimentada quando os cartuchos são introduzidos nas câmaras do tambor, e carregada quando este é rebatido para dentro da armação e a arma fechada e trancada com o tambor preso na armação pela ação, normalmente na maioria dos revólveres, da haste central. Nas armas que possuem carregador acoplado em seu corpo, o municiamento se dá no momento da introdução dos cartuchos neste carregador e a alimentação após a introdução do último cartucho desejado. O carregamento se completa ao ser levado um cartucho para a câmara. Nas armas semi-automáticas e automáticas que operam com a culatra aberta, como é o caso das submetralhadoras Taurus MT 12, o municiamento se dá com a introdução dos cartuchos no carregador, a alimentação quando introduzimos o carregador em seu alojamento na arma, e o carregamento ocorre simultaneamente com o disparo, uma vez que, com o acionamento da tecla do gatilho, o ferrolho leva consigo o cartucho para a câmara, sendo este percutido tão logo a arma se feche. Nas armas que operam com a culatra fechada, o cartucho é introduzido na câmara com o avanço do ferrolho, verificando-se assim o carregamento em separado do disparo, que só virá a ocorrer após o acionamento da tecla do gatilho. Este sistema é o mais adotado atualmente, tanto em submetralhadoras, como em pistolas semi-automáticas e fuzis. Conhecendo estes conceitos, passa-se à classificação das armas de fogo quanto ao seu carregamento: de antecarga: quando o carregamento é feito pela boca do cano. Exemplos: morteiro de infantaria, pistolas e garruchas antigas garruchas e espingardas. de retrocarga: quando o carregamento é feito pela parte posterior da arma, ou seja, pela culatra. Exemplos: espingardas Cal 12, fuzis, pistolas. de carregamento misto 1 : quando o carregamento é feito em duas etapas a carga propelente é colocada pela parte posterior da arma e o projétil é colocado pela boca. Utiliza-se cartucho especial chamado de cartucho de lançamento contendo somente a carga propelente. Exemplos: fuzis lança-retinida, fuzis com bocal para lançamento de granadas, lançadores de granada para revólveres. 2.5 Quanto ao sistema de inflamação (ignição inicial do disparo) por mecha: a chama é transmitida à câmara de combustão através de uma mecha acesa. Este sistema já está ultrapassado. por atrito: consiste em se produzir faíscas por atrito, geralmente entre uma variedade de sílex e pirita e o aço das caçoletas, muito usadas em armas antigas acionadas por fechos de pederneira, roda e miguelete, já históricas e obsoletas. por percussão: - percussão extrínseca: quando a cápsula contendo a carga detonante, também chamada de carga de ignição ou fulminante é uma peça isolada que se adapta a um pequeno tubo saliente ligado à câmara de combustão através de um canal chamado ouvido ou chaminé. A deflagração se dá no momento em que o cão se choca contra esta cápsula, detonando-a e forçando o material incandescente através de um canal para a câmara de combustão onde se encontra o propelente. Ex: garruchas e espingardas de ouvido. 1 Conceito dado pelo autor - até o momento de produção desta Nota não possuía referências de classificação. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 5
6 - percussão intrínseca: quando a cápsula detonante ou espoleta é parte integrante do cartucho que contém o propelente (a pólvora) e o projétil. A percussão intrínseca é subdivida ainda em: - pino lateral: cartuchos do tipo Lefaucheaux (obsoleto); - central: quando a espoleta é fixada no centro do culote do cartucho; - radial, anular ou circular: quando a percussão se dá na borda do culote do cartucho. As percussões intrínseca central ou circular podem ser dos tipos: - direta: quando o percussor é solidário ao cão, martelo ou ferrolho 2 ou quando a arma não possui cão ou martelo, agindo por meio do sistema de percussor lançado 3 um dispositivo mecânico engatilha e desengatilha o próprio percussor, na ação simples e na ação dupla ou algum tipo de ação intermediária de disparo. Exemplos: pistolas Taurus 24/7 e 24/7 PRO, pistolas Taurus 640 e 640 PRO, pistolas Glock. - indireta: quando o percussor não é solidário ao cão, martelo ou ferrolho, sendo flutuante, montado na parte posterior da arma ou no interior do ferrolho, retraído, ou não, pela ação de uma mola. O cão ou martelo possui uma superfície plana. A percussão ocorre no momento em que a superfície plana do cão ou martelo se choca contra a cauda do percussor. PERCUSSÃO EXTRÍNSECA PINO LATERAL (LEFAUCHEAUX) CENTRAL (FOGO CENTRAL) PERCUSSÃO INTRÍNSECA CIRCULAR (FOGO CIRCULAR) 2.6 Quanto à refrigeração ou sistema de arrefecimento: refrigerada a ar: quando é resfriada pelo próprio ar atmosférico. Ex: fuzil Mauser 1908 e a maioria das armas modernas. refrigerada a água: quando possui um dispositivo conhecido por camisa d'água acoplado à arma e envolvendo o cano com a finalidade de refrigerá-lo. Exemplo: metralhadora Colt 7 mm. 2 O conceito de percussor solidário ao ferrolho classificado como percussão direta foi dado pelo autor até o momento de produção desta obra não possuía referências de classificação. 3 O conceito de percussor lançado como percussão direta foi dado pelo autor até o momento de produção desta obra não possuía referências de classificação. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 6
7 refrigerada a ar e água: quando o cano está em contato com o ar atmosférico, mas de quando em quando, recebe jatos d'água para auxiliar no seu resfriamento. 2.7 Quanto à alimentação: manual: quando os cartuchos são introduzidos manualmente na arma. Exemplo: escopeta calibre 12. com carregador: quando a arma dispõe de um carregador para alimentá-la, podendo ser dos tipos fita de pano, lâmina, cofre, tubular, fita de elos articuláveis, fita de elos desintegráveis, dentre outros. 2.8 Quanto ao sentido de alimentação: da direita para a esquerda: Ex: metralhadora Maxim. da esquerda para a direita: Ex: submetralhadora Sterling L2A3. de cima para baixo: Ex:FMZB. de baixo para cima: Ex: submetralhadora Taurus MT 12. de trás para frente: Ex: garruchas e revólveres de retrocarga. 2.9 Quanto ao funcionamento: singular ou de tiro unitário: quando o atirador executa as operações da arma manualmente, principalmente o carregamento. A arma não executa o carregamento mecanicamente. As armas singulares podem ser: - de tiro simples: quando a arma comporta apenas uma carga para cada disparo. Para um novo disparo, o atirador deve carregá-la novamente manualmente. Exemplo: Lançadores Tru Flite e Condor AM600, ambos no calibre 38.1, para munições não letais e lançadores M203 e M79 (figura abaixo), ambos no calibre 40 mm para munições explosivas. - de tiro múltiplo: quando a arma comporta duas ou mais cargas, e o carregamento também se faz manualmente. Geralmente possui dois canos paralelos ou sobrepostos e há um mecanismo de disparo para cada câmara. Exemplo: espingardas. de repetição: são aquelas em que o carregamento se faz mecanicamente, ou seja, a arma comporta vários cartuchos, sendo necessário recarregá-la apenas após ter disparado toda a sua carga. Seu princípio motor é a força muscular do atirador, decorrendo daí a necessidade de repetir a ação para cada disparo. Nestas armas, há apenas um mecanismo de CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 7
8 disparo para todos os tiros. Exemplo: revólver, carabina Puma.38, espingarda CBC calibre 12. semi-automática: são aquelas que realizam automaticamente todas as operações de funcionamento com exceção do disparo, ou seja, para cada disparo o atirador tem que acionar a tecla do gatilho. Exemplos: pistolas semi-automáticas, carabina Taurus FAMAE CT40, fuzil AR-15 automáticas: são aquelas que realizam automaticamente todas as operações de funcionamento, inclusive o disparo. Exemplo: metralhadora Madsen, fuzil Imbel 7,62M964 FAL, submetralhadora Taurus FAMAE MT Quanto ao princípio de funcionamento: ação muscular do atirador: Ex: fuzil de ferrolho Mauser M 908. por ação dos gases resultantes da queima da carga propelente: - ação indireta dos gases, transferida por êmbolo ou por tubo condutor. Ex.: fuzil FAL 7,62 (êmbolo), fuzis COLT M16 ou M4 (tubo condutor de gases) - ação direta dos gases sobre ferrolho. Ex: submetralhadora Taurus, carabina FAMAE (blowback) - recuo do cano, sendo curto ou longo. Exs.: metralhadora Madsen M Dinamarca (longo recuo do cano). Metralhadora MG 3A - Alemanha (curto recuo do cano). Pistolas Imbel MD5 e Taurus PT 92 E PT 100 (curto recuo do cano). - ação muscular do atirador combinada com corrente elétrica sobre estopilha. Ex: lança-rojão. 3 SISTEMAS DE FUNCIONAMENTO O sistema de funcionamento de uma arma é a característica mais notável e diferenciadora que lhe confere uma identidade. É constituído por um conjunto de peças dispostas de tal forma que permitem carregar uma arma, dispará-la e extrair e ejetar seu estojo de forma manual, em repetição (mecanicamente) ou automaticamente. O sistema de funcionamento de uma arma pode ser conhecido pelo nome seu inventor (sistema Mauser, Flaubert, etc.), pelo nome da peça mais importante para o seu funcionamento (ferrolho, tambor, etc.), ou de como age ou é seu funcionamento (por bomba. de alavanca, etc.). O certo é que o sistema de uma arma está intimamente relacionado com o seu princípio de funcionamento, sendo usado genericamente para todos eles a denominação de ação. Assim temos, genericamente, os seguintes sistemas de funcionamento. 3.1 Pelo princípio da ação muscular do atirador (armas de tiro singular e de repetição) Sistema de fecho É o mais antigo que se conhece, tendo sido aperfeiçoado durante a segunda metade do século XVI até a segunda metade do século XIX. Constitui-se basicamente de armas que possuíam dois elementos principais: o cano que continha o projétil e sua carga de projeção, e o fecho, mecanismo destinado a transmitir o fogo à carga de projeção. Podemos citar, como exemplo, o sistema de mecha, fecho de pederneira (foto à esquerda) fecho de miquelete e fecho de roda (foto à direita), todos obsoletos. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 8
9 3.1.2 Sistema de culatra reversível Consiste basicamente de uma chapa recortada, que gira perpendicularmente ao eixo do cano, encaixando-se em uma fenda existente na armação. Esta chapa, nada mais do que a culatra, é responsável pela obturação da câmara no momento do disparo. Logicamente, este sistema somente é adequado para armas que utilizam cartuchos de pequena potência. Ex: Pistola Flaubert Cal.22 Cycliste (foto) - é uma arma curta de tiro simples Sistema de corrediça Neste sistema uma alavanca articulada com a extremidade posterior da armação desloca o cano ou o bloco dos canos (no caso de garruchas de 2 canos) em um movimento de translação, ao se acioná-la à frente. Neste momento, dá-se a abertura da arma e a extração dos estojos deflagrados. Esta alavanca serve também de guarda-mato na arma e em posição de repouso, ou seja, quando se traz a alavanca á retaguarda, se verificam o fechamento e o trancamento. Ex.: Alguns tipos de pistolas e garruchas - armas de tiro unitário; Revólver Galand modelo 1868 (foto). CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 9
10 3.1.4 Sistema de cano reversível Consiste na abertura da arma através de um cano que gira horizontalmente em torno de um eixo existente em seu suporte. após sua liberação através de um retém. Quando o cano gira, um extrator é automaticamente acionado. Ex: Pistola Derringer Cal.41 (foto) - armas de tiro unitário simples de fogo central Sistema de culatra basculante (ação de bloco rolante) Neste sistema, a culatra move-se para trás girando 90 graus em torno de um eixo perpendicular ao plano de simetria da arma. Quando a culatra é rebatida para trás arrasta consigo um extrator, acionando-o. O trancamento da arma verifica-se através de ressaltos existentes nos cães e, conseqüentemente, estes devem ser engatilhados ou colocados na posição de segurança para permitir a abertura da culatra. Ex: Alguns tipos de garruchas de retrocarga Sistema de cano basculante Consiste, basicamente, de um cano ou bloco de dois canos geminados, que basculam, ou seja, giram em torno de um eixo fixado na parte anterior da armação, em um movimento angular, no plano vertical. Quando o cano gira, aciona automaticamente o extrator. Ex: Escopeta Cal Sistema de armação rígida Este sistema é específico para revólveres. Caracteriza-se principalmente pelo fato de permitir a extração dos cartuchos, um a um, através de um extrator do tipo vareta, que penetra CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 10
11 dentro da câmara por sua abertura e expele o estojo pela extremidade oposta. Existem dois tipos deste sistema: de armação inteiriça e de armação desmontável. Ex: Rv Nagant Cal 7,62 mm (esquerda) e Rv MH (Merwin Hulbert ) Cal.38 curto (direita) Sistema de armação basculante Também específico para revólveres, consiste basicamente de uma armação que gira no plano vertical em torno de um eixo, permitindo a extração de todos os cartuchos de uma só vez, através de um único extrator que é acionado quando a armação é basculada. Neste sistema, a armação pode girar para cima ou para baixo, dependendo do modelo da armação. Ex.: Rev. Webley & Scott MKVI Cal. 11,5 mm (foto) Sistema de tambor reversível Neste sistema, também específico para revólveres, a armação é rígida, porém, o tambor pode ser rebatido lateralmente e os cartuchos podem ser extraídos, pressionandose a vareta do extrator que atua sobre todos os cartuchos simultaneamente. Este é o sistema mais utilizado atualmente na fabricação de revólveres. Ex: Rv Taurus Cal.38 M952 e Rv Rossi Cal.38 M941. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 11
12 Sistema de cão oculto Também vulgarmente conhecidas como "mochas", consiste basicamente em se dispor o mecanismo de percussão oculto no interior da arma. Neste sistema, a percussão pode ser direta ou indireta, e a arma é engatilhada automaticamente ao se abrir a culatra. Geralmente é empregado em espingardas de tiro unitário. Ex: Espingarda Royal Bonanza mod 75 Cal.12 - Riot Gun. Ex.: Fucili Perazzi/MX Cal. 12 (foto), Sistema de ferrolho As armas que utilizam este sistema possuem um ferrolho cilíndrico que se desloca longitudinalmente na caixa da culatra e gira em torno de seu próprio eixo, através do acionamento manual de uma alavanca de manejo que se projeta lateralmente do seu corpo. Este ferrolho possui, ainda, ressaltos que se encaixam em alojamentos existentes próximos à câmara, permitindo um perfeito trancamento da arma. O mecanismo de percussão é enroscado no interior do cilindro do ferrolho e a arma é engatilhada no avanço do ferrolho ao se rebater a alavanca de manejo. Possui ainda montado, em seu corpo, um extrator que retira o estojo da câmara durante o recuo do ferrolho. Este sistema é o mais conhecido no meio civil e militar, sendo empregado em armas de tiro simples ou de repetição, nos fuzis militares, como é o caso do Fuzil Mauser Cal 7 mm Mod 1908 ou dos modernos rifles de caça ou sniper bolt action (foto) Sistema de alavanca Esta ação tem como característica principal um guarda-mato que atua como alavanca. Ao levar a alavanca à frente, esta gira em torno de um eixo, descrevendo um arco de circunferência, fazendo a abertura da culatra. Com a abertura da arma, a culatra móvel desliza para trás, extraindo e ejetando o estojo. A culatra móvel engatilha o cão em seu movimento à retaguarda, e ao mesmo tempo o transportador sobe com um cartucho procedente do carregador tubular existente abaixo do cano, até alinhá-lo entre a culatra móvel e a câmara. Ao se trazer a alavanca à retaguarda, a culatra móvel empurra o cartucho, introduzindo-o na câmara. A arma está, então, pronta para o disparo e reiniciar um novo ciclo. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 12
13 Este sistema, também conhecido como "lever action" em inglês, tornou famosas as carabinas Winchester, mundialmente conhecidas. A PMMG adotou a Carabina PUMA Cal. 38, que utiliza este sistema Sistema de bomba Também conhecido como ação de bomba, trombone, corrediça ou deslizante, foi inventado pelos norte-americanos que a chamam de "Pump-Action ou Slide Action". Consiste basicamente de um ferrolho corrediço interno, colocado na parte posterior do cano. Sob o cano e alinhado com a bomba, existe um carregador tubular com capacidade para vários cartuchos. O funcionamento consiste em se aproveitar o movimento longitudinal do ferrolho corrediço para efetuar o ciclo anterior e posterior ao disparo, ou seja, desde colocar o cartucho no transportador e introduzi-lo na câmara, até extrair o estojo e ejetá-lo, reiniciando novo ciclo. Este sistema foi inventado para dar maior velocidade no disparo, superando outros sistemas para armas de repetição como o de ferrolho e o de alavanca. A ação Pump é muito empregada na fabricação de espingardas e carabinas. Atualmente, forças policiais do mundo inteiro utilizam espingardas de grosso calibre com este sistema. A PMMG possui o Riot Gun Cal 12. Ex.: Rifle 1918 Winchester 97 "Trench Gun" (foto) CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 13
14 3.2 Pelo princípio da utilização da pressão dos gases (armas semi-automáticas e automáticas) Ação indireta dos gases com transferência através de êmbolo Neste sistema, o cano da arma possui, em determinado ponto, um evento (canal de comunicação) que se comunica com um cilindro de gases em cujo interior trabalha um êmbolo. Este êmbolo é ligado ou direcionado a uma culatra móvel ou a um tipo de impulsor do ferrolho da arma em sua parte posterior. A cabeça (parte anterior) da culatra ou do impulsor, trabalha atrás do evento, logo atrás da cauda do êmbolo. A culatra ou o impulsor sofrem, também, a ação de uma mola recuperadora em sua parte posterior, que a impulsiona à frente. A PMMG possui neste sistema, os fuzis 7,62 M964 (FAL), 7,62 MD3A1, 5,56 MD2A1 e MD97LC. O sistema pode ser analisado, observando-se a ilustração a seguir, relativa ao fuzil 7,62 M964 FAL, e seus comentários: - para o início do funcionamento, o primeiro cartucho precisa ser carregado manualmente. Faz-se isto, primeiramente alimentando a arma com um carregador municiado e puxando o ferrolho ao máximo à retaguarda, soltando-o, o que fará com que ele vá à frente por ação da mola recuperadora, introduzindo um cartucho na câmara; - acionada a tecla do gatilho, o martelo, que fora armado pelo movimento do ferrolho à retaguarda, é liberado, golpeando o percussor que por sua vez percute a espoleta do cartucho; - o projétil percorre o cano e ultrapassa o evento de admissão de gases F (Fig. 1); - os gases atravessam o evento de admissão de gases e atingem o obturador do cilindro de gases A (Fig. 1), que está ligado ao bloco do cilindro de gases B (Fig. 1); - caso o obturador esteja fechado, (letras G ou Gr para cima), os gases não penetram no cilindro de gases e a arma funciona como arma de repetição; - com o obturador aberto, (letra A para cima), os gases atravessam o evento de admissão e entram em contato com a cabeça do êmbolo D (Fig. 1); - sob a pressão dos gases, o êmbolo retrocede e deixa livre o evento de escape de gases E (Fig. 1); - o evento de escape de gases tem abertura variável, segundo a graduação em que se ache o anel regulador de escape de gases C (Fig. 1); - o anel regulador, destina-se a fazer aumentar ou diminuir a saída dos gases e assim controlar a pressão destes, na cabeça do êmbolo; - o êmbolo P (Fig. 2), em seu recuo, obriga o impulsor do ferrolho B (Fig. 2), a retroceder: parte dos gases sai pela boca do cano, impulsionando o projétil e outra parte empurra o êmbolo à retaguarda, que atinge a face anterior do impulsor do ferrolho, empurrando-o para trás, levando consigo o ferrolho, extraindo e ejetando o estojo; em seguida o ciclo se repete; - no momento em que o êmbolo chega ao final de seu curso no interior de seu alojamento chamado cilindro de gases, sua mola, que havia sido comprimida, distende-se e torna a levá-lo para a sua posição avançada. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 14
15 - no momento em que o impulsor do ferrolho chega ao final de seu curso na parte posterior da culatra, a mola recuperadora, que foi comprimida, distende-se e torna a leva-lo, também, para sua posição mais avançada Ação indireta dos gases com transferência através de tubo condutor Neste tipo de sistema, semelhante ao anterior, não há a presença do êmbolo e o acionamento do impulsor do ferrolho ou peça similar é feito através dos gases lançados diretamente sobre este através de um tubo conectado à tomada no terço médio anterior do cano. O exemplo apresentado a seguir trata-se do sistema de recuo de gases dos fuzis da série AR-15/M-16. Repare que a letra A da figura mostra o tubo de gases da arma e a letra B, em raio-x aponta para a conexão entre o tubo de gases ( gas tube ) e seu receptor ( bolt carrier key ), que será impulsionado, levando consigo o impulsor ferrolho ( bolt carrier ), provocando o giro no pino de came do ferrolho ( cam pim ), o destrancamento do sistema rotativo Stoner e todo o recuo do sistema. B A Na figura seguinte, um esquema em vista explodida mostra os mesmos detalhes através das letras A e B. As linhas pontilhadas indicam as conexões entre as peças. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 15
16 A B Ação direta dos gases sobre o ferrolho Este sistema é usado em armas semiautomáticas e automáticas de culatra desaferrolhada, ou seja, de cano fixo. È também conhecido como ação de gases de recuo direto simples ou sistema blowback (literalmente traduzido, como explosão traseira). Nestas armas, o cano é fixo e a culatra é móvel, ficando apenas encostada na parte posterior da câmara por ação de uma mola recuperadora. Portanto, neste sistema não há sistema de trancamento e, sim, um retardamento da abertura. Para que a arma funcione com segurança e eficiência, a mola recuperadora e o ferrolho são dimensionados de tal forma que o recuo do ferrolho só se verifica após a saída do projétil pela boca do cano, quando será vencida a sua inércia e a pressão estará em níveis seguros. Logicamente, este sistema é adequado apenas para armas que utilizam cartuchos menos potentes. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 16
17 Neste sistema, após o disparo, a força expansiva dos gases faz com que o estojo do cartucho seja impulsionado para trás, levando consigo o ferrolho, sobre o qual se acha montado um extrator. Durante o recuo do ferrolho, o estojo é, então, extraído e ejetado; no recuo do ferrolho, a mola recuperadora é comprimida ao máximo até que obrigue o ferrolho a avançar, levando consigo um novo cartucho para a câmara, quando se inicia um novo ciclo. Torna-se oportuno ressaltar que algumas armas que utilizam o sistema blowback trabalham com a culatra aberta, ou seja, o carregamento ocorre simultaneamente com o disparo, como no caso das submetralhadoras Taurus MT12 ou Beretta. Em outras armas, o carregamento verifica-se com o avanço do ferrolho que leva consigo um cartucho à câmara, mas o disparo só ocorre após o acionamento da tecla do gatilho, como é o caso da carabina.40 Taurus FAMAE Recuo do Cano O sistema de recuo do cano é utilizado em armas curtas ou longas, semi-automáticas e automáticas de culatra aferrolhada, ou seja, o cano se desloca com a culatra após o disparo. Nele um dispositivo de trancamento é acionado, sendo desativado após a pressão dos gases ter descido a níveis seguros e suportáveis pelo atirador. Possui duas variações de construção: longo recuo do cano e curto recuo do cano. É utilizado em armas de maior potência, ou seja, que utilizam munições com cargas de projeção mais poderosas, sendo uma das formas que os inventores encontraram para amenizar os efeitos da pressão dos gases de munições poderosas sobre o mecanismo da arma e, conseqüentemente, contra o atirador. Possui dois tipos: curto recuo e longo recuo do cano. Longo Recuo do Cano: quando a dimensão do recuo é superior ao comprimento do cartucho utilizado na arma e o destrancamento e a abertura do sistema só se efetuam após o total recuo do cano e da culatra. Devido à grande massa conjunta de cano e culatra, nestas armas, é usual utilizar um reforçador de recuo de modo a que se possa aproveitar a força viva dos gases provenientes da queima do propelente. O reforçador de recuo basicamente consiste numa peça que faz uma recompressão dos gases expandidos à boca do cano, depois de já terem deixado a alma, de modo a que se possa tirar proveito de uma força extra dos gases. Um modelo desse sistema de funcionamento é o do Lançador de Foguetes Santa Bárbara LAG-40 SB-M1 de 40 mm, mostrado a seguir: CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 17
18 - ao se pressionar a tecla do gatilho, o percussor é liberado, percutindo a espoleta do cartucho. - a pressão dos gases empurra o cartucho à retaguarda, levando consigo o ferrolho, comprimindo a mola recuperadora. Neste estágio, o cano se acha solidário ao ferrolho e também recua. - após a pressão ter descido a níveis seguros, o cano é retido por ressaltos, mas o ferrolho continua recuando. - durante o recuo, o ferrolho continua comprimido a mola recuperadora, extrai e ejeta o estojo. - novo cartucho se apresenta, a mola recuperadora então impulsiona o ferrolho à frente, reiniciando um novo ciclo. Curto Recuo do Cano: quando a dimensão do recuo do cano é inferior ao comprimento do cartucho utilizado na arma e o destrancamento e a abertura do sistema só se efetuam após o total recuo do cano e do ferrolho. Nas polícias, atualmente, encontramos o sistema de curto recuo em todas as pistolas de calibre acima do 9mm Luger incluindo este, a saber: pistolas Taurus PT92, PT100, PT24/7 e PT640, pistolas Imbel.45ACP e.40s&w (foto). 4 MUNIÇÕES Curto Recuo do Cano (Sistema Browning) Pistolas Imbel Identificação de cartuchos para armas leves A evolução das armas de fogo está intimamente relacionada com a evolução das munições que utilizam. Alguns tipos de cartuchos são mais conhecidos como, por exemplo, os calibres.380 ACP, 9 mm Luger,.40 S&W e.45 ACP, para pistolas semi-automáticas e os calibres.22lr,.38 SPL,.357 Magnum e.44 Remington Magnum para revólveres. Mas isto não basta para que uma munição seja identificada. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 18
19 Principais explicações genéricas para a identificação de cartuchos: Existem duas escolas responsáveis pela definição de calibres: a inglesa (adotada também pelos EUA) e a européia. A inglesa determina o calibre dos projéteis em milésimos de polegada (ex.:.380). Os EUA adotaram o padrão inglês, porém, utilizando, também, com a medida do calibre em centésimos de polegada (ex:.38), em alguns casos, para buscar uma diferenciação de calibres mais potentes, a exemplo dos calibres.22 (baixa energia) e.223 (alta energia). É oportuno lembrar que a notação correta destes sistemas implica separar os centésimos ou milésimos de polegada através de um ponto. Assim, o calibre.38 significa que o calibre nominal é de 0,38 polegada. A escola européia define os calibres através do sistema métrico decimal, não havendo, portanto, o uso do ponto, e sim, da vírgula para a separação de centésimos, normalmente a- trelado ao comprimento total do cartucho. Ex: cal 7,62 x 51 mm (7,62 NATO), ou cal 9 x 19 mm (9 mm Luger) Outros termos, colocados após o calibre do cartucho indicam a particularidade da munição, do projétil, do estojo, ou algum dado referente à pólvora, a seu inventor, ao fabricante, dentre outros. Exemplos: 7,62 x 63 mm o primeiro número indica o calibre do projétil e o segundo, o comprimento do estojo;.445 Cordite - o número indica calibre, e o termo Cordite, o tipo de pólvora da época;.454 Casull - o número indica o calibre e o termo Casull, o nome do criador da arma e da munição (um dos revólveres mais poderosos da atualidade). A nomenclatura dos diferentes tipos de munição é, pois, bastante confusa, de tal forma que existem vários tipos que são intercambiáveis, mas têm denominações diferentes Os cartuchos de munições para espingardas de alma lisa utilizam outro padrão de cálculo e são representados por um número que nada tem a ver com o diâmetro. Considerações a respeito dos cálculos para o estabelecimento dos diâmetros dos canos para cada calibre de espingarda serão alvo de estudo específico sobre espingardas no item Tipos de munições Existem diversos tipos de munições, distintas de acordo com a sua finalidade: real: para emprego contra pessoal e alvos não blindados; é a munição comum. festim: é o cartucho normal sem o projétil. È utilizado para tiro simulado, para as salvas militares e pelo corpo de bombeiros para salvamento. manejo: usado para instrução e manejo das armas: não contêm propelente e a espoleta é inerte. sobrepressão: são cartuchos que contêm uma carga de propelente 20% a 30% maior do que o normal. Destina-se a testes de armas por parte dos fabricantes. carga reduzida: também utilizada no treinamento de atiradores. lançamento: existem munições de lançamento de granadas e o chamado lança-retinida que é utilizado para lançamento de cabos, cordas e até mesmo de mensagens. O cartucho lança-retinida é muito empregado recarregada: é a munição cujo estojo foi reaproveitado após limpeza e recalibragem. Para receber novo espoletamento, carga de projeção e engastamento de um novo projétil. Alguns estojos admitem várias recargas, inclusive os de plástico. A recarga de munições CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 19
20 reduz consideravelmente os custos com formação e instrução de atiradores. A Polícia Militar de Minas Gerais, atualmente recarrega cartuchos.38spl, 9 mm Luger,.40 S&W e 12x70mm. 4.2 Elementos componentes de um cartucho Atualmente existem dois tipos mais comuns de cartuchos para armas de fogo. Os cartuchos para armas com canos de alma lisa, conhecidos somente por cartuchos, e os cartuchos para armas de cano raiado, conhecidos também por cartuchos carregados à bala, cartuchos de bala ou, simplesmente, bala (termos técnicos). Um cartucho carregado à bala é constituído por estojo, espoleta (ou cápsula), carga de projeção (ou propelente), e projétil. Componentes de um cartucho de bala 1 Projétil 2 Propelente (pólvora) 3 Estojo 4 Iniciador (espoleta tipo boxer) Estojo O estojo pode ser de fogo central ou circular. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 20
21 Nomenclatura - no estojo, a depender do tipo, são encontradas as seguintes partes: a) estojo - elemento por completo. b) culote ou cabeça - é a base reforçada do cartucho, possui as inscrições de identificação, (fábrica, lote, tipo de munição,...). c) corpo - seu formato (cilíndrico, tronco cônico ou tronco cônico com gargalo cilíndrico) está totalmente ligado ao sistema de funcionamento da arma. d) ombro - seção que liga o gargalo ao corpo e faz a redução câmara/cano. e) gargalo - parte cilíndrica onde se engasta o projétil. f) boca - recebe o projétil. g) alojamento da cápsula ou bolso da espoleta - recebe a espoleta. h) gola - ranhura existente no culote, onde se aloja a garra do extrator. i) evento(s) orifício(s) existente(s) no fundo do bolso da espoleta que permite(m) a passagem da chama gerada da percussão do misto iniciador, para o interior da câmara do estojo, atingindo a carga de projeção. j) câmara - seção intermediária destinada a receber e alojar a carga de projeção. k) parede - pela dilatação realiza a obturação dos gases. l) bigorna pino de formato cônico existente no alojamento da espoleta, que se destina a permitir com o auxílio do percussor, a compressão, ou o esmagamento, do alto explosivo iniciador existente na espoleta, por ocasião da percussão; presente apenas nos estojos tipo Berdan. m) virola - permite a extração. O estojo tem três finalidades distintas: reunir os demais elementos do cartucho, proteger o propelente da umidade e dilatar-se por ocasião do disparo, evitando escapamento dos gases pela culatra. Os estojos são fabricados geralmente de latão (liga de cobre e zinco), mas existem também de cobre, alumínio e aço. Estojos de aço, com acabamento zincado ou latonado (protegem contra corrosão) são muito utilizados atualmente para cartuchos de espingardas. Nem todos os estojos têm o mesmo desenho, apresentando diferenças seja no formato do corpo, seja no formato do culote. Assim, temos diferentes tipos de culote (base), a saber: com aro, com semi-aro, sem aro, cinturado e rebatido. Quanto ao corpo temos: cilíndrico, cônico e garrafa. Cilíndrico: o estojo mantém seu diâmetro por toda sua extensão; Cônico: o estojo tem diâmetro menor na boca, é pouco comum; e Garrafa: o estojo tem um estrangulamento (gargalo). CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 21
22 Cabe ressaltar que, na prática, não existe estojo totalmente cilíndrico, sempre haverá uma pequena conicidade para facilitar o processo de extração. FORMATOS DOS CORPOS DOS ESTOJOS Cinturado: possui um ressalto na parte superior do culote, confundindo-o com o corpo do estojo; Com semi-aro: possui ressalto de pequenas proporções e uma ranhura (virola); Sem aro: tem apenas a virola; Com aro: com ressalto na base (aro ou gola); e Rebatido: a base tem diâmetro menor que o corpo do estojo. A base do estojo é importante para o processo de carregamento e extração, sua forma determina o ponto de apoio do cartucho na câmara ou no tambor ( headspace ), além de possibilitar a ação do extrator sobre o estojo Espoleta FORMATOS DOS CULOTES DOS ESTOJOS Montada no culote do estojo: consiste num invólucro de metal mole, contendo o detonante e uma bigorna. Ao ser percutida, a espoleta é comprimida, provocando uma chama que é transmitida ao propelente através dos eventos. Há três tipos de espoletas mais comuns: o sistema Boxer que possui uma bigorna em forma de estrela montada na própria espoleta e apenas um evento no centro do alojamento da mesma; o segundo tipo é o sistema Berdan, que tem a bigorna como parte integrante do estojo e geralmente 2 eventos existentes no CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 22
23 alojamento da espoleta e o terceiro é o de Bateria, usado exclusivamente em cartuchos para espingardas. BOXER BERDAN BATERIA Diversas substâncias foram utilizadas como detonantes nas espoletas, tais como, cloreto de potássio, sulfureto de antimônio, azida de chumbo, o fulminato e o estifinato de mercúrio, este último, menos corrosivo, o que permitiu com que as espoletas passassem a ser confeccionadas em latão, como nos estojos. Os estifinatos, estearatos e ácidos empregados eram altamente venenosos, motivo pelo qual passaram s ser desenvolvidas espoletas em outros materiais, tais como a nitrocelulose e posteriormente, espoletas sem concentrações de bário, chumbo ou mercúrio, as chamadas CR ou clear range. As espoletas de cartuchos de fogo circular são parte integrante do estojo, ficando o detonante colocado na parte interna da virola (aro ou gola). FOGO CIRCULAR Carga de projeção (propelente) Genericamente conhecida como pólvora, a carga de projeção é responsável pela produção de gases; mediante sua combustão para expelir o projétil. O propelente mais conhecido é a pólvora negra, e por ser de baixa qualidade, está em desuso. Atualmente, usa-se a pólvora branca (sem fumaça) feita principalmente à base de nitrocelulose e nitroglicerina, sob as mais diversas formas como em tubos, cilíndricas, granuladas, esféricas. A velocidade com que o propelente se queima influi diretamente no comportamento balístico do projétil, bem como nos efeitos sobre a arma. Por esse motivo, nem sempre um cartucho de calibre e dimensões semelhantes pode ser utilizado em uma arma para a qual não foi fabricado. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 23
24 4.2.4 Calibres e projéteis Quando dizemos que um cartucho é de calibre.38, por exemplo, este número, a rigor, deveria indicar que o diâmetro do projétil é de 0,38 polegadas, ou ainda que o projétil tem "aproximadamente" este diâmetro, uma vez que há uma margem de tolerância, tendo em vista que é muito difícil obtermos uma medida precisa. Esta tolerância é admissível porque se observados seus limites, o projétil não sofrerá alterações bruscas em seu comportamento balístico. RAIAMENTO Foto interna do cano de uma pistola mostrando a disposição do raiamento Este calibre aproximado a que nos referimos é chamado de calibre nominal. O calibre real é a medida entre cheios opostos do cano da arma, no caso de ser par o número de raias. Se o número de raias for ímpar, o calibre real será a medida entre um cheio e a raia diretamente oposta. Nas armas de alma lisa, o calibre real será a medida do diâmetro interno do cano Classificação dos projéteis Quanto ao uso CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 24
25 De uso essencialmente militar: - perfurantes: contém núcleo de aço endurecido, perfuram blindagens leves; - incendiários: o núcleo é uma mistura incendiária, provocam incêndios; - explosivos: destruição de alvos de pequeno porte e aferição miras; - traçantes: indicam a trajetória de tiro; - perfurante-incendiário; - perfurante-incendiário-traçante. De uso não essencialmente militar: - sólidos: uso geral; - jaquetados: uso geral; - expansivos: aumentam a área de contato com o corpo e a expansão das ondas de choque em virtude da transferência de energia do projétil, provocando ferimentos mais graves e maior sangramento; - competição: produzidos sob rigoroso controle de qualidade, destinam-se a competições esportivas; - sinalização: usados em operações de busca e salvamento; - frangível: uso policial, se desintegra ao atingir o alvo; - múltiplos: provocam múltiplos ferimentos, aumentando a possibilidade de acertar o alvo; são comumente usados em cartuchos que originalmente utilizam projétil único. Chumbo para caça: é um tipo especial, destinado à caça e ao tiro esportivo, bem como para emprego policial à curta distância Quanto ao material de que é feito Projéteis que utilizam um só tipo de material: como o chumbo geralmente em liga com outros materiais, borracha (anti-tumulto), madeira (obsoleto), plástico (para treinamento), aço, cera, etc. Projétil em calibre.38 SPL 158 grains Ogival de Chumbo Projéteis que utilizam mais de um tipo de material: são os jaquetados, ou seja, possuem uma cobertura chamada de blindagem, camisa ou jaqueta, feita geralmente de um metal mais duro do que o chumbo (latão, aço ou cobre) - muito empregados em armas automáticas e semi-automáticas, bem como em revólveres na configuração semi-jaquetada. Esta jaqueta diminui o coeficiente de atrito do projétil nas raias do cano, aumentando sua velocidade de saída. Os projéteis jaquetados têm grande resistência às deformações, e con- CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 25
26 sequentemente, tem grande poder de penetração, e deixam menos resíduos de chumbo na arma Quanto à forma a) da ponta. b) da base. c) do corpo. a) Formas de pontas: Projétil em calibre Springfield Munição Winchester Supreme AccuBond CT Núcleo de chumbo, jaqueta de tomback, ponteira em polímero e cobertura plástica Ogival: uso geral, muito comum, sendo usado para fins militares, policiais e de defesa; proporciona bom funcionamento das armas e boa precisão, não possuindo características expansivas; na foto um modelo totalmente jaquetado (ou encamisado). Canto-vivo: uso exclusivo para tiro ao alvo; utiliza cargas reduzidas e perfura o papel de forma mais nítida, com um corte em forma de confete em alvos de papel, facilitando a apuração dos resultados. Semi canto-vivo: uso geral, para treinamento e tiro ao alvo; na foto, um modelo com tratamento de superfície em cobre (não se trata de jaqueta). Ogival truncado: uso geral; muito usado no tiro prático (IPSC) por proporcionar uma operação mais confiável do mecanismo das pistolas; na foto um modelo ogival truncado jaquetado de ponta oca, duplo compartimento com funções expansiva e penetrante. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 26
27 Cone truncado: uso geral, com muita aceitação entre praticantes de tiro prático, evitando falhas no carregamento devido ao seu formato; na foto um modelo cone truncado para treinamento. Ponta-oca 4 ou hollow-point : projétil com características expansivas, forma um cogumelo ao atingir um corpo mole, aumentando o diâmetro da superfície de contato; provoca traumas maiores, com ferimentos graves, dolorosos e sangramento intenso; atu almente é o modelo mais usado na armas de defesa; na foto um modelo sivertip ponta oca. Pontiaguda: uso em munições de alta energia; munições de rifles e fuzis para emprego militar e policial. Também utilizada em balas tipo slug (fotos ao lado e abaixo) ou sabot (projéteis tipo balote) para espingardas calibre 12 com cano de alma raiada ( rifled bore ). b)forma da base Plana: uso mais comum, encontrada na maioria das munições comerciais. Convexa: quase não utilizada; facilita recarga de munições. 4 Nota: tem sido divulgado, através de diversas fontes, que o uso militar de projéteis ponta-oca foi proibido pela Convenção de Genebra. A título de esclarecimento, a única restrição feita pela Convenção quanto ao uso de munição é a seguinte: O uso de balas explosivas ou de material que cause sofrimento desnecessário nas vítimas é proibido. Tal restrição não enquadra as balas de ponta-oca, sendo permitido seu uso militar. CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 27
28 Rebaixada: também de pouco uso; melhora, suavemente, a performance balística. Côncava: uso muito comum; melhora suavemente a performance balística. Oca ( hollow base ): uso bastante difundido no tiro ao alvo, principalmente nos projéteis tipo canto-vivo (ver foto anterior); os gases penetram na base oca, forçando uma melhor adaptação do projétil no raiamento, melhorando o comportamento do projétil e permitindo maior precisão ao tiro. Bisotada: de uma maneira geral, é bastante utilizada em projéteis destinados à recarga de munições por facilitar sua inserção no estojo. Entretanto, seu uso mais difundido reporta-se aos projéteis de munições de alta energia para rifles e fuzis, os quais, quando construídos com este tipo de base, recebem a denominação de boat-tail (em uma tradução literal, calda de barco alusão feita à popa de barcos e botes cujo formato possui boas qualidades hidro e aerodinâmicas). Este tipo de base é aplicado na construção de projéteis para munições match (competição e alta performance) para aumento de sua estabilidade, performance balística e precisão. Rebatida: para uso em projéteis com gas-check (bloqueador de gases). c) Forma do corpo Projéteis de chumbo, quando em contato com o raiamento da arma, tendem a deixar partículas de chumbo, bem como, resíduos de pólvora. À incrustação das partículas de chumbo no raiamento, damos o nome de chumbamento. O chumbamento, mesmo que em mínimo grau, prejudica o comportamento balístico do projétil, a precisão do tiro, danifica a arma e se acumula cada vez mais. Para controlar o chumbamento no interior do cano, minimizando-o ou, até mesmo, evitando-o, projéteis de chumbo recebem algumas canaletas em seu corpo, onde são colocados lubrificantes (cera e parafina). Tais canaletas são denominadas CINTAS DE TURGÊNCIA. As cintas de turgência estarão localizadas, no projétil, sempre em posição posterior à do outro tipo de cinta que veremos logo a seguir. cinta de turgência Projétil em calibre.357mag/.38spl, com uma cinta de turgência CENTRO DE TREINAMENTO POLICIAL 28
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